terça-feira, 4 de abril de 2023

Idosos com ansiedade frequentemente deixam de receber ajuda

ansiedade é o distúrbio psicológico mais comum que afeta adultos nos Estados Unidos. Em pessoas mais velhas, está associada a sofrimento considerável, problemas de saúde, diminuição da qualidade de vida e taxas elevadas de incapacidade.

No entanto, quando a Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos EUA, um painel independente e influente de especialistas, sugeriu no ano passado que os adultos fossem rastreados quanto à ansiedade, deixou de fora um grupo – pessoas com 65 anos ou mais.

A principal razão pela qual a força-tarefa citou no rascunho das recomendações emitidas em setembro: “(As) evidências atuais são insuficientes para avaliar o equilíbrio entre benefícios e malefícios da triagem para ansiedade” em todos os idosos. (Recomendações finais são esperadas ainda este ano).

A força-tarefa observou que os questionários usados para rastrear a ansiedade podem não ser confiáveis para adultos mais velhos. A triagem envolve a avaliação de pessoas que não apresentam sintomas óbvios de condições médicas ou psicológicas preocupantes.

“Reconhecemos que muitos adultos mais velhos sofrem de problemas de saúde mental como ansiedade” e “estamos pedindo mais pesquisas urgentemente”, disse Lori Pbert, chefe-associada da divisão de medicina preventiva e comportamental da Chan Medical School da Universidade de Massachusetts e ex-professora membro da força-tarefa que trabalhou nas recomendações sobre ansiedade.

Essa postura de “ainda não sabemos o suficiente” não cai bem com alguns especialistas que estudam e tratam pessoas idosas com ansiedade. Carmen Andreescu, professora associada de psiquiatria da Universidade de Pittsburgh, chamou a posição da força-tarefa de desconcertante porque “está bem estabelecido que a ansiedade não é incomum em adultos mais velhos e existem tratamentos eficazes”.

“Não consigo pensar em nenhum perigo em identificar a ansiedade em idosos, especialmente porque isso não traz nenhum dano e podemos fazer coisas para reduzi-la”, disse Helen Lavretsky, professora de psicologia da UCLA.

Em um editorial recente no JAMA Psychiatry, as pesquisadoras observaram que apenas cerca de um terço dos idosos com transtorno de ansiedade generalizada – preocupação intensa e persistente com questões cotidianas – recebe tratamento. Isso é preocupante, disseram elas, considerando as evidências de ligações entre ansiedade e derrame, insuficiência cardíaca, doença arterial coronariana, doença autoimune e distúrbios neurodegenerativos, como demência.

Outras formas de ansiedade comumente não detectadas e não tratadas em idosos incluem fobias (como medo de cães), transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno do pânico, transtorno de ansiedade social (medo de ser avaliado e julgado por outros) e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).

O desacordo latente sobre a triagem chama a atenção para a importância da ansiedade na velhice – uma preocupação intensificada durante a pandemia de Covid-19, que aumentou o estresse e a preocupação entre os idosos. Aqui está o que você deve saber.

·         A ansiedade é comum

De acordo com um capítulo de livro publicado em 2020, de autoria de Carmen e um colega, até 15% das pessoas com 65 anos ou mais que vivem fora de asilos ou outras instalações têm uma condição de ansiedade diagnosticável.

Metade deles apresenta sintomas de ansiedade – irritabilidade, preocupação, inquietação, diminuição da concentração, alterações do sono, fadiga, comportamentos evitativos – que podem ser angustiantes, mas não justificam um diagnóstico, observou o estudo.

A maioria dos idosos com ansiedade luta contra essa condição desde cedo na vida, mas a forma como ela se manifesta pode mudar com o tempo. Especificamente, os adultos mais velhos tendem a ficar mais ansiosos com questões como doenças, perda de familiares e amigos, aposentadoria e declínios cognitivos, disseram especialistas. Apenas uma fração desenvolve ansiedade após completar 65 anos.

A ansiedade pode ser difícil de identificar em idosos

Os idosos geralmente minimizam os sintomas de ansiedade, pensando “é assim que se envelhece” em vez de “este é um problema sobre o qual devo fazer algo”, disse Carmen.

Além disso, eles são mais propensos do que os adultos mais jovens a relatar queixas “somáticas” – sintomas físicos como tontura, fadiga, dores de cabeça, dor no peito, falta de ar e problemas gastrointestinais – que podem ser difíceis de distinguir das condições médicas subjacentes, de acordo com Gretchen Brenes, professora de gerontologia e medicina geriátrica na Wake Forest University School of Medicine.

Alguns tipos de ansiedade ou comportamentos ansiosos – notavelmente, acumulação e medo de quedas – são muito mais comuns em idosos, mas os questionários destinados a identificar a ansiedade normalmente não perguntam sobre esses problemas, disse o Jordan Karp, presidente da psiquiatria no Faculdade de Medicina da Universidade do Arizona em Tucson.

Quando os idosos expressam suas preocupações, os médicos muitas vezes as descartam como normais, dados os desafios do envelhecimento, disse Eric Lenze, chefe de psiquiatria da Escola de Medicina da Universidade de Washington em St. Louis e coautor do estudo recente.

Perguntas simples podem ajudar a identificar se um idoso precisa ser avaliado quanto à ansiedade, ele e outros especialistas sugeriram: Você tem preocupações recorrentes que são difíceis de controlar? Você está tendo problemas para dormir? Você tem se sentido mais irritado, estressado ou nervoso? Você está tendo problemas com concentração ou pensamento? Você está evitando coisas que normalmente gosta de fazer porque está envolvido em suas preocupações?

Stephen Snyder, 67, que mora em Zelienople, na Pensilvânia, e foi diagnosticado com transtorno de ansiedade generalizada em março de 2019, responderia “sim” a muitas dessas perguntas. “Tenho uma personalidade tipo A e me preocupo muito com muitas coisas – minha família, minhas finanças, o futuro”, ele disse. “Além disso, eu tendia a me debruçar sobre coisas que aconteceram no passado e ficar nervoso”.

·         Tratamentos são eficazes

A psicoterapia – particularmente a terapia cognitivo-comportamental, que ajuda as pessoas a lidar com pensamentos negativos persistentes – é geralmente considerada a primeira linha de tratamento de ansiedade em idosos. Em uma revisão de evidências para a força-tarefa, os pesquisadores observaram que esse tipo de terapia ajuda a reduzir a ansiedade em idosos atendidos em ambientes de atenção primária.

Também recomendado, observou Lenze, é a terapia de relaxamento, que pode envolver exercícios de respiração profunda, massagem ou musicoterapia, ioga e relaxamento muscular progressivo.

Como os profissionais de saúde mental, especialmente aqueles especializados em saúde mental geriátrica, são extremamente difíceis de encontrar, os médicos de cuidados primários geralmente recomendam medicamentos para aliviar a ansiedade.

Duas categorias de drogas – antidepressivos conhecidos como inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS) e inibidores da captação de serotonina e norepinefrina (ICSNs) – são normalmente prescritos, e ambos parecem ajudar os adultos mais velhos, disseram especialistas.

Frequentemente prescritos para idosos, mas que devem ser evitados por eles, são os benzodiazepínicos, uma classe de medicamentos sedativos como Valium, Ativan, Xanax e Klonopin.

A American Geriatrics Society alertou os médicos a não usá-los nessa população, exceto quando outras terapias falharem, porque são viciantes e aumentam significativamente o risco de fraturas de quadril, quedas e outros acidentes e deficiências cognitivas de curto prazo.

 

Ø  O que é etarismo e como a discriminação por idade impacta a vida de idosos

 

Os idosos correspondem a quase 15% da população brasileira. Apesar das estatísticas de aumento da longevidade nos últimos tempos, eles ainda sofrem preconceito.

Em meio às limitações no mercado de trabalho e estereótipos que ditam os locais, roupas e estilo de vida que devem ser adotados, essa parcela da população tem se mostrado cada vez mais ativa, revelando como a longevidade pode ser positiva.

“A gente já vivenciou tanta coisa, que muitas delas se tornaram assim: o depois é agora, tem que ser agora. E para a gente decidir isso, realmente temos que ter coragem e segurança, porque os medos e as inseguranças, nós já tivemos. Agora, o nosso pensamento está mais estável e seguro”, contou a modelo Rosa Saito em entrevista à CNN.

Embora seja positiva para Rosa, a velhice pode chegar junto a apontamentos que definem a forma como pessoas com mais de 60 anos devem agir. Conforme descrito no Relatório Mundial sobre Idadismo, da Organização Mundial da Saúde (OMS), o etarismo se refere a “estereótipos (como pensamos), preconceitos (como nos sentimos) e discriminação (como agimos) direcionadas às pessoas com base na idade que têm”.

O tema ganhou repercussão no Brasil após a divulgação de um vídeo em que estudantes do curso de Biomedicina de uma universidade particular de Bauru, no interior de São Paulo, debocham de uma colega de 40 anos.

No vídeo, uma das estudantes ironiza: “Gente, quiz do dia: como ‘desmatricula’ um colega de sala?”. Logo na sequência, outra jovem responde: “Mano, ela tem 40 anos já. Era para estar aposentada”. “Realmente”, concorda a terceira fazendo uma cara de deboche.

·         Consequências do etarismo

Segundo a médica e presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, Ivete Berkenbrock, o etarismo aumenta a cada ano que a pessoa envelhece, tendo consequências até mesmo psicológicas.

“O preconceito afeta a saúde mental da pessoa, porque ela tende a ficar em isolamento, não se sente confortável no ambiente onde ela é basicamente rejeitada por de ter mais de 60 anos. Isso pode levar à depressão, porque a cada vez que a pessoa pensa em fazer algo, ela interioriza isso”.

Além do impacto na saúde mental da população idosa, o etarismo também afeta o cotidiano. Em entrevista, Ivete explicou que atividades de lazer e locais para prática de atividade física, por exemplo, não contam com acessibilidade. Para a especialista, promover acesso apenas à área da saúde é uma forma de resumir os idosos às doenças, negligenciando a realização de seus prazeres.

Ainda assim, a saúde da pessoa idosa também é algo a se orgulhar: “O aumento da longevidade é a maior conquista coletiva da humanidade nos últimos tempos. Isso é um privilégio e mostra o quanto nós já fomos capazes de vencer doenças infecciosas, de passar por guerras e fenômenos climáticos, de vencer doenças”, afirmou Ivete.

Conforme divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2019 a expectativa de vida no Brasil era de 76,6 anos.

Dando força para essa perspectiva positiva sobre o envelhecimento, a modelo Rosa Saito afirma aos 71 anos que vive realizações e lembra a importância de pessoas jovens combaterem o etarismo.

“Mesmo que esteja na flor da juventude, é o momento de a pessoa realmente parar, pensar, pôr a mão na cabeça, porque são pessoas que já vivenciaram, que têm experiência. Então seja no trabalho ou dentro de casa, são pessoas que têm uma carga tão grande de sabedoria, de vivência, que têm que ser respeitados. As pessoas têm que se pôr no lugar”, diz.

Além de desfilar nas passarelas, Rosa se mostra como um modelo a ser seguido por quem não quer se limitar aos estereótipos sobre quem tanto assiste o tempo passar.

“Enquanto tiver alegria de viver, não tem essa de ‘ai eu estou com x idade’. O que é x idade? É um mero tempo? A idade está na sua cabeça. Eu acho que não existe. Enquanto você estiver viva, tem que tentar ser feliz, correndo atrás daquilo que você um dia teve vontade de fazer. Dê motivação para você viver, motivação para você se sentir feliz”, afirma.

·         Impactos no mercado de trabalho

A gerente de projetos da Maturi Fabiana Granzotti explica a origem do termo. “O etarismo ou ageísmo, que é derivado do termo aging, do inglês, é o preconceito por idade”, disse.

Segundo ela, o preconceito contra pessoas mais velhas interfere em todas as idades – como uma pessoa vista como jovem demais para ocupar um cargo de liderança, por exemplo.

“No entanto, ele é mais acentuado para os mais velhos, devido a estereótipos, de que eles são desatualizados, desconectados da tecnologia e não acompanharam as mudanças. Mas isso não está ligado à idade, mas às oportunidades de cada um”, completou.

Fabiana, que comanda uma empresa especializada no tema, afirma que o Brasil já tem 37,7 milhões de idosos, que estão aptos a contribuir de diversas formas para o mercado de trabalho, incluindo a mentoria.

“Ela é muito positiva, uma pessoa com mais experiência passou inclusive por situações mais difíceis, pode contribuir para aqueles que estão começando agora no mercado de trabalho, que não conseguem ter visão mais sistêmica, e os jovens, por outro lado, que já nasceram conectados, conseguem dar o suporte tecnológico”.

Esta parceria é positiva, segundo ela, para a criação de novos produtos, resiliência e ambientes mais produtivos e felizes. “Hoje em dia se fala da necessidade da saúde mental e se observa bastante como a troca é positiva, cada qual tem sua vivência, esse aporte é superimportante”.

As mudanças, no entanto, não devem partir apenas do profissional. “As corporações olham de forma estereotipada, de custo maior, mas tem um outro ponto que o mercado vem oferecendo, os dois lados chegam a um comum acordo, o que as pessoas maduras esperam e como as corporações podem ser remanejadas para absorver as pessoas mais experientes, com programas de consultores, por exemplo”.

“O mercado de trabalho não é mais o que era há dois anos, a pandemia acelerou todo esse processo. A população 50+ deve se manter atualizada, buscar carreiras transversais e as corporações devem ter essa visão de novas formas de contratações, com aporte de conhecimento, sem sofrer com altos salários”, avaliou.

A especialista afirma acreditar que é necessária a “queda de paradigmas dos dois lados” para absorver a população que daqui a pouco será maioria no Brasil.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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