Eleições no
Paraguai: como Brasil influencia os rumos do país vizinho
As
eleições gerais que elegerão o próximo presidente do Paraguai ocorrem no dia 30
de abril.
Diferentemente
do Brasil, o país vizinho não conta com um segundo turno e não permite
reeleição - o candidato que conseguir a maioria dos votos é eleito para um
mandato único.
Segundo
a pesquisa Atlas mais recente, lançada em 14 de março, os candidatos Efraín
Alegre, do Partido Liberal, e Santiago Peña, do Partido Colorado, enfrentam um
empate técnico nas intenções de votos, com 38% e 36%, respectivamente. Em
terceiro lugar, com 14%, está Payo Cubas, do Partido
Cruzada Nacional.
A
eleição de um novo chefe de Estado inicia um novo capítulo na história de
cooperação bilateral entre Brasil e Paraguai, importante parceiro comercial do
Brasil.
Os
especialistas entrevistados pela BBC News Brasil consideram que quem quer que
seja o vencedor no dia 30 de abril, os rumos das relações não devem ser
alterados, mas acreditam que a relação seja intensificada pela maior
proximidade que a volta de Lula ao cargo de presidente do Brasil pode oferecer
aos vizinhos.
A
expectativa é que Lula possa ceder, ao menos parcialmente, a acordos econômicos
que beneficiem o Paraguai, sobretudo na divisão da energia gerada pela usina
hidrelétrica de Itaipu.
·
Distribuição da energia de Itaipu é ponto central da
política externa paraguaia
A
distribuição da energia elétrica produzida pela usina hidrelétrica de Itaipu
entre os dois países é tema de debate constante por parte dos paraguaios.
Como
o Paraguai tem uma economia muito menor que a brasileira, o país consome apenas
uma parte da sua metade e vende o restante para o Brasil, por meio da
Eletrobras.
Por
isso, o acordo atual estabelece que o Brasil receba 85% da energia gerada,
enquanto o Paraguai fica com os 15% restantes.
O
preço que o Brasil paga pela energia excedente é considerado baixo em
comparação com os valores praticados no mercado internacional de energia - e
este é justamente um dos pontos centrais das eleições que ocorrem no fim de
abril.
“Os
paraguaios falam em uma defasagem de 80% no preço. há muita conexão entre
resolver Itaipu e melhorar saúde, educação e infraestrutura. Se faz uma conexão
direta entre Itaipu e a capacidade do Estado paraguaio de prover bens públicos
à população”, diz Pedro Feliú, professor da USP e especialista em política
paraguaia.
Em
entrevista à rádio CBN, Peña disse que a intenção é arrecadar mais dinheiro
para incrementar linhas de transmissão e distribuição e gerar empregos. “O
mesmo que aconteceu no Brasil nas décadas de 70, 80 e 90 com a energia que
Itaipu gerou para o Brasil. Agora o Paraguai quer o mesmo. E para isso o
Paraguai tem que ter uma conversa com o Brasil, para ver como pode gerar
recursos para que o Paraguai tenha força de se mover nos próximos cinco anos.”
Efraín
Alegre também já citou, em entrevistas, que não considera justa a divisão atual
negociada com o Brasil.
Em
2019, um acordo que previa a compra de energia pelo Paraguai em condições
consideradas desfavoráveis ao país chegou a resultar em ameaça de impeachment ao
presidente Mario Abdo, do partido Colorado, que acabou não consolidando
a negociação com o governo de Jair Bolsonaro, na época presidente do Brasil.
Pedro
Feliú avalia que o episódio - e os interesses atuais do país vizinho - afastam
os candidatos atuais à presidência de uma postura "entreguista".
"Do
ponto de vista eleitoral, tanto Efraín Alegre quanto Santi Peña não trazem um
grande impacto em termos de posicionamentos nas negociações, mas não quer dizer
que o resultado da negociação do Anexo C vá na direção desejada pelo Paraguai.
O país precisa de investimento em linhas de transmissão em geradoras, para
distribuição de energia… Então a soberania energética do Paraguai esbarra na
própria infraestrutura do país."
·
A figura de Lula como um aliado dos vizinhos
Em
entrevista ao jornalista Jairo Eduardo, da CBN Cascavel, em fevereiro deste
ano, o candidato Santiago Peña disse que Lula já demonstrou muita generosidade
com o Paraguai no passado ao aumentar o preço da parcela cedida pelo Paraguai
no acordo da usina de Itaipu - algo que, segundo ele, permitiu que os recursos
fossem utilizados na educação.
“A
lembrança que o Paraguai tem do governo de Lula é muito boa. É com a mesma
visão que nós olhamos o futuro da relação bilateral entre Paraguai e Brasil.”
Pedro
Brites, professor de relações internacionais da FGV (Faculdade Getúlio Vargas),
aponta que é notável a predisposição que Lula teve em fazer acordos que
deixaram os vizinhos satisfeitos no passado.
“Nos
dois primeiros mandatos, ele tentou construir relações não tão desiguais assim
com o Paraguai e agora há expectativa que o Brasil reconheça que existe um
abismo nas condições que o Paraguai tem para poder acessar a parte que lhe cabe
dentro do acordo.”
Na
análise de Brites, mesmo que o Paraguai mantenha um governo mais conservador,
como o do Partido Colorado, que está no poder há muito tempo e tem um viés mais
de direita ou centro-direita, o país tem mais ganhos com o governo Lula, que
oferece um avanço no nível de coordenação regional e no nível de integração
regional.
No
governo Bolsonaro, lembra o professor, houveram poucas iniciativas e propostas
econômicas novas que interessassem aos paraguaios, e o ex-presidente retirou o
Brasil da Unasul (União de Nações Sul-Americanas), decisão que foi revertida
por Lula.
“Eu
acho que isso também se manifesta na maneira como o Brasil vem tratando o
próprio tema das eleições paraguaias e defendendo a ideia de que o Paraguai tem
que continuar sendo autônomo, até porque o Brasil aposta muito na construção de
um Mercosul revigorado com o retorno agora recente da Unasul. Como liderança
regional, espera-se que o Brasil construa um espaço de diálogo efetivo com os
vizinhos, principalmente os vizinhos mais pobres, que são geralmente aqueles
com quem você vai precisar construir relações mais estruturadas em torno de
cooperação ou de apoio ao desenvolvimento para tentar evitar que ele se afastem
do processo de integração.”
·
Economia paraguaia é dependente do Brasil
“Se
olharmos nossas parcerias comerciais, o Paraguai é único país do mundo que
poderíamos dizer que realmente depende do Brasil”, afirma Pedro Feliú.
O
Brasil é o principal destino das exportações paraguaias, que enviam produtos
agrícolas para o vizinho, contribuindo para o abastecimento interno de
alimentos e para a exportação desses produtos para outros países.
Em
contrapartida, alguns dos principais produtos exportados pelo Brasil para o
Paraguai são: petróleo e seus derivados, produtos químicos, veículos, máquinas
e equipamentos, produtos têxteis e alimentos como carne, açúcar e café.
A
relação comercial entre os dois países é beneficiada pela proximidade
geográfica e pela integração regional, através do Mercosul.
“O
que eu tenho observado da postura dos candidatos é um objetivo comum em manter
as relações com o Brasil em bases positivas. O Brasil é importante demais para
a economia do país, portanto, seria muito arriscado tentar construir algum tipo
de transformação nesse sentido que pudesse pôr em xeque essa relação especial”,
aponta Brites.
Na
avaliação do professor da FGV, o governo Lula precisa observar com atenção o
movimento de aproximação entre Paraguai e China. “Não acho que seja uma ameaça
imediata, mas o temor é que isso afaste um pouco o país vizinho das relações
comerciais com o Brasil e que isso atrapalhe o Mercosul.
Ø
Opositor
venezuelano Guaidó diz ter sido 'expulso da Colômbia'
O
opositor político venezuelano Juan Guaidó, que há mais de quatro anos se
autoproclamou chefe de Estado da Venezuela, declarou que foi expulso da
Colômbia e está agora a caminho dos Estados Unidos.
Nesta
segunda-feira (24), Guaidó disse que deixou a Venezuela e passou a fronteira a
pé para a Colômbia, onde esperava participar da cúpula convocada pelo
presidente colombiano Gustavo Petro.
O
opositor venezuelano também anunciou que tinha intenção de se reunir com
delegações internacionais que estavam chegando à Colômbia para participar da
cúpula desta terça-feira (25), sem especificar se pretendia retornar à
Venezuela. Por sua vez, o governo colombiano, em resposta à declaração de
Guaidó anunciou que apenas países convidados participariam da conferência sobre
a Venezuela.
Em
sua mensagem, Guaidó expressou seu desejo de que a cúpula "possa
garantir" que o governo de Nicolás Maduro retorne à mesa de negociações no
México e " se chegue a acordo sobre um cronograma credível para eleições
livres e justas como solução do conflito".
No
final de março, Petro anunciou a convocação para 25 de abril de uma cúpula
internacional na capital colombiana destinada a promover o diálogo entre a oposição
e o governo da Venezuela, que possa resultar em um cancelamento das sanções
impostas pelos EUA contra a nação caribenha.
A
chancelaria colombiana esclareceu em um comunicado, antes do voo do líder da
oposição para os EUA, que os serviços de imigração da Colômbia "levaram o
senhor Juan Guaidó, de nacionalidade venezuelana, que se encontrava em Bogotá
de maneira irregular, ao aeroporto de El Dorado com o intuito de verificar sua
partida em uma companhia aérea comercial para os Estados Unidos, durante a
noite".
O
próprio opositor disse em um vídeo publicado no Twitter que foi "expulso
da Colômbia".
Fonte:
BBC News Brasil/Sputnik Brasil
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