terça-feira, 4 de abril de 2023

Diferentes aspectos da diplomacia brasileira frente ao conflito na Ucrânia

A diplomacia brasileira tem apresentado alguns sinais mistos quanto ao tratamento dado ao conflito na Ucrânia.

Em parte, essa situação se deve ao fato de que o país tem adotado dois caminhos diferentes para abordar o assunto: o primeiro trata-se da diplomacia institucional do Brasil na ONU e o segundo diz respeito à diplomacia presidencial empreendida durante os mandatos de Jair Bolsonaro e agora de Lula.

Um desses exemplos ocorreu justamente na semana passada durante a Cúpula para a Democracia realizada pelos Estados Unidos. Após seu encerramento, o governo brasileiro optou por não endossar a declaração final da Cúpula, por entender que o teor do documento era direcionado de forma clara contra a Rússia, ao exigir que Moscou retirasse imediatamente suas tropas da Ucrânia.

Para o Brasil, discussões a respeito de possíveis soluções para o conflito devem continuar acontecendo na ONU e no âmbito do Conselho de Segurança. Ademais, Lula, em carta enviada aos organizadores do evento, demonstrou apreensão quanto ao atual estado de confrontação entre o Ocidente e países como Rússia e China, além de enfatizar que a defesa da democracia não deve ser utilizada para se “levantar muros nem suscitar divisões”.

Em verdade, a diplomacia presidencial brasileira tem se mostrado mais cautelosa em seus posicionamentos com relação ao conflito do que a diplomacia institucional empreendida pelo país na ONU. Vale lembrar que, quando a conflagração militar entre Rússia e Ucrânia teve início em fevereiro do ano passado, Jair Bolsonaro eximiu-se de tecer críticas a Putin e o Brasil não seguiu a mesma linha dos países ocidentais no sentido de impor sanções contra Moscou.

Quando visitou a Rússia em fevereiro passado, Bolsonaro já havia manifestado "solidariedade" para com o país, parecendo indicar que o Brasil era sensível às demandas russas de segurança em relação à expansão da OTAN para o leste.

Ao retornar para o Brasil, por sua vez, Bolsonaro continuou enfatizando a importância de ampliar a colaboração com a Rússia em áreas como: fertilizantes, exploração de petróleo e gás, agricultura e tecnologia nuclear, entre outras.

Por outro lado, já nos primeiros meses do conflito o comportamento brasileiro na ONU alinhou-se ao do Ocidente, ao ter endossado as moções condenatórias à Rússia em votações na Assembleia Geral. Do BRICS, o Brasil foi o único país a apoiar a moção, uma vez que Índia, China e África do Sul se abstiveram naquelas ocasiões.

A posição do Brasil, todavia, não chegou a representar uma guinada antirrussa na política externa brasileira desde então, motivada sobretudo pela condução de sua diplomacia presidencial mais conciliatória.

Nesse contexto, o atual presidente brasileiro Lula tem sido um dos poucos líderes mundiais a fazer um chamamento à paz em relação ao conflito na Ucrânia, movimento esse que pode vir a influenciar outros países neutros (tais como Turquia, Índia, Indonésia, entre outros) a se juntarem à iniciativa.

Certamente, quanto mais Estados influentes estiverem imbuídos no intuito de provocar as partes envolvidas (Rússia, Ucrânia, União Europeia e Estados Unidos) a buscar um acordo de paz, mais perto estaremos de um possível fim das hostilidades.

Cabe notar que Brasil e Rússia são parceiros no BRICS, e ambos os países foram os principais responsáveis pelo lançamento do grupo em meados dos anos 2000. Ora, desde 2006 Celso Amorim (ministro das Relações Exteriores do Brasil entre os anos de 2003 e 2010) e Sergei Lavrov (ministro das Relações Exteriores da Rússia desde 2004) já conversavam sobre a possibilidade de criação do grupo em encontros bilaterais, realizados às margens de reuniões da Assembleia Geral da ONU.

Em vista disso é que podemos avaliar o incrível grau de desfaçatez das potências ocidentais (encabeçadas por Estados Unidos e Alemanha) em solicitar ao Brasil o envio de armamentos e munições à Ucrânia. Na prática, era como se Washington e Berlim intentassem colocar o Brasil em confronto direto com a própria Rússia, justamente um dos membros do BRICS.

Contudo, Lula demonstrou sensatez ao recusar a proposta, mesmo após pressão por parte de alemães e americanos, reforçando a posição do Brasil em torno da "resolução pacífica dos conflitos". O Ocidente, por seu turno, continuou optando por seguir o caminho da "resolução armada" dos conflitos.

Por certo, o Brasil (tanto no período final de Bolsonaro quanto no período inicial de Lula) demonstra claramente seu interesse não pela continuação, mas sim pelo fim das hostilidades entre Rússia e Ucrânia. É bem provável, portanto, que essa posição brasileira seja mais detalhadamente discutida não somente na visita de Lula à China (marcada para abril) como também num futuro encontro do presidente brasileiro com Vladimir Putin.

No mais, é preciso observar que como parte do Sul Global o Brasil também possui queixas historicamente justificadas em sua relação com o Ocidente e principalmente com os Estados Unidos. A própria política intervencionista dos americanos, sobretudo durante o período da Guerra Fria, fez da América Latina um território fértil para o surgimento de ressentimentos políticos profundos, fenômeno esse também compartilhado por outras regiões do mundo.

O Sul Global, portanto, entende bem o papel desestabilizador do Ocidente com relação ao conflito na Ucrânia e não está disposto a seguir às cegas todos os seus ditames.

Seja como for, para o Brasil continua válida a máxima de se opor a quaisquer tipos de "abordagens unilaterais" para a solução da atual crise militar na Europa, além da inadmissibilidade da aplicação de sanções sem a aprovação do Conselho de Segurança da ONU (no qual a Rússia possui cadeira permanente e poder de veto).

Para o Ocidente, de um modo geral, era importante demonstrar que a Rússia estaria cada vez mais isolada da comunidade internacional. Entretanto, países como China, Índia, Brasil e demais representantes do Sul Global (tanto na América Latina como na Ásia e África) provaram que o isolamento de Moscou é tão somente parcial e não total como se esperava.

Por fim, apesar de ter feito movimentações simbólicas na ONU contra a Rússia, o Brasil na prática não só se eximiu de aplicar sanções a Moscou ou de enviar armamentos a Kiev, como também seguiu um caminho mais independente em sua diplomacia presidencial.

Ora, as relações com a Rússia continuarão sendo importantes para Brasília tanto no âmbito bilateral, quanto sobretudo no BRICS, e é bem possível que o país sul-americano possa cumprir papel não negligenciável (ao lado de outras potências regionais relevantes) na criação das condições para um acordo de paz entre russos e ucranianos.

 

       Pequim anuncia disposição para usar visita de Macron à China para melhorar estabilidade global

 

A China está pronta para usar a próxima visita do presidente francês Emmanuel Macron ao país para promover uma parceria estratégica entre Pequim e Paris, bem como contribuir para fortalecer a paz e a estabilidade globais, disse a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, nesta segunda-feira (3).

"[Pequim está pronta para] usar esta visita como uma oportunidade para facilitar novos resultados de uma parceria estratégica abrangente, estreita e de longo prazo entre a China e a França, a fim de desempenhar um papel positivo no desenvolvimento saudável das relações entre a China e a União Europeia [UE], bem como contribuir para fortalecer a paz, a estabilidade e o desenvolvimento no mundo", disse Mao em entrevista coletiva.

Xi deve manter conversações com Macron, disse a porta-voz, acrescentando que os dois líderes vão discutir o futuro desenvolvimento das relações sino-francesas, a cooperação em várias áreas entre Pequim e Paris, bem como entre a China e a UE, e trocar opiniões sobre questões internacionais e regionais relevantes.

"China e França são membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU [CSNU] e potências globais. Nos últimos anos, sob a liderança estratégica do presidente Xi Jinping e do presidente Macron, as relações sino-francesas mantiveram um desenvolvimento estável. A interação estratégica entre os dois países foi produtiva, a cooperação prática foi frutífera. Em assuntos internacionais e regionais, os dois países mantiveram contatos e coordenação", observou Mao.

Como parte de sua viagem à China, Macron também vai se reunir com o primeiro-ministro do Conselho de Estado chinês, Li Qiang, e o presidente do Comitê Permanente do Congresso Nacional do Povo, Zhao Leji, disse a porta-voz, acrescentando que, além de Pequim, Macron também visitaria a cidade de Guangzhou, na província de Guangdong, no sul da China.

No início do dia, Pequim confirmou que Macron faria uma visita oficial à China de 5 a 7 de abril a convite de seu colega chinês, Xi Jinping. O presidente francês disse, por sua vez, que convidou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, para acompanhá-lo durante a viagem.

•        'Que saiba seu lugar': Erdogan responde a embaixador dos EUA que se encontrou com opositor

O presidente da Turquia criticou o embaixador dos EUA após as revelações de ter tido uma reunião com o principal opositor turco nas próximas eleições em maio.

Recep Tayyip Erdogan, presidente da Turquia, disse no domingo (2) que suas "portas estão fechadas" para o embaixador americano no país, Jeffrey Flake, após o último ter se reunido com o líder da oposição nas eleições presidenciais de 14 de maio.

Na quarta-feira (29) a Embaixada dos EUA na Turquia informou que Flake se encontrou com Kemal Kilicdaroglu, líder do Partido Popular Republicano (CHP, na sigla em turco), "como parte das discussões em andamento com os partidos políticos turcos sobre questões de interesse mútuo entre nossos dois países", incluindo a "solidariedade e condolências pelas perdas decorrentes do terremoto na Turquia".

"Temos que dar uma lição à América nestas eleições. Nossas portas estão fechadas para ele [Flake], ele não poderá mais entrar. Por quê? Que saiba seu lugar", respondeu Erdogan, citado nesta segunda-feira (3) pela agência turca Anadolu, acrescentando que "seu interlocutor aqui é o presidente".

Nas eleições presidenciais e gerais da Turquia, agendadas para 14 de maio, o mandatário concorrerá novamente como candidato do Partido de Direita Justiça e Desenvolvimento (AKP, na sigla em turco). Enquanto isso, Kilicdaroglu está surgindo como seu principal concorrente.

Uma pesquisa de opinião pública realizada de 10 a 13 março pela EuroPoll Research mostrou Kilicdaroglu como favorito, com 56,8% das intenções de voto das 2.544 pessoas inquiridas, contra os 43,2% de Erdogan, segundo o jornal turco Birgun.

•        Ex-funcionário do Pentágono prevê que maioria dos tanques ocidentais 'vão virar cinza' na Ucrânia

Os tanques Abrams, Challenger e Leopard fornecidos pelo Ocidente vão ser vulneráveis na Ucrânia e um alvo fácil para as Forças Armadas russas, escreveu o ex-funcionário do Pentágono Stephen Bryen no site Weapons and Strategy.

"Muitos dos principais tanques de batalha da Europa e dos Estados Unidos [na Ucrânia] vão virar cinza, juntamente com suas tripulações", diz o artigo.

O especialista alertou que estes modelos têm várias fraquezas bem conhecidas. Ele também acredita que a Rússia sabe delas há muito tempo, portanto, não será muito difícil para Moscou elaborar uma estratégia contra eles.

"Pior ainda, nenhum deles [tanques] tem sistemas de defesa ativa, uma forma criticamente importante para proteger tanques e tripulações de tanques das modernas armas antitanque", avisa o especialista.

Além disso, os tanques britânicos Challenger 2 são pesados demais para atravessar pontes ucranianas e não são adequados para trabalhar em estradas rurais com muita lama, compartilha sua opinião o autor.

Por sua vez, a Rússia já remeteu uma nota aos países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) sobre o fornecimento de armas à Ucrânia.

O ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, observou que qualquer carga que contenha armas para a Ucrânia será um alvo legítimo para a Rússia.

Por sua vez, o porta-voz do presidente da Rússia, Dmitry Peskov, notou que a entrega massiva de armas à Ucrânia não contribui para o sucesso de futuras negociações russo-ucranianas e terá, pelo contrário, um efeito negativo.

 

       Apesar da vitória da oposição na Finlândia, tendência da política externa continuará, opina analista

 

Os partidos que ganharam mais votos nas eleições parlamentares de 2 de abril na Finlândia manterão a agenda de política externa do gabinete anterior, disse Markku Jokisipila, diretor do Centro de Estudos Parlamentares à Sputnik.

Dois partidos de oposição, a Coligação e os Verdadeiros Finlandeses, bem como o Partido Social-Democrata no poder, ganharam a votação.

"A campanha pré-eleitoral desta vez foi focada na política interna. Política externa, as relações com a Rússia não foram discutidas. Ninguém parecia querer falar sobre isso. E o consenso geral parece ser que agora não é o tempo de apresentar alguma visão de como as relações da Finlândia com a Rússia serão no futuro", disse ele.

O especialista relembrou que todos os partidos que venceram as eleições participaram da tomada de decisão na política de defesa, votaram pela entrada da Finlândia na Aliança Atlântica e os líderes da coalizão vitoriosa declararam que decorrerá pelo menos um ano para se juntar à OTAN em seu programa.

A única questão a discutir é o nível de financiamento: se 2% é suficiente, conforme exigido pela OTAN, ou se 20% devem ser investidos na defesa.

A partir dos temas de segurança também começou a se discutir a existência de dois passaportes mantidos por residentes na Finlândia, observou especialista.

"No entanto, os partidos políticos, com exceção de um partido, não incluem esse tópico em seus programas eleitorais. Somente os Verdadeiros Finlandeses dizem que a existência de dois passaportes só deve ser possível para aqueles imigrantes cuja segunda pátria é um país pertencente ao Espaço Econômico Europeu", enfatizou Jokisipila.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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