sábado, 1 de abril de 2023

Com fábrica em Alagoinhas, Grupo Petrópolis pede recuperação judicial

O grupo Petrópolis, dono das marcas Itaipava, Crystal e Petra, entre outras, entrou com pedido de recuperação judicial, na segunda-feira, 27, na Justiça do Rio de Janeiro. As dívidas da companhia somam R$ 4,2 bilhões, segundo sua defesa. Desse total, 48% são financeiras e 52% com fornecedores e terceiros.

Nesta terça-feira, 28, a Justiça concedeu ao grupo uma tutela cautelar de urgência que determinou a liberação dos recursos da companhia pelo Banco Santander, Fundo Siena, Daycoval, BMG e Sofisa. A empresa afirmava que a tutela era urgente para evitar s “iminente estrangulamento do fluxo de caixa”.

De acordo com a petição em que pediu recuperação, o grupo enfrenta uma crise de liquidez há 18 meses decorrente da redução de receita.

No ano passado, a empresa vendeu 24,1 milhões de hectolitros de bebidas, o que representa uma queda de 23% na comparação com 2020. Essa redução significou um recuo de 17% na receita bruta do período. Ao mesmo tempo, os custos do setor subiram e, ainda segundo a defesa da Petrópolis, não foram repassados ao consumidor.

Também agravou a situação do grupo o aumento da taxa básica de juros, a Selic, que pressionou o nível de endividamento. Essa elevação no juro tem gerado um impacto de R$ 395 milhões por ano no fluxo de caixa da companhia.

Na petição, a Petrópolis, representada pelos escritórios Salomão Sociedade de Advogados e Galdino & Coelho, afirmam que, até o fim de março, haverá uma necessidade de capital de giro acumulada R$ 360 milhões superior ao projetado para o período e que, até 10 de abril, será R$ 580 milhões superior.

“A combinação desses fatores, exógenos e alheios ao controle das requerentes, gerou uma crise de liquidez sem precedentes no Grupo Petrópolis, que comprometeu seu fluxo de caixa a ponto de obrigá-lo a buscar a proteção legal com o ajuizamento deste pedido de recuperação judicial”, diz o documento.

 

       Entenda como a crise na Itaipava afeta a economia baiana

 

O pedido de recuperação judicial feito pelo Grupo Petrópolis, dono das marcas de cerveja Itaipava, Crystal e Petra, deve ter consequências diretas na economia da Bahia. O grupo carioca possui uma fábrica que emprega 2,7 mil pessoas - entre trabalhadores diretos e indiretos - no município de Alagoinhas, no nordeste baiano. Os funcionários estão com o pagamento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) atrasado e não tiveram participação nos lucros nos últimos dois anos porque a empresa não atingiu a meta esperada.

Em um comunicado enviado aos trabalhadores da fábrica na segunda-feira (27), a empresa afirma que o pedido de recuperação judicial é consequência de uma crise que se agrava há 18 meses. Redução de faturamento, pressão inflacionária, aumento dos custos de produção e dificuldade de repasse de preços dos produtos vendidos são os principais motivos para a decisão.

Na terça-feira (28), a 5º Vara Empresarial da Justiça do Rio de Janeiro concedeu uma medida cautelar que protege o grupo ao impedir a cobrança de dívidas.

Apesar de a recuperação judicial ser um indicativo de que a empresa não deseja encerrar suas atividades, o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Bebidas da Bahia (Sindibeb) se preocupa em quais podem ser as consequências da crise para a indústria local.

Thank you for watching

“É uma fábrica que vem tendo problemas, o FGTS está atrasado desde 2019 e há dois anos os trabalhadores não têm participação nos lucros e resultados porque a empresa não atinge a meta”, afirma Alberto Santiago, presidente do sindicato. A empresa, em nota à Redação, garante estar pagando o FGTS, de forma parcelada, conforme acordo firmando com o governo, e que o Fundo de Garantia dos trabalhadores não faz parte do pedido de recuperação judicial. O clima é de tensão entre os trabalhadores, que ainda não sabem qual será o futuro dos seus postos de trabalho.

Já o secretário de Desenvolvimento Econômico de Alagoinhas, Bruno Fagundes, aparenta tranquilidade e defende que não há indicativos de que a fábrica do município será fechada. “Em conversas com a direção da fábrica sobre o pedido de recuperação judicial, nos foi passado que não há possibilidade de impactos negativos para Alagoinhas”, garante.

O grupo possui oito empresas no país, sendo duas delas em estados no Nordeste: Bahia e Pernambuco. A escolha pela construção da fábrica em Alagoinhas não se deu por acaso. O município oferece uma série de incentivos fiscais (não pagamento de impostos) para que fábricas de bebidas sejam instaladas na localidade. Outro atrativo do município de 152 mil habitantes é a reserva de água do aquífero Marizal-São Sebastião. O setor de indústria representa 28% de todo o Produto Interno Bruto do município.

O economista Edísio Freire explica que empresas que recorrem ao pedido de recuperação judicial tendem a não honrar seus compromissos, pelo menos a curto prazo - o que reflete negativamente na economia. “A Ford é um exemplo de empresa relevante que deixou de operar no estado e provocou consequências no fluxo econômico através de desemprego, perda de renda da população e diminuição do consumo”, afirma.

•        O que é recuperação judicial?

O pedido de recuperação judicial acontece quando empresas que passam por dificuldades financeiras acionam a Justiça para evitar o encerramento das atividades. No caso do Grupo Petrópolis, as dívidas ultrapassam os R$4,2 bilhões e mais da metade (52%) do valor é referente a despesas com fornecedores e terceiros.

Quando o pedido é aceito, a empresa ganha um prazo para renegociar o que deve, Mesmo com o fôlego garantido, o processo nem sempre se dá de forma linear. A companhia telefônica Oi, por exemplo, entrou com um novo pedido de recuperação judicial para se proteger de credores depois de ter ficado seis anos em um processo semelhante.

Para o economista Edísio Freire, é essencial que as grandes empresas estejam atentas à governança para evitar crises como a das Americanas e Oi. “Precisa existir uma justiça distributiva do ponto de vista de renda e um política tributária mais justa. As empresas tentam gerar operações para pagar menos impostos a todo modo e esquecem de cuidar verdadeiramente da governança”, pontua.

•        Relação do Grupo Petrópolis com a Bahia começou em 2013

O Grupo Petrópolis é um dos maiores no setor de bebidas e concentra 14 marcas de produtos como cervejas, água mineral e energéticos. Fundada na região serrana do Rio de Janeiro em 1998, a empresa era dona de 15% do mercado nacional de cerveja até o início de 2020, segundo dados da consultoria Nielsen incluídos no pedido de recuperação judicial. A fatia foi reduzida para 10% em agosto do ano passado.

Com a promessa de geração de emprego e renda, a fábrica em Alagoinhas foi inaugurada em novembro de 2013, com a presença do presidente Lula (PT). O Grupo Petrópolis também teve forte atuação no Carnaval de Salvador, colocando a cerveja Itaipava como marca oficial dos circuitos em três anos seguidos.

Nos últimos dois carnavais, no entanto, a Ambev fechou o contrato de exclusividade com a prefeitura. Tão logo a notícia do pedido de recuperação judicial foi divulgada, as ações da concorrente tiveram alta de 5,79%.

O Grupo Petrópolis tem parceria com o Governo do Estado na concessão da Arena Fonte Nova, que só comercializa bebidas do grupo no estádio. A reportagem questionou o governo sobre o vínculo com o grupo após o pedido de recuperação judicial, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição. A Arena Fonte Nova também não se pronunciou.

 

Fonte: Infomoney/Correio

 

Nenhum comentário: