terça-feira, 25 de abril de 2023

Cientistas podem ter decifrado mistério do calendário maia

O calendário maia é um complexo sistema formado por calendários de vários ciclos de diferentes durações, desenvolvido há séculos na Mesoamérica pré-colombiana. Dos calendários que o compõem, o de 819 dias é o que mais intriga antropólogos contemporâneos.

Esse ciclo é conhecido simplesmente como a contagem de 819 dias. O problema é que, até agora, pesquisadores não conseguiam ligar esses 819 dias a nada. Os antropólogos John Linden e Victoria Bricker da Universidade de Tulane, em Nova Orleans, nos EUA, acreditam ter finalmente decifrado o código.

Tudo o que eles tiveram que fazer foi ampliar o escopo da pesquisa, estudando como o calendário funcionava durante um período não de 819 dias, mas de 45 anos, e relacioná-lo com o tempo que leva para que um objeto celeste retorne aproximadamente ao mesmo ponto, conhecido como período sinódico.

Embora pesquisas anteriores tenham tentado mostrar conexões planetárias para a contagem de 819 dias, "ao aumentar a duração do calendário para 20 períodos de 819 dias, surge um padrão no qual os períodos sinódicos de todos os planetas visíveis correspondem a pontos posicionais no calendário de 819 dias", apontam Linden e Bricker em artigo publicado na última semana na revista científica Ancient Mesoamerica.

•        Um ciclo misterioso e intrigante

Trata-se de um calendário baseado em glifos (desenhos simbólicos geralmente gravados em relevo) que se repete quatro vezes, com cada bloco de 819 dias correspondendo a uma de quatro cores e, pensaram inicialmente cientistas, a um ponto cardeal. O vermelho havia sido associado ao leste; o branco, ao norte; o preto, ao oeste; e o amarelo, ao sul. Foi somente nos anos 1980 que pesquisadores se deram conta de que essa suposição estava incorreta.

Em vez disso, branco e amarelo estavam associados com o zênite e o nadir, respectivamente, uma interpretação condizente com a astronomia. O Sol nasce no leste, percorre o céu até seu ponto mais alto (zênite), se põe no oeste e depois passa por seu ponto mais baixo na esfera celeste (nadir) para, então, nascer novamente no leste.

Havia outros indícios que sugeriam que a contagem de 819 dias estava associada aos períodos sinódicos dos planetas visíveis no Sistema Solar. Os maias tinham medidas extremamente precisas dos períodos sinódicos dos planetas visíveis: Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno.

•        Como funcionam os períodos sinódicos no ciclo de 819 dias?

Agora os cientistas da Universidade de Tulane finalmente encontraram um padrão. Mercúrio é fácil: ele tem um período sinódico de 117 dias, que cabe em 819 dias exatamente sete vezes. Mas onde se encaixa o resto dos planetas?

Cada um dos planetas visíveis tem um período sinódico com um certo número de múltiplos que coincide exatamente com um número de ciclos de 819 dias. O período sinódico de Vênus é de 585, e uma proporção é alcançada após cinco múltiplos de 819 e sete de 585 (5 × 819 = 4.095 dias = 7 × 585).

Marte, por sua vez, tem um período sinódico de 780 dias, que, se multiplicado por 21, coincide exatamente com 20 contagens de 819 dias (20 x 819 = 16.380 = 21 x 780).

O período sinódico de Júpiter, de 399 dias, se encaixa exatamente 39 vezes em 19 ciclos (19 x 819 = 15.561 = 39 x 399); e o período sinódico de Saturno, de 378 dias, se encaixa 13 vezes em 6 ciclos (6 x 819 = 4.914 = 13 x 378).

•        Ligação com outro calendário

E há até uma ligação convincente com o calendário maia de 260 dias conhecido como Tzolk'in ou Ciclo Sagrado Maia. Vinte períodos de 819 dias resultam num total de 16.380 dias. Se multiplicarmos o Tzolk'in por 63, obtemos 16.380 dias. E 16.380 é o menor múltiplo que 260 e 819 têm em comum. Portanto, ambos se unem conectam perfeitamente na contagem de 20 ciclos de 819 dias estabelecida por Linden e Bricker.

"Em vez de limitar seu foco a um único planeta, os astrônomos maias, que criaram a contagem de 819 dias, o imaginaram como um sistema de calendário mais amplo que poderia ser usado para previsões de todos os períodos sinódicos dos planetas visíveis e com pontos de coincidência com seus ciclos no Tzolk'in", observam os cientistas.

 

       Por que os anos bissextos existem? Por Zulfikar Abbany fc

 

Meus familiares dizem que meu pai nasceu em 29 de fevereiro de 1936 – quer dizer, num dia bissexto de um ano bissexto muito tempo atrás. Esse fato parece adequado para um homem que dizia "não estar interessado" em comemorar seus aniversários: dessa forma, ele tinha uma boa desculpa para pular três em cada (quase) quatro celebrações.

Mas meu pai era um contador de histórias apaixonado – ele começou sua vida profissional trabalhando em feiras. Assim, também pode ser que ele não tenha nascido em 1936, mas em 1935, ou seja, num "ano normal".

•        Qual a diferença entre um ano comum e um ano bissexto?

No calendário gregoriano, um dos mais usados no mundo, um ano é o ciclo padrão de 365 dias. Um ano bissexto, no entanto, tem 366 dias: é uma tentativa de melhorar a precisão do calendário cristão ocidental para mantê-lo sincronizado com as rotações da Terra ao redor do Sol e com outros eventos astronômicos "fixos", como os equinócios e solstícios.

•        Onde está o problema?

Explicando de forma simples: não existe um calendário perfeito. Um calendário representa um ano, geralmente um ano imperfeito.

Um ano é o tempo que a Terra leva para completar uma volta ao redor do Sol, mas isso não é estritamente verdade. Um ano verdadeiro – conhecido como ano tropical, ano solar, ano astronômico ou ano equinocial – é o tempo que o Sol leva para passar do equinócio vernal (ou primavera) até o próximo equinócio vernal.

São 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 46 segundos – ou 365,2422 dias, para ser mais preciso. Portanto, há aproximadamente uma margem de erro de seis horas em cada "ano comum". Os anos bissextos compensam esse 0,2422 extra de um dia. Não compensar essas horas "extras" nos deixaria fora de sincronia com as estações do ano – em cerca de 24 dias após somente 100 anos.

•        Explicando de outra forma...

Um ano comum tem 365 dias, cerca de um quarto de dia a menos que um ano tropical. Com 366 dias, os anos bissextos são três quartos de um dia mais longos que o ano tropical. Com o tempo, a combinação de anos comuns e bissextos nos mantém em sincronia com a órbita solar da Terra.

•        Com que frequência temos anos bissextos?

Os anos bissextos ocorrem quase a cada quatro anos, com algumas exceções.

•        O que significa "quase" a cada quatro anos?

Os anos bissextos foram introduzidos pelo imperador romano Júlio César no calendário juliano. Naquela época, os anos bissextos ocorriam, sem exceções, a cada quatro anos, mas isso foi sobrecompensado. O calendário gregoriano foi elaborado por Luigi Giglio, um astrônomo e filósofo italiano – e em homenagem ao papa Gregório 13 –, para substituir o calendário juliano, com critérios mais rígidos para os anos bissextos.

O calendário gregoriano estipula que os anos bissextos são múltiplos de 4, mas não são bissextos os anos que forem múltiplos de 100 (1900, por exemplo), com exceção daqueles que forem múltiplos de 400 (como 2000).

Precisamos pular alguns anos bissextos para explicar o fato de que essas horas extras, ou decimais (as 5 horas, 48 minutos e 46 segundos), no ano tropical não são exatamente um quarto de dia (6 horas). Então, em certo sentido, estamos corrigindo o reajuste, mas ainda não temos uma soma perfeita.

•        Competição de calendários

O calendário gregoriano foi adotado pela primeira vez na Itália, Polônia, Portugal e Espanha em 1582. Ele é considerado um dos calendários mais precisos em uso atualmente, mas mantém uma margem de erro de cerca de 27 segundos por ano – cerca de um dia a cada 3.236 anos.

É o quarto em termos de precisão, atrás do calendário maia, de cerca de 2000 a.C. e com margem de erro de um dia a cada 6.500 anos, do calendário juliano revisado de 1923, que tem margem de erro de um dia a cada 31.250 anos, e do calendário solar iraniano hijri, que é tão antigo quanto o calendário maia e tem margem de erro de um dia a cada 110 mil anos. Diz-se que o calendário hijri alcança sua alta precisão usando observações astronômicas em vez de matemáticas.

•        Outros calendários também têm anos bissextos?

Sim. O calendário chinês tem anos bissextos com meses bissextos – em vez de dias bissextos como no gregoriano. O ano bissexto hindu também apresenta um mês extra. O calendário etíope tem 13 meses, sendo que o 13º mês tem cinco dias em um ano comum e seis em um ano bissexto. O ano bissexto islâmico ocorre 11 vezes em um ciclo de 30 anos. E um ano bissexto judaico tem entre 383 e 385 dias, ocorrendo sete vezes em um ciclo de 19 anos.

•        Qual a utilidade dessas trocas?

Nós fazemos muitas trocas, mesmo ajustando o Horário Universal com segundos bissextos para explicar mudanças irregulares na rotação da Terra. É muito importante que as pessoas sintam que estão sincronizadas com o tempo e os eventos astronômicos, por exemplo, por razões religiosas, como a Páscoa, que está ligada ao equinócio da primavera.

Mas se não por motivos religiosos ou, digamos, ambientais, realmente importa se as estações variam de mês para mês ou se perdemos horas e dias ao longo de milhares de anos? Nós ao menos notamos?

 

Fonte: Deutsche Welle

 

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