Asma atinge mais
mulheres: o que falta ciência esclarecer
A principal característica da asma - doença
inflamatória crônica das vias aéreas - é a dificuldade de respirar quando a
pessoa é exposta a agentes alergênicos, que vão desde alimentos específicos até
mudanças bruscas no clima e contato com resíduos como pólen ou poeira.
Há,
também, fatores genéticos, entre os quais se destacam o histórico familiar de
asma ou rinite e obesidade. Mas por que ela atinge mais mulheres?
De
acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde do IBGE (2019), mais de 8 milhões de
brasileiros com 18 anos de idade ou mais receberam o diagnóstico de asma. A
maioria deles, 5,1 milhões, são mulheres, contra 3,2 milhões de homens.
Para
quem sofre com a doença, os sintomas mais comuns são tosse frequente,
prolongada, geralmente durante a noite, nem sempre com catarro; chiado,
cansaço, opressão no peito com dificuldade para respirar.
Nos
casos mais graves, a doença pode causar episódios debilitantes. Foi o caso da
galesa Lisa Hall: diagnosticada com asma logo após ter seu filho, ela se
preocupou se estaria bem o suficiente para cuidar dele.
Cerca
de 180 mil mulheres no País de Gales têm asma, e dados sugerem que o quadro
mata duas vezes mais mulheres do que homens. Uma instituição de caridade do
país de Lisa afirmou que as mulheres estavam sendo deixadas de lado pela
ciência, consierando a falta de pesquisas sobre as ligações entre as alterações
hormonais e a asma.
Quase
70% das pessoas que morreram de asma no país entre 2016 e 2020 eram mulheres,
de acordo com os dados oficiais do país.
Em
um novo relatório, a instituição de caridade Asthma + Lung UK disse
que é necessário um investimento urgente em pesquisa, alegando que as
desigualdades e a falta de pesquisa estão deixando as mulheres "presas em
um ciclo de entrar e sair do hospital e, em alguns casos, perder a vida".
Lisa
tinha 28 anos quando foi diagnosticada com asma, pouco depois de ter seu filho,
e disse que precisava não apenas se ajustar a ser mãe, mas "tinha esse
novo diagnóstico para fazer malabarismos".
"Eu
não gostaria que uma nova mãe ou qualquer outra mulher ou menina experimentasse
a mesma coisa que eu", disse ela. "Precisamos entender melhor como a
asma afeta as mulheres para que possamos encontrar novos tratamentos que
devolvam a vida de pessoas como eu."
Tendo
passado os últimos 13 anos vivendo com a doença, Lisa está preocupada com o que
pode acontecer se sua asma piorar.
A
cientista biomédica disse que notou que sua asma piorou antes e durante a
menstruação. Muitas vezes a condição fazia com que ela precisasse de um esforço
enorme para respirar.
"Acho
que, para algumas pessoas, falar sobre seu ciclo menstrual é bastante tabu,
então ajudaria se isso fosse pensado mais em um nível médico, de forma que as
perguntas possam ser levantadas do lado do profissional médico, em vez de vir
do paciente", disse Lisa.
"Isso
poderia abrir caminhos de discussão e opções de tratamento potencialmente
melhores para mulheres e meninas que se encontram em uma posição
semelhante", acrescentou.
Na
infância, a asma é mais prevalente e grave em meninos. No entanto, após a puberdade,
a situação se inverte, e a asma torna-se mais comum e mais forte entre as
mulheres. Pesquisadores acreditam que isso acontece em parte pela presença dos
hormônios femininos, que se tornam mais presentes no organismo durante essa
fase da vida, mas ainda faltam pesquisas para definir uma relação clara.
As
taxas de internações hospitalares no País de Gales por asma são semelhantes por
sexo no início da adolescência, mas são quase três vezes maiores em mulheres do
que em homens com idades entre 20 e 49 anos, de acordo com análise da
pesquisa Asthma + Lung UK.
O
estudo diz que as mulheres continuam a ser tema secundário quando se trata de
financiamento de pesquisa e que é necessário um grande investimento para
analisar as diferenças relacionadas ao sexo na asma.
·
'Lacunas no conhecimento deixam mulheres excluídas'
Sara
Woolnough, executiva-chefe da Asthma + Lung UK, apontou: "As lacunas em
nosso conhecimento estão falhando com as mulheres, deixando-as lutando com
sintomas debilitantes da asma, presas em um ciclo de entrar e sair do hospital
e, em alguns casos, perdendo suas vidas.
"Precisamos
urgentemente de mais investimentos em pesquisa nessa área para que possamos
encontrar novos tratamentos e usar melhor os tratamentos existentes para ajudar
milhões de mulheres e salvar vidas."
Um
porta-voz do governo galês disse: "Esperamos que as mulheres afetadas pela
asma sejam apoiadas pelo sistema público de saúde de acordo com a prática
clínica recomendada. Isso inclui o fornecimento de planos de cuidados individualizados
que reflitam as diferentes necessidades dos pacientes."
"Qualquer
evidência emergente sobre as causas de doenças mais graves entre as mulheres
precisaria ser considerada pelas organizações de definição de diretrizes e,
quando necessário, incorporada à prática clínica recomendada".
Fonte:
BBC News Brasil
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