sábado, 1 de abril de 2023

60% dos novos vizinhos de Bolsonaro são militares

A rotina do condomínio Solar de Brasília, no Jardim Botânico, ficou mais agitada com a chegada do novo morador, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Para os vizinhos, a presença do político de extrema direita no residencial divide opiniões.

O ex-chefe do Executivo desembarcou no Aeroporto Internacional de Brasília na manhã dessa quinta-feira (30/3), sob forte esquema de segurança. Entretanto, Bolsonaro só chegou à residência no início da tarde.

O Metrópoles entrou em contato com moradores do condomínio para saber o que eles acham sobre compartilharem o espaço com Bolsonaro, um nome idolatrado por muitos e odiado por tantos outros. Para preservá-los, as identidades dos agora vizinhos do conservador não serão divulgadas.

Um homem, de 67 anos, revelou sua total antipatia pelo novo vizinho: “Odeio o Bozo (Bolsonaro). Então, achei uma merda ele ter vindo para cá”. Ele confessa que a chegada do ex-presidente deve afetar pouco a sua rotina, mas acaba gerando um mal-estar por “ver figuras políticas ruins entrando e saindo no condomínio”.

“Acho que a maioria não vai se importar. Esse condomínio tem uns 60% de milico (militares). Devem até ter votado nele. É uma região de mais ricos, eleitores do Bolsonaro”, detalhou.

Um outro morador do residencial, de 59 anos, tem opinião diferente. Ele até gostou do movimento que o ex-chefe do Executivo causou no local. De acordo com ele, é provável até que os imóveis do condomínio valorizem.

“Pensa comigo: ele (Bolsonaro) está trazendo visibilidade para cá. A pessoa vê um ex-presidente vindo morar aqui e acha que é um lugar bom. Porque um político como ele não viria para um condomínio ruim e sem segurança, não é?”, assinalou.

O condômino adorou a chegada do político e considera Bolsonaro o “melhor presidente” que o Brasil já teve. “Tem como não gostar? Vai ser bom demais”, concluiu.

Outro morador, de 32, também reforça que nada vai mudar na sua vida. “Sendo sincero, só percebi alguma movimentação agora pela tarde. E só por parte da imprensa. Tirando isso, não vi nenhum outro agito com a chegada do Bolsonaro aqui”, disse.

Para ele, é motivo de orgulho ter um ex-presidente tão perto, independentemente de qual político fosse: “Tanto podia ser ele (Bolsonaro) quanto o Lula, que eu ia ser tranquilo. Eu mesmo vou seguir vivendo normalmente”.

Ao ver uma grande movimentação de jornalistas em frente à portaria do Solar de Brasília, moradores do condomínio manifestavam suas opiniões de dentro dos carros. Com o capô do veículo coberto pela bandeira brasileira, um deles fazia um gesto de “arma” com as mãos, símbolo adotado por seguidores do ex-presidente, defensor do porte e da posse de armas por cidadãos comuns. Outra mulher brincou: “O Ali Babá já chegou? E os outros 40 ladrões?”, questionou.

Jair Bolsonaro voltou ao Brasil na manhã dessa quinta-feira, depois de passar três meses nos Estados Unidos. Ele desembarcou no Aeroporto Internacional de Brasília em voo comercial e seguiu para a sede o Partido Liberal (PL), no Brasil 21, onde foi recepcionado por aliados.

O ex-presidente foi recebido na garagem do edifício pelo presidente do PL, Valdemar Costa Neto, pelo senador e filho dele, Flávio Bolsonaro, e pelo deputado federal Hélio Lopes, conhecido como Hélio Negão.

Na sequência, já na sede do partido, Bolsonaro foi recebido aos gritos de “O Capitão voltou” por muitos políticos aliados. Entre alguns nomes, estavam os deputados federais general Pazuello, ex-ministro da Saúde, Ricardo Salles, ex-ministro do Meio Ambiente, e os senadores Ciro Nogueira e Esperidião Amin.

 

       Bolsonaro promete desafiar Justiça usando política

 

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que retornou ao Brasil na quinta-feira (30), deixou claro a aliados que pretende se manter em evidência e afirmou querer viajar o país para defender o seu governo.

Durante encontro que manteve com parlamentares e políticos em seu primeiro dia em Brasília, o ex-presidente ainda disse ao general Walter Braga Netto (PL), que foi candidato a vice na sua chapa, querer voltar a andar de motocicleta.

Segundo relatos de pessoas presentes, Bolsonaro sugeriu que poderia dar um passeio já neste domingo (2).

Durante seu governo, Bolsonaro realizou diversas motociatas. Nesses eventos, centenas de motociclistas apoiadores se reuniam para percorrer um trajeto com o então presidente —que em diversas ocasiões infringiu normas de trânsito ao trafegar sem capacete.

A agenda de viagens não está pronta. Segundo o ex-ministro Gilson Machado (Turismo), a ideia também é fazer giros de carro pelo país.

Machado afirma que Bolsonaro expressa muita vontade de ir ao Nordeste, única região em que Bolsonaro foi derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2022.

“Ele quer muito correr o Nordeste. Foi lá que tivemos uma votação que não foi a esperada. E lá tivemos a maior quantidade de pessoas nos eventos que fizemos. Tem que entender o que houve lá”, diz Machado.

Ele acrescenta que Bolsonaro também deve ir a Portugal, em maio, para um evento de políticos conservadores.

De acordo com integrantes do PL, a agenda de viagens de Bolsonaro deve ser definida na próxima semana. O itinerário será resolvido após análise do presidente do partido, Valdemar Costa Neto, que usará pesquisas encomendadas pelo partido.

A decisão sobre os locais que serão percorridos vai ser balizada pelo objetivo do PL de aumentar o número de prefeitos e vereadores na eleição de 2024. Bolsonaro disse na quinta que pretende fazer “uma ou duas viagens pelo Brasil a cada mês”.

Embora tenha afirmado publicamente não pretender “ser o líder da oposição”, os sinais que deu ao regressar ao Brasil vão no sentido contrário.

O ex-chefe do Executivo desembarcou pela manhã em Brasília de um voo com origem em Orlando. Bolsonaro estava nos Estados Unidos desde dezembro de 2022, quando deixou o país para não passar a faixa presidencial a Lula.

Em seguida, foi para o escritório do PL, na região central da capital, onde se reuniu com Valdemar e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, além de um conjunto de parlamentares aliados.

De acordo com aliados, o ex-chefe do Executivo tem sido aconselhado a comparecer a festas populares no interior do país, como o São João de Caruaru (PE) e a Festa do Peão de Barretos (SP). Esses interlocutores destacam que o embate direto com o governo sobre pautas específicas deve ser feito pela bancada bolsonarista no Congresso.

Durante a campanha, ele recebeu conselho similar. Pesquisas mostravam que Bolsonaro desempenhava melhor e diminuía a rejeição quando não adotava uma postura crítica ou agressiva.

Além de dizer que quer viajar o país para defender “o que fez”, Bolsonaro afirmou a aliados o que disse em público sobre a intenção de ajudar o partido a crescer nas eleições municipais.

O ex-presidente afirmou que pretende se reunir com prefeitos, deputados e partidos pequenos que são aliados para fazer articulações políticas e eleger o máximo de candidatos possíveis.

Além de Bolsonaro, o PL quer que Michelle e Braga Netto também assumam uma agenda de viagens.

O objetivo da legenda é aproveitar o máximo os “ativos políticos” que eles consideram ter.

Diante da possibilidade de que Bolsonaro seja declarado inelegível pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), aliados de Bolsonaro passaram a trabalhar com a hipótese em que Michelle poderia ser candidata à Presidência em seu lugar.

O ex-mandatário, porém, rejeitou essa possibilidade em entrevista à Jovem Pan na quinta. Disse ainda que ela não “tem vivência” e que lhe “falta algo”.

“Alguém lançou o nome dela. Ela já falou que não quer saber de cargo no Executivo, está fora disso, até porque não tem a vivência. Até para você ser prefeito não é fácil. Eu vejo alguns prefeitos que, quando terminam o mandato, apesar de ter feito um bom trabalho, se arrependem dado ao número de processos que respondem por improbidade administrativa”, declarou Bolsonaro.

•        Bolsonaro critica Zema e Tarcísio por aproximação com Lula

Em conversas com aliados, Jair Bolsonaro tem dito, de maneira enfática, que não vê os governadores de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas , e de Minas Gerais, Romeu Zema, “prontos” para enfrentar uma eleição presidencial com Lula.

Nos bastidores, o ex-presidente faz críticas, especialmente, ao seu pupilo Tarcísio. Ele afirma que o governador é muito técnico e que “seria engolido pela política”.

Apesar de saber que a chance de ser declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é grande, Bolsonaro deixa claro que tem como projeto concorrer ao Palácio do Planalto em 2026. O discurso do capitão, ao retornar ao Brasil, nesta quinta-feira, foi de candidatíssimo e mirou Lula. Ele disse que o governo petista não fará o que “bem quer”. Outro gesto foi descartar qualquer possibilidade de Michelle concorrer à Presidência ou qualquer cargo no Executivo.

No PL, entretanto, a candidatura do ex-presidente é tratada como “carta fora do baralho”. Lideranças da sigla e do centrão avaliam que o espaço será ocupado por herdeiros de Jair Bolsonaro e hoje veem Tarcísio como o nome mais forte, além da ex-primeira-dama.

 

       PL aposta fichas em “deputado chupetinha”

 

No Dia Internacional da Mulher, o deputado Nikolas Ferreira subiu à tribuna usando uma peruca, se apresentou como “deputada Nikole” e fez um discurso considerado transfóbico. A lei caracteriza como crime e prevê até cadeia para quem pratica, induz ou incita qualquer tipo de discriminação. O parlamentar explicou que, ao decidir fazer a performance — ridícula, para dizer o mínimo —, seu objetivo era apenas o de criticar os movimentos feministas e o teor de algumas propostas de inclusão social de pessoas trans. A reação foi imediata. O PSOL ingressou com uma representação no Conselho de Ética pedindo a cassação do deputado. O presidente da Câmara, Arthur Lira, repreendeu publicamente o colega: “O plenário não é palco para exibicionismo e muito menos discursos preconceituosos”, disse. Os movimentos que defendem os direitos das minorias foram ao Supremo Tribunal Federal contra o congressista. Já o PL, o partido de Nikolas, viu no histrionismo — principalmente na repercussão que ele teve — uma excelente oportunidade.

Celebridade digital e filho de um pastor evangélico, Nikolas é, ao lado de Michelle Bolsonaro, uma das principais armas da legenda para consolidar o PL como o maior partido conservador do país. A ex-primeira-dama já atua como referência feminina. O deputado, que tem 26 anos, exercerá o mesmo papel, só que mirando o eleitorado mais jovem. A sigla, inclusive, já está rascunhando uma agenda que prevê um giro de suas novas estrelas pelas capitais onde o PL pretende lançar candidatos em 2024, com foco nas regiões Sul e Sudeste, onde o bolsonarismo reúne grande contingente de simpatizantes. A ideia é que ambos, ao lado do ex-¬presidente Jair Bolsonaro, que retornou ao Brasil na última quinta-feira, participem de grandes atos políticos. Os liberais estimam que, com isso, podem triplicar o número de prefeituras e conseguir eleger pelo menos dois vereadores em cada um dos mais de 5 000 municípios do país. No desembarque do capitão, aliás, Nikolas ocupava um lugar de destaque. O parlamentar é dono de algumas marcas que impressionam. No ano passado, ele recebeu 1,4 milhão de votos, cifra que lhe valeu o status de deputado mais votado do país e o terceiro lugar no ranking dos mais votados da história. Com colocações mais espertas do que outros ícones do radicalismo, como as deputadas Bia Kicis e Carla Zambelli, seus perfis na internet já registram mais de 10 milhões de seguidores e se tornaram um cobiçado instrumento eleitoral. “Em cada capital, quero pegar pelo menos dois jovens combativos e apresentá-los como os meus candidatos”, disse ele, lembrando que exigirá dos escolhidos apenas o compromisso com a pauta contra o aborto, a ideologia de gênero ou qualquer coisa defendida pela esquerda. Fã de Jair Bolsonaro — “uma pessoa que sacrificou a própria vida pelo Brasil” —, Nikolas segue seu ídolo na estratégia de criar polêmicas. No auge da pandemia, comparou a exigência da carteira de vacina ao nazismo. Como vereador, foi processado por uma deputada trans porque insistia em se referir a ela como “ele”.

O PT chegou a discutir seu endosso à abertura de um processo contra o deputado no caso da peruca, mas recuou depois de avaliar que o movimento embutia o risco de vitimizar e dar ainda mais visibilidade ao parlamentar. Por outros caminhos, foi exatamente o que aconteceu na terça-feira 28, durante uma audiência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), convocada para ouvir o ministro da Justiça, Flávio Dino, sobre os atos golpistas de 8 de janeiro. A sessão terminou em baixaria. Só que, dessa vez, Nikolas estava do lado oposto. Em uma de suas intervenções, ele criticou a postura do ministro. Alguns parlamentares passaram então a provocá-lo com insultos de viés homofóbico. Um deles, identificado depois, era André Janones (Avante-MG), ex-coordenador das milícias digitais do PT na campanha presidencial do ano passado. Resultado do injustificável ataque: Nikolas ganhou mais 560 000 seguidores em suas redes. O silêncio, muitas vezes, é a melhor resposta — inclusive, no combate aos radicais.

 

Fonte: Metrópoles/FolhaPress/Veja

 

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