Vacina reduz em 20% risco de demência em
mulheres
Pessoas
acima de 50 anos ou com saúde fragilizada são mais suscetíveis à doença da
herpes-zóster, também conhecida como cobreiro. Um estudo aponta que os
benefícios do imunizante vão além da proteção contra o vírus.
Há
muito tempo cientistas desconfiavam que a herpes-zóster e a demência pudessem
estar relacionadas.
Agora, um estudo britânico publicado na revista
nature traz evidências
bastante convincentes disso, ao apontar que a vacina contra o vírus varicela-zóster (VVZ) protege
principalmente mulheres da demência.
"A
análise apresentada é o melhor trabalho publicado até agora sobre a relação
entre uma infecção viral e o aumento do risco de demência", avalia Martin
Korte, neurobiólogo e professor decano da Faculdade de Ciências da Vida da
Universidade Técnica de Braunschweig que não participou do estudo. Segundo ele,
a pesquisa "fornece uma evidência convincente de que a vacinação contra
herpes-zóster não apenas protege contra uma doença muito dolorosa, mas também
reduz significativamente o risco de demência".
As
conclusões dos cientistas se baseiam no acompanhamento, ao longo de sete anos,
de dois grupos no País de Gales. Segundo eles, a vacinação de pessoas acima de
80 anos provavelmente explica a queda nos diagnósticos de demência. Nas
mulheres imunizadas, o risco de desenvolver demência foi 20% menor. Nos homens,
não foi constatado nenhum efeito significativo.
Mas o
estudo monitorou um único imunizante: o Zostavax, feito com uma versão ativa,
mas enfraquecida e em pequena quantidade, do vírus.
Só que
a Zostavax tem menor eficácia, segundo um estudo americano, e por isso hoje a
maior parte das pessoas são vacinadas com o Shingrix, um imunizante que não
contém o vírus ativo em sua composição.
- O que é o vírus
varicela-zóster?
O vírus
varicela-zóster pertence ao grupo dos vírus da herpes, que cientistas associam
à demência. O agente infeccioso é o mesmo que também provoca a catapora
(varicela), uma doença mais comum entre crianças, e que provoca febre e
erupções cutâneas que coçam bastante.
Quando
o corpo humano se cura da catapora, os vírus restantes se refugiam nas células
nervosas da medula. Ali, eles permanecem em estado inativo, mas podem "despertar" e se
multiplicar anos depois, quando o sistema imunológico estiver enfraquecido. E é
aí que surge a doença da herpes-zóster, também conhecida como cobreiro.
- Quais são os
sintomas da herpes-zóster?
Os
primeiros sintomas da herpes-zóster são mal-estar e febre. Posteriormente,
surgem inflamações nos nervos, com prurido e fortes dores.
As
erupções cutâneas características da doença podem se manifestar em qualquer
lugar do corpo, mas geralmente aparecem no tórax. Outras áreas mais comumente
afetadas são pescoço, braços, pernas, rosto, olhos e orelhas.
Muitas
vezes, as lesões avermelhadas aparecem próximo à coluna vertebral e se espalham
na horizontal, em direção à barriga, dando lugar a bolhinhas doloridas que
coçam e se enchem de líquido, e que desaparecem cerca de cinco dias depois. A
dor, contudo, pode persistir por mais dias.
- Por que a vacina
contra a herpes-zóster age diferente em mulheres?
O
estudo fornece evidências de que a vacinação contra a herpes-zóster protege
contra o desenvolvimento ou o surgimento da demência. No entanto, ainda não
está claro como exatamente essa proteção funciona.
Outra
pergunta que a ciência ainda precisa responder é por que o impacto da vacinação
contra herpes-zóster no risco de demência difere tanto entre mulheres e homens.
"As
mulheres têm maior propensão à demência e apresentam uma resposta mais intensa
por meio de mecanismos autoimunes. Dois terços das doenças autoimunes afetam
mulheres", explica Korte. "O estudo pode até estar apontando para
esse mecanismo: processos neuroinflamatórios desencadeados por processos
autoimunes seriam possivelmente reduzidos pela vacinação, o que protege
principalmente as mulheres."
Neuroinflamação
significa que o cérebro está inflamado porque o sistema imunológico, que
normalmente protege o organismo, começa a atacar o próprio cérebro ou tecidos,
em vez de combater apenas agentes externos como bactérias ou vírus.
- Quem deveria se
vacinar contra a herpes-zóster?
Cerca
de três em cada dez pessoas desenvolvem herpes-zóster ao longo da vida. A
doença pode aparecer em qualquer idade, mas é mais comum em pessoas acima de 50
anos ou com o sistema imunológico enfraquecido. O risco aumenta com a idade e,
além disso, as mulheres tendem a ter a doença com mais frequência e mais cedo
do que os homens.
Atualmente,
a vacinação contra herpes-zóster é indicada no Brasil para todas as pessoas a
partir dos 50 anos, mas está disponível apenas na rede privada e não é coberta
pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que vacina apenas bebês e crianças contra o
vírus.
A
vacina atenuada (Zostavax) é administrada em dose única, por injeção
subcutânea. Já a vacina recombinante inativada (Shingrix), mais indicada para
adultos imunocomprometidos ou com risco aumentado para herpes-zóster, é
administrada em duas doses, com intervalos de dois meses entre elas, por
injeção intramuscular. O imunizante tem um custo elevado, podendo passar dos R$
1 mil.
Diante
dos novos achados do estudo, Peter Berlit, da Sociedade Alemã de Neurologia,
defende que as recomendações de vacinação sejam revistas: "O efeito da
vacinação na prevenção ou no retardamento da demência é tão grande que isso
vira um argumento a favor da imunização para além da proteção contra a
herpes-zóster."
Na
Alemanha, a vacinação também não é coberta pelo sistema público de saúde e só é
recomendada amplamente a partir dos 60 anos. "Precisamos discutir se a
vacinação não deveria ser recomendada para todas as pessoas a partir dos 50
anos, pelo menos para as mulheres", defende Berlit.
O
neurobiólogo Korte, que também lidera o grupo de pesquisa sobre neuroinflamação
e neurodegeneração no Centro Helmholtz de Pesquisa em Infecções, vai ainda mais
longe: "Minha recomendação seria ampliar a vacinação. Todas as faixas
etárias se beneficiam em relação à própria herpes-zóster. Poucas coisas são tão
dolorosas quanto um caso grave da doença. Supõe-se que, quanto mais cedo alguém
se vacinar, maior será a redução do risco de demência", argumenta.
Fonte:
DW Brasil
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