Familiares
de Nabhan Garcia, ‘braço direito’ de Bolsonaro, entram na Lista Suja
ENTRE OS 155 NOVOS
EMPREGADORES incluídos na atualização da Lista Suja do trabalho escravo,
publicada nesta quarta-feira (9) pelo governo federal, estão os empresários do
agronegócio Marco Aurélio Parzianello, de 64 anos, e seu filho, Marco Aurélio
Parzianello II, de 36. Pai e filho submeteram cinco trabalhadores a condições
análogas às de escravos na fazenda Arizona, em Ipixuna do Pará (PA), segundo o
cadastro oficial do MTE (Ministério do Trabalho e Emprego).
Os dois têm relações familiares com o
ex-secretário de Assuntos Fundiários do governo de Jair Bolsonaro (PL), Luiz
Antônio Nabhan Garcia, “braço direito” do ex-presidente na relação com o
agronegócio e inimigo declarado dos movimentos de luta pela reforma agrária.
Nabhan Garcia é casado com a médica Marisa Ângela Parzianello Nabhan Garcia,
irmã de Marco Aurélio e tia de Marco Aurélio II.
A Repórter Brasil procurou o Grupo
GMP, empresa dos Parzianello, por e-mail e mensagem de celular, mas não obteve
resposta. Nabhan Garcia também foi contatado, porém, não retornou. O texto será
atualizado, caso posicionamentos sejam recebidos.
De acordo com os autos de infração
registrados por auditores fiscais do Ministério do Trabalho, motoristas de
caminhões que transportavam milho colhido na fazenda Arizona dormiam nas
boleias, faziam suas necessidades no mato e tomavam banho em um chuveiro
improvisado ao ar livre, sob vigilância de câmeras. Um deles relatou aos
auditores fiscais que desligava a iluminação da ducha para evitar ser filmado
nu.
Durante o dia, não havia abrigo contra o sol
ou a chuva, nem instalações sanitárias ou locais apropriados para as refeições.
Os trabalhadores comiam sentados no chão ou embaixo das carrocerias dos
caminhões.
A operação que culminou com a inclusão dos
dois empresários na Lista Suja foi realizada em junho de 2023, com apoio do
Ministério Público do Trabalho e da Polícia Federal. Diante das violações
constatadas, a fiscalização determinou a retirada imediata dos trabalhadores da
fazenda, o pagamento dos direitos trabalhistas e o retorno de cada um à sua
cidade de origem.
Os autos de infração também mostram que, após
as 7h, os trabalhadores não tinham mais acesso ao café da manhã, mesmo
permanecendo em campo até o fim do dia. Não havia controle de jornada, e os
únicos banheiros disponíveis ficavam distantes das frentes de trabalho e não
contavam com chuveiros. Por isso, os motoristas realizavam toda a rotina de
trabalho, alimentação, descanso e higiene no mesmo caminhão em que
transportavam as cargas.
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Quem é Nabhan Garcia, ex-secretário de
assuntos fundiários do governo Bolsonaro
Antes de atuar no governo Bolsonaro, Nabhan
Garcia ficou conhecido como presidente da UDR (União Democrática Ruralista),
entidade que ganhou notoriedade por sua oposição ao MST (Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra).
A aproximação de Nabhan com Jair Bolsonaro
começou ainda durante a campanha eleitoral de 2018, quando o então candidato
intensificou o discurso em defesa do agronegócio e da propriedade privada.
Nabhan foi responsável por abrir as porteiras do agro para Bolsonaro.
Em um encontro com 40 produtores rurais na
casa do ex-presidente, em 2018, durante a campanha eleitoral, Nabhan defendeu
mudanças na punição ao trabalho escravo. “Se algum produtor aqui eventualmente
comete uma arbitrariedade na questão trabalhista, ele não pode ser transformado
em um escravagista”, discursou, conforme
noticiado pelo Valor.
“Como é que quem está gerando emprego,
produzindo, trabalhando, pagando imposto pode ser considerado escravagista? O
que tivemos aí nos governos anteriores, em especial do PT, são instituições que
foram transformadas em órgãos de perseguição ideológica. Isso não pode
existir”, afirmou na ocasião.
Em 1997, durante sua gestão na UDR, a
entidade foi acusada de financiar e treinar seguranças armados para a
desocupação de uma fazenda em Sandovalina, no interior de São Paulo, deixando
oito trabalhadores rurais feridos. O episódio foi investigado pela CPMI
(Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) da Terra. Nabhan, no entanto, não
chegou a ser indiciado.
Com a vitória de Bolsonaro, Nabhan assumiu a
Secretaria Especial de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura.
Durante sua gestão, o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária) suspendeu a aquisição de novas terras para assentamentos e passou a
focar na titulação de lotes já existentes. A mudança de orientação foi
acompanhada por alterações administrativas que reduziram a atuação da autarquia
em programas de reforma agrária.
Com forte inserção no meio rural e apoio de
setores do agronegócio, Nabhan também manteve articulações políticas com
deputados e lideranças do agro envolvidas em conflitos de terra e episódios de
violência, conforme mostrou a série de reportagens Ogronegócio:
milícia e golpismo na Amazônia, publicada
pela Repórter Brasil em agosto de 2024.
A esposa de Nabhan Garcia, Marisa Ângela, é
filha de Alcides Juraci Parzianello, de Tenente Portela (RS), que migrou para o
Mato Grosso do Sul na década de 1970. Na década seguinte, ele comprou 67 mil
hectares de terras indígenas em Diamantino e Tangará da Serra, no Mato Grosso,
segundo publicou o De Olho nos
Ruralistas.
“Continuar trabalhando com excelência,
crescendo, contribuindo para o país, gerando emprego nas regiões que estamos
entrando”, definiu como seu objetivo o sobrinho de Marisa, Marco Aurélio
Parzianello II, em entrevista a
um portal especializado na cobertura do
agronegócio, em setembro de 2024.
Na entrevista, Marco Aurélio II relata que o
pai seguiu os passos do avô e foi para o norte do Mato Grosso para “fazer as
aberturas”, como são chamadas as derrubadas de florestas nativas para a
formação de fazendas. Atualmente, eles têm propriedades com plantações de soja,
milho, algodão e eucalipto.
Formado em economia agrícola pela
Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, Marco Aurélio II é CFO (Chief
Financial Officer) do Grupo GMP, com cinco unidades produtivas. Três estão
localizadas no norte do Mato Grosso (Nova Ubiratã, Sorriso e Ipiranga do
Norte), uma no Mato Grosso do Sul (Campo Grande) e outra no Pará, na
região de Tailândia), onde fica a fazenda fiscalizada.
O avô de Marco Aurélio II, Alcides
Parzianello, foi caminhoneiro — mesma ocupação dos cinco trabalhadores
resgatados na fazenda da família.
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Trabalhador com jornada
de 20h diárias é resgatado em granja fornecedora da JBS
UMA OPERAÇÃO EM Nova Ponte, no Triângulo
Mineiro, resgatou do trabalho escravo um homem recrutado para cuidar dos
aviários de uma granja com capacidade para abrigar até 40 mil aves. De acordo
com o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), ela abastecia uma unidade da
Seara Alimentos, empresa
do grupo JBS e uma das líderes nacionais na produção
de frangos e carnes processadas.
O resgate ocorreu em janeiro, após uma
denúncia recebida pela Polícia Federal relatando que a vítima era mantida no
local contra a sua vontade. Segundo o MTE, que participou da operação, o dono
da granja se aproveitou da situação de vulnerabilidade do trabalhador para
oferecer serviços apenas em troca de comida e alojamento. O órgão afirma que
ele havia sido dispensado da empresa onde trabalhava com reciclagem e estava na
iminência de ser despejado de sua moradia.
O resgatado passou então a habitar um cômodo
precário da fazenda, de acordo com o relatório da fiscalização, acessado
pela Repórter Brasil. No alojamento, segundo o MTE, não havia cama ou
qualquer tipo de mobiliário. Além disso, o ministério apurou que as tarefas
impostas à vítima eram realizadas dia e noite, chegando a 20 horas
ininterruptas. Suas obrigações incluíam manter os bebedouros da granja
constantemente cheios, inclusive de madrugada, queimar lenha para aquecer os
aviários e deles retirar as aves mortas.
Ainda segundo o MTE, o empregador Vilson
Aguiar Ribeiro pagou à vítima R$ 5,5 mil em salários e verbas rescisórias.
<><> Contrato com o grupo JBS
A fiscalização apurou que o empregador
possuía um contrato de parceria com a Seara Alimentos. Pelo acordo, ele recebia
da empresa os pintinhos recém-nascidos. Posteriormente, os frangos engordados
na fazenda eram encaminhados para o abate.
O relatório da fiscalização ressalta que,
segundo o depoimento do trabalhador, representantes da JBS iam ao local
semanalmente para avaliar a qualidade dos animais. No entanto, nunca teriam
feito questionamentos sobre as condições de trabalho e moradia no local.
O documento destaca que a JBS divulga em seu
site manter um diálogo constante com fornecedores sobre direitos humanos e leis
trabalhistas. Mas tal afirmação, segundo o relatório, “não passa de uma mera
ficção retórica para ludibriar clientes e certificadoras, uma vez que durante o
período de labor a empresa esteve completamente alheia às graves violações de
direitos trabalhistas sofridas pelo trabalhador”.
Procurada, a JBS não respondeu até o momento
da publicação. O empregador responsabilizado pelo caso não foi localizado. O
espaço segue aberto para manifestações.
<><> Resgate de indígenas
Este não foi o único caso de trabalho escravo
flagrado em 2025 em atividades ligadas à indústria avícola. Em março, 35
indígenas oriundos de Amambaí (MS) foram resgatados em Pedreira (SP), onde prestavam serviços em várias granjas da região.
Eles haviam saído do município de origem há 15 dias e trabalhavam na apanha dos
frangos que são colocados em caminhões para serem encaminhados ao abate.
Segundo o Ministério Público do Trabalho
(MPT), o grupo foi submetido a condições degradantes de alojamento em uma casa
com apenas três dormitórios, um chuveiro e dois vasos sanitários. Parte deles,
segundo o órgão, dormia na varanda, na garagem, no corredor e na cozinha da
casa. O MPT afirma ainda que a alimentação dos trabalhadores era precária,
composta apenas de arroz.
O órgão diz também que a empresa terceirizada
responsável pela contratação dos indígenas presta serviços para um grande
frigorífico no interior de São Paulo. O MPT, no entanto, não divulgou o nome do
frigorífico.
Fonte:
Repórter Brasil

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