EUA confirmam tarifas devastadoras de 104%
contra China
A
guerra comercial entre as duas grandes potências do mundo se intensificou nesta
terça-feira. A Casa Branca, por meio de uma de suas porta-vozes, confirmou que
os Estados Unidos aplicarão uma tarifa devastadora de 104% sobre produtos
chineses. Com isso, as relações comerciais entre os dois países — que formam a
maior corrente de comércio do planeta — correm o risco de serem quase
inteiramente interrompidas, provocando um terremoto gigante no comércio
internacional.
O
anúncio foi feito pela secretária de imprensa Karoline Leavitt, em entrevista à
Fox Business. A tarifa entra em vigor nesta quarta-feira (9) e representa uma
nova escalada nas medidas econômicas contra a China, parte de uma estratégia
dos EUA para conter práticas comerciais consideradas desleais.
Até
então, produtos chineses já eram taxados em 34%. A nova tarifa eleva esse
percentual para 104%, tornando os itens praticamente inviáveis no mercado
americano. A Ásia como um todo foi fortemente atingida, mas a China segue como
o principal alvo.
Em
resposta, autoridades chinesas afirmaram que irão lutar até o fim contra o
aumento das tarifas, acusando os EUA de violar as regras do comércio
internacional e tentar sufocar o desenvolvimento econômico e tecnológico do
país. Medidas de retaliação já estão sendo preparadas.
O
aumento das tensões comerciais teve reflexos imediatos no mercado financeiro.
Investidores reagiram com cautela, temendo o agravamento da disputa. Houve
queda nas bolsas de valores e fuga de ativos de risco, como ações e moedas de
mercados emergentes.
Embora
o pregão desta terça-feira tenha começado com certo otimismo, a expectativa de
avanço nas negociações foi derrubada com a confirmação da tarifa. A Casa Branca
informou que cerca de 70 países procuraram os EUA para discutir os impactos da
medida.
A
iniciativa faz parte de uma política econômica mais ampla voltada para o
protecionismo estratégico. O objetivo declarado é reduzir a dependência de
insumos estrangeiros, fortalecer a indústria local e posicionar os EUA como
potência industrial. Críticos alertam, porém, que a estratégia pode gerar
inflação e prejudicar empresas e consumidores.
O risco
de uma guerra comercial prolongada preocupa economistas, que apontam efeitos em
cadeia sobre a economia global. Empresas podem ter que redesenhar suas cadeias
produtivas, o que tende a elevar custos e reduzir lucros.
A
reação da China nos próximos dias será crucial. Novas tarifas e possíveis
restrições a empresas americanas podem agravar ainda mais o conflito. O clima
de incerteza se espalha por outras regiões, e países como os da União Europeia
acompanham com apreensão os desdobramentos.
Especialistas
afirmam que a crise pode alterar de forma duradoura a estrutura do comércio
global. A busca por fornecedores fora da China, por exemplo, pode beneficiar
países como Índia e Vietnã, mas exigirá tempo e investimento.
Organismos
internacionais, como o FMI e a OMC, devem se pronunciar sobre as consequências
econômicas do tarifaço. Por ora, o comércio mundial entra em mais um momento
crítico, com potencial para abalar profundamente o cenário econômico deste ano.
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Tarifas movimentam mercado financeiro
O
tarifaço de Donald Trump e as reações dos países atingidos têm movimentado o
mercado financeiro, com investidores receosos de que as medidas possam gerar uma guerra
comercial generalizada.
O
cenário de incerteza faz com que os investidores se afastem dos ativos de
risco, como os mercados de ações, o que prejudica as bolsas de valores em todo
o mundo.
Nesta
terça-feira (8), o pregão havia começado mais tranquilo, guiado por uma
percepção de que os EUA poderiam avançar nas negociações com outros países
sobre as tarifas.
De
acordo com a Casa Branca, cerca de 70 nações já procuraram o governo americano
para negociar.
As principais bolsas da Ásia e da
Europa fecharam em alta. Nos Estados Unidos, onde o pregão ainda está em
andamento, os principais índices de Wall Street abriram em forte alta, mas
reduziram os ganhos no início da tarde.
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‘Preparem-se para
o impacto’: economista chinês diz que não há trégua à vista
Com sua
resposta rápida e dura às novas tarifas do presidente dos EUA, Donald Trump, a
China deixou de lado a diplomacia e tornou improvável uma reconciliação,
afirmou o economista Mao Zhenhua nesta terça-feira.
“Num
primeiro momento, a China tentou manter certa cortesia para evitar uma
escalada”, disse Mao, professor da Universidade de Hong Kong e codiretor do
Instituto de Pesquisa Econômica da Universidade Renmin.
Trump
anunciou um aumento cumulativo de 20% nas tarifas sobre produtos chineses desde
que assumiu o segundo mandato, em janeiro. Na semana passada, como parte de um
pacote tarifário generalizado contra quase todos os parceiros comerciais dos
EUA, ele impôs uma alta adicional de 34%.
“Mas
esse novo aumento testa os limites, e Pequim precisou responder de forma
diferente e mais dura”, afirmou Mao. “A resposta da China evoluiu. O país
percebeu que a abordagem moderada não funciona.” Ele alertou que a chance de
retomada do diálogo é “muito pequena” e que todos devem “se preparar para o
impacto”.
As
tarifas de 34% impostas pela China, com vigência prevista para o meio-dia de
quinta-feira, foram vistas como um revide mais firme do que os aumentos
seletivos anteriores. Além disso, Pequim adotou controles de exportação
direcionados a empresas norte-americanas dos setores de defesa, aeroespacial,
tecnologia e logística.
Segundo
Mao, a postura moderada anterior da China indicava a intenção de manter algum
espaço para negociações. Mas agora, o país está pronto para agir. “Trump já
havia sinalizado essas tarifas durante a campanha e após a reeleição, então
Pequim preparou planos de contingência para qualquer cenário.”
Mao
argumenta que o gigantesco déficit comercial dos EUA — principal justificativa
de Trump para suas tarifas recíprocas — tem causas mais profundas. “Os EUA não
estão em déficit por negociar com a China. Estão trocando dólares por produtos
estrangeiros e, por isso, sempre terão déficits”, explicou. “Antes de negociar
com a China, os EUA precisam resolver essa questão estrutural.”
Em
2024, o déficit comercial americano com a China foi de US$ 295,4 bilhões, com
importações de US$ 439,9 bilhões em produtos chineses.
A
ofensiva tarifária lançada na semana passada, chamada de “Dia da Libertação”
por Trump, também atinge países do Sudeste Asiático que se tornaram
alternativas para a produção chinesa. Mao alertou que nações como Vietnã,
Malásia e Indonésia, pressionadas pelos EUA, podem adotar tarifas contra
produtos chineses.
Enquanto
Pequim denuncia o “bullying econômico” dos EUA, Mao destaca que o governo
chinês precisa agir mais internamente. Em nota publicada na semana passada, o
economista recomendou uma política fiscal mais ativa para elevar a renda da
população e apoiar empresas, especialmente do setor privado.
“Com a
política fiscal assumindo um papel mais central, Pequim deve se organizar
melhor e usar os recursos do déficit para melhorar a renda dos moradores e o
ambiente de negócios”, afirmou.
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UE pede ‘solução negociada’ com a China diante de tarifas
dos EUA
A
presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que a União
Europeia e a China devem buscar uma “solução negociada” para garantir
“estabilidade e previsibilidade” à economia global, diante das tarifas
comerciais impostas pelos Estados Unidos. A declaração foi feita após uma
conversa telefônica com o primeiro-ministro chinês, Li Qiang.
As
tarifas anunciadas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, causaram
instabilidade nos mercados financeiros globais. Em resposta, China e União
Europeia cogitam adotar medidas retaliatórias, elevando o risco de um conflito
comercial de grandes proporções.
Autoridades
em Bruxelas buscam manter a cooperação com Pequim para conter a escalada das
tensões e reduzir os impactos negativos sobre a economia europeia, considerando
o peso dos mercados envolvidos e o grande volume de comércio entre UE, EUA e
China.
Há
também o receio de que as exportações chinesas barradas nos EUA sejam
redirecionadas para a Europa, agravando os prejuízos dos fabricantes europeus
que já sofrem com as tarifas.
“A
presidente von der Leyen pediu uma solução negociada para a situação atual,
destacando a necessidade de evitar uma nova escalada”, afirmou a Comissão
Europeia em comunicado, classificando a conversa com Li como “construtiva”.
Segundo
o comunicado, os dois líderes discutiram a criação de um mecanismo para
monitorar possíveis desvios de comércio e garantir que qualquer mudança seja
tratada adequadamente. Von der Leyen ressaltou o papel crucial da China em
lidar com os efeitos dos desvios causados pelas tarifas, especialmente em
setores já impactados pelo excesso de capacidade produtiva global.
Diante
das perturbações causadas pelas tarifas dos EUA, Von der Leyen frisou a
responsabilidade de Europa e China, como dois dos maiores mercados globais, em
apoiar um sistema comercial reformado — livre, justo e baseado em condições
equitativas.
A China
tem buscado se posicionar como um pilar de estabilidade no comércio global.
Especialistas chineses sugerem que Pequim busque acordos com outros países além
dos Estados Unidos.
No
entanto, o gigantesco superávit comercial chinês — que chegou perto de US$ 1
trilhão no ano passado — tem gerado atritos não só com os EUA, mas também com a
UE e países em desenvolvimento.
A UE e
outros parceiros comerciais acusam Pequim de investir excessivamente na
produção industrial, sem estimular suficientemente o consumo interno, que sofre
os efeitos de uma grave crise imobiliária.
Por
outro lado, Pequim tem acusado a União Europeia de adotar medidas
protecionistas, após a imposição de tarifas sobre a importação de veículos
elétricos chineses.
“O
futuro das relações China-Europa depende da capacidade de ambos os lados de
fazer concessões mútuas”, afirmou o Global Times, tabloide
nacionalista ligado ao Partido Comunista Chinês, em editorial.
O
jornal lembrou que a China adiou por três meses a aplicação de tarifas sobre o
conhaque francês, impostas em retaliação às medidas europeias contra os
veículos elétricos chineses. Segundo o Global Times, no entanto, a
Europa segue “focando em suas próprias preocupações e negligenciando os pedidos
razoáveis da China”.
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Sistema político da China pode ser vantagem em guerra
comercial com Trump, dizem especialistas
O
sistema político chinês — marcado pelo controle estatal centralizado do Partido
Comunista — pode oferecer a Pequim uma vantagem em meio à nova guerra comercial
com os Estados Unidos, segundo especialistas. No entanto, tanto a China quanto
os EUA enfrentam riscos reais de danos econômicos profundos.
Embora
o modelo chinês permita respostas rápidas e coordenadas por meio do poder
central, analistas alertam que empresas e governos locais podem carecer de
criatividade para enfrentar o conflito tarifário, por dependerem de diretrizes
diretas de Pequim.
O
presidente Donald Trump surpreendeu o mundo na semana passada ao anunciar
tarifas pesadas sobre importações de dezenas de países, incluindo aliados dos
EUA. Produtos chineses foram atingidos por uma tarifa extra de 34%, e Pequim
rapidamente prometeu retaliações.
Zhu
Feng, reitor da Escola de Estudos Internacionais da Universidade de Nanjing,
destacou que o sistema chinês tem mais margem para “prevenção macroscópica,
ajustes e mudanças estruturais” para lidar com o impacto econômico e industrial
de uma guerra comercial.
Ele
alertou que uma queda brusca nas exportações da China para os EUA teria
“impacto catastrófico” sobre a economia e afetaria a estabilidade social. No
entanto, o sistema estatal chinês permitiria ao governo enfrentar esses
desafios.
Um
cientista político no leste da China, que preferiu não se identificar, afirmou
que a vantagem do país está na capacidade do Estado de controlar a sociedade e
até mesmo emitir ordens diretas a empresas.
Para
William Hurst, professor da Universidade de Cambridge, as tarifas “causarão
danos reais”, mas não seriam determinantes para a economia chinesa. Ele
ressaltou que os maiores desafios da China atualmente são domésticos — como o
baixo crescimento, o desemprego elevado e a crise no setor imobiliário — e
pouco têm a ver com os EUA.
Analistas
concordam que a guerra comercial tende a agravar a situação interna da economia
chinesa. Shi Yinhong, da Universidade Renmin, afirmou que a “unidade interna
não é muito sólida” por causa da desaceleração econômica. Segundo ele, os meios
de vida da população são afetados diretamente por baixos níveis de emprego e
renda.
Apesar
disso, protestos em larga escala, como os registrados nos EUA após o anúncio
das tarifas, são improváveis na China, segundo o cientista político.
Já
David M. Lampton, ex-presidente do Comitê Nacional de Relações EUA-China e
professor emérito da Universidade Johns Hopkins, acredita que os dois países
podem enfrentar instabilidade política. “A legitimidade em ambos os sistemas
está fortemente vinculada ao desempenho econômico”, afirmou. “Como Pequim pode
ter certeza de que as mesmas leis da física política e econômica não se aplicam
a si mesma?”
Alguns
especialistas alertaram que o modelo chinês, embora eficaz em tempos de crise,
pode sufocar a vitalidade social. Zhu, de Nanjing, disse que o sistema não
estimula a criatividade e a resiliência das empresas. Shi, da Renmin, afirmou
que “fora da liderança superior, há pouco espaço para iniciativa e exploração
na sociedade”.
Para
Deng Yuwen, ex-editor do Study Times, jornal oficial da Escola
Central do Partido, a ausência de eleições nos moldes ocidentais dá aos líderes
chineses mais liberdade e horizonte para planejar políticas. No entanto, eles
ainda precisam responder às demandas da população por emprego, segurança e
crescimento econômico para manter sua legitimidade.
Uma
fonte oficial revelou que Pequim mobilizou uma força-tarefa composta por
ministérios da economia e comércio, banco central, planejamento estatal,
departamentos de segurança, propaganda e agências sociais para formular uma
resposta abrangente.
“Será
uma guerra prolongada”, disse a fonte. “O aparato chinês para manter a
estabilidade política e social em tempos de dificuldades econômicas é
formidável. Já os líderes chineses acreditam que, a longo prazo, Trump não
suportará a pressão política causada por suas próprias tarifas”, afirmou
Gabriel Wildau, diretor da consultoria Teneo.
Fonte: O Cafezinho/g1

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