quarta-feira, 9 de abril de 2025

EUA confirmam tarifas devastadoras de 104% contra China

A guerra comercial entre as duas grandes potências do mundo se intensificou nesta terça-feira. A Casa Branca, por meio de uma de suas porta-vozes, confirmou que os Estados Unidos aplicarão uma tarifa devastadora de 104% sobre produtos chineses. Com isso, as relações comerciais entre os dois países — que formam a maior corrente de comércio do planeta — correm o risco de serem quase inteiramente interrompidas, provocando um terremoto gigante no comércio internacional.

O anúncio foi feito pela secretária de imprensa Karoline Leavitt, em entrevista à Fox Business. A tarifa entra em vigor nesta quarta-feira (9) e representa uma nova escalada nas medidas econômicas contra a China, parte de uma estratégia dos EUA para conter práticas comerciais consideradas desleais.

Até então, produtos chineses já eram taxados em 34%. A nova tarifa eleva esse percentual para 104%, tornando os itens praticamente inviáveis no mercado americano. A Ásia como um todo foi fortemente atingida, mas a China segue como o principal alvo.

Em resposta, autoridades chinesas afirmaram que irão lutar até o fim contra o aumento das tarifas, acusando os EUA de violar as regras do comércio internacional e tentar sufocar o desenvolvimento econômico e tecnológico do país. Medidas de retaliação já estão sendo preparadas.

O aumento das tensões comerciais teve reflexos imediatos no mercado financeiro. Investidores reagiram com cautela, temendo o agravamento da disputa. Houve queda nas bolsas de valores e fuga de ativos de risco, como ações e moedas de mercados emergentes.

Embora o pregão desta terça-feira tenha começado com certo otimismo, a expectativa de avanço nas negociações foi derrubada com a confirmação da tarifa. A Casa Branca informou que cerca de 70 países procuraram os EUA para discutir os impactos da medida.

A iniciativa faz parte de uma política econômica mais ampla voltada para o protecionismo estratégico. O objetivo declarado é reduzir a dependência de insumos estrangeiros, fortalecer a indústria local e posicionar os EUA como potência industrial. Críticos alertam, porém, que a estratégia pode gerar inflação e prejudicar empresas e consumidores.

O risco de uma guerra comercial prolongada preocupa economistas, que apontam efeitos em cadeia sobre a economia global. Empresas podem ter que redesenhar suas cadeias produtivas, o que tende a elevar custos e reduzir lucros.

A reação da China nos próximos dias será crucial. Novas tarifas e possíveis restrições a empresas americanas podem agravar ainda mais o conflito. O clima de incerteza se espalha por outras regiões, e países como os da União Europeia acompanham com apreensão os desdobramentos.

Especialistas afirmam que a crise pode alterar de forma duradoura a estrutura do comércio global. A busca por fornecedores fora da China, por exemplo, pode beneficiar países como Índia e Vietnã, mas exigirá tempo e investimento.

Organismos internacionais, como o FMI e a OMC, devem se pronunciar sobre as consequências econômicas do tarifaço. Por ora, o comércio mundial entra em mais um momento crítico, com potencial para abalar profundamente o cenário econômico deste ano.

<><> Tarifas movimentam mercado financeiro

O tarifaço de Donald Trump e as reações dos países atingidos têm movimentado o mercado financeiro, com investidores receosos de que as medidas possam gerar uma guerra comercial generalizada.

O cenário de incerteza faz com que os investidores se afastem dos ativos de risco, como os mercados de ações, o que prejudica as bolsas de valores em todo o mundo.

Nesta terça-feira (8), o pregão havia começado mais tranquilo, guiado por uma percepção de que os EUA poderiam avançar nas negociações com outros países sobre as tarifas.

De acordo com a Casa Branca, cerca de 70 nações já procuraram o governo americano para negociar.

As principais bolsas da Ásia e da Europa fecharam em alta. Nos Estados Unidos, onde o pregão ainda está em andamento, os principais índices de Wall Street abriram em forte alta, mas reduziram os ganhos no início da tarde.

¨       ‘Preparem-se para o impacto’: economista chinês diz que não há trégua à vista

 

Com sua resposta rápida e dura às novas tarifas do presidente dos EUA, Donald Trump, a China deixou de lado a diplomacia e tornou improvável uma reconciliação, afirmou o economista Mao Zhenhua nesta terça-feira.

“Num primeiro momento, a China tentou manter certa cortesia para evitar uma escalada”, disse Mao, professor da Universidade de Hong Kong e codiretor do Instituto de Pesquisa Econômica da Universidade Renmin.

Trump anunciou um aumento cumulativo de 20% nas tarifas sobre produtos chineses desde que assumiu o segundo mandato, em janeiro. Na semana passada, como parte de um pacote tarifário generalizado contra quase todos os parceiros comerciais dos EUA, ele impôs uma alta adicional de 34%.

“Mas esse novo aumento testa os limites, e Pequim precisou responder de forma diferente e mais dura”, afirmou Mao. “A resposta da China evoluiu. O país percebeu que a abordagem moderada não funciona.” Ele alertou que a chance de retomada do diálogo é “muito pequena” e que todos devem “se preparar para o impacto”.

As tarifas de 34% impostas pela China, com vigência prevista para o meio-dia de quinta-feira, foram vistas como um revide mais firme do que os aumentos seletivos anteriores. Além disso, Pequim adotou controles de exportação direcionados a empresas norte-americanas dos setores de defesa, aeroespacial, tecnologia e logística.

Segundo Mao, a postura moderada anterior da China indicava a intenção de manter algum espaço para negociações. Mas agora, o país está pronto para agir. “Trump já havia sinalizado essas tarifas durante a campanha e após a reeleição, então Pequim preparou planos de contingência para qualquer cenário.”

Mao argumenta que o gigantesco déficit comercial dos EUA — principal justificativa de Trump para suas tarifas recíprocas — tem causas mais profundas. “Os EUA não estão em déficit por negociar com a China. Estão trocando dólares por produtos estrangeiros e, por isso, sempre terão déficits”, explicou. “Antes de negociar com a China, os EUA precisam resolver essa questão estrutural.”

Em 2024, o déficit comercial americano com a China foi de US$ 295,4 bilhões, com importações de US$ 439,9 bilhões em produtos chineses.

A ofensiva tarifária lançada na semana passada, chamada de “Dia da Libertação” por Trump, também atinge países do Sudeste Asiático que se tornaram alternativas para a produção chinesa. Mao alertou que nações como Vietnã, Malásia e Indonésia, pressionadas pelos EUA, podem adotar tarifas contra produtos chineses.

Enquanto Pequim denuncia o “bullying econômico” dos EUA, Mao destaca que o governo chinês precisa agir mais internamente. Em nota publicada na semana passada, o economista recomendou uma política fiscal mais ativa para elevar a renda da população e apoiar empresas, especialmente do setor privado.

“Com a política fiscal assumindo um papel mais central, Pequim deve se organizar melhor e usar os recursos do déficit para melhorar a renda dos moradores e o ambiente de negócios”, afirmou.

¨      UE pede ‘solução negociada’ com a China diante de tarifas dos EUA

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que a União Europeia e a China devem buscar uma “solução negociada” para garantir “estabilidade e previsibilidade” à economia global, diante das tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos. A declaração foi feita após uma conversa telefônica com o primeiro-ministro chinês, Li Qiang.

As tarifas anunciadas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, causaram instabilidade nos mercados financeiros globais. Em resposta, China e União Europeia cogitam adotar medidas retaliatórias, elevando o risco de um conflito comercial de grandes proporções.

Autoridades em Bruxelas buscam manter a cooperação com Pequim para conter a escalada das tensões e reduzir os impactos negativos sobre a economia europeia, considerando o peso dos mercados envolvidos e o grande volume de comércio entre UE, EUA e China.

Há também o receio de que as exportações chinesas barradas nos EUA sejam redirecionadas para a Europa, agravando os prejuízos dos fabricantes europeus que já sofrem com as tarifas.

“A presidente von der Leyen pediu uma solução negociada para a situação atual, destacando a necessidade de evitar uma nova escalada”, afirmou a Comissão Europeia em comunicado, classificando a conversa com Li como “construtiva”.

Segundo o comunicado, os dois líderes discutiram a criação de um mecanismo para monitorar possíveis desvios de comércio e garantir que qualquer mudança seja tratada adequadamente. Von der Leyen ressaltou o papel crucial da China em lidar com os efeitos dos desvios causados pelas tarifas, especialmente em setores já impactados pelo excesso de capacidade produtiva global.

Diante das perturbações causadas pelas tarifas dos EUA, Von der Leyen frisou a responsabilidade de Europa e China, como dois dos maiores mercados globais, em apoiar um sistema comercial reformado — livre, justo e baseado em condições equitativas.

A China tem buscado se posicionar como um pilar de estabilidade no comércio global. Especialistas chineses sugerem que Pequim busque acordos com outros países além dos Estados Unidos.

No entanto, o gigantesco superávit comercial chinês — que chegou perto de US$ 1 trilhão no ano passado — tem gerado atritos não só com os EUA, mas também com a UE e países em desenvolvimento.

A UE e outros parceiros comerciais acusam Pequim de investir excessivamente na produção industrial, sem estimular suficientemente o consumo interno, que sofre os efeitos de uma grave crise imobiliária.

Por outro lado, Pequim tem acusado a União Europeia de adotar medidas protecionistas, após a imposição de tarifas sobre a importação de veículos elétricos chineses.

“O futuro das relações China-Europa depende da capacidade de ambos os lados de fazer concessões mútuas”, afirmou o Global Times, tabloide nacionalista ligado ao Partido Comunista Chinês, em editorial.

O jornal lembrou que a China adiou por três meses a aplicação de tarifas sobre o conhaque francês, impostas em retaliação às medidas europeias contra os veículos elétricos chineses. Segundo o Global Times, no entanto, a Europa segue “focando em suas próprias preocupações e negligenciando os pedidos razoáveis da China”.

¨      Sistema político da China pode ser vantagem em guerra comercial com Trump, dizem especialistas

O sistema político chinês — marcado pelo controle estatal centralizado do Partido Comunista — pode oferecer a Pequim uma vantagem em meio à nova guerra comercial com os Estados Unidos, segundo especialistas. No entanto, tanto a China quanto os EUA enfrentam riscos reais de danos econômicos profundos.

Embora o modelo chinês permita respostas rápidas e coordenadas por meio do poder central, analistas alertam que empresas e governos locais podem carecer de criatividade para enfrentar o conflito tarifário, por dependerem de diretrizes diretas de Pequim.

O presidente Donald Trump surpreendeu o mundo na semana passada ao anunciar tarifas pesadas sobre importações de dezenas de países, incluindo aliados dos EUA. Produtos chineses foram atingidos por uma tarifa extra de 34%, e Pequim rapidamente prometeu retaliações.

Zhu Feng, reitor da Escola de Estudos Internacionais da Universidade de Nanjing, destacou que o sistema chinês tem mais margem para “prevenção macroscópica, ajustes e mudanças estruturais” para lidar com o impacto econômico e industrial de uma guerra comercial.

Ele alertou que uma queda brusca nas exportações da China para os EUA teria “impacto catastrófico” sobre a economia e afetaria a estabilidade social. No entanto, o sistema estatal chinês permitiria ao governo enfrentar esses desafios.

Um cientista político no leste da China, que preferiu não se identificar, afirmou que a vantagem do país está na capacidade do Estado de controlar a sociedade e até mesmo emitir ordens diretas a empresas.

Para William Hurst, professor da Universidade de Cambridge, as tarifas “causarão danos reais”, mas não seriam determinantes para a economia chinesa. Ele ressaltou que os maiores desafios da China atualmente são domésticos — como o baixo crescimento, o desemprego elevado e a crise no setor imobiliário — e pouco têm a ver com os EUA.

Analistas concordam que a guerra comercial tende a agravar a situação interna da economia chinesa. Shi Yinhong, da Universidade Renmin, afirmou que a “unidade interna não é muito sólida” por causa da desaceleração econômica. Segundo ele, os meios de vida da população são afetados diretamente por baixos níveis de emprego e renda.

Apesar disso, protestos em larga escala, como os registrados nos EUA após o anúncio das tarifas, são improváveis na China, segundo o cientista político.

Já David M. Lampton, ex-presidente do Comitê Nacional de Relações EUA-China e professor emérito da Universidade Johns Hopkins, acredita que os dois países podem enfrentar instabilidade política. “A legitimidade em ambos os sistemas está fortemente vinculada ao desempenho econômico”, afirmou. “Como Pequim pode ter certeza de que as mesmas leis da física política e econômica não se aplicam a si mesma?”

Alguns especialistas alertaram que o modelo chinês, embora eficaz em tempos de crise, pode sufocar a vitalidade social. Zhu, de Nanjing, disse que o sistema não estimula a criatividade e a resiliência das empresas. Shi, da Renmin, afirmou que “fora da liderança superior, há pouco espaço para iniciativa e exploração na sociedade”.

Para Deng Yuwen, ex-editor do Study Times, jornal oficial da Escola Central do Partido, a ausência de eleições nos moldes ocidentais dá aos líderes chineses mais liberdade e horizonte para planejar políticas. No entanto, eles ainda precisam responder às demandas da população por emprego, segurança e crescimento econômico para manter sua legitimidade.

Uma fonte oficial revelou que Pequim mobilizou uma força-tarefa composta por ministérios da economia e comércio, banco central, planejamento estatal, departamentos de segurança, propaganda e agências sociais para formular uma resposta abrangente.

“Será uma guerra prolongada”, disse a fonte. “O aparato chinês para manter a estabilidade política e social em tempos de dificuldades econômicas é formidável. Já os líderes chineses acreditam que, a longo prazo, Trump não suportará a pressão política causada por suas próprias tarifas”, afirmou Gabriel Wildau, diretor da consultoria Teneo.

 

Fonte: O Cafezinho/g1

 

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