quarta-feira, 9 de abril de 2025

Tarifaço EUA: Analistas temem colapso financeiro semelhante à 1987

Analistas de mercado mundiais receiam que esta semana se repita o crash da “Black Monday” de 1987, quando os mercados sofreram perdas acentuadas três dias antes do colapso financeiro nos Estados Unidos.

Os riscos ocorrem porque após anunciar uma nova rodada de tarifaço contra as importações, os EUA sentiu logo nas primeiras horas a reação financeira, com grandes perdas em Wall Street e as expectativas de temor dos acionistas norte-americanos.

Conforme mostramosi, os mercados globais abriram esta segunda-feira com uma liquidação de perdas drásticas nas bolsas: os fundos S&P 500 caíram 1,8%, Dow Jones sofreu queda de 2,3%, Nasdaq Composite caiu 2,1%, e a Ásia com perdas singnificativas: Nikkei 225 do Japão despencou 7,8%, Hang Seul de Hong Kong caiu 13,2%, a pior queda desde 1997, e Taiex de Taiwan recuou 9,7%, a maior queda já registrada.

O mercado europeu também refletiu a tendência dramática, com DAX da Alemanha e CAC 40 da França perdendo 5,8%, e o FTSE 100 da Grã-Bretanha caindo 6% nesta segunda-feira (07). Para fechar, o Bitcoin caiu 10% nas últimas 24 horas, sendo negociado a menos de US$ 74,700, o menor preço há 5 meses.

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Em entrevista à CNBC, o analista de mercado e apresentador da emissora Jim Cramer chegou a afirmar que esta semana poderia ser uma repetição da “Black Monday” de 1987, o que foi o “crash de 1987” dos Estados Unidos, o maior pânico das bolsas americanas da história, quando o Dow Jones chegou a cair 22,6%.

Em contextos similares ao que estamos presenciando hoje, naquele ano, as bolsas asiáticas começaram a tombar em uma segunda-feira, espalhando-se rapidamente pelos demais mercados mundiais.

Desde sexta-feira (04), os analistas norte-americanos vêm apresentando as semelhanças do episódio dramático, com o declínio dos mercados financeiros em três dias antes do colapso. Antes dos resultados desta manhã, as expectativas dos boletins – como a Polymarket – era de 60% de chances de os EUA entrarem em recessão em 2025.

Diante dos temores, aumentaram as pressões de analistas do mercado apelando para Donald Trump recuar dos aumentos das tarifas.

“O risco de não fazer isso é que o aumento maciço da incerteza leve a economia a uma recessão, potencialmente grave”, escreveu o investidor bilionário Bill Ackman, em suas redes sociais, compartilhando o alerta de Cramer.

O risco da recessão também foi confirmado pelo JPMorgan, que afirmou que as novas tarifas de Trump podem aumentar 1,5% à inflação. “Só esse impacto pode levar a economia perigosamente perto de cair em recessão”, afirmaram os analistas.

¨      Bill Ackman detona políticas tarifárias de Trump e alerta para danos econômicos

O bilionário Bill Ackman, fundador e CEO do Pershing Square Capital Management, expressou preocupações sobre a postura agressiva do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na guerra comercial, alertando para os danos que essa abordagem pode causar à economia e à reputação internacional do país.

As declarações foram feitas em uma publicação na rede social X (antigo Twitter), conforme noticiado pela Reuters nesta segunda-feira, 7.

Ackman defendeu uma pausa nas disputas tarifárias, propondo uma trégua de 90 dias para que fossem buscadas soluções por meio de negociações.

“Ao presidente é dada uma oportunidade de anunciar uma pausa de 90 dias”, escreveu Ackman, sugerindo que esse intervalo seria crucial para evitar danos maiores.

Segundo ele, a manutenção do curso atual das tarifas pode resultar em sérios prejuízos para a economia dos EUA e afetar sua imagem no cenário global.

Em um tom enfático, Ackman alertou sobre os impactos potenciais de uma escalada das tensões comerciais, afirmando que uma “guerra econômica nuclear” com todos os países do mundo teria consequências desastrosas.

“Se, por outro lado… lançarmos uma guerra econômica nuclear contra todos os países do mundo, os investimentos empresariais vão parar, os consumidores vão fechar suas carteiras e danificaremos severamente nossa reputação com o resto do mundo — o que levará anos ou até décadas para ser reparado”, afirmou o investidor.

Embora tenha sido um apoiador de Trump durante sua campanha presidencial, Ackman agora se une a um número crescente de líderes empresariais que expressam preocupações sobre os rumos da política externa e econômica dos Estados Unidos sob a atual administração.

O setor empresarial tem demonstrado crescente apreensão sobre os efeitos da guerra tarifária em curso, com temores de que ela possa desacelerar o crescimento econômico e comprometer a estabilidade dos mercados financeiros globais.

As declarações de Ackman acontecem em um momento de tensão crescente entre Washington e seus parceiros comerciais, especialmente a China.

As relações comerciais entre os dois países têm se deteriorado, com a imposição de tarifas mútuas e uma escalada das disputas comerciais, enquanto Trump continua a defender sua estratégia econômica agressiva.

A expectativa é de que os desdobramentos dessa estratégia devam moldar as políticas econômicas e comerciais do segundo mandato de Trump, com repercussões para os mercados globais.

Ackman, conhecido por seu perfil de investidor ativo e influente, tem utilizado sua plataforma para alertar sobre os riscos associados às políticas de Trump, principalmente no que diz respeito à guerra comercial.

Sua posição reflete a crescente inquietação entre investidores e empresários sobre os impactos negativos que a continuidade da guerra tarifária pode causar, tanto para os Estados Unidos quanto para a economia global.

Enquanto isso, o governo de Trump segue enfrentando críticas sobre a eficácia de suas políticas comerciais, com analistas e líderes empresariais cada vez mais preocupados com as possíveis consequências de uma escalada nas tensões comerciais internacionais.

O futuro da política tarifária dos Estados Unidos permanece em aberto, com a possibilidade de novas negociações ou o aprofundamento das disputas, dependendo da postura adotada pelo presidente e seus aliados no Congresso.

Em um cenário global em que as economias estão interconectadas, os riscos de uma guerra comercial prolongada são amplamente reconhecidos. O apelo de Ackman por uma abordagem mais cautelosa e focada em negociações reflete uma preocupação crescente com os efeitos de longo prazo da política econômica de Trump, tanto para os Estados Unidos quanto para seus parceiros comerciais.

¨      Risco de recessão global ganha força com tarifaço americano

derrocada dos mercados financeiros globais se manteve pelo terceiro dia nesta segunda-feira (07/04) em reação às tarifas impostas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, à maioria dos parceiros comerciais do país. A perspectiva de uma guerra comercial generalizada tende a provocar uma recessão global, com impactos previstos no crescimento, inflação e desemprego de diversos países.

Novas quedas de ações na Ásia, Europa e EUA no início desta semana foram impulsionadas pela recusa de Trump de rever a medida. "Às vezes, é preciso tomar remédios para consertar alguma coisa", disse Trump a repórteres na noite deste domingo.

A expectativa é de que as novas tarifas resultem em maiores custos de produção e volatilidade nos mercados, queda da confiança empresarial e interrupções nas cadeias globais de suprimentos.

<><> A economia global pode mesmo entrar em recessão?

A J.P. Morgan, uma das maiores instituições financeiras do mundo, avalia que há 60% de chances do mundo enfrentar recessão generalizada, em comparação com os 40% previstos antes do anúncio das novas barreiras tarifárias. 

A recessão é uma contração da economia, muitas vezes medida pelo tamanho do Produto Interno Bruto (PIB) de um país. Na ponta, a crise pode ocasionar um aumento no preço de itens básicos e redução na renda nas familias. A pandemia de covid-19 é um dos exemplos de uma depressão que exigiu intervenção de governos com programas de ajuda estatal para combater, por exemplo, o aumento da pobreza. 

Na segunda-feira, o Deutsche Bank alertou que, à medida em que Trump dobra a aposta em taxas recíprocas, suas políticas terão "imensas implicações globais para 2025 e para os próximos anos e décadas".

Até o momento, os países mais atingidos estão na Ásia. Vietnã, Taiwan e Indonésia, por exemplo, tentam estabelecer novos acordos comerciais com Washington para evitar o colapso de setores-chave da indústria. Essa também foi a decisão da Índia, que enfrenta a partir de quarta-feira (09/04) uma sobretaxa de 26% sobre os seus produtos. Segundo informou a agência de notícias Reuters, o país não pretende retaliar a Casa Branca, mas estabelecer um novo consenso comercial com os EUA.

A China, que foi atingida por Trump com uma tarifa adicional de 34%, é, até o momento, a única grande economia a impor sanções retaliatórias sobre as importações dos EUA.

Na sexta-feira, Pequim também impôs taxas extras de 34% sobre os produtos americanos e restringiu a exportação de terras raras – matérias-primas essenciais para a produção de novos produtos de tecnologia e energia limpa. Em reação, Trump respondeu nesta segunda-feira ameaçando impor tarifas adicionais de mais 50% caso a China siga adiante com a medida.

Já a União Europeia, que deve ter suas importações taxadas em 20%, concordou nesta segunda-feira em impor 26 bilhões de euros em tarifas a produtos americanos em retaliação à sobretaxa de 25% imposta anteriormente sobre aço e alumínio.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse no domingo que o bloco estava preparado para "defender seus interesses com contramedidas proporcionais", mas também sinalizou disposição de negociar com os EUA.

O ABN Amro, um dos maiores bancos da Holanda, cortou pela metade sua previsão de crescimento para os países da UE, projetando "em torno de zero" crescimento no primeiro trimestre, "com grande chance" de um resultado negativo.

<<> Nos EUA, "catástrofe econômica autoprovocada"

A economia dos EUA teve um crescimento médio de quase 3% desde o fim da pandemia da covid-19, mas agora enfrenta o que a empresa de pesquisa Morningstar chamou de "catástrofe econômica autoprovocada".

A empresa de análises financeiras S&P Global aumentou a probabilidade de uma recessão nos EUA para entre 30% e 35%, ante os 25% que havia previsto em março. O Goldman Sachs, por sua vez, aumentou as chances de uma estagnação da economia americana no próximo ano para 45%, enquanto o Barclays calcula que a contração terá efeito já nos próximos meses.

Steve Cochrane, economista-chefe da Moody's Analytics para a região Ásia-Pacífico, alertou na segunda-feira que os EUA poderiam entrar em recessão "muito rapidamente" e que ela pode ser "bastante longa".

Enquanto isso, a Capital Economics afirmou que, se Trump não estiver disposto a fazer novos acordos com os parceiros comerciais, a queda no mercado de ações será seguida por um "colapso na confiança das famílias e das empresas".

A empresa de pesquisa econômica sediada no Reino Unido entende que a inflação dos EUA poderia subir acima de 5% e que a recessão pioraria se o Congresso dos EUA "não conseguir aprovar um estímulo fiscal oportuno".

O chefe do Federal Reserve dos EUA (FED), Jerome Powell, alertou na semana passada que as tarifas provavelmente causariam o aumento da inflação e a desaceleração do crescimento no país. Ele também mencionou um risco "elevado" de aumento do desemprego.

Os mercados agora estão apostando que Powell anunciará em breve cortes nas taxas de juros dos EUA mais cedo do que o esperado anteriormente.

<><> O que as tarifas significam para o crescimento da China?

As tarifas de Trump podem prejudicar a economia chinesa, interrompendo as atividades de exportação e causando uma volatilidade substancial no mercado.

Espera-se que Pequim implemente medidas monetárias e fiscais internas para compensar as barreiras tarifárias. Em uma publicação, o jornal porta-voz do Partido Comunista buscou assegurar os leitores chineses de que "o céu não cairá [...] mesmo que as tarifas dos EUA tenham impacto".

Na segunda-feira, o Ministério das Relações Exteriores da China chamou a política americana de "bullying econômico" e diz ser "inconsistente com as regras do comércio internacional". O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do país, Lin Jian, se recusou a dizer se o presidente chinês, Xi Jinping, buscaria negociar bilateralmente com a Casa Branca para resolver a guerra comercial.

Trump descartou a possibilidade de um acordo com a China até que o déficit comercial dos EUA seja equalizado.

O Goldman Sachs disse em um relatório publicado neste domingo que havia planejado atualizar sua previsão de crescimento para a China antes do anúncio das tarifas de Trump, mas que agora prevê uma redução do crescimento do PIB chinês em pelo menos 0,7% este ano.

A Kaiyuan Securities acredita que as tarifas devem reduzir as exportações chinesas para os EUA em quase um terço, cortar as exportações totais em mais de 4,5% e diminuir o crescimento econômico em 1,3 %.

Cochrane, da Moody's Analytics, alertou que a China certamente sentirá dor econômica "porque a demanda por seus produtos será atingida com ainda mais força [do que a dos EUA]".

Segundo o Deutsche Bank, a China passou da fabricação de 5% dos bens globais para 32% em trinta anos, enquanto os bens produzidos nos EUA caíram mais de um terço, para 15%. Os EUA exportaram 144,6 bilhões de dólares (R$ 835,3 milhões) em mercadorias para a China em 2024, muito menos do que os 439,7 bilhões de dólares (R$ 2,5 trilhões) que importaram, segundo dados do Departamento de Comércio da China.

 

Fonte: Jornal GGN/O Cafezinho/DW Brasil

 

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