Francisco Fernandes Ladeira: ‘Mídia ajudou
a criar Pablo Marçal, mas finge não ter nada a ver com isso’
Em maio de 2020, auge
da pandemia da Covid-19, escrevi um artigo para o Observatório da Imprensa,
intitulado “Mídia ajudou a criar Bolsonaro e o bolsonarismo, mas diz não ter
nada a ver com isso”. O texto em questão apontava como o antipetismo, alimentado
pelos grandes veículos de imprensa do Brasil (sob a suposta bandeira da
anticorrupção), trouxe como principal efeito colateral a ascensão do
bolsonarismo.
Na época, diante do
fracasso do governo federal em lidar com a crise sanitária, a imprensa
hegemônica tentou de todas as formas se desvincular da imagem do então
presidente e esconder que o apoiou na campanha eleitoral de 2018. O famoso
“filho feio que não tem pai”. Só que, anos depois, esse “filho feio” gerou um
filho mais feio ainda: o atual candidato a prefeito de São Paulo, Pablo Marçal.
Assim como foi em
relação a Bolsonaro, articulistas da imprensa hegemônica, de maneira hipócrita,
se mostram perplexos com o radicalismo de Marçal (sendo que, boa parte das fake
news que o ex-coach diz, tem origem nos próprios noticiários da grande mídia).
Nesse sentido, uma
recente participação de Pablo Marçal no programa “Central das Eleições”, da
GloboNews, foi emblemática. Como era de se esperar, ele disparou mentiras sobre
o Partido dos Trabalhadores e Lula; afirmando, sem provas, que o PT é “uma facção
criminosa” e o atual presidente “roubou mais de um trilhão de reais, sendo
‘descondenado’ por ter amizades na política”.
Apesar da grotesca
fake news, não foi Marçal quem inventou este discurso. Sua origem está na
farsesca Operação Lava Jato e nos inúmeros noticiários do próprio Grupo Globo
que, durante anos, construiu as narrativas “Lula corrupto” e “PT organização
criminosa”. Portanto, o candidato a prefeito de São Paulo disse o mesmo que
William Bonner noticiava no Jornal Nacional (numa linguagem mais tosca, é
verdade).
Além disso, em sua
atuação como coach, Marçal pregava os mesmos valores neoliberais defendidos por
Globo e congêneres. Ele não teria obtido o mesmo êxito se boa parte da
população não acreditasse em falácias difundidas pela grande mídia, como
“meritocracia”, “livre empreendedorismo”, “menos Estado e mais mercado”,
“vencer na vida apenas pelo esforço individual” e “empresário de si mesmo”.
Ainda nessa linha
jornalística, também tem chamado a atenção as constantes críticas de Reinaldo
Azevedo a Pablo Marçal. Não custa lembrar que, num passado não tão distante,
Azevedo era um dos principais nomes da cruzada antipetista da ultrarreacionária
revista Veja e nada menos do que o criador do termo “petralha”. Desnecessário
comentar sobre!
É fato que, nem
esquerda, nem direita tradicional, estão sabendo lidar com o fenômeno de
extrema direita Pablo Marçal. O campo progressista, infelizmente, em certas
ocasiões, tem até impulsionado indiretamente o ex-coach, como foi o caso do
lamentável Hino Nacional em linguagem neutra.
Já a relação entre
direita tradicional e Marçal é bem mais complexa. Tal como ocorreu com
Bolsonaro, a princípio pode haver certo estranhamento. No entanto, se
perceberem que Marçal, caso ocupe algum cargo executivo, poderá colocar em
prática a nefasta agenda neoliberal, a grande imprensa não se furtará em fechar
com ele.
Para o mercado, o
importante é a roda do capital girar; não importa se for com um intelectual
uspiano como Fernando Henrique Cardoso, um ex-capitão boçal como Jair Bolsonaro
ou um coach falastrão. O jogo não pode parar!
• Bolsonaro, Marçal e a naturalização
irresponsável da Globo. Por Bepe Damasco
Nada mais parecido do
que a forma como a Globo cobriu a campanha de Bolsonaro, em 2018, e como trata
a campanha de Pablo Marçal à prefeitura de São Paulo, em 2024.
Há seis anos, o jornalismo da Globo fazia vistas grossas
para o passado de Bolsonaro e fingia não ver os vídeos de sua vida pregressa
defendendo a tortura e o assassinato de adversários políticos. Sua trajetória
repleta de desrespeito às mulheres, preconceito racial e ataques à democracia
foi propositalmente arquivada.
A naturalização do
candidato da extrema-direita fazia parte da estratégia para derrotar o PT e seu
postulante à presidência da República, Fernando Haddad.
Alguns dos principais
comentaristas da GloboNews, sem corar de vergonha, diziam que o problema era a
tática equivocada do PT, incapaz de perceber que o Brasil é um país
conservador, ao mesmo tempo em que manifestavam sua esperança, pasme, de que
Bolsonaro, uma vez na cadeira presidencial, se submeteria às regras
democráticas.
Deu no que deu.
Hoje, diante do
crescimento da candidatura de um lixo como Pablo Marçal à prefeitura da maior
cidade do país, a Globo mostra que não aprende bulhufas com a história, nem com
o passado recente e tampouco com o passado remoto.
A mesma
irresponsabilidade ante a iminência de um descerebrado fascista assumir a mais
alta magistratura do país se verifica agora com a possibilidade, toc, toc, toc,
de uma figura execrável do calibre de Marçal governar a nossa maior metrópole.
Em vez de dar espaço
no noticiário à condenação de Marçal a quatro anos de prisão por desvio de
dinheiro de contas bancárias, crime pelo qual chegou a ser preso, mas recorreu
e depois se beneficiou da prescrição, a Globo prefere elogiar sua fluência verbal
demonstrada na sabatina da qual participou na emissora.
Em lugar de cobrar
investigações sobre a pirâmide ilegal montada por Marçal, através da qual seus
seguidores são remunerados pelos cortes de vídeos que melhor performam nas
redes sociais, mecanismo vedado pela justiça eleitoral, a Globo só fala em seu
avanço nas pesquisas, como se isso não representasse a menor ameaça para São Paulo.
Ao invés de lembrar
para os telespectadores que o crime de calúnia consta do artigo 138 do Código
Penal brasileiro, a Globo virou a página da abjeta acusação de "cheirador
de cocaína" que Marçal faz a Boulos, mesmo depois de o jornal Folha de São
Paulo ter revelado em reportagem que o Boulos que se envolveu com consumo de
drogas e foi preso, em 2001, é um homônimo do deputado federal e candidato a
prefeito. Trata-se de Guilherme Bardauil Boulos.
E quanto às inúmeras
acusações de ligações de Marçal com a facção criminosa PCC? Por que a Globo não
se dispõe a fazer uma reportagem investigativa sobre o assunto? Por acaso, não
é de interesse público passar essa história a limpo?
Só sei que o mundo já
teria desabado se um décimo dessas acusações pairasse sobre um petista ou
aliado que concorresse a algum cargo importante.
• Pablo Marçal, em busca da própria
facada, diz que sofreu tentativa de homicídio
A campanha do
candidato à Prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal (PRTB), anunciou que ele foi
vítima de uma tentativa de homicídio na tarde desta sexta-feira (30), na Zona
Leste da capital paulista.
A campanha teria
informado à Polícia Militar (PM) que um indivíduo armado e disfarçado teria se
aproximado de Marçal, que fazia campanha no Jardim Anália Franco, no Tatuapé, e
tentado contra a vida do candidato.
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Conseguiu escapar
O tal sujeito teria
sido contido pelos seguranças do candidato, mas, segundo relato, conseguiu
escapar e fugir a bordo de um veículo Ford/Ka SE 1.0, de cor prata, com placas
QPP1162. Foram iniciadas buscas na região por agentes da polícia imediatamente
após a suposta tentativa de agressão.
A polícia tenta, até o
momento, localizar o suspeito e também o carro.
Fonte: Fórum
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