segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Francisco Fernandes Ladeira: ‘Mídia ajudou a criar Pablo Marçal, mas finge não ter nada a ver com isso’

Em maio de 2020, auge da pandemia da Covid-19, escrevi um artigo para o Observatório da Imprensa, intitulado “Mídia ajudou a criar Bolsonaro e o bolsonarismo, mas diz não ter nada a ver com isso”. O texto em questão apontava como o antipetismo, alimentado pelos grandes veículos de imprensa do Brasil (sob a suposta bandeira da anticorrupção), trouxe como principal efeito colateral a ascensão do bolsonarismo.

Na época, diante do fracasso do governo federal em lidar com a crise sanitária, a imprensa hegemônica tentou de todas as formas se desvincular da imagem do então presidente e esconder que o apoiou na campanha eleitoral de 2018. O famoso “filho feio que não tem pai”. Só que, anos depois, esse “filho feio” gerou um filho mais feio ainda: o atual candidato a prefeito de São Paulo, Pablo Marçal.

Assim como foi em relação a Bolsonaro, articulistas da imprensa hegemônica, de maneira hipócrita, se mostram perplexos com o radicalismo de Marçal (sendo que, boa parte das fake news que o ex-coach diz, tem origem nos próprios noticiários da grande mídia).

Nesse sentido, uma recente participação de Pablo Marçal no programa “Central das Eleições”, da GloboNews, foi emblemática. Como era de se esperar, ele disparou mentiras sobre o Partido dos Trabalhadores e Lula; afirmando, sem provas, que o PT é “uma facção criminosa” e o atual presidente “roubou mais de um trilhão de reais, sendo ‘descondenado’ por ter amizades na política”.

Apesar da grotesca fake news, não foi Marçal quem inventou este discurso. Sua origem está na farsesca Operação Lava Jato e nos inúmeros noticiários do próprio Grupo Globo que, durante anos, construiu as narrativas “Lula corrupto” e “PT organização criminosa”. Portanto, o candidato a prefeito de São Paulo disse o mesmo que William Bonner noticiava no Jornal Nacional (numa linguagem mais tosca, é verdade).

Além disso, em sua atuação como coach, Marçal pregava os mesmos valores neoliberais defendidos por Globo e congêneres. Ele não teria obtido o mesmo êxito se boa parte da população não acreditasse em falácias difundidas pela grande mídia, como “meritocracia”, “livre empreendedorismo”, “menos Estado e mais mercado”, “vencer na vida apenas pelo esforço individual” e “empresário de si mesmo”.

Ainda nessa linha jornalística, também tem chamado a atenção as constantes críticas de Reinaldo Azevedo a Pablo Marçal. Não custa lembrar que, num passado não tão distante, Azevedo era um dos principais nomes da cruzada antipetista da ultrarreacionária revista Veja e nada menos do que o criador do termo “petralha”. Desnecessário comentar sobre!

É fato que, nem esquerda, nem direita tradicional, estão sabendo lidar com o fenômeno de extrema direita Pablo Marçal. O campo progressista, infelizmente, em certas ocasiões, tem até impulsionado indiretamente o ex-coach, como foi o caso do lamentável Hino Nacional em linguagem neutra.

Já a relação entre direita tradicional e Marçal é bem mais complexa. Tal como ocorreu com Bolsonaro, a princípio pode haver certo estranhamento. No entanto, se perceberem que Marçal, caso ocupe algum cargo executivo, poderá colocar em prática a nefasta agenda neoliberal, a grande imprensa não se furtará em fechar com ele.

Para o mercado, o importante é a roda do capital girar; não importa se for com um intelectual uspiano como Fernando Henrique Cardoso, um ex-capitão boçal como Jair Bolsonaro ou um coach falastrão. O jogo não pode parar!

 

•        Bolsonaro, Marçal e a naturalização irresponsável da Globo. Por Bepe Damasco

Nada mais parecido do que a forma como a Globo cobriu a campanha de Bolsonaro, em 2018, e como trata a campanha de Pablo Marçal à prefeitura de São Paulo, em 2024.

Há seis anos,  o jornalismo da Globo fazia vistas grossas para o passado de Bolsonaro e fingia não ver os vídeos de sua vida pregressa defendendo a tortura e o assassinato de adversários políticos. Sua trajetória repleta de desrespeito às mulheres, preconceito racial e ataques à democracia foi propositalmente arquivada.

A naturalização do candidato da extrema-direita fazia parte da estratégia para derrotar o PT e seu postulante à presidência da República, Fernando Haddad.

Alguns dos principais comentaristas da GloboNews, sem corar de vergonha, diziam que o problema era a tática equivocada do PT, incapaz de perceber que o Brasil é um país conservador, ao mesmo tempo em que manifestavam sua esperança, pasme, de que Bolsonaro, uma vez na cadeira presidencial, se submeteria às regras democráticas.

Deu no que deu.

Hoje, diante do crescimento da candidatura de um lixo como Pablo Marçal à prefeitura da maior cidade do país, a Globo mostra que não aprende bulhufas com a história, nem com o passado recente e tampouco com o passado remoto.

A mesma irresponsabilidade ante a iminência de um descerebrado fascista assumir a mais alta magistratura do país se verifica agora com a possibilidade, toc, toc, toc, de uma figura execrável do calibre de Marçal governar a nossa maior metrópole.

Em vez de dar espaço no noticiário à condenação de Marçal a quatro anos de prisão por desvio de dinheiro de contas bancárias, crime pelo qual chegou a ser preso, mas recorreu e depois se beneficiou da prescrição, a Globo prefere elogiar sua fluência verbal demonstrada na sabatina da qual participou na emissora.

Em lugar de cobrar investigações sobre a pirâmide ilegal montada por Marçal, através da qual seus seguidores são remunerados pelos cortes de vídeos que melhor performam nas redes sociais, mecanismo vedado pela justiça eleitoral, a Globo só fala em seu avanço nas pesquisas, como se isso não representasse a menor ameaça para  São Paulo.

Ao invés de lembrar para os telespectadores que o crime de calúnia consta do artigo 138 do Código Penal brasileiro, a Globo virou a página da abjeta acusação de "cheirador de cocaína" que Marçal faz a Boulos, mesmo depois de o jornal Folha de São Paulo ter revelado em reportagem que o Boulos que se envolveu com consumo de drogas e foi preso, em 2001, é um homônimo do deputado federal e candidato a prefeito. Trata-se de Guilherme Bardauil Boulos.

E quanto às inúmeras acusações de ligações de Marçal com a facção criminosa PCC? Por que a Globo não se dispõe a fazer uma reportagem investigativa sobre o assunto? Por acaso, não é de interesse público passar essa história a limpo?

Só sei que o mundo já teria desabado se um décimo dessas acusações pairasse sobre um petista ou aliado que concorresse a algum cargo importante.

 

•        Pablo Marçal, em busca da própria facada, diz que sofreu tentativa de homicídio

A campanha do candidato à Prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal (PRTB), anunciou que ele foi vítima de uma tentativa de homicídio na tarde desta sexta-feira (30), na Zona Leste da capital paulista.

A campanha teria informado à Polícia Militar (PM) que um indivíduo armado e disfarçado teria se aproximado de Marçal, que fazia campanha no Jardim Anália Franco, no Tatuapé, e tentado contra a vida do candidato.

<><> Conseguiu escapar

O tal sujeito teria sido contido pelos seguranças do candidato, mas, segundo relato, conseguiu escapar e fugir a bordo de um veículo Ford/Ka SE 1.0, de cor prata, com placas QPP1162. Foram iniciadas buscas na região por agentes da polícia imediatamente após a suposta tentativa de agressão.

A polícia tenta, até o momento, localizar o suspeito e também o carro.

 

Fonte: Fórum

 

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