O nascimento de um
novo ciclo: como a Índia tem marcado seu lugar entre as grandes potências?
O
atual ministro das Relações Exteriores da Índia Subrahmanyam Jaishankar iniciou
no dia 21 de abril um circuito de visitas pela América Latina e países do
Caribe no intuito de estreitar laços comerciais com a região e de ratificar o
interesse indiano pelo estabelecimento de laços mais estreitos com o
continente.
Trata-se
de uma movimentação política importante por parte de Nova Deli, que vem atuando
no cenário internacional contemporâneo como uma forte candidata ao papel de
protagonista no jogo das grandes potências do século XXI. Além do mais, o país
também assumiu a presidência da Cúpula de Líderes do G20 neste ano.
Não
por acaso, muitos têm prestado detida atenção à política externa da Índia nos
últimos tempos, com o objetivo de identificar quais sejam os caminhos a serem
trilhados por Nova Deli em seu relacionamento com outros atores independentes
como Estados Unidos, China, Rússia, assim como com o Sul Global.
Vale
lembrar que a Índia é um dos poucos países identificados como
"país-continente" (outro termo também utilizado seria o de
"país-baleia"), devido ao seu tamanho, localização e potencial
econômico, o que a credencia de forma natural a um papel de grande importância
no jogo de forças internacional.
Por
isso mesmo, a Índia considera que a dimensão de seu território (7º maior do
planeta, com 3,2 milhões de km2) e população (2ª maior do mundo com
perspectivas de ultrapassar a da China), além de sua já mencionada economia (7ª
maior do mundo em PIB nominal) e poderio militar (por se tratar de uma potência
nuclear desde 1974), a qualifica para um estatuto elevado no sistema
internacional, explicando assim a reivindicação do país por uma maior voz nos
assuntos mundiais.
Nesse
contexto, apesar da clara predominância dos Estados Unidos no Banco Mundial (um
dos principais pilares da governança global do pós-Guerra), a Índia já é um dos
países com maior poder de voto dentro da instituição, atrás apenas de: Japão,
China, Alemanha, Reino Unido e França.
No
âmbito do Fundo Monetário Internacional, por sua vez, a Índia ainda se encontra
sub-representada em termos de cotas e poder de voto em comparação com sua
participação no PIB global. Por conta disso, desde 2003 a Índia, juntamente com
países importantes como Brasil e África do Sul, já declarava que a reforma do
FMI "deve reduzir efetivamente o grave desequilíbrio entre a ampla maioria
do poder de voto hoje detido pelas economias avançadas e a participação
insatisfatória dos países em desenvolvimento", observação que
implicitamente critica a posição dos países do G7 frente às demandas levantadas
pelo Sul Global.
Não
obstante, esse discurso em prol de uma maior voz para os países emergentes em
instituições de tomada de decisão internacional trata-se de um dos principais
pontos defendidos pelo BRICS, no qual a Índia tem participação ativa.
Com
relação, por sua vez, ao Conselho de Segurança da ONU, desde 2011 a Índia vem
pressionando por reformas em sua composição, juntamente com países importantes
como Brasil, Alemanha e Japão, formando o então chamado grupo G4.
Já
em sua primeira reunião ministerial, às margens da Assembleia Geral da ONU de
2011, os Estados do G4 afirmaram seu desejo de assumir maiores
responsabilidades nos assuntos mundiais, postulando a sua inclusão como membros
permanentes de um Conselho de Segurança expandido, de modo a torná-lo
"verdadeiramente representativo das realidades geopolíticas atuais".
Desde
então ficou claro que a Índia já enxergava possuir a capacidade e, mais do que
isso, o direito a assumir a missão de mantenedora da paz e da segurança
internacionais, complementando assim os esforços dos atuais cinco membros
permanentes do Conselho.
Em
se tratando de Ásia, um dos marcos recentes da política externa indiana foi sua
adesão em 2017 à Organização de Cooperação de Xangai. A Organização (fundada em
2001) conta ainda com a presença de China, Rússia e dos países da Ásia Central
e objetiva combater a instabilidade regional no continente asiático; não sem
razão, a adesão da Índia sinalizou para uma verdadeira reestruturação
estratégica do continente eurasiático envolvendo a interação política entre a
superpotência chinesa e duas grandes potências (Rússia e Índia).
Com
isto, diminui-se significativamente a capacidade de influência na Eurásia por
parte de atores extrarregionais, como Estados Unidos e União Europeia.
Ademais,
a Índia também representa um país fundamental no âmbito da recente
"viragem asiática" da Rússia nas relações internacionais, conforme
codificada no mais recente Conceito de Política Externa assinado por Vladimir
Putin, com Nova Deli recebendo boa parte dos recursos energéticos russos desde
2022 e passando a estabelecer relações de comércio com Moscou baseadas em
moedas locais.
Para
além do comércio, compete notar que as relações entre Rússia e Índia são
historicamente marcadas pela cooperação militar e técnica desde o período
soviético. Por conta disso, Nova Deli é um dos maiores importadores de armas
russas do mundo e em 2020 realizou a aquisição de modernos sistema de defesa
antiaérea S-400.
É
do estabelecimento dessa maior cooperação russo-indiana que se pretende
continuar o processo de consolidação de um mundo multipolar que reflita a
pluralidade civilizacional e de sistemas de valores no mundo.
A
Índia, sobretudo, não se alinhou ao Ocidente nas moções condenatórias à Rússia
durante as sessões da Assembleia Geral da ONU em 2022 e neste ano, demonstrando
a posição independente do país em relação ao conflito, apesar das fortes
críticas que recebeu dos países ocidentais.
Fora
justamente a partir dessa posição de independência que o ministro indiano
Jaishankar manifestou-se de forma crítica em relação aos países europeus,
dizendo que "a Europa precisa superar a mentalidade de achar que os
problemas da Europa são os problemas do mundo, mas que os problemas do mundo
não são os problemas da Europa". Jaishankar deixava claro, portanto, que a
Índia não estaria disposta a seguir nenhum tipo de ditame externo, que não
esteja de acordo com seus próprios interesses nacionais.
Ao
mesmo tempo, apesar de fazer parte tanto do BRICS como da Organização de
Cooperação de Xangai, a Índia também colabora com os Estados Unidos no âmbito
do grupo Quad (Diálogo Quadrilateral de Segurança) desde 2017, que inclui ainda
a Austrália e o Japão, movimento esse considerado como uma tentativa de mitigar
a posição da China na região da Ásia-Pacífico.
Todavia,
é preciso lembrar que a capacidade dos Estados Unidos de garantir uma espécie de
contenção à China por meio dessa coalizão ainda não é clara. A Índia, por
exemplo, não depende diretamente dos americanos para sua proteção nem possui
bases militares estadunidenses instaladas em seu território, como é o caso do
Japão.
A
questão da participação da Índia no Quad, portanto, parece tratar-se de uma
política calculada de balanceamento estratégico de Nova Deli perante as duas
superpotências do sistema (EUA e China).
Por
fim, curiosamente uma das características mais notáveis da tradição hinduísta
refere-se à sua compreensão do tempo como um fenômeno cíclico e não linear.
Segundo esse entendimento, a própria criação passa por sucessivos ciclos de
existência, aprendizado, crescimento e dissolução.
Hoje
testemunhamos exatamente a dissolução de um ciclo no âmbito das relações
internacionais, representado pela breve dominação dos países ocidentais no
sistema. Em seu lugar, vemos o nascimento de um novo tempo, a ser marcado pela
participação cada vez mais ativa da Índia como uma das principais grandes
potências de nosso século.
Ø
Países
do BRICS poderiam criar uma alternativa ao SWIFT, diz especialista
Uma
direção promissora de cooperação entre os países árabes e do BRICS poderia ser
o desenvolvimento de um análogo do SWIFT, afirmou o professor associado do
Departamento de Comunicações de Massa da Universidade do Сatar, Kamal Hamidou,
nesta segunda-feira (24) em uma mesa redonda organizada pelo grupo de mídia
Rossiya Segodnya.
"Uma
alternativa ao SWIFT poderia ser criada dentro deste grupo [BRICS] [...] Esse
seria um passo importante para garantir o surgimento de um mundo multipolar e
para garantir que o mundo esteja livre dos ditames dos Estados que buscam criar
um mundo unipolar nas circunstâncias atuais", disse o especialista.
"Isso
deve ser feito no interesse de toda a humanidade, da comunidade internacional e
da paz mundial", acrescentou ele.
O
especialista destacou que a cooperação com os países do BRICS, como a Rússia,
no campo das novas tecnologias, contribui para manter a "soberania
digital" dos países do Oriente Médio.
"Os
países do Oriente Médio e do Norte da África poderiam se beneficiar do
progresso científico e tecnológico que dominaram na Rússia", enfatizou
Hamidou.
Ultimamente
vários países manifestaram sua intenção de aderir ao BRICS, como a Arábia
Saudita, Argentina, Egito, Irã, Indonésia e Turquia.
UE quer tirar Brasil e outros 3 Estados
da esfera de influência da Rússia e China
A
União Europeia (UE) tenta construir relações com vários Estados para virá-los
para o seu lado, informa o colunista do jornal Politico Jacopo Barigazzi.
Segundo
ele, Bruxelas não esconde seu interesse em quatro países que estão, de uma
forma ou de outra, na zona de interesse da aliança russo-chinesa: o Brasil,
Chile, Nigéria e Cazaquistão.
"É
fácil ver por que estes quatro países compõem a lista. Cada um deles representa
um ponto de apoio potencial da UE em regiões onde os aliados ocidentais estão
disputando influência [e recursos] com a Rússia e a China. O Brasil e o Chile
estão na América Latina, rica em matérias-primas; a Nigéria é uma potência
econômica na África Ocidental; o Cazaquistão possui petróleo e gás na Ásia
Central", diz o autor do artigo.
Os
funcionários europeus acreditam que o aumento da influência de Bruxelas contra
Moscou e Pequim poderia ajudar a UE tanto a resolver problemas de recursos
quanto a se tornar um ator mais independente no cenário global.
"Nesta
era de geoeconomia, a UE terá que ser menos ingênua e mais preocupada com a
segurança econômica. Isto exigirá um uso mais estratégico e combinado de toda a
panóplia de ferramentas disponíveis", cita o jornal um funcionário da UE.
Dmitry
Peskov, porta-voz do presidente russo, disse anteriormente que Vladimir Putin
foi convidado para a cúpula do BRICS em agosto, mas que uma decisão sobre sua
participação vai ser tomada mais perto do próprio evento.
·
Venezuela
perdeu US$ 232 bilhões devido às sanções unilaterais, diz vice-presidente do
país
Delcy
Rodríguez referiu centenas de "medidas coercivas unilaterais"
impostas ao longo dos anos que diz terem sido "uma forma de aniquilar
completamente povos inteiros, neste caso o povo venezuelano".
A
Venezuela perdeu muitos bilhões de dólares nos últimos oito anos devido a
sanções unilaterais contra o país, a maioria das quais foram impostas pelos
EUA, disse na sexta-feira (21) Delcy Rodríguez, vice-presidente da Venezuela.
Falando
no Seminário Internacional de Unidade Nacional para a Recuperação Econômica
Venezuelana diante do Bloqueio Internacional, ela explicou que Caracas foi
submetido a 929 "medidas coercivas unilaterais", 60% das quais foram
impostas por Washington.
Isto
afetou a produção de petróleo desde 2015, resultando na perda de US$ 232
bilhões (R$ 1,17 trilhão), disse.
"Perder
US$ 232 bilhões em sua principal fonte de renda, o que significava na época 99%
da renda em moeda estrangeira, é uma forma de aniquilar completamente povos
inteiros, neste caso o povo venezuelano", sublinhou, descrevendo isso como
uma guerra econômica contra a Venezuela que envolve violações sistemáticas dos
direitos humanos, já que causa perda de vidas, alimentos, educação e saúde.
Europa pronta para expandir lista de
produtos proibidos para importação da Ucrânia, diz mídia
A
Comissão Europeia expressou "não oficialmente" sua prontidão para
expandir a lista de produtos agrícolas proibidos para importação da Ucrânia,
informou a estação de rádio polonesa RMF FM com referência a fontes em
Bruxelas.
De
acordo com a mídia, as conversações de ontem (23) do vice-presidente da
Comissão Europeia para a Economia, Valdis Dombrovskis, com representantes da
Polônia, Eslováquia, Hungria, Romênia e Bulgária sobre a questão das
importações de produtos alimentícios da Ucrânia acabaram em nada, mas vão
continuar nesta segunda-feira (24) ao nível de ministros da Agricultura.
De
acordo com uma correspondente da RMF FM em Bruxelas, a Comissão Europeia está
"pronta para fazer concessões" e expandir a lista de mercadorias
proibidas para importação da Ucrânia.
Segundo
um dos participantes da reunião, "há progressos e as negociações estão
indo na direção certa". Neste momento, a Comissão Europeia concordou oficialmente
em proibir as importações de trigo, milho, colza e sementes de girassol, ainda
assim "informalmente" está pronta para incluir outros produtos na
lista apresentada, tais como ovos e carne de aves.
Quatro
países europeus – Polônia, Eslováquia, Hungria e Bulgária – proibiram
temporariamente a importação de grãos e outros produtos de origem vegetal e
animal ucranianos a partir de 22 de abril. Trata-se de produtos que entram no
mercado comum sem taxas e que concorrem com os produtos locais, fazendo baixar
os preços e afetando os agricultores europeus.
Ministros de agricultura do G7 reconhecem
importância do acordo de grãos e apoiam sua extensão
Os
ministros da Agricultura dos países do G7 reconheceram a importância da
Iniciativa de Grãos do mar Negro e expressaram forte apoio à sua expansão,
implementação e extensão em um comunicado conjunto emitido após uma reunião de
dois dias na cidade japonesa de Miyazaki.
"Reconhecemos
a importância das Faixas de Solidariedade UE-Ucrânia, da Iniciativa de Grãos da
Ucrânia do Presidente [ucraniano] [Vladimir] Zelensky e da Iniciativa de Grãos
do Mar Negro [BSGI, na sigla em inglês] negociada pela ONU e Turquia. Nesse
contexto, apoiamos fortemente a extensão, implementação e expansão completas do
BSGI", dizia o comunicado.
Ao
mesmo tempo, os ministros do G7 (grupo composto por Alemanha, Canadá, Estados
Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido) acusaram a Rússia de supostamente
usar alimentos "como meio de desestabilização e como ferramenta de coerção
geopolítica".
"Continuaremos
a projetar nossas medidas restritivas contra a Rússia para proteger a população
necessitada de consequências não intencionais, garantindo que alimentos e
fertilizantes sejam retirados", acrescentou o documento.
A
Iniciativa de Grãos do Mar Negro, também conhecida como Iniciativa para o Transporte
Seguro de Grãos e Alimentos de portos ucranianos, assinada entre Rússia,
Turquia, Ucrânia e as Nações Unidas em julho de 2022, prevê a exportação de
grãos, alimentos e fertilizantes ucranianos ao longo o mar Negro a partir de
três portos, incluindo Odessa.
O
pacote de acordo também inclui um memorando de entendimento entre a Rússia e a
ONU para desbloquear as exportações russas de grãos e fertilizantes via mar
Negro, o que, segundo Moscou, não foi implementado em meio às sanções
ocidentais.
Em
março, a Rússia estendeu o acordo por 60 dos 120 dias possíveis. O presidente
russo, Vladimir Putin, disse repetidamente que a maioria dos navios que
transportam grãos ucranianos não chegou aos países mais pobres do mundo e
acabou na Europa.
Fonte:
Sputnik Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário