O crescente
'exército de drones' usado pela Ucrânia em conflito com a Rússia
A
Ucrânia diz que está aumentando rapidamente sua produção de drones à medida que
a demanda cresce na linha de frente de combate.
O
governo relaxou as leis de importação e aboliu os impostos sobre peças e
equipamentos de drones.
A
expansão está sendo financiada por uma campanha de arrecadação de fundos
bem-sucedida chamada Exército de Drones.
Mais
de US$ 108 milhões (cerca de R$ 546 milhões) foram arrecadados com a ajuda de
celebridades como o ator Mark Hamill, de Star Wars.
Além
de comprar e montar drones para a guerra, o dinheiro está sendo gasto no
treinamento de novos pilotos para a linha de frente.
A
BBC foi convidada para a sessão de treinamento do mais recente grupo de pilotos
de drones da Ucrânia em um local secreto nos arredores de Kiev.
Uma
dúzia de equipes formadas por duplas de pilotos pilotaram pequenos drones por um
campo, à procura de marcações semelhantes a alvos militares.
O
instrutor Slava observava a técnica deles e dava dicas sobre como se esconder
melhor em suas "tocas" improvisadas na floresta.
"Os
drones são os nossos olhos, podemos ver muito bem o invasor do alto, então
podemos ajustar a artilharia, encontrar e neutralizar o inimigo", disse
ele.
Soldados
de ambos os lados do conflito dependem cada vez mais de drones menores e
relativamente baratos que são tradicionalmente usados para filmagem.
O
drone mais comum visto na linha de frente é o DJI Mavic, que custa menos de US$
2 mil (aproximadamente R$ 10 mil).
No
ano passado, seu fabricante chinês proibiu as exportações para a Ucrânia e a
Rússia, insistindo que seus produtos são "apenas para uso civil".
Slava
conta que a proibição tornou mais difícil obter os drones, mas a Ucrânia ainda
conseguiu importar milhares.
Ele
admite, no entanto, que eles precisam de mais — e também precisam desenvolver
novos tipos, pois são frequentemente abatidos ou bloqueados por armas
eletrônicas.
Os
organizadores da campanha Exército de Drones dizem que montaram ou compraram
3,3 mil drones adicionais. Cerca de 400 pessoas chegaram até a enviar seus
próprios drones, que pilotavam como hobby, pelo correio.
A
arrecadação de fundos começou em julho do ano passado para ajudar a reforçar a
frota do país e treinar pilotos.
O
projeto ganhou destaque nas redes sociais, com o ator Mark Hamill apresentando
vídeos promocionais e compartilhando mensagens com os fãs.
·
Drone 'kamikaze'
Outros
projetos nacionais de drones estão sendo anunciados em várias lojas e postos de
gasolina pela Ucrânia, à medida que o governo insiste que os drones oferecem
aos seus militares uma vantagem competitiva no campo de batalha.
No
mês passado, 10 drones de reconhecimento RQ-35 Heidrun supostamente custando
US$ 16 mil (R$ 81 mil) cada foram comprados e enviados para a linha de frente
pela campanha Exército de Drones.
Na
segunda-feira (24/04), 100 drones "kamikaze" de fabricação ucraniana
projetados para colidir com alvos inimigos foram enviados a Bakhmut na remessa
mais recente.
Em
março, o Ministério da Transformação Digital da Ucrânia anunciou o que chamou
de "um passo importante para o desenvolvimento do mercado Vant (veículo
aéreo não tripulado) ucraniano", relaxando e simplificando o processo de
importação de componentes para drones.
Anteriormente,
as regras determinavam que o recebimento de peças, como módulos de GPS ou
câmeras térmicas, poderia levar 15 dias.
A
Ucrânia também alterou as regras do código fiscal para que os importadores de
drones não paguem taxa de importação e IVA (Imposto sobre o Valor Agregado)
pelos drones e seus componentes.
"Hoje,
os drones são uma tecnologia fundamental em termos de importância", disse
o ministro da Transformação Digital, Mykhailo Fedorov, ao anunciar as mudanças.
Fedorov
está liderado a arrecadação de fundos da campanha Exército de Drones. Em seu
gabinete em Kiev, ele exibe com orgulho o protótipo de um novo drone
"kamikaze" secreto que está sendo construído na Ucrânia.
Fedorov
não faz nenhuma tentativa de esconder a natureza mortal desses drones,
projetados para atingir alvos como soldados ou tanques.
Mas,
assim como o restante do governo, ele se recusa a falar sobre os recentes
ataques de drones em território russo.
No
mês passado, um drone caiu na cidade de Kireyevsk, a cerca de 400 km da
fronteira com a Ucrânia, ferindo pelo menos três pessoas em uma explosão após
ser derrubado, informou a imprensa estatal russa.
Em
fevereiro, a mídia russa noticiou que um drone de fabricação ucraniana caiu na
região de Moscou — e autoridades acusaram a Ucrânia de ter como alvo uma
instalação de energia.
A
Rússia usou centenas de drones contra a Ucrânia, sobretudo drones
"kamikaze" Shahed de fabricação iraniana.
Mas
a Ucrânia nunca admitiu partir para o ataque dentro do território russo.
Questionado
se aprovaria ataques de drones contra a Rússia, Fedorov afirmou:
"Apoio
tudo o que nos trará a vitória e deterá a Rússia."
Em
sua conta oficial do Telegram, ele também se gabou de um drone ucraniano
chamado R18 que "pode voar
de Kiev a Moscou e voltar".
O
ministro negou, no entanto, que estivesse sugerindo ataques de drones em
Moscou.
"Temos
forças de defesa que planejam as operações, e nossa tarefa é fazer tudo o que
pudermos para que o país tenha Vants suficientes para serem usados para todos os fins
militares."
O
Ministério da Defesa da Ucrânia não respondeu aos nossos pedidos de comentário
sobre os ataques de drones em território russo.
Ø
Quais
países estão enviando armas para a Ucrânia?
Nesta
quarta-feira (26) faz um ano desde a criação do chamado "Formato
Ramstein" para coordenar o fornecimento de sofisticado armamento ocidental
à Ucrânia em auxílio à guerra por procuração da OTAN contra a Rússia. Mais de
US$ 70 bilhões em assistência de segurança foram entregues à Kiev. Em que
consiste esta ajuda? Quem mandou? A Sputnik explica.
"No
total, os membros deste Grupo de Contato forneceram mais de US$ 55 bilhões
[cerca de R$ 277,2 bilhões] em assistência de segurança para a Ucrânia. Isso é
um aumento de dez vezes desde que nos encontramos pela primeira vez",
gabou-se o chefe do Pentágono Lloyd Austin em uma reunião de ministros da
Defesa da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) na Base Aérea de
Ramstein, no sudoeste da Alemanha na semana passada (22).
Anunciando
um pacote de US$ 325 milhões (aproximadamente R$ 1,6 bilhão) de ajuda adicional
para aquisição de armas, incluindo mais munição para a artilharia Himars da
Ucrânia, projéteis de 105 e 155 mm e "importantes capacidades antitanque",
Austin disse que os EUA sozinhos contribuíram com mais de US$ 35 bilhões (mais
de R$ 176,8 bilhões) em "assistência de segurança" para Kiev desde
fevereiro de 2022.
·
Quem
forneceu mais armas à Ucrânia e mais "ajudou" Kiev?
O
Instituto Kiel para a Economia Mundial monitora a ajuda militar, econômica e
humanitária do Ocidente à Ucrânia desde janeiro de 2022. De acordo com seus
dados, apenas entre janeiro de 2022 e 24 de fevereiro de 2023, os Estados
Unidos comprometeram o equivalente a mais de US$ 39,1 bilhões (cerca de R$
197,6 bilhões) em assistência militar a Kiev.
O
Reino Unido vem em um distante segundo lugar, dedicando US$ 5,97 bilhões
(aproximadamente R$ 30,1 bilhões). A União Europeia (UE) e a Alemanha vêm em
seguida, respondendo por cerca de US$ 3,25 bilhões (cerca de R$ 16,4 bilhões)
cada. A Polônia e os Países Baixos vêm a seguir, respondendo por cerca de US$
2,67 (quase R$ 13,5 bilhões) e US$ 2,6 bilhões (mais de R$ 13,1 bilhões),
respectivamente. Noruega, Suécia, Dinamarca e Canadá completam os dez
primeiros, contribuindo com US$ 883,5 milhões (cerca de R$ 4,4 bilhões) e US$
1,54 bilhão (aproximadamente R$ 7,8 bilhões), respectivamente.
·
Quais
outros países estão ajudando a Ucrânia militarmente?
Os
países mencionados acima não são os únicos que enviaram ajuda militar à
Ucrânia. Mais de 30 países totalizam os doadores de Kiev. Entre eles estão
Finlândia, Itália, França, República Tcheca, Lituânia, Austrália, Letônia,
Espanha, Turquia, Luxemburgo, Estônia, Bélgica, Bulgária, Eslováquia, Grécia,
Croácia, Portugal, Eslovênia, Nova Zelândia, Áustria, Coréia do Sul e Romênia
(a última dúzia de nações contribuiu com aproximadamente US$ 200 milhões, ou
cerca de R$ 1 bilhão).
·
Quem
enviou tanques para a Ucrânia?
Os
tanques de batalha principais estão entre as armas mais caras e mortais
entregues à Ucrânia até o momento. Cerca de 16 países entregaram ou aprovaram a
entrega de blindados pesada. Isso inclui centenas de tanques soviéticos,
principalmente modificações dos T-72s e T-55s soviéticos, enviados pela Bulgária,
República Tcheca, Macedônia do Norte, Polônia e Eslováquia, bem como blindados
atualizados da OTAN da era da Guerra Fria.
Isso
inclui mais de 100 MBTs Leopard 1 enviados pela Dinamarca, Alemanha e Países
Baixos, além de dezenas de tanques Leopard 2A4 e 2A6 mais avançados (oito
autorizados pelo Canadá, 14 pela Dinamarca e Países Baixos, 18 pela Alemanha,
oito pela Noruega, 14 pela Polônia, três de Portugal e dez da Espanha). A
Suécia também prometeu enviar dez de seus tanques modificados Leopard 2, conhecidos
como Stridsvagn 122. O Reino Unido comprometeu 14 tanques Challenger 2, armados
com munições tóxicas de urânio empobrecido, enquanto os EUA prometeram fornecer
à Ucrânia 31 M1 Abrams.
·
Quanta
ajuda a Alemanha deu à Ucrânia e quais armas enviaram?
A
potência econômica da UE, a Alemanha, sem dúvida tem mais a perder com a guerra
por procuração da OTAN com a Rússia, com o fechamento de um importante gasoduto
que atravessa a Polônia e a destruição dos gasodutos Nord Stream (Corrente do
Norte) em outono passado, roubando de Berlim o acesso a trilhões de metros
cúbicos em fontes confiáveis de energia, sobretudo gás natural russo a preços
competitivos para abastecer sua base industrial.
No
entanto, Berlim atrelou-se fielmente à linha de entrega de armas para Kiev, com
seus US$ 3,9 bilhões (cerca de R$ 19,7 bilhões) em ajuda de armas, incluindo
uma infinidade de armas avançadas, de veículos de combate de infantaria Marder
a obuseiros autopropulsados Panzerhaubitze 2000, veículos de remoção de minas e
recuperação de blindados, transportadores de tanques, munições para armas
pequenas e artilharia, explosivos, drones e armas anti-drone, radar avançado e
centenas de caminhões.
·
O
que o Canadá fez pela Ucrânia?
O
Canadá, lar de uma grande minoria ucraniana, também fez uso efetivo de seus US$
1,5 bilhão (cerca de R$ 7,5 bilhões) em assistência para abastecer a Ucrânia
com armas, enviando veículos blindados e carros blindados (incluindo o
canadense Roshel Senator), bem como armas anti-tanques, obuseiros, mísseis antiaéreos,
uma variedade de armas pequenas, munições e equipamentos de apoio.
·
Quanta
assistência militar a OTAN enviou à Ucrânia?
Embora
a Aliança Atlântica tenha rejeitado consistentemente as alegações de Moscou de
que o conflito na Ucrânia é uma guerra por procuração da OTAN contra a Rússia,
seus funcionários simultaneamente se gabam dos bilhões e bilhões em armas,
treinamento e apoio de inteligência enviados a Kiev pelo bloco.
"Ao
longo dos anos, os aliados da OTAN forneceram treinamento para dezenas de milhares
de soldados ucranianos. E desde fevereiro passado, os aliados da OTAN
forneceram mais de € 150 bilhões [cerca de R$ 834,6 bilhões] em apoio,
incluindo € 65 bilhões [aproximadamente R$ 361,8 bilhões] de ajuda
militar", disse o chefe da OTAN, Jens Stoltenberg, em uma coletiva de
imprensa em Kiev na semana passada, falando ao lado do presidente ucraniano,
Vladimir Zelensky.
"Agora
estamos entregando mais jatos, tanques e veículos blindados. E o fundo da OTAN
para a Ucrânia está fornecendo apoio urgente, incluindo suprimentos médicos,
sistemas móveis de satélite e pontes flutuantes. Tudo isso está fazendo uma
diferença real no campo de batalha todos os dias", acrescentou
Stoltenberg.
O
chefe da OTAN não está errado sobre as armas "fazerem uma diferença
real". Tendo sabotado as negociações de paz russo-ucranianas na primavera
passada, os EUA e seus aliados conseguiram evitar um cessar-fogo, garantindo
assim a morte de dezenas, senão centenas de milhares, de soldados ucranianos e
russos e civis do Donbass, tudo por causa do que Lloyd Austin admitiu ter sido
uma cruzada destinada a "enfraquecer" Moscou militarmente.
·
Parceiros
como China e Irã, estão apoiando a Rússia militarmente?
Ao
mesmo tempo em que enviaram dezenas de bilhões de dólares em equipamentos
militares avançados para a Ucrânia, as potências da OTAN acusaram alguns dos
parceiros estratégicos de Moscou, particularmente China e Irã, de vender armas
para a Rússia.
Ambos
os países rejeitaram essas reivindicações. Pequim, ao invés disso, apresentou
um plano de paz com 12 pontos projetado para resolver a crise na Ucrânia, e
Teerã criticou o Ocidente por sua campanha do "sujo falando do
esfarrapado". No mês passado, a inteligência militar ucraniana admitiu que
não havia encontrado "nenhuma evidência" de que a China fornecesse
armas à Rússia. Enquanto isso, o Ministério da Defesa do Irã reclamou que Kiev
não forneceu a Teerã qualquer documentação sobre o suposto uso de "drones
iranianos" na Ucrânia.
·
Como
os russos encaram a ajuda militar da OTAN à Ucrânia?
Para
muitos russos, e para os europeus em geral, a entrega de armamento avançado da
OTAN à Ucrânia traz lembranças dolorosas da agressão ocidental contra a Rússia
historicamente. Como a mídia russa e alemã, historiadores e políticos apontaram
repetidamente em janeiro, depois que a OTAN aprovou o envio de blindados
pesados para Kiev, que é nesta crise que pela primeira vez, desde a Segunda
Guerra Mundial, que as forças russas têm de enfrentar tanques ocidentais nos
campos da Ucrânia .
"Esta
é uma abordagem interessante que você está adotando. Tanques alemães na Ucrânia
contra a Rússia. Seus avós já tentaram isso, com os Melnyks e os Banderas
[colaboradores nazistas ucranianos, ed.]. E qual foi o resultado? Sofrimento
incalculável, milhões de mortes em ambos os lados e, no final, tanques russos
aqui em Berlim", disse o legislador da Alternativa para a Alemanha, Petr
Bystron, durante um debate acalorado no Bundestag (Parlamento Alemão) em
janeiro.
Fonte:
Por Joe Tidy, correspondente de cibernética da BBC/Sputnik Brasil
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