Moisés Mendes:
Bolsonaro produziu o maior fracasso de um retornado
Bolsonaro
tenta chamar Lula para a briga, logo na chegada, para tentar compensar o fiasco
retumbante da volta. Foi recebido por meia dúzia de manés no aeroporto e na
sede do PL.
É
o maior fracasso mundial de um retornado em toda a história de fugas (o caso
dele) e exílios forçados, voluntários e assemelhados.
Nunca
antes um ex-presidente retornou ao próprio país e teve uma recepção tão
constrangedora em tempos de democracia. Nunca. Não há outro exemplo de fracasso
com essa dimensão.
A
recepção a Bolsonaro é a primeira demonstração de que ele está morto politicamente
e que será apenas arrastado de um lado para outro por Valdemar Costa Neto, até
ser abandonado.
A
volta de Bolsonaro é um caso histórico de fracasso em todos os sentidos,
inclusive dos que deveriam ter montado direito a farsa da recepção.
As
imagens com pouca gente são tão deprimentes que o filho Eduardo teve de
publicar na internet fotos antigas de aglomerações em volta do pai, porque não
tinha o que divulgar.
Tudo
com direito a uma trilha sonora de formaturas. O deputado fez uma montagem com
o acréscimo grosseiro de fotos da convenção do PL de lançamento da candidatura
fracassada do pai no ano passado.
O
cenário todo é um desastre. A direita pode começar a pensar no substituto do
homem, para não perder muito tempo. Esse não tem mais nada a oferecer.
Também
o sistema de Justiça teve, com a recepção fracassada, uma prova de que
Bolsonaro não é uma ameaça política.
Ministério
Público e Judiciário devem fazer agora, sem muitos adiamentos, o que não
fizeram durante quatro anos.
Devem
apressar investigações e julgamentos de duas dúzias de inquéritos e processos
contra um indivíduo que hoje mesmo estará arrependido de ter deixado a solidão
do acampamento de Orlando.
É
preciso julgar não só os casos de delitos eleitorais que levarão à
inelegibilidade, mas também as ações criminais.
Está
dada mais uma lição à extrema direita. Retornos são gestos políticos que podem
produzir efeitos consagradores ou devastadores.
Nesse
caso, foi um fracasso tão grande que vai abalar não só o retornado e seu
entorno familiar, militar e miliciano.
A
‘festa’ para Bolsonaro flopou total. É um vexame que abala a autoestima e toda
a estrutura do fascismo.
Olha ele aí de volta! Por Eric Nepomuceno
Em se tratando dele, até que não houve grandes
surpresas: conforme havia anunciado, Jair Messias embarcou em Orlando e pousou
em Brasília na véspera dos 59 anos do golpe militar de 1964, tão incensado por
ele.
Houve, é verdade, uma ligeira confusão de
horários: previsto para chegar às sete e dez, depois às sete e meia, o voo
acabou chegando pouco depois das seis e meia. Tirando esse desencontro, nada de
mais aconteceu.
Jair Messias já havia sido oficialmente
informado de que seria conduzido para fora do aeroporto por uma saída lateral.
Aliás, a informação chegou a ele e a meio mundo.
Ainda
assim um bando se bolsonaristas foi até o aeroporto, na ilusão de uma chegada
espalhafatosa, com direito a discurso em caçamba de camionete e o que mais
houvesse à mão. Ficaram com cara de bobalhões.
Levado direto para a sede do Partido Liberal,
Jair Messias apareceu numa janela acenando para o nada e com aquele esgar que
tenta ser sorriso.
Lá dentro estavam à sua espera dona Michele, o
presidente do partido, Valdemar Costa Neto, o general empijamado Walter Braga
Netto, derrotado junto com seu chefe quando era candidaro a vicepresidente,
enfim, o bando de sempre.
Não houve discurso grandiloquente, nem
aglomerações multitudinárias, não houve nada: para quem se espera que irá virar
o grande líder da oposição a Lula e seu governo, foi tudo muito frouxo nessa
volta depois de três meses foragido em Orlando.
Resumindo: nessa volta ficou claro que Jair
Messias virou pó.
Vai ser presidente de honra do Partido
Liberal, é verdade, mas quem continuará no comando é Costa Neto.
Ele e sua senhora esposa viajarão país afora,
e é até possível que consigam eleger prefeitos em quantidade significativa.
Vai continuar como figura iluminada para o
punhado de bolsonaristas mais primatas e radicais (que valha a reiteração), mas
tirando a direita mais extremista irá perdendo espaço em velocidade acelerada.
E é assim, mais esvaziado que meu saldo
bancário, que Jair Messias enfrentará outra agenda – esta sim, perigosa para
ele.
Estou me referindo à pirâmide de denúncias que
já estão à sua espera na Justiça Eleitoral, e ao que ainda está por chegar na
Justiça Civil.
Semana que vem, aliás, ele começa a dar suas
primeiras explicações para a Polícia Federal.
Resta saber quanto tempo irá passar até Jair
Messias se arrepender por ter deixado seu refúgio vizinho ao Pateta e voltar
para enfrentar uma Justiça que, se for minimamente justa, primeiro vai decretar
que ele não poderá ser candidato a nada, e depois vai levá-lo rapidinho para o
xilindró.
Para evitar 'efeito Moro', Planalto
ignora Bolsonaro e quer esperar por PF
O
presidente Lula (PT) vai ignorar a volta do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)
ao Brasil. A expectativa no Planalto é que seu nome seja citado pela Polícia
Federal.
O
que pensa o Planalto?
#
Lula foi aconselhado a não ficar lembrando o ex-presidente em suas falas.
Para
apoiadores, citá-lo, mesmo que com críticas, é reforçar a imagem --para eles
falsa-- de que o petista esteja preocupado com o retorno de Bolsonaro.
#
Institucionalmente, também não há por que o presidente se lembrar "de um
candidato derrotado", provocam apoiadores.
#
Para o PT, a recepção de Bolsonaro nesta manhã foi morna, aquém do esperado, e
não deve ser Lula ou o partido a suscitá-la.
O
ex-presidente estava havia 90 dias fora, desde que viajou aos EUA para não
passar a faixa presidencial.
#
É o que aliados chamam de "efeito Moro", quando o presidente deu
declarações polêmicas sobre o ex-juiz da Java Jato.
Um
evento tímido, avalia o Planalto, para mostrar que o presidente se recupera bem
da pneumonia diagnosticada na semana passada. O objetivo era que as atenções
ficassem voltadas ao Ministério da Fazenda, onde o ministro Fernando Haddad
anunciou o novo arcabouço fiscal.
Ele
fez um discurso breve, bem-humorado e voltado ao futebol, e não chegou perto de
citar Bolsonaro. Assim deve continuar.
A
interlocutores, Lula minimizou o retorno do adversário sob o argumento de que o
governo tem, hoje, a faca e o queijo na mão, por isso cabia aos ministros
"mostrar para que foram eleitos".
Da
mesma forma, foi aconselhado a não ficar ironizando o ex-presidente em
discursos ou entrevistas, pois isso só lhe daria holofotes e poderia indicar um
temor que ele diz não ter. Estratégia semelhante foi adotada no início da
campanha em 2022, mas depois abandonada.
• Deixa com a PF
A
expectativa do Planalto é que, neste primeiro momento, o nome de Bolsonaro
apareça menos como líder da oposição e mais ligado a escândalos.
#
O ex-presidente já foi convocado a prestar esclarecimento no caso das joias, na
próxima quarta (5). O PT espera que, quanto mais a história avance, mais sua
imagem fique relacionada a aproveitamento de privilégios e descolada do homem
simples que o ex-presidente busca mostrar.
#
Também há uma expectativa por parte da situação (antiga oposição) de que
Bolsonaro ainda seja diretamente ligado aos atentados de 8 de janeiro. Já nos
Estados Unidos na época da invasão, as investigações têm encontrado cada vez
mais ligações entre os golpistas e sua administração. Anderson Torres, então
secretário de Segurança do Distrito Federal e seu ex-ministro, está preso.
Este
é o principal ponto, argumentam pessoas próximas ao Planalto, para seu nome ser
por ora abandonado. A estratégida deverá seguir com as críticas e com as
comparações entre as gestões.
• Efeito Moro
O
que aliados dizem temer é exatamente a repercussão das falas de Lula em relação
a Sergio Moro. Eles dizem que o senador estava "apagado" no Congresso
e ganhou espaço na mídia por uma semana só porque Lula questionou a operação.
“Quero
ser cauteloso, é visível que [a operação que apura plano para matar o senador]
é uma armação do Moro. Vou pesquisar, vou saber. Fiquei sabendo que a juíza não
estava nem em atividade quando deu o parecer para ele. Eu vou pesquisar e saber
o porquê da sentença. Não vou ficar atacando ninguém sem ter provas e, se for
mais uma armação, ele vai ficar mais desmascarado ainda. Não sei o que vai
fazer da vida se continuar mentindo do jeito que está mentindo," falou
Lula um dia após a deflagração da operação.
Pessoas
próximas, como o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), que foi a
plenário fazer um mea-culpa em nome do governo, defendem que o presidente evite
cometer o mesmo erro e não entre em batalhas que tem ganhado.
Essas
são as sugestões. Como muitos repetem em seu governo, Lula costuma ouvir
aliados, mas, muitas vezes, acaba "fazendo o que acha melhor".
Chefe de Bolsonaro só fica com ele até a
eleição municipal. Por Helena Chagas
O
novo “chefe” de Jair Bolsonaro, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto,
pretende ficar com ele até as eleições municipais do ano que vem. Segundo
políticos próximos, Valdemar considera Bolsonaro um bom eleitor, que o ajudará
a captar os votos do eleitorado de direita pelo país e multiplicar o número de
prefeitos da legenda — que, a reboque do ex-presidente, fez a maior bancada da
Câmara. Os planos de Valdemar, porém, param por aí. No PL, a expectativa é de
que, a essa altura, o ex-presidente estará inelegível — ou coisa pior — e a
direita vai procurar outros rumos para 2026.
No
curto prazo, Valdemar continuará fazendo as honras da casa para Bolsonaro,
pagando altos salários e outras despesas, aturando seus filhos e fingindo
acreditar que Michelle será uma revelação nas urnas. O presidente do PL sabe que
depende disso a preservação de sua bancada e, sobretudo, do controle do
partido, hoje dividido exatamente ao meio entre a ala bolsonarista e a dos
antigos integrantes da legenda — aqueles que sempre fecharam com todos os
governos.
A
força de Bolsonaro, porém, deve acabar se reduzindo na maratona jurídica que
enfrentará a partir de agora no TSE e no STF, em meio a acusações que vão da
apropriação indébita das jóias das Arábias
ao incitamento dos atos golpistas do 8/1. Basta uma condenação, ou uma
inelegibilidade, para que ele se torne carta fora do baralho de 2026 — e essa
será a senha para a debandada dos aliados.
Nesse
momento, aquilo que hoje ainda se chama de bolsonarismo começará a gravitar em
torno de outros nomes do campo da direita.
Valdemar, tendo assegurado o controle do PL , já não terá o risco de ser
derrubado pela ala bolsonarista e vai negociar o apoio do PL, que está se
tornando um partido grande. Fará isso do seu jeito: sem preconceitos, seguindo
as próprias simpatias.
O
hoje chefe de Bolsonaro, dizem aliados, dificilmente apoiará uma candidatura
presidencial do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, nome mais citado
para ocupar a vaga com uma inelegibilidade do ex-capitão. Valdemar detesta
Tarcísio desde que o governador, então diretor do DNIT (governo Dilma), demitiu todos os seus apadrinhados. Bem
relacionado com o PT, ele não descartaria, segundo amigos, uma aliança com
Lula em
eventual reeleição, ou o apoio a seu candidato — se este não for
Fernando Haddad, outro desafeto.
Outra
notícia ruim para Jair Bolsonaro é que, apesar de precisar dele para engordar o
PL e manter seu controle, Valdemar não
pretende confrontar a Justiça para ficar a seu lado. Conhecido pão-duro, nem
pensa também em gastar muito dinheiro para turbinar o ex-presidente em suas
andanças pelo país. O presidente do PL comeu o pão que o Xandão amassou para
pagar a multa de R$ 22 milhões recebida ao tentar contestar os resultados da
eleição — a mando daquele que hoje se diz seu chefiado.
A
nota do PL na véspera da volta de Bolsonaro diz muito sobre esse estado de
espírito: não promoveu grandes festanças populares vitaminadas com pagamento e
transporte gratuito. Realizou evento fechado, de tamanho modesto, sem
motociata, discursos apoteóticos ao povo ou maiores homenagens. Para bom entendedor, o desfecho pode até
demorar um ou dois anos, mas Valdemar Costa Neto já está, como dizia o velho
Brizola, costeando o alambrado.
Fonte:
Brasil 247/UOL/Os Divergentes
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