Lula: 'não adianta
ficar dizendo quem está certo ou errado' na guerra Ucrânia-Rússia
O
presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, criticado pelos países
ocidentais, que consideram tímida sua posição a respeito de Moscou, insistiu
nesta quarta-feira (26) em Madri que Rússia e Ucrânia têm que negociar a paz e
"não adianta ficar dizendo quem está certo ou errado" na guerra entre
os dois países.
"Ninguém
pode ter dúvida que nós brasileiros condenamos a violação territorial que a
Rússia fez contra a Ucrânia. O erro aconteceu e a guerra começou", afirmou
Lula em uma entrevista coletiva ao lado do primeiro-ministro espanhol, Pedro
Sánchez, durante uma visita de dois dias à Espanha.
Porém,
em seguida, ele acrescentou: "Agora não adianta ficar dizendo quem está
certo ou errado. O que precisa é fazer a guerra parar".
"Eu
acho que não tem ninguém falando em paz no mundo. Não tem ninguém falando em
paz a não ser eu, que estou gritando paz como se tivesse isolado no
deserto".
Sánchez,
no entanto, afirmou que é necessário recordar que o conflito começou com a
invasão russa, em fevereiro de 2022.
"É
importante que todos nos envolvamos para acabar com a guerra", afirmou
Sánchez, mas "sem esquecer que nesta guerra há um agressor e há um
agredido: o agressor é (o presidente russo Vladimir) Putin e o agredido, neste
caso, é um povo que a única coisa que faz é lutar pela integridade territorial,
por sua soberania nacional e por sua liberdade".
Lula
entrou em uma divergência com várias potências depois de - após uma reunião com
o presidente chinês Xi Jinping - acusar o governo dos Estados Unidos de
"incentivar a guerra" na Ucrânia e pedir à UE para "começar a a
falar de paz".
Antes,
ele declarou que as responsabilidades da guerra desencadeada pela invasão russa
da Ucrânia em fevereiro de 2022 são compartilhadas entre os dois países.
O
governo dos Estados Unidos não demorou a acusar a Lula de repetir a
"propaganda russa e chinesa, sem levar em consideração os fatos". O
governo da Ucrânia o convidou a visitar o país para "compreender as causas
reais e a essência" da guerra.
·
Lula
pede que caminhos diplomáticos em guerra Rússia-Ucrânia não sejam fechados
O
presidente Luiz Inácio Lula da Silva repetiu mais uma vez nesta quarta-feira
que o Brasil condena a invasão da Ucrânia pela Rússia, ao mesmo tempo que pediu
que os caminhos diplomáticos que possam levar a negociações de paz não sejam
fechados.
Em
discurso antes de almoço com o rei Felipe, da Espanha, onde está em visita
oficial, Lula também disse que não existe sustentabilidade em um mundo em
guerra e defendeu a necessidade de um cessar-fogo na Ucrânia.
“Não
haverá sustentabilidade sem justiça social, tampouco haverá sustentabilidade em
um mundo em guerra”, disse Lula.
“O
Brasil condena a invasão da Ucrânia pela Rússia, defendemos a carta da ONU e o
direito internacional, mas queremos abrir caminhos para o diálogo e não
obstruir as saídas que a diplomacia oferece. Sem o cessar-fogo não é possível
avançar”, acrescentou.
Mais
cedo, em entrevista coletiva ao lado do primeiro-ministro da Espanha, Pedro
Sánchez, Lula voltou a defender a criação de um grupo de países para mediar as
negociações de paz entre Rússia e Ucrânia.
“Essa
guerra no coração da Europa é uma tragédia para a humanidade. O mundo precisa
de paz”, disse o presidente antes do almoço com o rei espanhol.
·
"Não
cabe a mim decidir de quem é a Crimeia", diz Lula
Apesar
de defender a
integridade territorial da Ucrânia, o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva se recusou nesta quarta-feira (26/04) a dizer a quem ele considerava que
os territórios ucranianos da Crimeia e de Donbass pertenciam.
"Não
cabe a mim decidir de quem é a Crimeia. Não sou eu que vou discutir isso, quem
discute isso são os russos e ucranianos. Primeiro para a guerra e depois
resolve. Tem que parar primeiro a guerra", afirmou Lula ao ser questionado
por jornalistas durante coletiva de imprensa ao lado do primeiro-ministro da
Espanha, Pedro Sánchez, em Madri.
"Estou
incomodado com a guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Condenamos a violação
territorial da Ucrânia. Mas agora não adianta dizer quem está certo e está
errado, a guerra precisa parar", disse o presidente um pouco antes,
durante o discurso.
Na
coletiva que ocorreu após o encontro entre os dois líderes, Lula pontuou várias
vezes que o Brasil defendia a integridade territorial da Ucrânia e sugeriu
novamente a criação de uma espécie de G20 da paz para negociar o fim do
conflito, que teve início com a invasão russa.
Ele
voltou a afirmar que o Brasil sempre condenou a ocupação territorial da Ucrânia e
disse ser o único líder mundial que estaria buscando negociações de paz.
"Não tem ninguém falando em paz, a não ser eu que estou gritando paz, como
se estivesse isolado no deserto."
Lula
também disse que a ONU já deveria ter convocado sessões extraordinárias para
debater a guerra e falou da recusa do Brasil em
fornecer armamentos para
a Ucrânia. "Não vamos vender porque, se a Ucrânia usar um míssil e matar
um russo, o Brasil vai entrar na guerra, e o Brasil não quer entrar na
guerra."
Já
Sánchez parabenizou o Brasil pela inciativa de paz e destacou que o país
defende a integridade territorial da Ucrânia. "Isso é importante. O Brasil
respeita soberania de povo que está sendo agredido, que é o ucraniano",
ressaltou.
·
Acordo
comercial entre União Europeia e Mercosul
O
acordo comercial entre a União Europeia (UE) e o Mercosul também foi tema do
encontro entre os líderes. Tanto Sánchez quanto Lula mostraram otimismo de que
o pacto seja concluído em breve.
"Se
fosse fácil o acordo, já teríamos feito. O acordo mexe com o interesse da
sociedade. O Brasil também tem seus interesses. Com Sánchez na presidência da
União Europeia, temos chances de fechar esse acordo", pontuou Lula.
O
premiê espanhol disse que alguns parceiros europeus relutam em aprovar o acordo, mas
ele prometeu tentar convencê-los a dar luz verde para o pacto. "Apesar dos
obstáculos, temos uma oportunidade agora porque a Europa precisa de aliados.
Vamos trabalhar para acabar com as dúvidas. E teremos uma conjuntura para
atingir um acordo importante", pontuou.
Negociado
desde 1999, o acordo criaria uma das maiores áreas de livre comércio do mundo,
com 700 milhões de pessoas. Após ter sido alcançado em 2019, o processo de
implementação do pacto foi suspenso com as recusas do então presidente Jair Bolsonaro
em combater o desmatamento da Amazônia em se comprometer na luta contra as
mudanças climáticas.
A
União Europeia espera avanços em breve, com o Brasil assumindo a presidência do
Mercosul no segundo semestre deste ano, e a Espanha assumindo a presidência da
União Europeia.
·
Viagem
à Espanha
Sánchez
recebeu o brasileiro no Palácio da Moncloa, sede do Executivo espanhol, e ambos
se cumprimentaram e posaram para os fotógrafos antes de entrar na sala onde
ocorreu o encontro com vários de seus respectivos ministros.
Lula
chegou na terça-feira à capital espanhola, para sua primeira visita ao país em
seu terceiro mandato, logo após ter saído de Lisboa, onde fez mais uma
visita oficial.
Durante
o encontro, foram ainda assinados acordos de cooperação entre os países nas
áreas de educação, ciência e tecnologia e trabalho.
Ø
Lula
confirma que enviará Celso Amorim à Ucrânia para encontro com Zelenski
O
presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou nesta quarta-feira, 26, que
enviará o assessor especial da Presidência e ex-chanceler Celso
Amorim para
um encontro com o presidente da Ucrânia, Volodmir
Zelenski.
Amorim foi à Rússia no início do mês e se reuniu com o presidente Vladimir
Putin,
dias antes de o chanceler russo, Serguei
Lavrov,
vir ao Brasil e ser recebido pelo próprio Lula. Na primeira visita à Europa em
seu terceiro mandato, o chefe do Executivo brasileiro acabou ajustando o tom de
posicionamentos que havia assumido sobre o confronto, provocando reação
negativa da União Europeia e dos Estados Unidos.
Em
viagem a China e Emirados Árabes Unidos, Lula declarou que Rússia e Ucrânia
eram responsáveis pela guerra, e que americanos e europeus não vinham
colaborando para o fim do conflito, pelo contrário. Cumprindo agenda em Madri e
Lisboa, desde o dia 22, o mandatário brasileiro mudou de posição. Reconheceu a
“agressão à integridade territorial” à Ucrânia e insistiu que o Brasil é neutro
em relação ao conflito, mas que age para buscar a paz. “Estamos negociando para
chegar aos dois (Rússia e Ucrânia) e tentar parar a guerra. Só eu falo em paz e
procuro um grupo de pessoas dispostas a parar a guerra”, afirmou o presidente
nesta quarta.
Na
última sexta-feira, em Lisboa, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Márcio Macedo,
recebeu representantes da sociedade ucraniana e anunciou que Lula havia
ordenado a visita de Amorim.
Ø
Na
Espanha, Lula e Pedro Sánchez assinam três acordos
Será
assinado também um memorando de entendimento sobre cooperação entre o
Ministério do Trabalho e Economia Social do Reino de Espanha e o Ministério do
Trabalho e Emprego da República Federativa do Brasil.
Além
disso, há uma carta de intenções na área de ciência, tecnologia e inovação
entre o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação da República Federativa do
Brasil, O Ministério de Ciência e Inovação do Reino da Espanha, a financiadora
de estudos e projetos, o Centro Para o Desenvolvimento Tecnológico Industrial
do Reino da Espanha. Os detalhes dos acordos serão divulgados ainda nesta
quarta.
Depois
de conversar com Sánchez, Lula e a primeira-dama Janja serão recebidos pelo rei
Felipe VI, em almoço. No meio da tarde em Madri, Lula embarca de volta para o
Brasil.
Ø
Lula
já visitou 7 países e passou 16 dias no exterior este ano
O
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já
visitou 7 países e passou 16 dias fora do Brasil desde o início do mandato. Em
janeiro, foi à Argentina e ao Uruguai. Em fevereiro,
esteve nos Estados Unidos. Neste mês de
abril, foi à China, a Portugal e à Espanha. O chefe do
Executivo volta na 4ª feira (26.fev.2023) ao Brasil, mas deve viajar ao
exterior ao menos mais 6 vezes ainda neste ano. Lula vai participar da coroação
do Rei Charles 3º em maio, no Reino Unido. No mesmo mês, também deve ir ao
encontro do G7, que reúne as nações mais ricas do mundo, no Japão. No 2º
semestre, deve ir à África do Sul, para reunião do Brics, voltar aos Estados
Unidos, para a conferência da ONU (Organização das Nações Unidas), e ir para a
Índia no encontro do G20.
Fonte:
AFP/Reuters/Deutsche Welle/Poder 360
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