A onda de violência
armada por motivo fútil que abala os EUA
Tocar
a campainha errada.
Dirigir
na estrada errada.
Aproximar-se
do carro errado.
Deixar
a bola cair no quintal de um vizinho.
Esses
são os motivos banais pelos quais cidadãos comuns americanos foram baleados nos
últimos sete dias — um deles com apenas seis anos.
Mais
do que massacres, são esses incidentes menores que representam a maioria das
mortes e ferimentos causados por
armas de fogo nos Estados Unidos. E esta semana mostrou como esses atos isolados
se acumulam formando um retrato mais amplo da violência
armada no país.
"O
principal tipo de incidente que temos é uma ou duas pessoas serem
baleadas", afirma Mark Bryant, diretor do Gun Violence Archive. Eles
calcularam 165 massacres a tiros neste ano até agora, mas milhares de
incidentes menores.
Os
suicídios representam mais da metade de todas as mortes por armas de fogo nos
EUA, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla
em inglês).
Mas
uma média de 50 pessoas morrem todos os dias no país devido a incidentes com
armas de fogo não relacionados a suicídio, e cerca de 100 ficam feridas, de
acordo com Bryant e o Gun Violence Archive.
Os
massacres são, segundo ele, uma pequena parcela dos incidentes gerais de
violência armada no país. Esses eventos com muitas vítimas "recebem
atenção extra", mas representam apenas cerca de 6% do total de lesões e
mortes.
Em
vez disso, muitas histórias são como a de Ralph Yarl, um adolescente negro de
16 anos do Missouri, que foi baleado por um homem branco após tocar a campainha
da casa dele por engano em 13 de abril.
Ou
a de Kaylin Gillis, uma jovem de 20 anos baleada e morta em 15 de abril, quando
ela e os amigos pegaram por engano a entrada errada no Estado de Nova York e um
proprietário abriu fogo contra o carro deles.
Ou
a de duas cheer leaders (líderes de torcida), alunas do ensino médio, que se
aproximaram do carro errado em um estacionamento do Texas em 18 de abril,
levando o homem que estava dentro do veículo a sair e começar a atirar, ferindo
gravemente uma delas.
Ou
de uma menina de seis anos e do pai na Carolina do Norte, que foram baleados em
18 de abril depois que a bola de basquete deles caiu no quintal do suposto
atirador, segundo a polícia.
"A
bala voltou e entrou na minha bochecha", disse a garotinha a um canal de
notícias local.
E
essas são apenas as histórias que tiveram repercussão nacional.
"A
violência armada atinge todas as comunidades de alguma maneira ou forma, mesmo
que tenha menos visibilidade do que um grande massacre a tiros", afirma
Kelly Drane, diretora de pesquisa do centro jurídico do grupo Giffords, de
prevenção à violência armada.
"Pareceu
muito real para muita gente esta semana: a violência armada acontece em nosso
país todos os dias."
"Isso
tem um preço muito alto para esta nação", diz ela.
Nem
todas as comunidades americanas são afetadas igualmente; os negros morrem em
decorrência de armas de fogo em taxas mais altas do que qualquer outro grupo
racial ou étnico nos EUA. As mortes relacionadas a armas de fogo aumentaram
acentuadamente entre crianças negras e hispânicas durante a pandemia de
covid-19, de acordo com uma pesquisa da Kaiser Family Foundation.
Os
disparos acontecem em meio a debates cada vez mais polarizados sobre o acesso e
uso de armas de fogo nos Estados Unidos. Os defensores do direito às armas
pedem menos restrições para a compra, uso e porte de armas de fogo, enquanto os
defensores da segurança em relação às armas continuam a pressionar por regras
que limitem o acesso às mesmas.
A
Segunda Emenda da Constituição dos EUA garante aos americanos o direito às
armas de fogo — mas até que ponto é uma questão que provoca um acalorado debate
político e jurídico.
Os
conservadores, que muitas vezes apoiam os direitos da Segunda Emenda, colocam a
culpa pela violência armada em uma crise de saúde mental mais ampla ou no
aumento da criminalidade. Os liberais, que tendem a apoiar uma regulamentação
mais rígida sobre as armas, apontam os níveis de acesso às armas de fogo nos
EUA como a causa da violência.
Apenas
em 2023, 12.719 pessoas haviam morrido até 20 de abril, em incidentes de
violência armada, de acordo com dados fornecidos pelo Gun Violence Archive. A
metodologia deles abrange uma ampla variedade de incidentes, incluindo
acidentes, tiroteios envolvendo policiais, assaltos à mão armada, massacres,
familicídio, assassinato e uso de armas para defesa.
Desde
13 de abril, dia em que Ralph Yarl tocou a campainha da casa errada, foram
registrados 845 incidentes relacionados a armas de fogo nos Estados Unidos, de
acordo com dados preliminares do Gun Violence Archive.
Uma
pequena fração desses incidentes não envolveu o disparo de tiros, como um
incidente de 13 de abril em que um adulto deixou uma arma carregada no banheiro
de uma escola primária em Atlanta, na Geórgia.
Mas
muitos deles, sim.
No
total, esses 845 incidentes deixaram 743 feridos e 328 mortos.
Na
próxima semana, haverá mais.
Fonte:
BBC News Brasil
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