sábado, 1 de abril de 2023

4 lugares fascinantes onde o ser humano não pode pôr o pé

No mundo atual, é difícil imaginar um lugar que não podemos visitar e que não tenha sido incansavelmente fotografado, compartilhado e marcado nas redes sociais.

Mas ainda há alguns poucos lugares que permanecem intocados por turistas.

Embora a maioria dos rincões do planeta receba visitantes, há alguns que são hermeticamente fechados ao público.

Muitas vezes por razões de segurança, legais ou científicas, é estritamente proibido pôr os pés neles.

A seguir, convidamos você a conhecer quatro destes recantos isolados do mundo (sem o risco de pisar em áreas restritas).

·         1. O 'cofre do fim do mundo'

Em uma ilha remota chamada Spitsbergen, no arquipélago ártico de Svalbard, na Noruega, uma montanha de arenito abriga a 120 metros em seu interior um lugar apocalíptico: o maior depósito de sementes do mundo.

A cerca de 1.300 km do Polo Norte e 130 metros acima do nível do mar, o espesso permafrost — a camada de gelo permanentemente congelada que circunda o cofre — ajuda a preservar as centenas de milhares de amostras de sementes armazenadas no interior.

O local também é ideal para esta tarefa devido à falta de atividade sísmica.

No entanto, embora as sementes tenham sido armazenadas com a maior segurança possível desde que o bunker foi inaugurado em 2008, não há uma maneira humana de verificar isso.

O cofre está fortemente protegido a sete chaves, o que garante que as sementes que ele contém possam sobreviver por milhares de anos, se necessário.

No entanto, nos últimos anos, alguns cientistas levantaram preocupações em relação ao aumento das temperaturas, que causaram o degelo do permafrost.

Em 2020, pesquisadores locais documentaram o verão mais quente já registrado em Svalbard.

"Vimos um derretimento sem precedentes das geleiras e de degelo do permafrost", disse à BBC o cientista Kim Holmen, do Instituto Polar Norueguês.

A situação começou a ser monitorada há alguns anos.

Este bunker de sementes pode ser vital para conservar, no caso de um grande desastre global, uma reserva de cultivo que garanta a restauração de espécies, e que não falte alimentos para nós, seres humanos.

Cada país guarda suas próprias sementes vitais para a produção de alimentos, mas o Banco Mundial de Sementes de Svalbard é uma espécie de respaldo global.

·         2. Ilha da Queimada Grande: uma ilha venenosa

A Ilha da Queimada Grande, conhecida como Ilha das Cobras, é uma pequena ilha rochosa, selvagem, sem praias e de difícil acesso, localizada a 35 km do litoral de São Paulo.

A ilha foi descoberta em 1532 pela expedição colonizadora de Martim Afonso de Souza.

No entanto, a história da Ilha das Cobras é muito mais antiga. Foi formada no final da última era glacial, há cerca de 11 mil anos, quando o nível do mar subiu, separando o morro (que fazia parte da Serra do Mar) do continente e transformando-o em uma ilha.

Ela tem chamado a atenção nos últimos cinco séculos por uma característica inusitada: é habitada quase exclusivamente por cobras. Estima-se que possa haver entre uma e cinco serpentes para cada metro quadrado da ilha.

É a segunda maior concentração de cobras por área no mundo — cerca de 45 por hectare, equivalente aproximadamente ao tamanho de um campo de futebol —, sendo superada apenas pela Ilha de Shedao, na China.

Na ilha, uma espécie de cobra altamente venenosa se diferenciou de seus parentes terrestres e se transformou na jararaca-ilhoa (Bothrops insularis), uma espécie de víbora endêmica de Queimada Grande.

É tão mortal que uma única picada é suficiente para evitar que as aves de que se alimenta voltem a voar.

"O veneno da víbora é mais tóxico para as aves do que para os mamíferos", explica à BBC News Brasil o biólogo Marcelo Ribeiro Duarte, do Laboratório de Coleções Zoológicas do Instituto Butantan.

"Isso prova a grande adaptabilidade da espécie."

Bothrops insularis mede entre meio metro e um metro, sendo as fêmeas ligeiramente maiores.

"Como a fauna da ilha é muito escassa, não existindo roedores nem outros mamíferos (com exceção de morcegos), os adultos da espécie se alimentam de aves migratórias (os pássaros residentes não são predados)", explicou à BBC News Brasil o pesquisador e especialista em animais peçonhentos Vidal Haddad Júnior, da Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

Os filhotes comem pequenos lagartos, anfíbios e artrópodes, como as lacraias, por exemplo."

O governo brasileiro proibiu qualquer pessoa de pisar na ilha, como medida de precaução.

A única exceção a esta regra são alguns pesquisadores, que para visitá-la devem estar sempre acompanhados por um médico e seguir protocolos rígidos.

De qualquer forma, esta ilha remota de 43 hectares no litoral de São Paulo não parece o destino de férias mais atraente.

·         3. Lascaux: a caverna francesa que contém obra de arte valiosa

Quatro adolescentes em busca de um cachorro que havia desaparecido por um buraco na terra descobriram esta maravilhosa caverna no sul da França em 1940.

No mais surpreendente dos acasos, o cachorro os levou a uma caverna coberta de pinturas nas paredes representando animais, como cavalos e cervos.

Com cerca de 17 mil anos, é um dos exemplos mais bem preservados de arte pré-histórica já descoberto, com cerca de 600 pinturas e 1.000 gravuras ao todo.

Quando a descoberta foi feita, a Segunda Guerra Mundial estava em seus primórdios.

Oito anos depois, a caverna de Lascaux foi aberta ao público curioso que queria ver de perto a obra de seus ancestrais.

Em 1963, as visitas ao público foram suspensas. Havia brotado mofo nas paredes da caverna, ameaçando a preservação da obra de arte, que resistia em condições herméticas antes de sua descoberta.

Quase 60 anos depois, a caverna ainda está em grande parte fora do alcance do público, embora uma réplica tenha sido construída nas proximidades para os turistas visitarem.

·         4. Uluru: o 'umbigo do mundo'

Uluru, antes conhecida como Ayers Rock, foi uma atração turística por muitos anos, mas recentemente foi adicionada à lista de lugares que o público não pode visitar.

Também chamada de "umbigo do mundo" e localizada na Austrália, é um dos maiores monólitos do planeta.

Anteriormente, os visitantes podiam tentar a escalada de 348 metros até o cume, embora isso significasse enfrentar calor extremo, com temperaturas em torno de 47 °C no verão.

A subida íngreme até o topo também podia causar dificuldades. Mas, para muitos, a beleza do lugar compensava.

Uluru é um local sagrado para os aborígenes anangu, que são os guardiões da rocha. E eles queriam que os visitantes parassem de escalar por respeito às suas tradições.

Este desejo foi respaldado por unanimidade por uma petição do conselho do Parque Nacional Uluru-Kata Tjuta, que tomou a decisão de impedir as pessoas de pisar em Uluru em 2017.

25 de outubro de 2019 foi o último dia em que as pessoas foram autorizadas a escalar a rocha antes da proibição entrar em vigor. Longas filas de turistas se formaram.

Na cultura anangu, Uluru é uma evidência de que os seres celestiais chegaram à Terra quando ainda não tinha forma nem vida. Eles viajaram por ela, criando espécies e formas vivas, como Uluru, ao longo do caminho.

Os visitantes ainda podem visitar o Parque Nacional Uluru-Kata Tjuta. Mas a rocha sagrada só pode ser observada, nunca pisada ou escalada.

Muitos turistas não perdem a oportunidade de tirar uma foto do ar.

 

Ø  A ponte de capim construída pelos incas que ainda é refeita todos os anos no Peru

 

Todos os anos, a última ponte Inca ainda em uso, no Peru, é derrubada e uma nova é erguida sobre o rio Apurímac, na região de Cusco.

A ponte Q'eswachaka, feita de cordas tecidas à mão, existe há pelo menos 600 anos. Outrora parte da rede que ligava as cidades e vilas mais importantes do Império Inca, ela foi declarada Patrimônio da Humanidade pela Unesco em 2013.

A tradição foi passada adiante de geração em geração - e todos os adultos que vivem nas comunidades de ambos os lados da ponte se reúnem anualmente para reconstruir a travessia.

A tradição diz que somente homens podem trabalhar na construção da ponte. As mulheres permanecem na parte superior do desfiladeiro, tecendo cordas finas.

Durante o primeiro dia da reconstrução, os homens se reúnem em torno da ponte antiga para entrelaçar as cordas finas, dando origem às cordas maiores.

O suporte principal da ponte é feito por meio de seis grandes cordas de três camadas, com cerca de 30 centímetros de espessura - cada uma contendo cerca de 120 cordas finas.

Cada família contribui com uma parte da corda, tecidas à mão usando um tipo de capim resistente, conhecido localmente como qoya ichu.

Para ficar mais maleável, o capim deve primeiro ser batido usando uma pedra redonda e, na sequência, embebido em água.

Enquanto todos estão ocupados, vários aldeões cozinham em fogões a lenha, levados dos vilarejos para a ocasião. Frango, cuy (porquinho-da-índia peruano) e truta do rio Apurímac são os pratos mais comuns preparados, todos acompanhados por batatas de diferentes formas e cores cultivadas localmente.

A ponte antiga é então cortada e cai nas águas do rio, onde vai simplesmente flutuar até apodrecer, uma vez que é feita de capim.

Quatro das seis cordas de capim entrelaçado vão se tornar o piso da ponte - e as outras duas serão usadas como corrimão.

Todas as seis cordas são firmemente amarradas a grandes suportes feitos de pedra, localizados em ambos os lados do cânion. Leva quase o dia todo para que os homens consigam esticar as cordas na tensão correta.

No terceiro dia, alguns homens sem medo de altura percorrem a estrutura enquanto amarram pequenas cordas dos corrimãos até o chão da ponte, fazendo uma espécie de cerca que permite atravessar a ponte com segurança.

Nenhum tipo de material, ferramenta ou maquinário moderno é usado no processo de construção da ponte - apenas capim e mão de obra humana.

A reconstrução da ponte Q'eswachaka acontece uma vez por ano, e termina com uma celebração com comida e música no quarto dia, que sempre coincide com o segundo domingo de junho.

 

Fonte: BBC News Mundo

 

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