Radicalizar discurso levou Bolsonaroa ser réu
e perde seguidores, afirma antropóloga
A decisão do Supremo Tribunal Federal
(STF) de aceitar a denúncia da Procuradoria Geral da República (PGR), o que tornou Jair
Bolsonaro e outros sete colaboradores réus na Justiça, sob a acusação de
tentativa de golpe de Estado e quebra do Estado Democrático de Direito, deve afetar fortemente as aspirações
eleitorais do bolsonarismo, e até da família Bolsonaro, mas não necessariamente da
direita radical.
Essa é
a opinião de Isabela Kalil, doutora em Antropologia pela Universidade de São
Paulo, uma das coordenadoras do Observatório da Extrema Direita, que foi
entrevistada nesta quarta-feira (02/04), pelo programa 20 MINUTOS.
Em
conversa com o jornalista Breno Altman, fundador de Opera Mundi, Kalil
disse que uma possível condenação de Bolsonaro pode levar a mais um racha na
extrema direita, considerando que o ex-presidente “é uma figura que consegue
manter as divergências dentro do campo da direita mais ou menos sob controle”.
“Vale
lembrar que o campo da direita é muito amplo, ele engloba desde a
centro-direita, a direita radical e a extrema direita, sendo que essa direita
radical é uma direita que não necessariamente vai pedir golpe de Estado, ela se
posiciona ali no limite daquilo que seria constitucional e democrático,
enquanto a extrema direita está sempre tentando ultrapassar esses limites”,
explicou a antropóloga.
Em
outro momento da entrevista, Kalil destacou que “quanto mais o bolsonarismo e a
extrema direita se radicalizam, no meio do caminho eles vão perdendo apoiadores
que têm uma posição mais democrática, que são mais moderados, ou que de alguma
maneira não se identificam com esse tipo de violência política”.
“Existe
um processo que é contraditório e que ficou muito visível no bolsonarismo a
partir de 2020 e 2021: o Bolsonaro passou a fazer um cálculo para as eleições
de 2022 pelo qual ele parou de tentar atingir o máximo de eleitores possível e
passou a radicalizar cada vez mais o seu
discurso.
Ele sempre foi radical, sempre foi um extremista, desde os Anos 90, mas para a
eleição de 2018 ele construiu uma imagem pública que, do ponto de vista da
roupagem, ficou um pouco mais democrática. Estou falando da ‘embalagem’, não
que ele tenha ficado mais democrático. Foi uma construção do marketing político
na imagem de alguém que seria o ‘protetor das mulheres’, preocupado com a
família, usou muito o elemento da religião nesse processo”, analisa a cientista
social.
Para
Kalil, a partir da pandemia “Bolsonaro viu uma oportunidade de aproveitar a
situação social de exceção causada pela pandemia como uma possibilidade para
criar um Estado de exceção do ponto de vista político, ou seja, um golpe, uma
ruptura política. Com isso ele abandonou essa roupagem, essa embalagem ‘menos
golpista’, vamos dizer dessa forma, e passa a falar abertamente com seus
apoiadores de uma maneira que é mais próxima com o que é o Bolsonaro de fato”.
“Com
isso, ele faz um cálculo não mais para buscar o maior número possível de votos,
e sim para construir uma base de seguidores muito radicalizada, que ele pudesse
utilizar a partir da construção e um fato que permitisse algum tipo de
intervenção, talvez militar, talvez com um decreto de Estado de exceção, que é
a tentativa de golpe, e a partir daí ele perdeu um setor dos seus seguidores
que acreditaram naquele Bolsonaro da embalagem democrática”, completa a
acadêmica.
Contudo,
Kalil enfatiza a diferenciação entre a extrema direita da “direita radical”,
que ela considera menos disposta a ultrapassar limites democráticos. “As
posições da direita radical são bem problemáticas, porque elas lidam com uma
ambiguidade de querer estar no jogo democrático, ao memo tempo em que tensiona
a própria democracia”, comenta.
A
antropóloga acrescenta que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, “é
hoje a pessoa que tem maiores possibilidades de substituir Jair Bolsonaro, ou
de angariar o seu capital político”.
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Weintraub ataca mansões do clã Bolsonaro: “Não consigo
mais acreditar que ele seja honesto”
Em uma
série de declarações polêmicas, o ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub,
expôs os motivos que o levaram a romper com o ex-presidente Jair Bolsonaro
(PL), levantando suspeitas sobre o enriquecimento da família do político. Parte
das acusações, que incluem a compra de mansões de luxo e viagens extravagantes,
foram feitas em entrevista ao “Os Fellas Cast“, em setembro de 2024.
Weintraub
questionou a origem dos recursos usados pela família Bolsonaro para adquirir
propriedades de alto valor. “O rompimento mesmo é quando aparecem as mansões.
Eu sou da área financeira há muito tempo e não tem como explicar. Eu sei fazer
conta, eu sei quanto vale, eu sei quanto custa manter“, afirmou o ex-ministro,
referindo-se às mansões de Flávio, Renan e Eduardo Bolsonaro.
Em
2021, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) comprou uma mansão no Lago Sul,
região nobre de Brasília, por R$ 5,97 milhões, com entrada de R$ 2,87 milhões e
o restante financiado. A dívida foi quitada antecipadamente no ano passado.
Weintraub
ressalta ainda que poucos dias após a compra, Flávio teria viajado. “Flávio
compra mansão e viaja no final de semana para ver o Grande Prêmio do Mônaco.
Você acha que ele decorou a casa dele com mesa de ‘Brahma’? Decorar uma casa
dessa é mais de R$ 1,5 milhão”, disse.
O
ex-ministro também lembra da mansão de Renan, o filho caçula do
ex-presidente, e critica a justificativa dada sobre a residência quando a mídia
divulgou a aquisição milionária. “Quando aparece a mansão do Renan, a segunda
esposa do Bolsonaro fala que é alugada, e era mentira”, comentou Weintraub.
“Quando
aparecem as mansões, eu vejo e falo ‘não consigo mais acreditar’, e isso ali é
a ponta do iceberg“, declarou o ex-ministro. “Eu não consigo mais acreditar que
ele [Bolsonaro] seja honesto. Eu estou só relatando que você brasileiro perdeu
o país para o Bolsonaro andar de jet sky, a família toda dele ter mansão.
Porque o bolsonarismo é uma grande mentira, uma grande farsa”, completou.
As
declarações de Weintraub vem gerando grande repercussão na mídia e nas redes
sociais. A família Bolsonaro nega as acusações e afirma que as propriedades
foram adquiridas com recursos próprios.
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Não esqueça a esquerda
bolsonarista. Por Eduardo Guimarães
São indistinguíveis dos bolsonaristas quando
se referem a Lula ou ao seu entorno. Xingamentos, deboches e até o que chamam
de “críticas” têm a mesma virulência. Só se percebe que não são radicais de
direita e, sim, de esquerda, quando expõem a natureza de suas críticas.
Outro dia, assisti entrevista de um deles. É
bem celebrado nesse microverso de uma esquerda que tem aversão declarada a
qualquer tipo de moderação no debate, pois vê no radicalismo uma qualidade
extrínseca, oriunda da mentalidade obrigatória a membros da tribo.
Comentava a queda na popularidade de Lula e
se jactava de ser consequência das críticas da SUA esquerda ao atual governo e
a seu titular. Perguntado se não ligava para o fato de que estava ajudando o
bolsonarismo, deu de ombros.
Aliás, mais uma vez se gabou – agora, pelo
poder que tem de fazer o bolsonarismo vencer a Frente Ampla “neoliberal” que
teria “sequestrado” o governo Lula.
São os responsáveis pela baixa popularidade
de Lula. Trabalham arduamente para solapar a popularidade do presidente, de
modo que os percentuais de regular, ruim e péssimo das pesquisas quanto a Lula
e ao seu governo englobem esse quadrante da esquerda.
O entrevistado disse que esperava que Lula levasse
o governo para a esquerda, após assumir. Ou seja: esperava um estelionato
eleitoral nos setores de centro que votaram nele para evitar o mal maior...
Na opinião dele, o Lula 3 é igual a Bolsonaro
1 (?!).
Argumentar o quê?
Essa gente estendeu o tapete para a
extrema-direita em 2013 e, agora, quer repetir a dose, mas de forma mais
deletéria, pois terá resultados ainda mais duradouros que os gerados há 11 anos
e 9 meses.
Provavelmente não obterão o que buscam.
Luciana Genro ou Heloísa Helena pretendiam o mesmo ao chamarem Sérgio Moro de
“herói”, derramando-se em elogios à Lava Jato por jogar Lula na cadeia. Mas se
acaso tiverem sucesso, jamais deverá ser esquecido o que fizeram a este
país...
De novo.
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O caso do batom e as
emoções violentas que afugentaram Fux da Serra gaúcha. Por Moisés Mendes
Em maio de 2022, uma revolta virtual
articulada por grandes empresários impediu que Luiz Fux fosse a Bento
Gonçalves, na Serra gaúcha, para uma palestra no CIC (Centro da Indústria,
Comércio e Serviços). Parte da elite da região de colonização italiana não
queria ouvir o ministro nem saber que ele estava por perto.
A sequência do que aconteceu em Bento pode
ajudar a entender o contexto do famoso caso da Débora do batom e suas
controvérsias sobre o 8 de janeiro. Pode contribuir para que se entenda que
afrontas a instituições e autoridades não são o que parecem ser como
manifestações de liberdade de pessoas apenas tensionadas.
Fux deveria falar, em junho daquele ano,
sobre 'Risco Brasil e segurança jurídica'. Empresários e executivos de empresas
de porte, organizados em grupos de zap, começaram a pressionar patrocinadores e
a própria CIC para que Fux fosse desconvidado. O banco Sicredi, que patrocina o
futebol, foi um dos primeiros realizadores a avisar que estavam saltando fora.
O movimento cresceu e a CIC informou que,
depois das reações, não teria como acolher o ministro em sua sede. A OAB local
assumiu a tarefa, mas logo recuou. Ninguém garantia a segurança do convidado.
Fux era o presidente do Supremo.
O STF anunciou a decisão de cancelar a ida a
Bento Gonçalves, por falta de segurança. Não porque Fux estava constrangido
pelo boicote, nem pelos excessos dos que alertavam de que ali ele não entrava
e, se entrasse, dali não saía. Fux não foi por precaução, por medo mesmo.
É provável que, entre uma maioria de machos
da velha direita agora aliados da nova extrema direita, que viam Fux como um
juiz de esquerda, existissem mulheres com batom. Que, se olhadas de longe,
seriam apenas mulheres com batom. E se, olhadas de perto, seriam mães de dois
ou mais filhos que haviam, num momento ruim, atacado não só o ministro,
mas todo o STF.
Fux era conhecido como apoiador da Lava-Jato
e linha-dura na imposição das suas ideias e seus votos sobre corruptos, que
eram, claro, identificados na época como ligados ao PT, a Lula, ao comunismo e
a tudo que estava ali. Pois os reaças de Bento não queriam Fux.
Mesmo que Fux, como a Folha revelou agora na
edição dessa quarta-feira, tivesse se reunido a sós com Bolsonaro quando
assumiu a presidência do STF. Mesmo que, para as esquerdas, fosse muito mais
engajado às causas e discursos da direita. Mesmo que a própria CIC tivesse
convidado o ministro.
Fux pensou e não foi. Pode-se perguntar hoje,
para fazer conexão com uma declaração da semana passada do próprio ministro, se
aqueles ataques não aconteceram sob violenta emoção e se isso não atenua
possíveis delitos. Os tios empresários de Bento estavam emocionados demais, e
uma autoridade não poderia responder com o mesmo grau de emoção. Como Fux
propôs no caso da Débora do batom.
Também foi sob violenta emoção que logo
depois, em novembro de 2022, uma turba expulsou o ministro Luis Roberto Barroso
e sua família da praia de Porto Belo, em Santa Catarina. Se havia dado certo em
Bento, daria em Porto Belo. E foi o que aconteceu.
Qualquer outro ministro do STF que se
aventurassem a andar pelo interior, desafiando o fascismo, correria o mesmo
risco. Mas, para muitos, o que aconteceu em Bento e o que se repetiu em Porto
Belo foram apenas escaramuças. Não se tem notícia de ninguém alcançado pelo
Ministério Público por causa daquelas ameaças.
Tudo normal, dentro do que pode ser
considerado liberdade de expressão, risco Brasil e segurança jurídica precária.
Por insegurança, Fux não foi a Bento e Barroso fugiu da praia catarinense como
quem escapa no meio da madrugada de uma cidade do faroeste sitiada pelos
bandidos. Não havia o que fazer.
Os derrotados eram ministros do Supremo, dois
dos que, pelo ponto de vista de direita e esquerda, chegaram no auge do
lavajatismo a ficar mais próximos dos justiceiros que diziam lavar do que dos
que estavam sendo lavados. E mesmo assim foram perseguidos pela direita.
E chegamos então, depois de toda a
articulação do golpe, ao 8 de janeiro e ao momento em que Débora do batom picha
a estátua da Justiça diante do STF. De todos os personagens, só ela ficou
famosa, por causa do batom. Os homens de Bento e de Porto Belo não se tornaram
celebridades.
E assim estamos hoje tentando saber se é
possível calibrar as emoções, inclusive as dos ministros da mais alta Corte,
por recomendação de Luiz Fux, o ministro que perdeu para os tios de Bento e
teve de recuar. Porque tudo, incluindo outros episódios semelhantes, parecia
normal e apenas exagerado num ambiente reconhecidamente anormal.
Gente de Bento e de Porto Belo deve saber
quantas mulheres com e sem batom fizeram parte dos grupos que acossaram e
venceram Fux e Barroso. E não só por causa de emoções violentas.
Fonte: Opera Mundi/Jornal GGN/Brasil 247
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