O traficante aliado de Pablo Escobar que
voltou à Colômbia depois de 38 anos
A
última vez que o ex-chefe do narcotráfico Carlos Lehder Rivas saiu da Colômbia, há quase quatro
décadas, estava escoltado pela polícia. E seu retorno ao país na tarde de
sexta-feira (28/3) teve um desfecho semelhante.
O
antigo narcotraficante, um dos líderes do extinto Cartel de Medellín ao lado de Pablo
Escobar,
foi detido na sexta-feira pelas autoridades colombianas ao chegar ao país vindo
da Alemanha.
No
entanto, um tribunal de Bogotá ordenou a sua libertação nesta segunda-feira
(31/3) concluindo que os seus mandados de prisão na Colômbia já expiraram.
O chefe
da Polícia Nacional, Carlos Fernando Triana, afirmou em sua conta no X que
Lehder foi transferido na noite de sexta-feira para uma unidade policial em
Bogotá "para verificar sua situação judicial".
Anteriormente,
o Serviço de Imigração da Colômbia informou que o ex-chefe do tráfico, de 75
anos, chegou a Bogotá em um voo procedente de Frankfurt, na Alemanha, e que
havia uma "ordem de captura vigente" contra ele.
Até
este sábado (29/3), as autoridades não haviam divulgado mais informações sobre
sua situação. Sua advogada, Sondra McCollins, disse à imprensa local que seu
cliente não tem nenhum processo judicial em aberto e que espera que ele seja
libertado em breve.
Em
1987, Lehder foi preso pelas autoridades colombianas e extraditado para os
Estados Unidos, onde foi condenado a 135 anos de prisão por tráfico de cocaína.
A
sentença foi reduzida em 55 anos depois que Lehder concordou em testemunhar
contra o ex-líder militar e ditador do Panamá, Manuel Antonio
Noriega.
Ele foi
libertado em 2020 nos EUA devido ao agravamento de sua saúde. Mudou-se para a
Alemanha, onde possui cidadania por sua ascendência paterna.
Inicialmente,
Lehder havia solicitado ao Estado colombiano que lhe permitisse viver em
liberdade após cumprir sua pena nos EUA, onde passou a maior parte do tempo
preso em isolamento, sem visitas e sem ligações.
Como
não conseguiu essa permissão, optou por ir para a Alemanha, onde também iniciou um tratamento para câncer de
próstata.
- Peça-chave
do Cartel de Medellín
A vida de Carlos Lehder deixou de seguir os
padrões considerados normais desde que seus pais se separaram, quando ele tinha
4 anos.
Ele passou a infância em internatos
colombianos e, aos 15 anos, viajou para Nova York, nos EUA, para viver a
adolescência com outros familiares.
Nos anos 1970, Lehder liderou uma rede de
compra, venda e contrabando de carros roubados nos Estados Unidos, o que o
levou à prisão em Connecticut.
Assim que saiu, em 1975, começou a traficar
maconha e cocaína.
Sua trajetória criminosa o levou a se aliar a
Pablo Escobar, fornecendo ao então nascente Cartel de Medellín o conhecimento
necessário para ingressar e traficar no maior mercado consumidor de drogas do
mundo: os Estados Unidos.
Em 1978, comprou e tomou posse de uma ilha
nas Bahamas, que transformou em um ponto de passagem para aviões vindos da
Colômbia carregados de maconha e, cada vez mais, cocaína.
Nas biografias, Lehder é descrito como um
homem com uma inteligência acima da média em comparação com outros
narcotraficantes: falava três idiomas e se gabava de ter uma justificativa
política para suas atividades ilegais.
Nacionalista e anti-imperialista, Lehder era
um crítico da política dos Estados Unidos, mesmo lucrando com ela,
especialmente com a proibição e a guerra contra as drogas.
Nos anos 1980, ele patrocinou um movimento
político de inspiração fascista e latino-americanista, fundou um jornal e criou
um hotel rural chamado La Posada Alemana, que contava com dois leões enjaulados
e uma estátua em tamanho real do ex-Beatle John Lennon nu.
- 'Mais
lenda que realidade'
Aos 37 anos, em 4 de fevereiro de 1987,
Carlos Lehder foi capturado pelas autoridades durante uma festa em sua casa, na
Colômbia.
Há várias versões sobre sua captura.
Uma delas diz que seu aliado, Pablo Escobar,
o traiu e o delatou por causa de um relacionamento que Lehder teve com a
parceira de um de seus sicários.
Outra teoria sugere que Escobar estava
preocupado com as conversas que Lehder supostamente mantinha com o governo para
trocar informações sobre guerrilheiros em troca de anistias.
Uma terceira hipótese aponta que a captura
foi um mero acaso, durante uma festa interrompida pela polícia.
O que é certo é que, naquele mesmo 4 de
fevereiro de 1987, Lehder se tornou o primeiro narcotraficante colombiano a ser
extraditado para os Estados Unidos.
Naquele momento, a extradição era a principal
causa de uma intensa guerra entre o Estado colombiano e os narcotraficantes,
que se organizaram sob o nome de "Los Extraditables" e afirmavam
preferir "uma tumba na Colômbia a uma prisão nos Estados Unidos".
Em 1991, em busca de uma paz negociada não
apenas com os narcotraficantes, mas também com as guerrilhas, uma nova
Constituição aboliu a extradição.
Mas, àquela altura, Lehder já havia sido
sentenciado a mais de um século de prisão nos Estados Unidos.
"A lenda de Carlos é muito maior do que
o que realmente aconteceu", disse um de seus advogados, Óscar Arroyave, em
uma entrevista à BBC Mundo, o serviço em espanho da BBC, em 2020.
"Porque Carlos nunca traficou grandes
quantidades de cocaína; hoje se apreendem barcos com a mesma quantidade que
Carlos traficou em toda sua carreira, e os culpados são condenados a penas que
não ultrapassam 10 anos", apontou.
"Seu caso ficará na história como um
exemplo do que as más decisões de um governo e um sistema (judicial dos EUA)
podem fazer, condenando todos os dias pessoas sem evidências."
Lehder nunca se declarou culpado. Se o
tivesse feito, poderia ter cumprido metade da pena na prisão.
Fonte: BBC News Mundo
Nenhum comentário:
Postar um comentário