segunda-feira, 11 de novembro de 2024

'Nostradamus americano' se defende após errar previsão sobre eleição

Allan Lichtman é conhecido como o "Nostradamus americano" por uma razão: ele havia acertado o resultado de nove das últimas 10 eleições americanas. Nesta semana, porém, sua taxa de acerto caiu para nove em 11 eleições.

O historiador de 77 anos previu a vitória de Kamala Harris nas eleições do último dia 5, pleito que diversos institutos de pesquisa diziam que seria uma disputa acirrada. No fim das contas, Donald Trump obteve uma vitória considerada acachapante, com ao menos 295 delegados conquistados de 538 (25 a mais do que os 270 necessários para ganhar a eleição).

"Minha previsão, baseada no sistema das chaves para a Casa Branca, que se provou correto [nas eleições dos EUA] por 40 anos, é que teremos um presidente sem precedentes: Kamala Harris se tornará a primeira mulher presidente dos Estados Unidos", disse Allan Lichtman, professor de História da American University em Washington, D.C., no último dia 5 de setembro.

Em uma live em seu canal no YouTube na quinta-feira (7), porém, ele admitiu o erro, mas defendeu seu método. "Mas eu estive longe de ser o único analista a estar errado. A maioria dos outros modelos também errou", disse, na transmissão.

Lichtman criou seu método, chamado "As Chaves para a Casa Branca", ou "As 13 Chaves", em parceria com o sismólogo soviético Vladimir Keilis-Borok, com base em um sistema usado para prever terremotos.

Ele consiste em 13 enunciados, ou "chaves", que avaliam o quão bem o partido da situação está governando o país. Se cinco ou menos enunciados forem falsos, o candidato da situação irá ganhar a eleição. Se seis ou mais itens forem falsos, porém a oposição será alçada ao poder. 

·        Aposta em Kamala

Em 2024, o respeitado historiador previa que Kamala Harris seria a próxima presidente dos Estados Unidos, já que a democrata ganharia em nove das 13 chaves analisadas. 

Os pontos favoráveis a Harris eram, entre outros, a unidade do partido por trás de sua candidatura, os resultados positivos da administração Biden, a saúde da economia americana, as ausências de escândalos e de revolta social.

Para justificar a falha, Lichtman afirmou que "não foi apenas uma falha singular das chaves. Foi muito mais amplo do que isso."

Ele afirma, por exemplo, que Kamala Harris não teve seu nome testado em nenhuma primária do Partido Democrata, por exemplo — Biden era o escolhido da sigla pelo processo normal de nomeação, e a vice foi alçada a cabeça de chapa após sua desistência.

O fato de a campanha de Harris ter começado 16 semanas antes do dia da eleição também foi um fator que bagunçou as previsões, disse o historiador.

Ele cita ainda uma "explosão incrível de desinformação" nas redes sociais, incluindo o X, cujo dono é Elon Musk, que participou ativamente da campanha de Trump. Isso teria influenciado na percepção do público sobre a gestão Biden-Harris.

Ele mantém a confiança em seu sistema de predição e afirma não ter atribuído incorretamente nenhuma das chaves.

·        Primeira falha

Usado desde as eleições de 1984, o sistema das chaves só havia errado uma vez até então: em 2000, quando George W. Bush foi eleito para seu primeiro mandato, superando o democrata Al Gore.

Essa disputa pode ser vista como destoante, no entanto, já que a margem de vitória foi muito pequena em termos de delegados, e a vitória do republicano foi decretada após a decisão da Suprema Corte de suspender a recontagem de votos no estado da Flórida.

<><> Veja abaixo as chaves de Lichtman:

  • Mandato do partido: Após as eleições de meio de mandato, o partido do governo ocupa mais assentos na Câmara dos Deputados dos EUA do que ocupava após as eleições de meio de mandato anteriores.
  • Contestação: Não há contestação séria para a nomeação do partido incumbente.
  • Incumbência: O candidato do partido no poder é o presidente em exercício.
  • Terceiro partido: Não há campanha significativa de um terceiro partido ou independente.
  • Economia de curto prazo: A economia não está em recessão durante a campanha eleitoral.
  • Economia de longo prazo: O crescimento econômico real per capita durante o mandato é igual ou superior ao crescimento médio durante os dois mandatos anteriores.
  • Mudança de política: O governo vigente realiza mudanças importantes na política nacional.
  • Agitação social: Não há agitação social sustentada durante o mandato.
  • Escândalo: O governo em exercício não é manchada por um grande escândalo.
  • Carisma do candidato da situação: O candidato do partido em exercício é carismático ou um herói nacional.
  • Carisma do desafiador: O candidato do partido desafiador não é carismático ou um herói nacional.
  • Fracasso militar/externo: O governo vigente não sofre um grande fracasso em assuntos externos ou militares.
  • Sucesso militar/externo: O governo vigente alcança um grande sucesso em assuntos externos ou militares.

 

¨      As pesquisas eleitorais falharam nos EUA?

Durante grande parte da campanha presidencial dos Estados Unidos, ouvimos muitas vezes que a disputa seria acirrada demais para se prever o resultado final.

Entretanto, na quarta-feira (06/11) os resultados mostraram uma vitória imponente de Donald Trump contra Kamala Harris. Ele venceu em pelo menos seis Estados decisivos e teve um bom e inesperado desempenho em outros lugares.

O republicano teve 50,7% dos votos e conquistou 295 delegados; a democrata teve 47,6% dos votos e levou 226 delegados do Colégio Eleitoral.

Agora, Trump está prestes a se tornar o primeiro republicano em duas décadas a vencer no voto popular e pode assumir a Casa Branca com uma Câmara e um Senado controlados por correligionários.

Então, as pesquisas estavam erradas ao detectar uma disputa acirrada?

Em nível nacional, elas certamente pareceram subestimar Trump pela terceira eleição consecutiva.

Mas nos Estados decisivos, como a Pensilvânia, a margem de vitória de Trump ficou tipicamente próxima de sua performance nas pesquisas, mesmo quando elas apontavam números mais baixos do que o resultado final.

A diferença média entre o que mostravam as pesquisas e o resultado final não foi realmente tão grande. Entretanto, em campanhas acirradas, pequenas mudanças podem fazer uma grande diferença.

Antes dos resultados, veículos de imprensa como a BBC alertaram que, apesar da disputa acirrada retratada pelas pesquisas, ela poderia acabar se tornando uma vitória esmagadora para qualquer um dos candidatos, dada a margem de erro.

Em algumas partes menos observadas dos EUA, as pesquisas subestimaram o apoio a Trump de forma mais significativa — um sinal de que há alguns pontos cegos, segundo Michael Bailey, professor da Universidade de Georgetown.

Na Flórida, por exemplo, pesquisas monitoradas pelo RealClearPolitics nas últimas semanas da eleição colocavam Trump à frente por cerca de cinco pontos percentuais. Ele venceu por uma margem maior que 13 pontos.

Em Nova Jersey, esperava-se que Kamala vencesse por quase 20 pontos percentuais, com base nas duas pesquisas mais recentes monitoradas pelo site. Sua margem foi mais estreita, mais próxima de 10.

"Imagine se soubéssemos disso ou tivéssemos uma noção melhor disso há um mês. Não sei se isso mudaria a eleição, mas certamente mudaria nossas expectativas", diz Bailey.

Para o professor, os institutos de pesquisa podem ter repetido falhas observadas em 2020, deixando de captar, por exemplo, a profundidade da mudança a favor de Trump entre eleitores latinos e jovens.

Mas o pesquisador Nate Silver, fundador do agregador de pesquisas 538, diz que havia sinais de alerta para aqueles que estavam olhando os dados em profundidade.

Ele cita uma pesquisa na cidade de Nova York do mês passado, que indicou que Trump estava avançando em tradicionais redutos democratas.

"Este é um problema para o qual o partido [Democrata] deveria estar preparado, porque havia muitas evidências disso em pesquisas e dados eleitorais", escreveu Silver.

O debate sobre as pesquisas eleitorais certamente continuará nos próximos meses.

Isso é particularmente sensível em um ano em que figuras como Trump e seu apoiador bilionário Elon Musk promoveram apostas — muitas das quais supuseram uma vitória de Trump — como uma alternativa mais precisa.

Especialistas reconhecem que o mercado de pesquisas eleitorais enfrenta desafios.

As taxas de resposta às pesquisas caíram, pois se tornou mais fácil para as pessoas identificarem chamadas de números desconhecidos.

A queda também coincide com a crescente desconfiança da mídia e das instituições — uma característica particularmente presente entre os apoiadores de Trump, o que alguns argumentam que levou à sub-representação desses eleitores.

Bailey diz que o grande erro na muito discutida sondagem em Iowa feita pela pesquisadora Ann Selzer — que foi divulgada dias antes da eleição e indicou uma vantagem de três pontos para Kamala no Estado — mostrou os riscos da abordagem tradicional.

Para compensar tais problemas, muitas pesquisas estão adotando modelos, que conseguem ponderar respostas de diferentes grupos e fazer suposições sobre fatores como comparecimento.

Muitos também estão se movendo em direção às pesquisas online, embora outros na área sejam relutantes com o quão confiáveis elas são.

Este ano, os eleitores que estavam inclinados a responder pesquisas online eram mais propensos a serem democratas, afirmou James Johnson, da empresa de pesquisas JL Partners, sediada em Londres, ao jornal Times of London.

Eles eram "mais propensos a serem jovens, mais propensos a serem altamente engajados, mais propensos a trabalhar de casa", disse ele.

Bailey afirma que os pesquisadores tiveram que superar as amostras aleatórias e se tornar mais íntimos dos modelos, além de aprimorar testes e explicações para suas suposições.

Mas o professor Jon Krosnick, da Universidade de Stanford, diz que, sem amostras verdadeiramente aleatórias, as pesquisas permanecem vulneráveis ​​a erros.

"O que precisamos fazer é voltar ao básico e gastar o tempo e o dinheiro necessários para fazer pesquisas com precisão", defende Krosnick.

 

¨      Quando Donald Trump assume a presidência dos EUA?

Donald Trump será o próximo presidente dos Estados Unidos, após uma vitória histórica que leva o republicano de volta à Casa Branca.

A disputa com a democrata Kamala Harris parecia ser muito acirrada, mas os resultados da madrugada mostraram que Trump obteve votos suficientes para vencer.

Ele será o primeiro ex-presidente a retornar ao cargo em mais de 130 anos e, aos 78 anos, o homem mais velho a assumir a Presidência.

Trump já foi parabenizado por líderes mundiais, incluindo o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e do Reino Unido, Keir Starmer. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também cumprimentou o republicano.

No entanto, os resultados oficiais da eleição presidencial ainda não foram confirmados.

Havia preocupação de que disputas acirradas em alguns dos principais Estados pêndulos poderiam deixar o resultado indefinido. Mas vitórias antes do esperado na Carolina do Norte, Geórgia, Pensilvânia e Wisconsin, somadas a estados tradicionalmente republicanos, significaram que ele alcançou os 270 votos eleitorais necessários para garantir a presidência.

A CBS, parceira de transmissão da BBC nos EUA, projetou Donald Trump como vencedor geral pouco depois das 5:30 EST (7:30 no horário de Brasília) no dia seguinte à eleição.

Porém, pode levar dias ou até semanas para os resultados detalhados serem confirmados oficialmente em todos os estados.

Entenda a seguir o que acontece a partir de agora.

<><> Donald Trump já é presidente?

Não. Trump se torna o presidente eleito, e seu companheiro de chapa, JD Vance, o vice-presidente eleito e só se torna o mandatário quando for confirmado pela votação no Colégio Eleitoral.

Ele tomará posse na inauguração presidencial na segunda-feira, 20 de janeiro de 2025, momento em que assumirá legalmente os poderes e responsabilidades da presidência.

<><> O que acontece entre o dia da eleição e a posse?

Após a inclusão de todos os votos válidos nos resultados, o Colégio Eleitoral confirma o resultado da eleição.

Em cada Estado, há um número variável de votos no Colégio Eleitoral em disputa. É a conquista desses votos — e não apenas o apoio direto dos eleitores — que, em última análise, define a vitória presidencial.

Geralmente, os Estados concedem todos os seus votos no Colégio Eleitoral para quem vence a votação popular, e isso é confirmado após reuniões no dia 17 de dezembro.

O novo Congresso dos EUA então se reúne em 6 de janeiro para contar os votos do Colégio Eleitoral e confirmar o novo presidente.

Foi nessa reunião do Congresso, para certificar os resultados das eleições, que os apoiadores de Trump tentaram impedir, quando invadiram o Capitólio em 2021 após Trump recusar a reconhecer sua derrota para Joe Biden.

<><> O que fazem o presidente eleito e o vice-presidente eleito agora?

O presidente eleito Trump e o vice-presidente eleito JD Vance trabalharão com sua equipe de transição para organizar a transferência do governo da administração de Joe Biden.

Eles identificarão prioridades políticas, começarão a avaliar candidatos para ocuparem cargos-chave na nova administração e se prepararão para assumir as funções governamentais.

Trump e sua equipe também começarão a receber informes de segurança nacional confidenciais sobre ameaças atuais e operações militares em andamento.

O presidente e o vice-presidente eleitos também recebem proteção obrigatória do Serviço Secreto dos EUA.

Normalmente, o presidente em final de mandato convida o novo presidente para uma visita à Casa Branca nos dias após a eleição.

Eles também costumam comparecer à posse para simbolizar a transferência pacífica de poder, embora Trump tenha optado por não participar da cerimônia em 2020.

No entanto, ele manteve a tradição iniciada por Ronald Reagan, deixando uma nota manuscrita no Salão Oval para ser lida pelo sucessor.

Na época, o presidente Biden disse a jornalistas que seu antecessor deixou "uma carta muito generosa".

Após a posse, o novo presidente começa a trabalhar imediatamente.

 

¨       Irã pede alívio na pressão e nega acusações de complô contra Trump

O Irã pediu ao presidente dos Estados Unidos eleito, Donald Trump, neste sábado (9/11), para mudar a política de "pressão máxima" sobre a República Islâmica que aplicou em seu primeiro mandato. "Trump deve mostrar que não segue as políticas errôneas do passado", disse Mohamad Javad Zarif, vice-presidente iraniano encarregado de assuntos estratégicos.

O ex-chanceler Zarif ajudou a arquitetar o acordo nuclear assinado entre Teerã e a comunidade internacional em 2015, inclusive, com os Estados Unidos. Três anos depois, o então presidente eleito Trump retirou os EUA do acordo e impôs sanções severas como parte de uma política semelhante contra o Irã.

Após as investigações do Departamento da Justiça dos Estados Unidos revelarem um suposto complô iraniano para assassinar Trump antes das eleições presidenciais deste ano, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da República Islâmica, Esmail Baghai, considerou as alegações "totalmente infundadas" e "rejeitou as acusações segundo as quais o Irã está envolvido em uma tentativa de assassinato contra antigos e atuais funcionários americanos".

"Já se esperava que a tensão entre EUA e Irã fosse aumentar, dada a linha-dura de política externa que o Trump sinalizava e o rompimento do seu governo com o acordo nuclear com aquele país. Nesse sentido, essa acusação não ajuda em nada, já que tensiona ainda mais a relação. Há de se ter cautela e que evidências sejam demonstradas, pois parece estranho que o regime iraniano fosse tão temerário em assumir o risco de uma possível resposta militar duríssima dos EUA, caso seja confirmada uma ação oficial dos aiatolás", esclarece Rafael Iori, professor de história e política da Universidade de Denver, nos Estados Unidos.

"Fora isso, o apoio quase incondicional dos EUA a Israel deve ser confirmado, com pouco espaço pra melhora para a situação em Gaza e no Líbano. Embora, talvez, Trump tente retomar a lógica dos acordos de Abraão com países do Golfo e do Marrocos", completa Iori.

 

Fonte: g1/BBC News

 

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