sexta-feira, 3 de maio de 2024

Os objetivos da República: Considerações sobre o golpe de 1964 e a democracia hoje no Brasil

No dia 25 de abril a maioria dos portugueses comemorou o cinquentenário da Revolução dos Cravos. Nós, brasileiros, registramos os 60 anos de nosso tenebroso primeiro de abril de 1964. Um contraste doloroso. No Brasil, os tanques tomaram as ruas para derrubar o governo democrático de João Goulart e das lutas pelas Reformas de Base e o golpe bem sucedido e instala a ditadura militar por 21 anos, no estilo fascistóide do terrorismo do Estado – com tudo que isso significa de perseguições e prisões, tortura, assassinatos, censura, abolição dos direitos constitucionais e das eleições livres. E esse horror brasileiro ainda influenciaria as ditaduras que devastaram o Cone Sul, de nossos hermanos chilenos, argentinos e uruguaios.

Em Portugal, em abril de 1974, os cravos enfeitaram os fuzis dos jovens capitães e foi derrubada a longa ditadura de 48 anos do presidente fascista Antonio Salazar. Foi bonita a festa, pá: alvorada da liberdade, com o chamado da canção Grândola Morena e, por aqui, o cheirinho de alecrim pedido e cantado por nosso Chico Buarque. A democracia que se instaura vai criando novos direitos para trabalhadores e camponeses, são libertados os numerosos presos políticos e justiça, educação e cultura entram no ritmo da civilidade contemporânea. E cumpre afirmar – seguindo vários historiadores – que a Revolução dos Cravos começou na África, com as guerras anticoloniais e a independência das colônias portuguesas.

De comum entre os dois lados do tanto mar a nos separar, um ponto crucial: o governo norte-americano apoiou tanto a ditadura salazarista quanto a ditadura militar brasileira.

No Brasil, ainda hoje vivemos na busca pelo pleno direito à memória e à verdade sobre a ditadura, os mortos e desaparecidos – aí incluídos indígenas e quilombolas – sobre as ossadas clandestinas, sobre a anistia que beneficiou os torturadores… Dentre os bravos resistentes, só da USP a ditadura matou 47 pessoas e perseguiu mais de setecentas. Foram demitidos professores ilustres, como nosso Mestre Florestan Fernandes. A extrema violência atingiu estudantes e professores, como narrado no Livro Branco da USP e também no Brasil Nunca Mais. Faço aqui uma singela homenagem à memória de duas jovens da USP, Heleny Guariba e Ana Rosa Kucinski, assassinadas pela repressão militar.

E um ano antes da Revolução dos Cravos, para citar um único exemplo no ano terrível de 1973, o estudante do quarto ano de Geologia da USP, Alexandre Vannucchi Leme, 22 anos, foi assassinado sob tortura no DOI-CODI em São Paulo.

Ele só disse o seu nome.

É vasta a bibliografia sobre a ditadura militar no Brasil. E hoje, aos 60 anos do golpe, seu espectro é lembrado com tudo o que ocorreu depois do novo golpe que derrubou a digna presidente Dilma Rousseff e instalou o vice, Michel Temer, o presidente das piores reformas neoliberais. Em 2018, com a absurda e ilegal negação da candidatura de Luis Inácio Lula da Silva, abriu-se o caminho para a vitória eleitoral do ex-militar que havia votado no impeachment em homenagem ao torturador Brilhante Ustra, por ele considerado herói da pátria.

Não pretendo me alongar sobre o governo de Jair Bolsonaro, mas creio ser possível afirmar sua filiação sinistra à linha da ditadura iniciada em 1964, apesar de ter sido eleito. Pretendo destacar um aspecto, comum aos dois períodos, e que considero especialmente importante para nós, da Educação: o poder das campanhas com mensagens que manipulam o medo, os preconceitos, o ressentimento, a sensibilidade religiosa e os valores tradicionais da família.

Os discursos de ódio e da mentira, na imprensa, no rádio e na TV, no começo dos anos 1960 e durante a ditadura militar, foram ostensivamente copiados na campanha e no governo de Jair Bolsonaro, com o uso da desinformação multiplicada – as tais fake news, notícias falsas até no nome – e com a novidade da internet e das redes ditas sociais. Em ambos os casos, a presença dos ideólogos da extrema direita, típicos do chamado “populismo autoritário” e da negação do Estado de dDireito, sempre em nome de Deus, da família e do amor à pátria. A afinidade com o integralismo dos anos 1930 não é mera coincidência.

Voltamos, então, às vésperas do golpe de 1964, quando a feroz campanha da direita parlamentar, nos conhecidos moldes fascistas, usava a mentira como uma verdadeira arma retórica do medo e do ódio. Desde a renúncia de Jânio Quadros, essa direita denunciava a continuidade do que parte importante da elite endinheirada abominava na política brasileira: o getulismo redivivo. O “fantasma popular”, tão temido na década de 1950 com Getúlio Vargas, parecia ressurgir em carne e osso no vice-presidente João Goulart, oriundo do trabalhismo gaúcho.

Vejamos o parentesco dessa campanha que levou ao golpe de 64 com a campanha e o governo de Jair Bolsonaro.

Pela leitura dos discursos parlamentares e dos editorais da chamada “grande imprensa”, além dos púlpitos do catolicismo mais conservador e reacionário, no pré-golpe 64 percebe-se a linguagem radical com impacto direto tanto sobre a fragilidade das classes médias quanto sobre o temor das elites. Os termos discursivos tinham conteúdos afetivos e morais – como o “desregramento dos costumes”, a “dissolução da família” – ou economicamente ameaçadores, como “proletarização da sociedade”, “confisco da propriedade privada” etc. Explorava-se, acima de tudo, a pretensa associação entre duas “calamidades”: além do getulismo, o suposto comunismo, que estaria na origem das lutas por reformas sociais (sobretudo a Reforma Agrária) e na invenção de uma “república sindicalista”.

As campanhas da oposição misturavam denúncias contra a inflação e a corrupção com a projeção dos horrores da “comunização” do país. Vieram as senhoras “marchadeiras”, de rosário nas mãos, e o mantra “a família que reza unida, permanece unida” nas “Marchas das Famílias com Deus pela Liberdade”. É claro que essa retórica não foi responsável pelo êxito do golpe de 64. Mas é inegável que contribuiu como elemento mobilizador e suporte ideológico para a ação vitoriosa dos militares e dos empresários. Cumpre destacar, portanto, que a virulência da propaganda anticomunista e da campanha difamatória contra a pessoa de João Goulart foi decisiva para convencer as classes médias a saírem às ruas e exigirem a queda do governo.

É claro, também, que as classes médias não teriam força e autonomia para o movimento golpista. Por trás das campanhas moralistas e aterrorizadoras estavam, além dos militares, as verdadeiras “classes dominantes” (o grande capital, o latifúndio, a grande imprensa, a burocracia) que, com rara eficiência, cultivavam o medo e o ressentimento do homem comum. E seus parlamentares no Congresso representavam – isso mesmo, “representavam”, no sentido teatral também – a farsa toda. A defesa dos interesses mais sólidos e exclusivos era “representada” como a defesa da pátria, da família, da religião. Da civilização ocidental e cristã, do “mundo livre”. É aí que avulta a força então imbatível do imperialismo, liderada pelo poderio norte-americano.

(Faço um corte rápido para lembrar, no governo de Jair Bolsonaro, o mantra “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”).

Contra Jango e o trabalhismo a direita parlamentar transformou o Congresso em palco de conflitos que, dissimulando vultosos interesses econômicos, eram apresentados como batalhas ideológicas sob as bênçãos da Igreja e da doutrina de Segurança Nacional. Da Igreja católica, então a mais difundida. Direita comprovadamente financiada por instituições nacionais e estrangeiras.

Eram divulgadas teses sobre uma necessária “guerra revolucionária”, arcabouço ideológico do que até hoje é, para a atual extrema direita, a “Revolução de 1964”. Júlio de Mesquita Filho, diretor do jornal O Estado de S. Paulo chegou a escrever pedindo a intervenção norte-americana para impedir que o Brasil se convertesse “em outro bastião comunista, como Cuba”.

É compreensível, portanto, que aquela encenação tivesse um efeito devastador. Conseguia transformar o medo tradicional em ódio ao inimigo – sempre “ateu e solerte” – aquele que iria comunizar o país, acabar com a família, proibir a religião e espoliar a propriedade individual, “destruindo as liberdades”.

(Outro corte para as campanhas da extrema direita hoje e que, desde a campanha de 2018, condenam os direitos humanos, as questões de gênero e o feminismo, campanhas ancoradas no fundamentalismo religioso neopentecostal e na defesa do neoliberalismo radical do modelo de Donald Trump, nos Estados Unidos e de Javier Milei na Argentina).

As consequências trágicas daquela retórica do medo e do ódio refletiram-se na aceitação passiva e mesmo cúmplice, pela maioria da sociedade, da brutal repressão, física e política, que se abateu sobre os adversários do golpe de 1964. Que completa 60 anos, com o peso da responsabilidade por tantas violações de direitos humanos como também pelo sucesso da direita rediviva no governo de Jair Bolsonaro, no meio civil e militar, que permanece forte na sociedade, tanto na elite dominante como entre setores populares. E esta extrema direita tentou dar um golpe semelhante ao de 1964 ao se ver eleitoralmente derrotada.

E o que podemos dizer da política e da democracia hoje, depois da devastação do governo anterior, felizmente seguido pela vitória difícil do atual presidente?

Está em vigor, hoje, o Estado de Direito, tão reclamado pela resistência democrática durante a ditadura militar e no último governo; mas, apesar do avanço, nos falta muito para que possamos falar de um Estado de direito efetivamente democrático. Sua construção decorre da dinâmica histórica e da correlação de forças, ou seja, é um processo constante, jurídico, político e social de lutas, derrotas e conquistas.

Cumpre afirmar que a democracia contemporânea neste século XXI é definida em relação a dois pontos essenciais: a soberania popular e a garantia dos direitos humanos, justamente ditos fundamentais, a começar pelo direito à vida. Esta breve definição tem a vantagem de agregar democracia política e democracia social. A democracia política instaura as liberdades civis e individuais – com destaque para a liberdade de opinião, associação e religiosa, orientação sexual, igualdade no direito à segurança e à informação e no acesso à justiça – assim como a separação, o equilíbrio e o controle entre os poderes. É o regime da alternância e transparência em eleições livres e periódicas, com pluralismo de opiniões e de partidos. É o regime da legitimidade do dissenso e da competição, desde que de acordo com as regras e com respeito à maioria e aos direitos das minorias.

A democracia social, igualmente importante, consagra a igualdade na busca e na garantia dos direitos socioeconômicos, o mínimo insuprimível para a vida com dignidade, de acordo com a Constituição vigente e os Tratados e Convenções adotadas pelo país. É a realização concreta do princípio da igualdade e da solidariedade. Saúde, Educação e acesso à cultura, moradia, segurança alimentar, previdência e seguridade social, lazer; a lista permanece sempre em aberto para novas conquistas.

Nesse sentido, a Constituição brasileira, promulgada em 1988, estabelece como objetivos da República: “construir uma sociedade livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação” (art.3º).

Democracia não é apenas um regime político: é um modo de vida. Vivemos juntos e a democracia – com a exigência de cooperação e respeito entre as partes – é o melhor jeito para enfrentarmos de modo civilizado os conflitos e divergências inerentes a todas as sociedades, com tolerância e abertura ao diálogo.

Isso posto, saudamos o terceiro governo Lula e o que ele significa de compromisso democrático e permanente energia devotada à superação das abissais desigualdades em nosso país que, apesar de tudo, continua a ser cantado como “abençoado por Deus e bonito por natureza”. A serenidade e a coragem deste governo foram cruciais para o enfrentamento e a devida responsabilização do golpe de oito de janeiro em Brasília. Mas sabemos que a vitória eleitoral em outubro de 2022 foi por margem mínima; o ex-presidente foi derrotado, mas o bolsonarismo continua forte em todos os setores e grupos da sociedade. E os esforços da transição democrática e republicana continuam urgentes e necessários.

Creio que podemos destacar os seguintes pontos positivos no atual contexto democrático:

– a recriação gradual de órgãos públicos desativados ou excluídos pelo governo anterior, principalmente na área social como, por exemplo, dos Ministérios de Educação e de Saúde, dos direitos humanos, da mulher, dos indígenas, da reforma agrária, do meio ambiente;

– o Brasil retomou um lugar digno na política internacional;

– o Brasil saiu do famigerado Mapa da Fome;

– o crescimento do emprego e a queda da inflação;

– o governo enfrenta a questão indígena, com veto à tese do marco temporal, e as iniciativas contra a grilagem e o garimpo ilegal; o apoio ao trabalho de Marina Silva;

– o encaminhamento, tantas vezes postergado, de uma proposta de reforma tributária;

– a política bem sucedida de “redução de danos” – causados pelo capitalismo predatório – com projetos sociais aprimorados e expandidos, como o Bolsa Família e Minha Casa, Minha Vida; e projetos novos como o Acredita, o Pé de Meia, o Desenrola, o Terra da Gente.

No rol dos problemas mais graves que contaminam o governo democrático, hoje, avulta a persistente deterioração da Segurança Pública, com os métodos violentos da Polícia Militar– sobretudo contra os mais vulneráveis, como o povo negro, as mulheres, as pessoas LGBTI+. Exemplos recentes são dados pelas operações da PM na Baixada Santista, nas periferias do Rio de Janeiro e na Bahia, aí inclusive contra povos indígenas e quilombolas. A transição democrática tem se revelado incapaz de impor o devido controle civil sobre as políticas de segurança.

Ficam evidentes as imensas dificuldades para avançarmos no caminho da democracia, se não conseguirmos mudar essa política de segurança que é mais uma política de violência e morte. Há muito que fazer, no nível institucional jurídico e político, mas também no campo da educação. Já existem boas propostas de reformulação das escolas militares, assim como da formação das polícias.

Também estamos longe de cumprir aquilo que a própria Constituição afirmou, em 1988: o princípio da soberania popular, a ser exercida através de seus representantes, ou, a grande novidade, diretamente, na forma da lei. Isso significa a urgência em criar e multiplicar as possibilidades de participação popular – que foi tão importante nos dois governos de Lula e de Dilma Rousseff.

O presidente reconhece que em quatro anos será impossível reconstruir tudo que foi destruído no governo anterior e ainda cumprir tudo que é necessário para o desenvolvimento econômico, social e sustentável. Mas está firme no compromisso com a realização de três exigências: o firme e seguro crescimento da economia; a estabilidade democrática das instituições e as políticas sociais no combate à pobreza. E sua principal tarefa política, hoje, é atuar e reunir apoios para impedir a volta da extrema direita, que tem muitos recursos e se organiza para as eleições neste ano e as presidenciais em 2026. Há que ter esperança e coragem!

A USP é uma Universidade pública, considerada a melhor do país, entre as 100 melhores do mundo. Defendo a exigência da responsabilidade social da Universidade, responsabilidade crucial em nosso país, cuja história, regada com o sangue de escravizados é até hoje marcada por profundas desigualdades de todo tipo, a começar pelo racismo, herança dos quase 400 anos de escravidão legal.

Em outras palavras, e seguindo Paulo Freire, creio que importante motivação dos professores e alunos deve ser a construção coletiva e constante de uma Universidade emancipatória. E defendo que a USP contribua efetivamente para o debate sobre os projetos, em suas várias áreas, para o desenvolvimento do país.

Mais uma vez valorizo o reconhecimento da relação indissociável entre democracia, educação e direitos humanos, tema candente neste primeiro quarto do século XXI, com as novas tecnologias da informação e da comunicação, a radical transformação do mundo do trabalho, a emergência das mudanças climáticas, o racismo estrutural, as novas questões de gênero, o fanatismo religioso e o negacionismo científico, as pandemias, as guerras absurdas, a fome, o povo em situação de rua… a lista é longa.

Costumo afirmar: “sou professora, logo… sou otimista”.

Antonio Gramsci já dizia que devemos ser céticos no diagnóstico, porém otimistas na ação, na vontade. O educador pessimista é, a meu ver, uma contradição em termos, pois nega a possibilidade de transformação – da transformação de seres, da transformação do mundo. O otimista tem fé e esperança na ação livre, criadora e emancipadora.

No Brasil, muito especialmente, a docência é um ato constante de fé e de esperança, na nossa infância, na nossa juventude, no futuro. Georges Bernanos afirmava que a febre da juventude – a febre de saúde que sempre vi em meus alunos – é o que garante a temperatura minimamente saudável da humanidade. Sem ela o mundo estaria irremediavelmente doente.

Em seu célebre discurso sobre A Política como Vocação Max Weber enfatizava: “a política consiste num esforço tenaz e enérgico para furar tábuas duras de madeira. Exige paixão e precisão. Não se poderia esperar o possível se não houvesse confiança no impossível. Se não houvesse a força da alma para ultrapassar o naufrágio das esperanças”. Poderíamos dizer o mesmo da educação.

Portanto, para a tarefa educacional que nos envolve, é preciso superar o que pode persistir de frustração, de desencanto, da tentação da inércia diante de tantos obstáculos e desafios. É a esperança, alimentada a cada dia, que nos permite acreditar e participar da luta daqueles que fazem da educação um ideal. Daqueles que ainda acreditam que saberemos construir uma nação fundada naqueles ideais maiores, o respeito aos direitos humanos de todos, à liberdade, à igualdade na dignidade, à solidariedade, à verdade e à ciência.

É preciso amar a nossa terra, acreditar e lutar para que o Brasil seja, enfim, uma nação justa e inclusiva, digna dos milhões de homens e mulheres que constroem a sua riqueza – e dela continuam excluídos.

Alexandre Vannucchi Leme, desde 1976 é o nome do Diretório Central dos Estudantes de nossa USP. Em 2014 o Estado brasileiro retificou sua certidão de óbito, esclarecendo que morreu por “lesões provocadas por tortura”. Neste último dezembro o Instituto de Geologia concedeu-lhe um diploma simbólico.

Ele só disse o seu nome. E nos repetiremos sempre: Alexandre Vannucchi Leme, presente!

 

Fonte: Por Maria Victoria de Mesquita Benevides, em A Terra é Redonda

 

Diretas já! 40 anos de uma derrota legislativa com sabor de vitória

Em 2024 comemoramos os 40 anos de um ciclo de protestos que foi fundamental para por fim ao regime autoritário iniciado em 1964: Diretas já! E, por mais paradoxal que possa parecer, este ciclo se encerrou com uma derrota legislativa para a oposição, com a rejeição da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) nº 5 de 1983, conhecida como Dante de Oliveira. Mas por que celebrar as Diretas já! se sua principal reivindicação foi derrotada em plenário pela base do governo militar? Para compreender as razões é preciso resgatar um pouco da história dos eventos que sacudiram o país em 1984 e ajudaram a redefinir o nosso sistema político-partidário.

O governo de João Figueiredo (1979-1985) já sofria fortes pressões nos primeiros anos da década de 1980. Nas eleições disputadas em 1982, que marcou o retorno do voto direto para a escolha dos governadores, os partidos oposicionistas receberam mais de 50% dos votos válidos para a Câmara dos Deputados, o Senado Federal e os governos estaduais. Os resultados da urnas, além de representar uma derrota significativa aos partidos alinhados ao regime autoritário, demonstraram uma deslegitimação popular em relação ao atual governo. Foi neste contexto que a oposição propôs o fim institucional da ditadura e a restauração formal da democracia, pleiteando a volta da escolha direta do próximo presidente.

Na ocasião, o deputado federal Dante de Oliveira (PMDB-MT) elaborou uma PEC que desencadeou uma série de manifestações que colocaram em xeque o regime autoritário, A PEC nº 5/1983, que ficou conhecida pelo nome de seu propositor, dispunha sobre a eleição direta para presidente e vice-presidente da República:

Art. 1º – Os arts. 74 e 148 da Constituição Federal, revogados seus respectivos parágrafos, passarão a viger com a seguinte redação:

Art. 74 – O Presidente e Vice-Presidente da República serão eleitos, simultaneamente, entre os brasileiros maiores de trinta e cinco anos e no exercício dos direitos políticos, por sufrágio universal e voto direto e secreto, por um período de cinco anos.

Parágrafo Único – A eleição do Presidente e Vice-Presidente da República realizar-se-á no dia 15 de Novembro do ano que anteceder ao término do mandato presidencial.
Art. 148 – O sufrágio é universal e o voto é direto e secreto; os partidos políticos terão representação proporcional, total ou parcial, na forma que a lei estabelecer.

Art. 2º – Ficam revogados o art. 75 e respectivos parágrafos, bem como o § 1º do art. 77 da Constituição Federal, passando seu § 2º a constituir-se parágrafo único.

O primeiro ato do ciclo de protestos das Diretas já! foi um grande comício ocorrido em novembro de 1983 na cidade de São Paulo: Comício do Pacaembu. O evento, organizado pelo PT, contou ainda com alguns notáveis do PMDB, principal partido de oposição à época. Contudo, foi apenas em 1984 que as manifestações em prol da emenda ganharam fôlego. A expansão dos atos foi rápida e logo diversos setores da sociedade civil aderiram ao movimento, incluindo cidadãos comuns, políticos de diferentes partidos oposicionistas, artistas, personalidades ligadas ao futebol etc. A rápida propagação dos comícios e seu impacto sobre a opinião pública tornaram obrigatório, mesmo aos oposicionistas mais moderados, um posicionamento a favor da aprovação da emenda Dante de Oliveira. O êxito nas ruas foi tão grande que Lula (PT), Ulysses Guimarães (PMDB) e Doutel de Andrade (PDT), principais lideranças partidárias oposicionistas ao regime autoritário, coordenaram, entre os dias 13 e 20 de fevereiro de 1984, a caravana pelas diretas, partindo de vários estados rumo à Brasília.

Os militares sentiram o golpe dos protestos, mas não abriram mão da sucessão presidencial via Colégio Eleitoral, pressionando os membros do PDS, principal partido governista, a votar de forma unida contra a PEC. O regime, porém, desta vez não fez uma escalada violenta como seria de esperar em anos anteriores. Pelo contrário, optou por não se opor à votação da emenda, apostando na pequena chance de sucesso da oposição no Congresso. Afinal, mesmo se passasse pela Câmara, as possibilidades de aprovação no Senado eram mínimas, em função da composição partidária favorável ao regime autoritário.

Em 8 de março de 1984, confirmou-se a data de votação da proposta para 25 de abril do mesmo ano. A partir dali, oposição e situação passaram a tentar colher frutos pela repercussão das Diretas já! Do lado oposicionista, a competição entre as lideranças do movimento se acirrou, e alguns membros do PMDB iniciaram, contra a vontade dos autênticos, uma negociação interna de sucessão, antes mesmo da votação da PEC. Pelo lado governista, também não havia unanimidade, e uma cisão interna no PDS, que dois anos mais tarde faria nascer o PFL, já era visível naquele período.

Na votação de 25 de abril a emenda foi derrotada: 298 votos a favor, 65 contra, três abstenções e 113 deputados se ausentaram. Os votos foram insuficientes para aprovar uma PEC, que exigia 2/3 de votos a favor, ou seja, apoio de pelo menos 320 dos 479 deputados. Entretanto, o desgaste situacionista foi nítido. Dos 235 deputados do PDS, somente 65 votaram contra, três se abstiveram, 112 não compareceram e 55 foram a favor da emenda. A base governista e seu partido estavam rachados.

Apesar de não ter sido aprovada, a emenda Dante de Oliveira, ao desencadear as Diretas já! impactou definitivamente o sistema político brasileiro. Os partidos oposicionistas ganharam ainda mais força nesse período, ao longo do qual o regime autoritário foi finalmente encerrado. E, mesmo sem a eleição direta para presidente em 1985, os militares e seus apoiadores viram seu candidato Paulo Maluf ser derrotado no Colégio Eleitoral por uma aliança firmada entre o PMDB e o PFL, que lançou a chapa vencedora formada por Tancredo Neves e José Sarney.

 

Fonte: Congresso em Foco

 

Doença renal crônica deve se tornar a quinta causa de morte no mundo em 2040

A doença renal crônica vem se tornando uma epidemia silenciosa e deve se tornar a quinta causa de morte no mundo em 2040, revela um artigo recém-publicado na Nature. A doença ficaria atrás no número de óbitos apenas da doença isquêmica do coração, do Acidente Vascular Cerebral (AVC), de infecções respiratórias e da doença pulmonar obstrutiva crônica. A incidência da doença renal crônica cresceu 30% nas últimas três décadas e, segundo os especialistas, ainda há enormes desafios na prevenção e no diagnóstico precoce no mundo todo.

No Brasil, faltam dados precisos, mas estima-se que a doença afete cerca de 11% da população, sendo que há 144 mil pacientes em diálise, o procedimento em que uma máquina limpa e filtra o sangue do paciente quando o rim não consegue funcionar normalmente. Um painel de especialistas acaba de publicar um artigo no periódico científico Kidney Diseases que traz um retrato da situação da doença no país e recomendações para mudar o cenário.

“Cerca de 70% dos casos da doença renal crônica se devem a diabetes e hipertensão, e esses problemas estão muito associados à obesidade”, diz o nefrologista Marcelo Costa Batista, do Hospital Israelita Albert Einstein, um dos autores do trabalho brasileiro. Histórico familiar, tabagismo e idade acima de 60 anos, entre outros, também são fatores de risco.

A doença renal crônica é caracterizada pela perda progressiva e irreversível da função dos rins ao longo de meses e anos. Esses pacientes têm maior risco de morte por todas as causas. “A doença renal crônica também aumenta de oito a dez vezes o risco cardiovascular. São doenças que andam juntas”, explica o médico.

Nos estágios iniciais, é possível fazer o controle com medicamentos e mudanças de estilo de vida. Nos mais avançados, a pessoa precisa fazer diálise ou transplante de rim. O médico explica que por isso são importantes a prevenção e o diagnóstico precoce, além do tratamento correto para evitar a progressão da doença.

Esses pacientes também têm uma série de complicações, pois a doença provoca anemia, desnutrição, problemas neurológicos e metabólicos, incluindo alterações nos níveis de potássio, que devem ser corretamente identificadas e tratadas.

·        O diagnóstico no Brasil é tardio

Mais de 44% dos casos aqui são diagnosticados em estágios mais avançados. “Precisamos melhorar a identificação desses pacientes, além de mais médicos capacitados para lidar com a doença de acordo com as diretrizes.”

Como ela não dá sintomas no início, é necessário mapear quem tem mais chance de desenvolvê-la e fazer a avaliação da função renal por meio da dosagem de albumina na urina e de creatinina no sangue. Dependendo do resultado, a pessoa precisa ser monitorada de forma mais próxima e mudar hábitos para prevenir o desenvolvimento ou a progressão da doença.

Pacientes de risco também devem ser orientados sobre os cuidados com certas medicações que são nefrotóxicas, como alguns anti-inflamatórios e contrastes usados em exames.

No entanto, uma pesquisa citada no artigo, feita com médicos paulistas, mostra que menos da metade deles, 42,5%, tinha recebido treinamento no cuidado com esses pacientes, 56% solicitam exames de urina para diagnóstico e 64,6% tinham conhecimento da classificação da doença, todos números que denotam a necessidade de maior atualização e capacitação dos profissionais de saúde.

 

¨      Quais são os riscos de ficar muito tempo sentado? Novo estudo responde

 

Um novo estudo mostra que passar muito tempo sentado pode ser perigoso para a saúde. Permanecer nessa posição mais do que 11 horas por dia, por exemplo, aumenta em mais de 78% o risco de morte por doenças cardiovasculares e em 57% o de morrer por qualquer outra enfermidade em relação a quem fica menos de nove horas no sofá, por exemplo.

Isso é o que mostram pesquisadores da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, em um artigo publicado no Journal of the American Heart Association, periódico da Associação Americana do Coração.

Além de comprovar o prejuízo do excesso de horas sem atividade, os cientistas também constataram que passar mais de 15 minutos ininterruptos sem mobilidade também afeta a saúde. Os autores avaliaram o tempo sedentário de quase 6 mil idosas com o auxílio de um acelerômetro – dispositivo colocado no quadril que detecta a postura e a movimentação – durante sete dias.

Os dados foram processados por um algoritmo, que excluiu os momentos de sono. Depois, os registros de saúde das voluntárias foram acompanhados pelos oito anos seguintes.

“O resultado corrobora que o comportamento sedentário aumenta o risco de morte, e o dado é interessante porque coloca um corte, um número de horas”, diz Everton Crivoi do Carmo, educador físico, doutor em ciências do esporte e responsável pela preparação física no Espaço Einstein Esporte e Reabilitação.

Carmo explica que a falta de atividade física traz prejuízos em vários aspectos. Sem a exigência de se adaptar para responder a um esforço, o coração vai ficando menor e mais fraco. Há o aumento da glicose em circulação, já que ela não precisa ser usada como combustível para os músculos. Isso, por sua vez, diminui a sensibilidade à insulina, gerando a predisposição ao diabetes.

O especialista diz ainda que ficar parado aumenta os triglicerídeos e os marcadores pró-inflamatórios no sangue. Além disso, a falta de ativação muscular prejudica a capacidade de produzir força. “A pessoa se cansa por qualquer coisa, então se submete cada vez menos a esforços, o que a faz perder mais força, deixando-a ainda mais cansada e gerando um ciclo vicioso”, diz o especialista.

No estudo, houve a associação com o sobrepeso e o tabagismo, o que pode ser o indicador de certo estilo de vida, diz o especialista. “Para revertê-lo, é preciso entender os fatores de motivação da pessoa, estabelecer metas e objetivos com significado, propor atividades e responsabilidades em casa, por exemplo.”

Mas ele reconhece que, muitas vezes, essa não é uma tarefa fácil: “Muitos idosos acabam ficando mais isolados, a família está distante e, sem querer, o próprio ambiente promove o sedentarismo. É preciso participar de atividades sociais, incentivar a pessoa a fazer pequenas tarefas, como se levantar para tomar água, sair de casa, fazer uma caminhada diária ou atividades simples, como a jardinagem.”

·        Comportamento sedentário

O alerta sobre os perigos do sedentarismo vale também para os mais jovens. “Em qualquer idade, não adianta passar duas horas na academia e ficar o resto do dia sentado”, reforça o especialista do Einstein.

“Nosso dia a dia estimula o comportamento sedentário, mas é preciso pensar em estratégias para manter um estilo de vida ativo, com pequenos exercícios ao longo do dia, seja fracionando-os, seja aproveitando as oportunidades para caminhar ou subir escadas, por exemplo.”

 

Fonte: CNN Brasil

 

Amos Goldberg: Sim, é genocídio

Sim, é genocídio. É tão difícil e doloroso admiti-lo, mas, apesar de tudo isso e apesar de todos os nossos esforços para pensar de outra forma, após seis meses de guerra brutal, não podemos mais evitar esta conclusão. A história judaica será doravante manchada com a marca de Caim pelo “mais horrível dos crimes”, que não pode ser apagado da sua testa. Como tal, é assim que será visto no julgamento da história para as gerações vindouras.

Do ponto de vista jurídico, ainda não se sabe o que a Corte Internacional de Justiça de Haia (CIJ) irá decidir, embora, à luz das suas decisões temporárias até agora e à luz da crescente prevalência de relatórios de juristas, organizações internacionais e jornalistas de investigação, a trajetória do julgamento prospectivo parece bastante clara.

Já em 26 de janeiro, a Corte Internacional de Justiça decidiu por maioria esmagadora (14-2) que Israel pode estar cometendo genocídio em Gaza. Em 28 de março, após a fome deliberada imposta à população de Gaza por Israel, a Corte emitiu ordens adicionais (desta vez por uma votação de 15-1, com a única dissidência vinda do juiz israelense Aharon Barak), apelando a Israel para não negar aos palestinos seus direitos, que são protegidos pela Convenção do Genocídio.

O bem argumentado e fundamentado relatório da Relatora Especial da ONU sobre a Situação dos Direitos Humanos nos Territórios Palestinos Ocupados, Francesca Albanese, chegou a uma conclusão um pouco mais determinada e é outra camada para estabelecer o entendimento de que Israel está na verdade cometendo genocídio. O relatório detalhado e periodicamente atualizado do acadêmico israelense Dr. Lee Mordechai, que recolhe informações sobre o nível de violência israelense em Gaza, chegou à mesma conclusão.

Acadêmicos importantes como Jeffrey Sachs, professor de economia na Universidade de Columbia (e um judeu com atitude calorosa em relação ao sionismo tradicional), com quem chefes de estado de todo o mundo consultam regularmente sobre questões internacionais, falam do genocídio israelense como algo tomado por garantido.

Relatórios investigativos excelentes, como os de Yuval Avraham, em Local Call, e especialmente a sua recente investigação dos sistemas de inteligência artificial utilizados pelos militares na seleção de alvos e na execução dos assassinatos, aprofundam ainda mais esta acusação. O fato de os militares terem permitido, por exemplo, o assassinato de 300 pessoas inocentes e a destruição de um bairro residencial inteiro para eliminar um comandante de brigada do Hamas mostra que os alvos militares são alvos quase casuais para matar civis e que cada palestino em Gaza é um alvo para matar. Esta é a lógica do genocídio.

Sim. Eu sei, eles são todos antissemitas ou judeus que odeiam a si mesmos. Somente nós, israelenses, cujas mentes são alimentadas pelos anúncios do porta-voz das FDI e expostas apenas às imagens peneiradas para nós pela mídia israelense, vemos a realidade como ela é. Como se uma literatura interminável não tivesse sido escrita sobre os mecanismos de negação social e cultural das sociedades que cometem graves crimes de guerra. Israel é realmente um caso paradigmático de tais sociedades, um caso que ainda será ensinado em todos os seminários universitários do mundo que tratam do assunto.

Serão necessários vários anos até que o tribunal de Haia emita o seu veredicto, mas não devemos olhar para a situação catastrófica apenas através de lentes jurídicas. O que está acontecendo em Gaza é genocídio porque o nível e o ritmo dos assassinatos indiscriminados, da destruição, das expulsões em massa, dos deslocamentos, da fome, das execuções, do aniquilamento de instituições culturais e religiosas, do esmagamento das elites (incluindo o assassinato de jornalistas) e da desumanização abrangente dos palestinos cria um quadro geral de genocídio, de um esmagamento deliberado e consciente da existência palestina em Gaza.

Da forma como normalmente entendemos tais conceitos, a Gaza palestina como um complexo geográfico-político-cultural-humano já não existe. Genocídio é a aniquilação deliberada de um coletivo ou de parte dele – não de todos os seus indivíduos. E é isso que está acontecendo em Gaza. O resultado é, sem dúvida, genocídio. As numerosas declarações de extermínio por parte de altos funcionários do governo israelense e o tom geral de extermínio no discurso público, corretamente apontado pela colunista do Haaretz, Carolina Landsman, indicam que esta também era a intenção.

Os israelenses pensam erradamente que para ser visto como genocídio é necessário que se pareça com o Holocausto. Imaginam comboios, câmaras de gás, crematórios, fossos de matança, campos de concentração e extermínio e a perseguição sistemática até a morte de todos os membros do grupo de vítimas até o último. Uma ocorrência como esta não ocorreu de fato em Gaza. De forma semelhante ao que aconteceu no Holocausto, a maioria dos israelenses também imagina que o coletivo das vítimas não está envolvido em atividades violentas ou conflitos reais e que os assassinos as exterminam por causa de uma ideologia insana e sem sentido. Este também não é o caso de Gaza.

O ataque brutal do Hamas em 7 de Outubro foi um crime hediondo e terrível. Cerca de 1.200 pessoas foram mortas ou assassinadas, incluindo mais de 850 civis israelenses (e estrangeiros), incluindo muitas crianças e idosos, cerca de 240 israelenses vivos foram raptados para Gaza e foram cometidas atrocidades como estupro. Este é um acontecimento que terá efeitos traumáticos profundos, catastróficos e duradouros durante muitos anos, certamente para as vítimas diretas e os seus círculos imediatos, mas também para a sociedade israelenses como um todo. O ataque forçou Israel a responder em legítima defesa.

No entanto, embora cada caso de genocídio tenha um caráter diferente, no âmbito e nas características dos assassinatos, o denominador comum da maioria deles é que foram realizados a partir de um autêntico sentimento de autodefesa. Legalmente, um evento não pode ser ao mesmo tempo autodefesa e genocídio. Estas duas categorias jurídicas são mutuamente exclusivas. Mas, historicamente, a autodefesa não é incompatível com o genocídio, é geralmente uma das suas principais causas, se não for a principal.

Em Srebrenica – onde o Tribunal Penal Internacional (TPI) para a ex-Yugoslávia determinou, em dois níveis diferentes que ocorreu um genocídio em julho de 1995 – “apenas” cerca de 8.000 homens e jovens muçulmanos bósnios, com mais de 16 anos, foram assassinados. As mulheres e crianças já tinham sido expulsas anteriormente.

As forças sérvias da Bósnia foram responsáveis pelos assassinatos, a sua ofensiva ocorreu no meio de uma sangrenta guerra civil, durante a qual ambos os lados cometeram crimes de guerra (embora imensamente mais por parte dos sérvios) e que eclodiu na sequência de uma decisão unilateral dos croatas e muçulmanos da Bósnia romper com a Yugoslávia e estabelecer um estado bósnio independente, no qual os sérvios eram uma minoria.

Os sérvios bósnios, com memórias sombrias de perseguições e assassinatos na Segunda Guerra Mundial, sentiram-se ameaçados. A complexidade do conflito, em que nenhuma das partes era inocente, não impediu o TPI de reconhecer o massacre de Srebrenica como um ato de genocídio, que excedeu os restantes crimes de guerra cometidos pelas partes, uma vez que estes crimes não podem justificar o genocídio. O tribunal explicou que as forças sérvias destruíram intencionalmente, através de assassinato, expulsão e destruição, a existência bósnio-muçulmana em Srebrenica. Hoje, aliás, os muçulmanos bósnios vivem lá novamente e algumas das mesquitas que foram destruídas foram reconstruídas. Mas o genocídio continua a assombrar tanto os descendentes dos assassinos como as vítimas.

O caso de Ruanda é totalmente diferente. Ali, durante muito tempo, como parte da estrutura de controle colonial belga, baseada em dividir para governar, o grupo minoritário Tutsi governou e oprimiu o grupo majoritário Hutu. Contudo, na década de 1960 a situação inverteu-se e, após a sua independência da Bélgica em 1962, os Hutu assumiram o controle do país e adotaram uma política opressiva e discriminatória contra os Tutsis, desta vez também com o apoio das antigas potências coloniais.

Gradualmente, esta política tornou-se intolerável e uma guerra civil brutal e sangrenta eclodiu em 1990, começando com a invasão de um exército tutsi, a Frente Patriótica do Ruanda, composta principalmente por tutsis que fugiram de Ruanda após a queda do domínio colonial. Como resultado, aos olhos do regime Hutu, os Tutsis tornaram-se coletivamente identificados com um verdadeiro inimigo militar.

Durante a guerra, ambos os lados cometeram crimes graves em solo ruandês, bem como em solo de países vizinhos para os quais a guerra se estendeu. Nenhum dos lados era absolutamente inocente ou absolutamente mau. A guerra civil terminou com os Acordos de Arusha, assinados em 1993, que deveriam envolver o povo tutsi em instituições governamentais, no exército e em estruturas estatais.

Mas estes acordos fracassaram e, em abril de 1994, o avião do presidente Hutu do Ruanda foi abatido. Até hoje não se sabe quem derrubou o avião e acredita-se que, na verdade, eram combatentes hutus. No entanto, os Hutu estavam convencidos de que o crime tinha sido cometido por combatentes da resistência Tutsi e isto foi visto como uma ameaça genuína para o país. O genocídio tutsi estava a caminho. A justificativa oficial para o ato de genocídio foi a necessidade de remover a ameaça da existência tutsi de uma vez por todas.

O caso dos Rohingya, que a administração de Joe Biden reconheceu recentemente como genocídio, é novamente muito diferente. Inicialmente, após a independência de Mianmar (antiga Birmânia) em 1948, os muçulmanos Rohingya eram vistos como cidadãos iguais e parte de uma entidade nacional majoritariamente budista. Mas ao longo dos anos e especialmente após o estabelecimento da ditadura militar em 1962, o nacionalismo birmanês foi identificado com vários grupos étnicos dominantes, que eram principalmente budistas, dos quais os Rohingya não eram membros.

Em 1982 e posteriormente, foram promulgadas leis de cidadania, privando a maioria dos Rohingya da sua cidadania e dos seus direitos. Eles eram vistos como estrangeiros e como uma ameaça à existência do Estado. Os Rohingya, entre os quais existiram pequenos grupos rebeldes no passado, fizeram um esforço para não serem arrastados para a resistência violenta, mas em 2016 muitos sentiram que não podiam impedir sua privação de direitos, a repressão, a violência estatal e das multidões contra eles, e a sua gradual expulsão e um movimento clandestino Rohingya atacou as delegacias de polícia de Mianmar.

A reação foi brutal. Os ataques das forças de segurança de Mianmar expulsaram a maioria dos Rohingya das suas aldeias, muitos foram massacrados e as suas aldeias foram completamente destruídas. Quando, em março de 2022, o Secretário de Estado Antony Blinken leu a declaração no Museu do Holocausto em Washington reconhecendo que o que foi feito aos Rohingya foi um genocídio, ele disse que, em 2016 e 2017, cerca de 850.000 Rohingya foram deportados para Bangladesh e cerca de 9.000 deles foram assassinados.

Isto foi suficiente para reconhecer o que foi feito aos Rohingya como a oitava ocorrência deste tipo que os Estados Unidos consideram um genocídio, fora o Holocausto. O caso Rohingya nos lembra o que muitos estudiosos do genocídio estabeleceram em termos de investigação e que é muito relevante para o caso de Gaza: uma ligação entre limpeza étnica e genocídio.

A ligação entre os dois fenômenos é dupla e ambos são relevantes para Gaza, onde a grande maioria da população foi expulsa dos seus locais de residência e só a recusa do Egito em absorver massas de palestinos no seu território os impediu de deixar Gaza. Por um lado, a limpeza étnica sinaliza a vontade de eliminar o grupo inimigo a qualquer custo e sem compromisso e, portanto, facilmente desliza para o genocídio ou faz parte dele. Por outro lado, a limpeza étnica geralmente cria condições que permitem ou causam (por exemplo, doenças e fome) o extermínio parcial ou total do grupo de vítimas.

No caso de Gaza, as “zonas de refúgio seguro” tornaram-se muitas vezes armadilhas mortais e zonas de extermínio deliberado e nestes refúgios Israel deliberadamente mata a população de fome. Por esta razão, há muitos comentadores que acreditam que a limpeza étnica é o objetivo dos combates em Gaza.

O genocídio dos armênios durante a Primeira Guerra Mundial também teve um contexto. Durante os anos de declínio do Império Otomano, os armênios desenvolveram a sua própria identidade nacional e exigiram autodeterminação. O seu caráter religioso e étnico distinto, bem como a sua localização estratégica na fronteira entre os impérios otomano e russo, fizeram deles uma população perigosa aos olhos das autoridades otomanas.

Horríveis surtos de violência contra os armênios ocorreram já no final do século XIX e, portanto, alguns armênios eram de fato simpáticos aos russos e viam-nos como potenciais libertadores. Pequenos grupos armênio-russos até colaboraram com o exército russo contra os turcos, apelando aos seus irmãos do outro lado da fronteira para se juntarem a eles, o que levou a uma intensificação do sentimento de ameaça existencial aos olhos do regime otomano. Este sentimento de ameaça, que se desenvolveu durante uma crise profunda do império, foi um fator importante no desenvolvimento do genocídio armênio, que também iniciou um processo de expulsão.

O primeiro genocídio do século XX também foi executado a partir de um conceito de autodefesa dos colonos alemães contra os povos herero e nama no sudoeste da África (atual Namíbia). Como resultado da severa repressão por parte dos colonos alemães, os habitantes locais rebelaram-se e num ataque brutal e assassinaram cerca de 123 (talvez mais) homens desarmados. A sensação de ameaça na pequena comunidade de colonos, que contava com apenas alguns milhares, era real e a Alemanha temia ter perdido a sua dissuasão face aos nativos.

A resposta foi de acordo com a ameaça percebida. A Alemanha enviou um exército liderado por um comandante desenfreado e também lá, por um sentimento de autodefesa, a maioria destes membros tribais foram assassinados entre 1904 e 1908 – alguns por morte direta, alguns sob condições de fome e sede impostas a eles pelos alemães (novamente por deportação, desta vez para o deserto de Omaka) e alguns em cruéis internações e campos de trabalhos forçados. Processos semelhantes ocorreram durante a expulsão e extermínio de povos indígenas na América do Norte, especialmente durante o século XIX.

Em todos estes casos, os perpetradores do genocídio sentiram uma ameaça existencial, mais ou menos justificada, e o genocídio veio em resposta. A destruição do coletivo de vítimas não foi contrária a um ato de legítima defesa, mas sim a um autêntico motivo de legítima defesa.

Em 2011, publiquei um pequeno artigo no jornal Haaretz sobre o genocídio no sudoeste de África, concluindo com as seguintes palavras: “Podemos aprender com o genocídio herero e nama como a dominação colonial, baseada num sentido de superioridade cultural e racial, pode repercutir, face à rebelião local, em crimes horríveis como a expulsão em massa, a limpeza étnica e o genocídio. O caso da rebelião herero deveria servir como um terrível sinal de alerta para nós aqui em Israel, que já conheceu uma Nakba em sua história”.

 

Fonte: Site The Palestine Project - Tradução: Sean Purdy, em A Terra é Redonda

 

'Multipolaridade à brasileira': quais os principais aspectos da visão brasileira sobre o tema?

Segundo a visão brasileira de relações internacionais, o mundo deve ser multipolar, sem qualquer forma de dominação por parte de uma única superpotência sobre o sistema. Nesse quesito a postura do Brasil se assemelha à de outras grandes potências tradicionais, ainda que permeada por algumas nuances importantes.

Em termos de contexto, desde o príncipio dos anos 2000 (ou seja, ao final da era unipolar estadunidense), existe no sistema internacional um clamor cada vez maior da parte de diversos países por uma política global mais inclusiva menos centrada no Ocidente.

É, portanto, como resultado dessa tendência que o BRICS foi formado em 2009, por exemplo, grupo esse que persegue o objetivo comum de resistir a um mundo unipolar dominado pelos Estados Unidos e seus parceiros ocidentais. O BRICS, em outras palavras, busca a consolidação de um sistema internacional multipolar mais democrático e representativo da importância adquirida ao longo dos últimos anos pelos países emergentes.

Tal discurso, vale lembrar, já estava presente no discurso político brasileiro bem antes da formação do BRICS. A título de exemplo, ao visitar a Rússia no ano de 2002, o ex-presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso afirmou que ambos os países se encontravam de acordo com a defesa de uma ordem mundial multipolar, baseada na igualdade entre os Estados e no reconhecimento da importância das Nações Unidas.

Declarações de mesmo teor também puderam ser encontradas em discursos do alto escalão do governo brasileiro durante a era Lula (2003-2010), em que a diplomacia no Itamaraty se aproximou bastante de regiões como a África, o Oriente Médio e a Ásia. Seja como for, como a questão da "multipolaridade" nas relações internacionais fora encarada pela elite política no Brasil?

A príncipio, para responder a essa pergunta é preciso analisar qual a posição do país no sistema, como um todo. O Brasil, se olharmos de perto, não é globalmente reconhecido como uma "grande potência", no sentido de ser um Estado cujo poderio econômico, político e militar lhe permita exercer influência sobre a diplomacia mundial.

Por outro lado, o Brasil é certamente uma potência regional, cujas capacidades populacionais e econômicas o tornam evidentemente uma liderança quase que natural na América Latina.

Apesar disso, em termos sistêmicos o Brasil não detém responsabilidades especiais na gestão de assuntos sistêmicos de segurança, como é o caso dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU.

Além disso, o Brasil não foi capaz de equiparar o seu tamanho territorial com um poder militar ou econômico equivalente, o que pode ser ilustrado pelo fato de, mesmo representando o quinto maior país do mundo, o Brasil ser responsável por apenas 2% (aproximadamente) do PIB global. Se olharmos para a questão militar, por sua vez, o fato de o Brasil ser desprovido de armas nucleares diminui bastante sua capacidade dissuasória no sistema.

Logo, embora o Brasil e outras grandes potências globais, como Rússia e China, tenham o mesmo objetivo de se opor a uma ordem mundial dominada pelos Estados Unidos, suas visões sobre como lidar com a construção de um mundo multipolar diferem em certos aspectos.

Os representantes do Brasil, em particular e especialmente na segunda década dos anos 2000, manifestaram em diversos discursos a necessidade de defesa de uma "ordem internacional multipolar" mais democrática e justa, baseada na primazia do direito internacional e no reconhecimento das demandas sociais e políticas do chamado Sul Global.

Ao mesmo tempo, na posição de ex-colônia de uma potência europeia (nesse caso, Portugal), o Brasil tradicionalmente pensa a multipolaridade como um processo de "descolonização" das relações internacionais, ou seja, diminuindo a influencia dos "países do Norte" sobre os processos de tomada de decisão global. Para isso, o Brasil não pretente agir sozinho como um dos possíveis polos de um mundo multipolar. Pelo contrário, a intenção da diplomacia brasileira é de coordenar esforços junto aos demais países da América do Sul e América Latina, de modo que todos possam melhorar sua posição no sistema.

Nesse contexto, apesar de representar quase que uma "hegemonia regional", por conta de seu potencial territorial, econômico e mesmo populacional, o Brasil procura exercer uma liderança internacional que envolva todas as nações em seu entorno.

Não à toa, entre os objetivos permanentes da política externa brasileira está o fortalecimento das relações do Brasil com os países da América Latina, forjando assim uma sólida aliança econômica, política, social e cultural.

Na prática, a liderança do Brasil para a consecusão desses objetivos ficou demonstrada por sua participação essencial nos processos regionais de institucionalização e integração econômica testemunhados no continente a partir da década de 1990.

Como exemplo temos o Mercosul, fundado em 1991 por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Podemos citar também a Unasul, formada em 2004, com o objetivo de atuar como uma organização regional intergovernamental que pretendia diminuir a influência dos Estados Unidos sobre os países da região.

Dito isto, a compreensão do Brasil sobre o conceito de multipolaridade detém estreita relação com uma coordenação de esforços políticos junto aos seus vizinhos continentais, mais do que propriamente com uma empreitada isolada por parte de sua diplomacia.

Trata-se, portanto, de fazer com que as nações sul-americanas superem seu estigma histórico de dominação por parte do Ocidente, a fim de erguerem a voz num mundo em que finalmente possam participar de forma ativa e altiva dos processos decisórios globais.

Dessa forma, ainda que não faça parte do clube das grandes potências, o Brasil tem um importante papel a desempenhar para o estabelecimento da "multipolaridade" no século XXI.

Em 2024 acompanharemos de perto esse processo, seja na reunião do BRICS em Kazan (na Rússia) ou na reunião do G20 em solo brasileiro. As expectativas não poderiam ser melhores!

¨      EUA impedem reunião dos Bancos Centrais do BRICS ao atrasarem emissão de vistos, diz Moscou

Os EUA não deram permissão de participação às delegações do Ministério das Finanças e do Banco Central da Rússia para encontro dos países do BRICS, disse Aleksei Mozhin, diretor-executivo da Rússia no Fundo Monetário Internacional (FMI).

Os chefes da delegação do Ministério das Finanças e do Banco Central da Rússia não compareceram às reuniões ministeriais do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial em Washington devido à "depravação e maldade" dos EUA na emissão de vistos para os russos, afirmou à Sputnik Aleksei Mozhin.

De acordo com Mozhin, dentro de um prazo razoável, os EUA emitiram vistos apenas para funcionários juniores do Banco da Rússia, enquanto ninguém do Ministério das Finanças os recebeu a tempo.

A Embaixada dos EUA em Moscou informou à delegação que os vistos só poderiam ser obtidos no dia da conferência, 16 de abril, quando a conferência já estava em andamento e as viagens de negócios foram canceladas. Mozhin acrescentou que esta foi uma manifestação de "sadismo flagrante por parte de Washington".

No mesmo dia deveria ocorrer um encontro de vice-ministros das Finanças e presidentes de Bancos Centrais dos países do BRICS.

"Quando os vistos foram emitidos, eles não eram necessários. Esta é a depravação e maldade que atinge o sadismo. Eu não posso imaginar que na Rússia eles pudessem se comportar dessa maneira em relação aos nossos piores inimigos", disse ele.

¨      EUA e Arábia Saudita estão perto de fechar pacto de defesa que remodelará Oriente Médio, diz mídia

Os dois países reaqueceram as negociações e fizeram novos ajustes no acordo que vem sendo discutido há tempos, sob o qual garantias de segurança seriam oferecidas a Riad além de normalizar laços com Israel. Contudo, na reformulação, o Reino Saudita teria maior acesso a armas norte-americanas e limitação de tecnologia chinesa.

Desde o ano passado que o acordo entre os Estados Unidos e a Arábia Saudita, o qual abarca Tel Aviv, está sendo amplamente discutido e chegou perto de ser concretizado, mas a guerra na Faixa de Gaza esfriou seu andamento.

Agora, o governo Biden e os sauditas resolveram retomar as negociações. As tratativas entre Washington e Riad aceleraram recentemente, e muitas autoridades estão otimistas de que poderão chegar a um acordo dentro de semanas, segundo fontes envolvidas com o assunto e ouvidas pela Bloomberg.

Em sua visita à Arábia Saudita na segunda-feira (29), o secretário de Estado, Antony Blinken, disse que os dois lados fizeram "um trabalho intenso juntos nos últimos meses".

"O trabalho que a Arábia Saudita e os Estados Unidos têm feito em conjunto em termos dos nossos próprios acordos, penso eu, está potencialmente muito próximo da conclusão", afirmou.

No mesmo dia, o chanceler saudita Faisal bin Farhan disse que um acordo estava "muito, muito próximo".

O pacto poderá oferecer à Arábia Saudita um acordo tão forte que vai gerar aprovação do Senado dos EUA e até dar a Riad acesso a armas avançadas dos EUA que anteriormente estavam fora dos limites, relata a mídia.

Ao mesmo tempo, o premiê saudita Mohammed bin Salman concordaria em limitar a tecnologia chinesa das redes mais sensíveis do seu país em troca de grandes investimentos dos EUA em inteligência artificial (IA) e computação quântica, e obteria ajuda estadunidense para desenvolver o seu programa nuclear civil.

As últimas conversas representam uma mudança na abordagem da administração Biden e de bin Salman. Tal como concebido originalmente, o acordo teria sido tripartido que forjou as relações diplomáticas saudita-israelenses, juntamente a um maior investimento e integração na região.

O pacto vai potencialmente remodelar o Oriente Médio, além de reforçar a segurança de Israel e da Arábia Saudita, fortaleceria a posição dos EUA na região à custa do Irã e da China, analisa a Bloomberg.

Segundo a mídia, assim que os dois países concluírem o acordo, apresentarão ao primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, uma escolha: aderir, o que implicaria laços diplomáticos formais com a Arábia Saudita pela primeira vez, mais investimento e integração regional, ou ficar atrás.

Contudo, as condições-chave para Netanyahu seriam algo que ele já disse que "sob seu governo não vai acontecer": acabar com a guerra em Gaza e concordar com um caminho para a criação de um Estado palestino.

Porém, se o governo israelense decidir não aderir ao acordo, persuadir os legisladores norte-americanos a aprovar um acordo que comprometa Washington a proteger militarmente Riad seria uma perspectiva assustadora para a Casa Branca, visto que muitos congressistas continuam cautelosos em relação à liderança de bin Salman, escreve a mídia.

Ainda assim, os líderes dos três países têm muitos incentivos para chegarem a um acordo em breve, diz a Bloomberg.

Para Biden, é uma oportunidade de vitória na política externa antes das eleições presidenciais dos EUA. Bin Salman evitaria a incerteza sobre se o ex-presidente Donald Trump aceitaria um acordo caso vencesse a corrida. Já Netanyahu, o mais imprevisível, poderia receber o crédito pela normalização das relações com a maior economia do Oriente Médio – um objetivo que há muito cobiça.

¨      Parlamentar russa: 'Será preciso um tribunal para analisar os crimes cometidos por Kiev'

Os resultados da operação militar especial da Rússia na Ucrânia exigirão a criação de um grande tribunal para coletar e investigar todos os crimes cometidos pelo regime de Kiev.

É o que afirmou, nessa quarta-feira (2), Valentina Matvienko, presidente do Conselho da Federação da Rússia (câmara alta do parlamento russo).

"Estou convencida de que será necessário um grande tribunal após a conclusão da operação militar especial. Todo o quadro do surgimento do 'nazismo comum' de Kiev, o seu percurso e todos os seus crimes serão reunidos e apresentados lá, peça por peça. E um dos episódios centrais e fundamentais deste tribunal deveria ser a acusação em relação ao terrível crime de 2 de maio de 2014, na Casa dos Sindicatos", escreveu Matvienko no Telegram.

Ela disse que, quanto a este crime, não haverá prescrição, acrescentando que "os responsáveis ​​​​pela tragédia de Odessa serão nomeados e não escaparão da justiça".

A inação das organizações internacionais, que deveriam forçar Kiev a investigar a tragédia e punir os perpetradores, também será avaliada, disse ela, acrescentando que "não há dificuldades" em realizar uma investigação objetiva, "uma vez que há muitas testemunhas e imagens que mostraram os rostos dos perpetradores e de seus crimes".

 

Fonte: Sputnik Brasil