quinta-feira, 3 de abril de 2025

Adilson Roberto Gonçalves: Fugas e condenações

Não aprendemos com erros do passado. A anistia ao final da ditadura foi vendida como perdão aos “subversivos”, mas escondia a ocultação dos crimes bárbaros cometidos pelos militares no poder. Muitos livros e estudos recentes estão mostrando os porões da ditadura e um dele é o “Cachorros”, de Marcelo Godoy, de leitura fundamental. Novamente, a anistia a supostos desavisados que estariam “por acaso” em Brasília no dia da intentona golpista do 8 de Janeiro traz consigo rasgar todas as provas da articulação de um atentado ao Estado brasileiro, orquestrada, novamente, dentro das Forças Armadas, com participação da banda podre da política, do agronegócio e de outros empresários. Vamos ver se sobreviveremos a mais essa ameaça ou se teremos outras décadas de anos de chumbo pela frente.

Com a transformação de Jair Bolsonaro em réu pelo STF, junto com sete comparsas nas artimanhas da tentativa de golpe de Estado, mudanças nessa nuvem turva do poder têm acontecido. Uma delas é a fuga do deputado Eduardo, pertencente ao clã, reflexo da covardia sempre presente nesse sangue sujo familiar. Lembrando que 21 de março foi o Dia Mundial da Poesia, somente uma trova (quatro versos rimados, de sete sílabas) para lidar com a situação do desfrute no exílio dessa pessoa: Bananinha quando foge / esperneia sem razão; / procura um país que o aloje / encontrando o “laranjão”.

Outra mudança é o discurso vingativo em curso, com obstrução de votações e uma nova enxurrada de fake news pelas redes sociais. Alguns articulistas clamam que precisariam dominar a língua pátria em suas argumentações. Acontece que, para aprender português, precisa ser gente primeiro. Essa corja são apenas animais que agem de forma criminosa, covarde e egoísta. Nada mais. E muitos que ocupam tribunas e ficaram à frente de quartéis não serão sequer indiciados. 

Enquanto isso, no paralelo, Tarcísio de Freitas vai sendo ungido como o sucessor do neofascismo, queridinho da Faria Lima e dos jornalões. Uma tragédia sabida e anunciada. O governador fluminense de São Paulo está sendo vendido como democrata, o que definitivamente não é, ainda que apontem que sua missão de comandar a direita, por enquanto, não é possível. Não podemos nos esquecer que, desde seu início na vida pública, como ministro em 2019, depois candidato em 2022, atrelou-se à extrema direita, e apoiou o pior da política até aqui. A defesa de Bolsonaro e a propagação da mentira de que não houve tentativa de golpe mostram o que realmente é. Além disso, o governador paulista é um destruidor da educação, com projetos de escola cívico-militar e privatização da gestão escolar. Se é necessário escolher alguém “democrático” da direita, que busquem outro nome.

¨      Cavalo também morre pela boca. Por Alex Solnik

Muitas pessoas, não sei exatamente quantas, têm se mostrado indignadas, perplexas e até furiosas com o “espaço” que a Folha de S. Paulo dá ao ex-presidente Bolsonaro “para se defender” das acusações de tentativa de golpe, pessoas que por não terem ideias nem pensamentos próprios repetem o velho e injusto rótulo que um brilhante jornalista pregou nos jornalões, sobretudo a Folha, de que eles seriam o PIG-Partido da Imprensa Golpista, ou seja, órgãos de imprensa que estão sempre dispostos a apoiar um golpe de estado. O mesmo jornalista que colocou a alcunha de Urubóloga na colega Míriam Leitão,  torturada nos porões da ditadura, em razão das críticas que fazia à política econômica do segundo governo Lula. 

Para compreender a história é preciso examiná-la de forma dinâmica e não ater-se a um episódio para tirar conclusões parciais, que soam inteligentes, corajosas e até “revolucionárias”, como no caso da Folha e do Estadão, em São Paulo, e que viram mantras sem que as pessoas se deem ao trabalho de descobrir o que de fato aconteceu. 

Não há dúvida que tanto a Folha quanto o Estadão deram força para derrubar João Goulart, não porque quisessem uma ditadura, pois sabiam que o primeiro alvo das ditaduras é sempre a imprensa, mas porque temiam (erroneamente) que Goulart estava dando mole para os comunistas de seu governo e que isso descambasse numa ditadura comunista, com o fim da imprensa. 

O Estadão percebeu logo, um ano depois do golpe, que os militares não iam abandonar a bagaça tão cedo e passou a denunciar a censura em seu jornal, colocando no lugar das matérias censuradas receitas de bolo, até na primeira página, tanto o Estadão quanto seu filho caçula, o Jornal da Tarde. 

 A Folha foi mais estúpida e criminosa ao embarcar no golpe, colaborou fornecendo suas viaturas para serviços macabros do DOI-CODI, e isso ninguém vai apagar, mas não se pode omitir, a não ser por desonestidade que, na década de 1980 a Folha aderiu com todo o fervor à maior campanha cívica da história do Brasil, a das Diretas Já, que foi decisiva para derrubar a ditadura. 

Quem não sabe o que é imprensa desconhece que uma entrevista tanto pode ajudar o entrevistado em seus argumentos, quanto revelar os crimes que tenta esconder. 

Na entrevista de hoje à Folha, Bolsonaro prova que, como diz o antigo provérbio, “peixe morre pela boca”. Ele admite ter discutido com chefes militares alternativas que o mantivessem no poder, mesmo depois do resultado eleitoral adverso, o que na cabeça dele eram apenas “conversas dentro das quatro linhas” e que, na realidade política e jurídica do país constituem tentativa de golpe de estado. Moraes deve estar rindo até agora.

A entrevista, que para os intolerantes de sempre provaria o golpismo inveterado da Folha, é, na realidade, uma confissão que só não tem valor jurídico porque foi relatada a um jornal e não à Primeira Turma do STF. 

É verdade que, quando for interrogado no processo no qual é réu, ele poderá desmentir a confissão. Mentir está no seu DNA.

Mas não há dúvida que ele mostrou que Cavalo, seu apelido na caserna, também morre pela boca.

¨      “É hora de prender Bolsonaro, porque ele reitera os fatos delituosos a todo momento”, diz Liana Cirne

 Em entrevista ao programa Bom Dia 247, a jurista, professora de Direito Processual e vereadora do PT em Recife, Liana Cirne Lins, defendeu a prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro. Segundo ela, Bolsonaro segue promovendo ataques às instituições democráticas e incitando seus apoiadores a atos golpistas, o que configuraria, segundo o Código de Processo Penal, fundamentos suficientes para a medida cautelar.

“Eu acho que sim. Tanto que eu estou tão convencida disso que eu fiz um pedido de prisão preventiva dele que agora está com o procurador-geral da República, por entender que ele reitera os fatos delituosos”, afirmou.

Na avaliação de Liana Cirne, Bolsonaro permanece usando a mesma estratégia adotada antes dos ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023: “Ele continua incitando os seus apoiadores contra o Judiciário, contra as instituições da República e contra as instituições democráticas. Ele continua usando a mesma estratégia de disseminar fake news, de incitar sua base de apoiadores para uma intervenção militar, que é o eufemismo de golpe de Estado.”

Ela também observou que, mesmo após os episódios de janeiro, manifestações em apoio ao ex-presidente continuam convocando a quebra da ordem institucional: “As pessoas que estavam no dia 16 de março lá em Copacabana estavam pedindo intervenção militar. Elas continuam e elas continuam depondo, dizendo que estão ali pro que der e vier.”

Ao comentar o andamento do julgamento dos envolvidos nos atos golpistas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a vereadora elogiou o voto do ministro Alexandre de Moraes e destacou a importância de sua metodologia.

“O voto do ministro Alexandre de Moraes foi impecável”, disse. “Ele fez alusão a todas as teses das defesas das oito defesas. Foi muito didático no seu voto, mostrou um vídeo expondo toda a violência do 8 de janeiro e disse uma frase bastante marcante: ‘Não se vê Bíblia e não se vê batom nessas imagens’ — que eram imagens de violência, de brutalidade contra os policiais e contra o patrimônio público.”

Para Liana, esse voto evidencia que os ataques à Praça dos Três Poderes foram parte de um plano mais amplo: “Fica muito evidenciado que havia realmente o que estava em curso: uma tentativa de golpe. A segunda etapa seria justamente se tivesse sido determinada uma GLO [Garantia da Lei e da Ordem], que era toda a intenção daquela violência.”

Ela defendeu que os depoimentos de autoridades militares como o general Freire Gomes e o brigadeiro Batista Júnior, que se recusaram a aderir ao plano golpista, serão determinantes no processo penal. “As provas mais importantes desta ação penal serão os depoimentos testemunhais de Freire Gomes e de Batista Júnior. Me parece que, se houver possibilidade de absolvição de algum dos réus, será por esse depoimento.”

Sobre a repercussão da pena de 14 anos imposta à manifestante identificada como “Débora do Batom”, Liana Cirne rebateu as críticas da direita e afirmou não haver espaço para acordos penais no caso.

“A Débora do Batom não foi condenada por causa do batom. Ela foi condenada a 14 anos de prisão por compor uma organização criminosa armada, por tentar dar um golpe de Estado e por tentar abolir violentamente o Estado Democrático de Direito. Essa foi a condenação dela”, disse.

A jurista afirmou que recuos diante das ofensivas da extrema direita apenas enfraquecem o enfrentamento ao discurso golpista: “Acho muito ruim quando a gente recua. E acho que se a gente recuar nessa vez, a gente vai recuar em todas as vezes que a extrema direita conseguir pautar a opinião pública.”

Por fim, Liana Cirne alertou para o papel das fake news na estratégia política da oposição bolsonarista: “A extrema direita é muito sábia em pautar a política. E ela pauta com fake news. Ela prescinde dos fatos. Ela não depende dos fatos. Ela cria narrativas com base em mentiras e começa essas ofensivas com base em mentiras.” 

¨      Bolsonaro expressa preocupação com possível prisão: “é o fim da minha vida”

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) lamentou a possibilidade de ser preso, após o Supremo Tribunal Federal (STF) aceitar denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) por tentativa de golpe de Estado em 2022.

A PGR acusa Bolsonaro de liderar uma organização criminosa que buscava impedir a posse do presidente Lula (PT). O STF instaurou ação penal contra o ex-presidente e sete aliados, que respondem por cinco crimes, cujas penas somadas ultrapassam 40 anos.

Em entrevista à Folha de S.Paulo, Bolsonaro falou sobre a possível prisão: “É o fim da minha vida. Eu já estou com 70 anos“. 

O político inelegível admitiu que conversou com auxiliares sobre estado de sítio, estado de defesa e intervenção federal em 2022. Ele também citou o artigo 142 da Constituição, que trata do papel das Forças Armadas. Vale lembrar que o STF já rejeitou a interpretação de que o dispositivo permitiria uma intervenção militar.

Parte superior do formulário

Parte inferior do formulário

Durante a entrevista, Bolsonaro insistiu que as conversas ocorreram “dentro das quatro linhas” da Constituição e não configuram tentativa de golpe. Ele argumenta que um golpe de Estado exigiria planejamento extenso e apoio de diversos setores, o que não ocorreu.

“Golpe não tem Constituição. Um golpe, a história que nos mostra, você não resolve em meses. Anos. E, para você dar um golpe, ao arrepio das leis, você tem que buscar como é que está na imprensa, quem vai ser nosso porta-voz, empresarial, núcleos religiosos, Parlamento, fora do Brasil. O ‘after day’, como é que fica? Então foi descartado logo de cara“, afirmou Bolsonaro.

O ex-presidente acrescentou: “Se você quiser dar um golpe, troque o ministro da Defesa, troque o comandante da Força, bota um pessoal disposto a sair fora das quatro linhas. Mas isso não passou pela cabeça. Você não dá golpe à luz do dia. Você vai criar um fato, uma oportunidade“.

¨      "Bolsonaro é carta fora do baralho", diz Simone Tebet

A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, declarou que o ex-presidente Jair Bolsonaro está politicamente fora do jogo e deve ser responsabilizado pela tentativa de golpe de Estado. As declarações foram feitas em entrevista publicada no canal Cortes 247, no YouTube, na qual Tebet defendeu a democracia como fundamento da vida política brasileira e apontou que o país vive um momento de recuperação econômica consistente sob o governo Lula.

“Bolsonaro é carta fora do baralho, não só porque acredito que vá sofrer as penalidades da lei, mas também porque a sociedade hoje está cansada dessa polarização”, afirmou a ministra, lembrando que acompanhou de perto a CPI da Covid e viu o impacto das decisões do governo anterior. “O povo percebeu o que ele fez no verão passado”, ironizou, ao comentar o atraso na compra de vacinas que resultou na morte de milhares de brasileiros.

Tebet destacou sua trajetória de defesa da democracia, lembrando que nasceu em um ambiente político onde esse valor sempre foi central. “Sem democracia, eu não estaria aqui falando o que estou falando, nem você teria o direito de fazer essas perguntas sem sair daqui algemado”, disse. Ela alertou para a importância de educar as novas gerações sobre os perigos do autoritarismo: “Há jovens que não viveram esse período e acham que democracia é algo distante, mas é a base de tudo.”

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A ministra elogiou o desempenho da economia brasileira sob o governo atual, apesar de reconhecer desafios como a inflação e a segurança pública. “O Brasil está dando certo. Fala alguém que não é do PT, que é de centro, da frente ampla. Eu dialogo com a esquerda e com a direita”, afirmou. Segundo ela, a retomada do crescimento com dois anos consecutivos acima de 3% do PIB, a geração de empregos, o aumento real do salário mínimo e a aprovação da reforma tributária são sinais de avanço concreto.

“Nunca tivemos tantos jovens e mulheres no mercado de trabalho. A massa salarial está crescendo, e saímos novamente do mapa da fome”, celebrou. Para ela, a reforma tributária poderá, a partir de 2027, impulsionar o crescimento anual do PIB em quase 1%, apenas com seus efeitos estruturais.

Tebet também fez um apelo por responsabilidade fiscal, afirmando que há espaço para cortes sem afetar direitos sociais: “Precisamos fazer ajustes mais robustos no futuro, sem tirar direito de ninguém. Tem muita gordura para cortar. Mas para isso precisamos do Congresso Nacional”, pontuou. Ela reconheceu, no entanto, que o cenário pré-eleitoral pode dificultar a aprovação de reformas mais profundas até 2026.

Por fim, a ministra disse estar positivamente surpresa com os resultados do governo: “Nos meus 25 anos de vida pública, não me lembro de um momento em que todos os números da macroeconomia caminhavam tão bem ao mesmo tempo.”

 

Fonte: Brasil 247/Jornal GGN

 

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