quinta-feira, 5 de setembro de 2024

Pirâmide de corrupção: por que 'o czar da eletricidade' da Ucrânia foi realmente demitido?

O conselho de supervisão da Ukrenergo, operadora estatal do sistema de transmissão de eletricidade da Ucrânia, demitiu seu chefe Vladimir Kudritsky, por quatro votos a dois, na noite de segunda-feira (2) para destituí-lo e substituí-lo pelo vice-presidente Aleksei Brekht. A Sputnik explica.

Nem o gabinete de Vladimir Zelensky nem o Ministério da Energia comentaram a demissão. No entanto, a mídia ucraniana, os legisladores e os doadores estrangeiros de Kiev expressaram uma série de opiniões em relação à mudança.

Em uma carta ao primeiro-ministro Denis Shmygal vista pela mídia, os doadores estrangeiros da Ucrânia, incluindo a União Europeia (UE), o Banco Europeu para Reconstrução e Desenvolvimento e a Corporação Financeira Internacional expressaram "profunda preocupação" com a demissão de Kudritsky, alertando que "tal evento poderia comprometer nossa capacidade coletiva de apoiar a Ukrenergo e outras medidas prioritárias da segurança energética vital da Ucrânia".

O aviso veio logo após um anúncio do ministro da Economia da Ucrânia no sábado (31) de que Kiev espera um "pacote de financiamento para o setor de energia" de US$ 800 milhões (cerca de R$ 4,4 bilhões) dos EUA.

Oficialmente, Kudritsky foi demitido "por não proteger as instalações de energia em meio a ataques russos intensificados", com uma fonte dizendo à mídia ucraniana que ele foi "acusado de implementar indevidamente decisões anteriores da sede do comandante-chefe supremo e de proteção precária das instalações da Ukrenergo".

Kudritsky está sob investigação por suposta lavagem de dinheiro, corrupção e abuso de poder, e pode pegar de cinco a oito anos de prisão e confisco de propriedade se for condenado.

O serviço de registros de compras eletrônicas do governo ProZorro mostra que, sob a supervisão de Kudritsky, a Ukrenergo aprovou 63 contratos sem licitação no final de 2023, no valor de US$ 1,6 milhão (aproximadamente R$ 8,9 milhões) cada, para a instalação de estruturas de proteção em transformadores, com a conclusão da construção adiada de fevereiro para abril, depois para junho de 2024, e nenhum dos projetos concluído até 1º de setembro.

·        Golpe de poder?

O legislador ucraniano Yaroslav Zheleznyak alega que as acusações contra Kudritsky são forjadas e que a Ukrenergo tem sido a única entidade realmente tentando construir estruturas de proteção e estocar equipamentos de reparo em tempo hábil no país.

"Galuschenko-Shurma-Mironyuk queria se livrar dele há muito tempo", escreveu Zheleznyak em uma postagem nas redes sociais, referindo-se ao ministro da Energia da Ucrânia, vice-chefe do gabinete do presidente e vice-chefe do Serviço de Emergência Estatal da Ucrânia. "O verdadeiro motivo é o desejo animal de sentar-se em todos os fluxos financeiros, incluindo 100 bilhões de grívnias [cerca de R$ 13,4 bilhões] anualmente e € 1,5 bilhão [mais de R$ 9,2 bilhões] em linhas de crédito. A Comissão Nacional de Regulamentação Estatal de Energia e Serviços Públicos foi capturada e, com a adição da Ukrenergo, a construção da pirâmide da corrupção pode ser considerada completa", escreveu Zheleznyak.

O legislador Andrei Zhupanin alertou que a demissão de Kudritsky não seria uma "solução para os problemas", mas apenas o começo.

O chefe do Comitê para Questões Energéticas da Suprema Rada (parlamento ucraniano), Andrei Gerus, classificou a demissão de Kudritsky como infundada, alegando que a Ukrenergo construiu abrigos em 36 subestações, "mais do que todas as empresas de energia construíram juntas", e atraiu € 1,5 bilhão mencionado acima para obras de reparo.

Em uma entrevista à mídia ocidental na semana passada, Kudritsky previu um inverno difícil para a Ucrânia no contexto dos problemas enfrentados pelo setor energético do país, mas prometeu evitar "algum tipo de cenário apocalíptico", como apagões, aparentemente em resposta às preocupações expressas no Financial Times (FT) no mês passado, sugerindo que "o risco de uma catástrofe humanitária é alto".

A Ucrânia perdeu cerca de 40% de sua capacidade de geração de energia hidrelétrica e cerca de 80% de sua capacidade de energia térmica sob a supervisão de Kudritsky. Ele foi nomeado para seu cargo em 2020 após um escândalo de corrupção contra seus antecessores e veio do setor privado, trabalhando anteriormente para a empresa de serviços profissionais sediada no Reino Unido, Grant Thornton, para aconselhar e reestruturar empresas estatais ucranianas, incluindo Naftogaz e Yuzhmash, depois que elas passaram por tempos difíceis.

ENTENDA O CASO

<><> Ucrânia demite vice-diretor de agência por vazamento de informações; chefe da energia perde cargo

O Escritório Nacional Anticorrupção da Ucrânia (NABU, na sigla em ucraniano) disse nesta terça-feira (3) que demitiu seu primeiro vice-diretor, Gizo Uglava, devido a um suposto caso de vazamento dentro do órgão que lidera os esforços do país para combater a corrupção.

O NABU informou no aplicativo de mensagens Telegram que sua comissão disciplinar concluiu que Uglava havia cometido ações "visando desacreditar pessoal e profissionalmente um funcionário do departamento que apresentou uma nota sobre possíveis fatos de vazamento de informações", segundo a Bloomberg.

A agência não forneceu mais detalhes e não nomeou a pessoa. Gizo Uglava está listado em seu site como ocupante do cargo, e em seguida postou uma declaração no Facebook (plataforma proibida na Rússia por extremismo) negando qualquer irregularidade.

"O próximo passo para provar minha inocência nos processos contra mim será ir ao tribunal", disse Uglava, citado pela Reuters.

Anastasia Radina, chefe do comitê parlamentar anticorrupção, disse nas redes sociais que o funcionário havia sido demitido por pressionar um denunciante que havia relatado um possível vazamento de informações.

Uma fonte policial afirmou em maio que o vazamento havia comprometido uma investigação de alto nível sobre um projeto de construção de estradas envolvendo dinheiro do governo.

Outra demissão ocorrida na segunda-feira (2) foi a do chefe da Ukrenergo, da rede de transmissão de energia da Ucrânia, segundo fontes citadas pela mídia ucraniana, sob alegações de falha na proteção de instalações de energia.

Vladimir Kudritsky foi demitido por uma votação de 4 a 2 pelo Conselho de Supervisão da empresa. Ele disse que seria substituído por Aleksei Brekht.

De acordo com a Reuters, os meios de comunicação ucranianos, antes da reunião do conselho, publicaram uma carta de organizações ocidentais ativas na Ucrânia, incluindo a União Europeia (UE), expressando "profunda preocupação" ao primeiro-ministro Denis Shmygal sobre os relatos da iminente demissão de Kudritsky.

Erradicar a corrupção oficial é uma das principais condições para a Ucrânia em sua busca pela filiação à UE. Pesquisas de opinião mostram que os ucranianos, cansados ​​pelo longo conflito, têm cada vez menos tolerância à impunidade entre autoridades estatais, escreve a agência britânica.

 

¨      Criminosos ucranianos culpados de crimes internacionais graves serão levados à Justiça, diz Moscou

Criminosos ucranianos culpados de crimes internacionais graves contra seus cidadãos e cidadãos da Rússia serão levados à Justiça, disse a representante oficial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, à Sputnik nesta terça-feira (3).

"Criminosos ucranianos culpados de crimes internacionais graves contra seus próprios cidadãos e cidadãos russos, bem como seus capangas, serão levados à Justiça e serão punidos como merecem", disse Zakharova.

Kiev quer retirar seus cidadãos da jurisdição do Tribunal Penal Internacional (TPI), mas manter o processo criminal de cidadãos estrangeiros, disse Maria Zakharova.

"Na verdade, eles querem retirar seus cidadãos da jurisdição até mesmo deste tribunal [TPI], que é o mais leal a eles possível, mas ao mesmo tempo reservar o direito de processo criminal em Haia de cidadãos de outros países por acusações inventadas pela própria Kiev", disse Zakharova.

As palavras de Kiev sobre a ratificação do Estatuto de Roma com condições mostram sua verdadeira atitude em relação ao direito internacional humanitário, acrescentou a representante.

"Tal passo não pode ser considerado senão uma intenção indisfarçável de dar carta branca aos seus militares para cometerem crimes de guerra graves", acrescentou Zakharova.

Nem a Ucrânia nem o TPI têm nada a ver com lei e justiça, disse Zakharova.

"A reputação tanto do regime de Kiev quanto do TPI é bem conhecida. Nenhum deles é independente e tem algo a ver com lei ou justiça", disse Zakharova.

No dia 24 de agosto, o líder ucraniano Vladimir Zelensky, hoje sem mandato presidencial, assinou uma lei para ratificar o Estatuto de Roma, o tratado fundador do TPI. A Ucrânia não reconhecerá a jurisdição do TPI sobre seus cidadãos por sete anos após a adoção do projeto de lei.

 

¨      Israel é acusado de publicar anúncios falsos no Google para bloquear doações à UNRWA

Vários países ocidentais suspenderam o financiamento da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Médio (UNRWA, na sigla em inglês) depois de Israel ter publicado anúncios falsos no Google para bloquear doações e tentar descredibilizar a agência, informou a mídia norte-americana.

No ano passado, depois da guerra que Israel lançou contra o Hamas, a UNRWA conseguiu angariar mais de US$ 32 milhões (R$ 179,73 milhões) para esforços humanitários, relata o diretor da agência, Philippe Lazzarini.

Segundo informações destacadas pela Wired, o governo israelense direciona os usuários para um site diferente, alegando que a agência da Organização das Nações Unidas (ONU) não declarou se empregar membros do Hamas viola ou não sua neutralidade e que a agência não investiga suas instalações em busca de abusos cometidos por extremistas, algo que a agência rechaçou firmemente.

Quase ao mesmo tempo em que Mara Kronenfeld, diretora-executiva da UNRWA, descobriu o anúncio, Israel acusou 12 funcionários da agência de terem participado no ataque do ano passado, em 7 de outubro, executado pelo Hamas.

A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Médio emprega 30 mil pessoas no total, tornando-se o segundo maior empregador em Gaza, depois do Hamas.

Como resultado das acusações, vários países ocidentais suspenderam o financiamento à UNRWA. A ONU declarou no início de agosto que demitiu funcionários da agência depois que uma investigação interna descobriu que eles poderiam estar envolvidos no ataque.

Ao todo, a agência despediu 13 funcionários este ano, incluindo nove que um órgão de supervisão determinou que podem estar envolvidos no ataque. Após a decisão, todos os países doadores, exceto os Estados Unidos, retomaram o financiamento à agência.

Entretanto, a reportagem conta que a UNRWA "exige independência dos interesses militares" e acrescenta que uma revisão externa encontrou "evidências de inspeções de instalações", sendo essas verificações realizadas com frequência.

"Há uma campanha incrivelmente poderosa para desmantelar a UNRWA", observou Kronenfeld. "Quero que o público saiba o que está acontecendo e a natureza insidiosa disso, especialmente em um momento em que vidas civis estão sob ataque em Gaza."

Lazzarini, por sua vez, publicou na rede social X (antigo Twitter) que os anúncios difamatórios feitos por Israel continuam a ser usados como "arma de guerra".

A reportagem destacou que vários ex-funcionários e atuais do Google falaram com a mídia norte-americana e afirmaram que a campanha contra a UNRWA é apenas uma das várias campanhas publicitárias que Israel desenvolveu nos últimos meses que atraíram críticas tanto dentro como fora da empresa. No final de agosto, os anúncios difamatórios ainda estavam no Google, revelou outra reportagem.

De acordo com a revista Wired, entre maio e julho, quando os internautas pesquisaram 300 termos relacionados à agência, os anúncios de Israel apareceram 44% das vezes, em comparação com os anúncios da própria UNRWA, que apareceram apenas 34% das vezes.

A UNRWA foi criada em 1949, apenas um ano após a "Nakba" (catástrofe, em árabe) devido à Guerra Árabe-Israelense de 1948, em que 750 mil palestinos foram forçados a abandonar suas casas, criando uma crise de refugiados ainda não resolvida. Os apoiadores da agência alegaram que Israel não quer que a agência preserve o estatuto de refugiado dos palestinos, porque isso lhes daria melhor oportunidade de um dia recuperar as terras ocupadas.

A agência fornece cuidados de saúde, educação e ajuda humanitária aos palestinos em Gaza, na Cisjordânia, na Jordânia, na Síria e no Líbano.

<><> Starlink cumpre ordem judicial e bloqueia acesso à rede social X no Brasil

A Starlink, empresa do bilionário Elon Musk que oferece internet via satélite, anunciou nesta terça-feira (3) que cumpriu a ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e bloqueou o acesso à rede social X em todo o país. Até então, a companhia havia desafiado a determinação dada pela Justiça no último fim de semana.

"Aos nossos usuários no Brasil (que talvez não possam ler isso devido ao bloqueio do X por Alexandre): após a ordem da semana passada de Alexandre para congelar as finanças da Starlink e impedir que realize transações financeiras no Brasil [...], apesar do tratamento ilegal em relação à Starlink [...] estamos cumprindo a ordem de bloquear o acesso ao X no Brasil", disse a empresa no X (a reportagem teve acesso ao conteúdo do post através de uma fonte no exterior.

A Starlink acrescentou que realiza o possível para manter seus usuários conectados e já tomou todas as vias legais para demonstrar que as ordens do ministro do Supremo violam a Constituição brasileira.

Alexandre de Moraes suspendeu no dia 30 de agosto a rede social X no país, diante da negativa de Musk em nomear um novo representante legal para a plataforma. Na sequência, determinou também o congelamento das contas da Starlink no Brasil, também propriedade de Musk, para garantir o pagamento das multas aplicadas pela Justiça à rede social — conforme o STF, o valor supera R$ 18 milhões.

Já Musk afirmou que X e Starlink são entidades legalmente separadas e, portanto, considera "ilegal" a decisão do tribunal brasileiro sobre a empresa fornecedora de serviços de internet via satélite.

O confronto entre o ministro e o magnata ocorre desde que o magistrado determinou à rede social o bloqueio contas de usuários por atentarem contra o Estado Democrático de Direito.

O magnata recusou-se repetidamente a cumprir as determinações judiciais, alegando que a medida era uma "censura" e qualificou o ministro de "delinquente". A rede social de Musk anunciou o fechamento de sua representação legal no Brasil há algumas semanas, após o Supremo decidir aplicar multas diárias de mais de R$ 1 milhão por descumprimento das suas decisões.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

Nenhum comentário: