Owen Hatherley: ‘Imaginando a cidade
socialista’
O historiador
italiano Manfredo Tafuri não acreditava que pudesse haver uma arquitetura que fosse
distintamente socialista, já que não vivíamos no socialismo. “Não existe
arquitetura de classe, apenas uma crítica de classe à arquitetura.”
Tafuri, nas suas obras
influentes e bem argumentadas da década de 1970 – Arquitetura e utopia e A esfera e o labirinto – encerrou um debate que existiu por quase um século: se
seria possível ou se valeria a pena sequer pensar numa cidade especificamente
socialista sob o capitalismo – e, mais especificamente, se seríamos capazes de
construir fragmentos dela dentro do capitalismo. O estridente “não” de Tafuri à
segunda questão acompanhou um “não” mais silencioso à primeira.
Mas desde a ascensão
do neoliberalismo, esses pequenos fragmentos da “cidade socialista”,
construídos de maneira desigual nos cem anos entre William Morris e o Conselho da Grande Londres de
Ken Livingstone, começaram gradualmente a ser vistos não como uma forma de
manter uma população tranquila e saudável para ser explorada pelo capitalismo,
mas como objetos de nostalgia.
A cidade socialista já
chegou a existir? Será que é totalmente inútil pensar nela até termos sucesso
na tarefa muito mais difícil de superar o capitalismo? E – se quebrarmos a
regra de que não deveríamos evocar imagens de utopia – como poderia ser o aspecto dela?
·
O gótico socialista
As intervenções de
Tafuri foram parcialmente concebidas como esclarecimentos. Décadas de
experiências sociais em arquitetura, de conjuntos habitacionais e de novas
cidades e assentamentos igualitários, não haviam enfraquecido o capitalismo por
meio da criação de ilhas subversivas no seu interior; em vez disso, o
fortaleceram.
Citando Antonio Negri,
Tafuri invocou o “Estado Planejador” da conciliação corporativista pelo qual o
capital absorveu a social-democracia, a tornando mais poderosa ao fazê-lo. É estranho que a sua
crítica ainda seja frequentemente citada, dada o espantoso erro de leitura que
ela representou sobre a forma como o vento soprava na década de 1970, quando o
capital na verdade se preparava para se livrar quase que completamente dessa conciliação de classes, preferindo, em vez dela,
declarar guerra contra tudo, desde os sindicatos até a moradia municipal.
Tafuri pode ser
perdoado por, naquele momento, afirmar que o resultado final do reformismo
do movimento Arts and Crafts – do expressionismo, do construtivismo, do brutalismo –
era a cidade administrada do capitalismo fordista. No entanto, nós não
precisamos cometer o mesmo erro, e podemos olhar mais objetivamente para as
ilhas da cidade socialista, para aqueles lugares que estavam, para citar outro
dissidente comunista italiano, Mario Tronti, “dentro do capitalismo e contra
ele”.
O projetista que teve
talvez a maior influência nestes enclaves de progresso dentro e contra a cidade
capitalista não pensava que o socialismo encontraria muita utilidade para a
cidade moderna. Notícias de lugar nenhum, de William Morris, é uma
criatura diferente dos exemplos anteriores de planejamento urbano utópico
socialista. Ao contrário daquelas outras obras, as suas estão
surpreendentemente livres de paternalismo.
Mais cedo no século
XIX, Charles Fourier havia proposto ambientes abertos, comunais e centralmente
planejados de moradia e de trabalho, chamados falanges; estes ambientes seriam
realizados, pelo menos em parte, por industriais progressistas, como no Familistério de Guise,
construído na década de 1850 para os trabalhadores de uma fundição de ferro. O
assentamento utópico de Robert Owen em New Lanark, onde
altos apartamentos de pedra e instalações sociais foram construídos firmemente
em torno de um moinho, foi, pelo menos no início, uma forma de garantir
trabalhadores mais felizes e saudáveis pelo bem da empresa.
Mas a era de descanso
de Morris chega, como descreve a primeira parte do seu livro, depois de uma
violenta revolução proletária. Muitos anos depois, Londres foi despovoada, as
Casas do Parlamento são utilizadas para armazenar estrume, pontes de ferro foram
reconstruídas em pedra, e a maior parte da população vive uma vida longa,
tranquila e realizada em cabanas em meio à vegetação, algo que curiosamente não
parece ter produzido uma mentalidade suburbana. Não há nenhum sinal de
falanges, coletivos ou comunas nesta visão do comunismo.
Morris, então membro
do grupo marxista Federação Social-Democrata (SDF) e
correspondente de Engels, destacava-se tanto pelo radicalismo da sua visão da
luta de classes quanto pelo conservadorismo da sua visão da cidade. Seus
discípulos viriam a perder a primeira característica, mas se apegariam à
segunda.
O arquiteto e
urbanista Raymond Unwin, um colega de Morris na SDF, regressaria à ideia,
ridicularizada por Marx e Engels, de construir a sociedade socialista por meio
de fragmentos sob o capitalismo, recorrendo ao “socialismo de bom senso” da “Cidade Jardim do Amanhã”,
de Ebenezer
Howard, com uma visão baseada em auto-organização, mas profundamente fabiana. Entre
1903 e 1913, Unwin projetou a cidade-jardim de Letchworth, nos arredores de Londres, o Jardim-Subúrbio
de Hampstead e o enorme subúrbio de Wythenshawe, ao sul de Manchester.
Os dois primeiros
foram financiados por filantropos e visavam misturar – até o ponto de não ser
mais óbvio qual era de quem – chalés para trabalhadores e chalés para a classe
média, mas em breve estes últimos acabariam tomando conta das regiões. Letchworth
é uma cidade-dormitório como qualquer outra, enquanto o Jardim-Subúrbio de
Hampstead – local de nascimento de Jerry Springer, Elizabeth Taylor e lar de
uma geração de líderes do Partido Trabalhista – é, em algumas medidas, a parte
mais rica de Londres.
Enquanto isso,
em Wythenshawe, onde as casas eram alugadas pela Câmara
Municipal de Manchester aos residentes da classe trabalhadora que estivessem na
lista de espera municipal, os arranjos pitorescos de casas e grandes jardins ao
longo de ruas sinuosas e arborizadas abrigavam dezenas de milhares de pessoas.
No entanto, ali não estavam presentes todas as instalações — os institutos, os
centros das cidades — que eram planejadas e construídas nos assentamentos
filantrópicos. Wythenshawe não teve um centro durante surpreendentes quarenta anos,
até que um foi finalmente construído na década de 1970. Nunca teve sequer uma
estação ferroviária.
Esta combinação de
fracasso parcial para os trabalhadores e sucesso total para os ricos sugeria
que a visão neo-medieval de Morris da cidade socialista na realidade era
impossível sob o capitalismo britânico. O Estado podia até construir casas, mas
não iria paga pelos equipamentos sociais e coletivos que poderiam criar
verdadeiros espaços urbanos; enquanto a filantropia privada criava uma utopia
profundamente insular para a classe média, onde o conservadorismo da visão
suburbana se tornaria cada vez mais nítido.
As ideias de Morris
sobre a alienação do trabalho deram origem a aplicações mais interessantes do que suas
ideias sobre os males da cidade industrializada. Um produto delas foi a Escola
de Amsterdã, um grupo de arquitetos expressionistas na capital holandesa que
evidentemente levou a sério a noção, popularizada pelo crítico de arte do
período Alto Vitoriano de tendência crescentemente socialista, John Ruskin, de que o trabalho
repetitivo e desumanizador era comum tanto na arquitetura clássica,
renascentista e barroca, quanto nos produtos mecanizados de ferro e vidro da
indústria de construção capitalista.
No Reino Unido, a
arquitetura que emergiu destas escolas significava muitas vezes apenas um tipo
diferente de trabalho alienado, copiando e reproduzindo detalhes góticos ao
invés de detalhes clássicos, com igual foco na “correção” – a questão sobre se
o pedreiro em um edifício neogótico era de fato capaz de se expressar como um ser humano completo, como imaginou Ruskin, era provavelmente algo mais
questionável.
A ornamentação da
Escola de Amsterdã, entretanto, era imensamente mais criativa, dando amplo
espaço para a expressão – seus edifícios, geralmente em belos e robustos tijolos vermelhos, são cobertos por delicados ornamentos de flora e fauna,
apresentando pouca relação com qualquer precedente histórico. Embora a Escola
de Amsterdã talvez devesse mais aos planos do arquiteto do que à vontade do
trabalhador na construção, estes edifícios eram objetos altamente elaborados e
o trabalho envolvido obviamente não era mecanizado, mas intensivo.
A maior parte dos seus
edifícios foram concebidos para o governo municipal social-democrata de
Amsterdã ou para sociedades sindicais de construção, e a maioria, seguindo a
tradição holandesa, eram apartamentos em vez de casas, juntamente com escolas,
câmaras municipais, banhos públicos, bibliotecas, cafés – um programa ambicioso
que ainda caracteriza as zonas ao norte e ao sul do centro histórico da cidade.
Estas áreas,
majoritariamente dominadas por moradias sociais, ainda permanecem incríveis na sua combinação de fantasia e
eficiência, na sua generosidade espacial e literal, e na sua natureza tátil.
Também permanecem sendo áreas modernas e urbanas, bem mais atraentes como
possíveis modelos urbanos do que Wythenshawe ou Letchworth.
A Escola de Amsterdã
não desafiou seriamente o capitalismo, mas pode-se dizer que ela prefigurou,
pelo menos para aqueles que podiam desfrutar dela, uma cidade socialista –
feita do mesmo material, igualitária e densamente coletiva, embora permanecendo
ricamente individualizada ao ponto da excentricidade.
·
Taylorizando a arquitetura
A arquitetura da
década de 1920 na Alemanha, nos Países Baixos, na Áustria e na União Soviética
– não importa se eram os social-democratas ou os comunistas que detinham o
poder – oscilava entre este tipo de expressionismo e uma forma de arquitetura
mais futurista que parecia ter como objetivo exacerbar a alienação, a fim de
provocar sua transformação.
Depois de um flerte
inicial com Morris e Ruskin – encapsulado no slogan inicial “A Catedral do
Socialismo” – os arquitetos reformadores na Alemanha optaram por uma
arquitetura deliberadamente mecanizada e tecnófila que, em muitos casos, na
verdade utilizava técnicas de trabalho tayloristas, com estudos de gestão de tempo e linhas de produção no local.
Em alguns casos, houve
tentativas de combinar isso com a noção de socialismo como auto-atividade da
classe trabalhadora – a GEHAG, a sociedade sindical de construção que construiu
vários bairros operários em Berlim na década de 1920, foi ambiciosa na sua
tentativa de promover tanto o taylorismo quanto a democracia operária por meio
de conselhos, com um compensando o outro.
Os resultados
arquitetônicos – os conjuntos habitacionais do período entre guerras de Berlim,
Frankfurt, Dessau, Roterdã e Moscou – são extremamente elegantes, precisos,
repletos de cores vibrantes e lacônicos nos seus detalhes, com uma sensação
ligeiramente falsa de extrema modernidade (na sua maioria, trata-se de tijolo e
reboco, e não de aço e concreto). Tal como as cidades-jardim e ao contrário de
Amsterdã, esses prédios estão cercados por um mar de vegetação rasteira
meticulosamente planejado, com árvores e arbustos exóticos fluindo por entre os
edifícios angulares, retilíneos e deliberadamente artificiais.
A auto-expressão do trabalhador na construção era cada
vez mais vista como um resquício, mera nostalgia da era pré-industrial. Quando
o dramaturgo expressionista alemão Ernst Toller lhe
perguntou como ele justificava a exploração dos trabalhadores, o antigo diretor
do sindicato dos metalúrgicos, Aleksei Gastev, afirmou que a gestão científica
era um passo no caminho para a eliminação completa do trabalho. Com ela, as horas de trabalho diminuiriam radicalmente até serem necessárias apenas algumas horas
por dia. Depois de algum tempo, as máquinas fariam todo o trabalho.
Esteticamente, o
efeito alienante de todos aqueles ângulos rectos era compensado por árvores,
cores e experiências geométricas excitantes. Em termos da cidade em si, Berlim
e Frankfurt eram as mais próximas da ideia de Morris, com casas unifamiliares e
jardins; Viena e Moscovo preferiam estruturas mais densas com instalações
colectivas integradas, por vezes eliminando até mesmo as cozinhas privadas em
favor de cantinas, como nos famosos apartamentos “semi-coletivizados” de Narkomfins ou no albergue de estudantes “totalmente coletivizado” do
Instituto Têxtil de Moscou.
Tradições artesanais
continuaram sendo praticadas no regime social-democrata incomumente radical da Viena do entre guerras. Enormes quarteirões que encerravam
várias instalações coletivas, quase mini-cidades em si, estavam repletos de
estátuas, majólica e mosaicos, e eram meticulosos nos seus detalhes e
materiais, demonstrando poucos sinais de taylorismo. Em parte, esta fuga à
mecanização foi ditada pela necessidade de criar empregos, gerando trabalho
intensivo numa cidade de grandes dimensões que deixara de ser a capital de um
império.
·
O Palácio dos Trabalhadores
É improvável que um
impulso semelhante estivesse por trás da súbita virada da União Soviética em
meados da década de 1930 do modernismo para um neoclassicismo estranho e
eclético, mas as semelhanças podem ser impressionantes. Engelsplatz, o último grande projeto em Viena antes
de suas propriedades serem bombardeadas por fascistas, era um imenso bloco
neoclássico simétrico e revestido de azulejos com torres, farois e estátuas
repletos de simbologia com trabalhadores corpulentos em marcha.
É só um pequeno passo
daí para os enormes e retóricos “palácios dos trabalhadores” do stalinismo.
Como se em compensação pela superlotação, pela remuneração por peça, o terror e
a ausência de representação política, uma sortuda minoria de trabalhadores (apesar
de grande em números) — geralmente aqueles que se destacavam no “trabalho de choque” — recebia apartamentos palacianos. Estes ostentavam tetos
altos, abundantes ornamentos de superfície e uma infraestrutura de escolas,
clubes e cinemas, como pode ser visto nos distritos operários de Moscou ou em
cidades fabris como Nizhny Novgorod.
Ridicularizadas
(talvez com razão) como puro espetáculo, essas estruturas, como os sistemas de
metrô abaixo delas, tinham a virtude de uma abordagem para a cidade de um
“mundo virado de cabeça para baixo”. Elas reaproveitavam as formas que foram
inventadas para o deleite dos governantes absolutistas, burgueses parisienses
ou Khans e czares do século XVIII para dar abrigo a trabalhadores da siderurgia
e da mineração. A maioria das pessoas, no entanto, continuava a viver em blocos
de apartamentos do século XIX, subdivididos e apertados, onde era comum que
várias famílias dividissem um único apartamento pequeno.
Em vez de ser vista
como socialista, a cidade soviética no seu auge assemelhava-se ao que Rudolf Bahro chamou de
“industrialização não-capitalista”, herdando mais da tradição espacial local e
não-ocidental do que da mera emulação.
A cidade stalinista
era a cidade de Pedro, o Grande, virada de cabeça para baixo. O czar decretou a
construção de uma metrópole neoclássica de tamanha generosidade espacial e
ordem que ela simplesmente não poderia ter sido construída sob um sistema de especuladores,
construtoras e propriedade individualizada. As “sete irmãs” de Stalin adaptaram
a ideia do arranha-céu a um sistema de uso despótico da terra, onde hotéis,
escritórios e apartamentos de luxo de imensidão babilônica foram arranjados em
um círculo ao redor do Kremlin, com qualquer coisa em seu caminho sendo impiedosamente
removida.
Ao fazê-lo, eles
relembraram uma ideia arquitetônica socialista anterior — a noção de “coroa da
cidade” do arquiteto berlinense Bruno Taut, onde uma cidade
estaria centrada em uma estrutura piramidal gigante que abrigaria uma sala de
concertos, uma prefeitura, um salão de dança e muito mais em torno do qual
giraria a vida da comunidade.
É uma questão aberta à
discussão se tal coisa tenha sido realmente alcançada na forma do Palácio da Cultura e Ciência, construído no centro de Varsóvia no início da década de 1950,
onde o edifício definitivo, visível a partir de todos os pontos, foi dedicado a
uma miscelânea de funções sociais, incluindo piscinas, duas salas de concerto,
um teatro, um museu de tecnologia, vários bares, um cinema, um “Palácio da
Juventude”, vários escritórios e um ponto de observação pública no trigésimo
andar.
Os deslocamentos
causados pelo super-hausmannismo de Stalin apenas exacerbaram um problema habitacional já
desastroso — com o primeiro sinal de desestalinização, em 1954, vindo na forma
de um decreto recomendando construções simplificadas e pré-fabricadas e o fim
dos “excessos” arquitetônicos. O que aconteceu depois representa,
evidentemente, a familiar imagem da cidade socialista no mundo do clichê — a
intensificação do culto à mecanização e à pré-fabricação, típico da Alemanha de
Weimar, ao ponto de ter distritos inteiros, abrigando mais de cem mil pessoas
(como Ursynów, em Varsóvia) sendo construídos a partir de painéis
de concreto idênticos.
Os resultados muitas
vezes ficavam devendo muito em termos de instalações coletivas, como o que se
antecipava nos anos do entre-guerras — visite muitos deles hoje, e descobrirá
que os desanimadores grandes caixotes de shoppings vieram compensar essa ausência.
Como na Europa Ocidental, América Latina ou Japão do pós-guerra, há muitos
experimentos sociais fascinantes da era que podem ser selecionados para
inspiração, alguns dos quais provaram ser mais capazes de sobreviver “dentro do
capitalismo e contra ele” do que outros.
<><> Um
índice de possibilidades
Ao longo da primeira
metade do século XX, em vez de uma lógica monolítica de um fordismo incipiente,
a conjunção do socialismo com a arquitetura foi notável por suas mudanças
bruscas, do pré-fabricado ao artesanal e vice-versa, do suburbano ao ultra-urbano,
da abundância de instalações sociais na Viena Vermelha à escassez de qualquer
coisa além de casas e igrejas em Wythenshawe.
Essas variações
apresentam um complexo índice de possibilidades. Há necessidade de escolher
qual delas seria genuinamente prefigurativa do futuro? A sugestão de Trotsky
em Literatura e Revolução de que escolas de estéticas concorrentes substituiriam os
partidos políticos na “era do descanso” sugeriria que não. No entanto, essas continuam sendo questões
bem vivas sob o capitalismo.
As ondas de entusiasmo
da arquitetura radical contemporânea costumam ser peculiares análogas
emergentes como as de Morris, favorecendo o trabalho aparentemente não alienado
da autoconstrução, o que geralmente assume a forma de casas unifamiliares;
enquanto isso, talvez os maiores conjuntos habitacionais municipais modernistas
da história estejam sendo construídos em cidades chinesas.
Curiosamente, são os
prédios abandonados em Caracas, e não os arranha-céus municipais em Chongqing,
que causam mais fascínio no Ocidente. A autoatividade e mecanização continuam
sendo os pólos entre os quais o reformismo oscila. Mas nessa dialética, talvez
possamos descobrir mais potencial para imaginar o futuro do trabalho, da
estética e da cidade do que se relegarmos tudo isso ao status de irrelevância,
àquele familiar “depois da revolução”.
Não entraremos na
cidade socialista às cegas, mas cientes de que dezenas de tentativas de ilhas
de socialismo já foram estabelecidas, algumas mais bem-sucedidas e duradouras
do que outras. Precisaremos pensar sobre quais foram derrotadas por causa de
suas falhas intrínsecas como arquitetura e planejamento urbano, e quais foram
derrotadas simplesmente porque eram impossíveis sob o capitalismo. Daquelas que
tiveram sucesso no capitalismo, poderíamos verificar quais funcionaram porque
reproduziram valores capitalistas e quais funcionaram porque eram ilhas
inexpugnáveis que conseguiram existir tanto “dentro” dele quanto “contra” ele.
O mais valioso de tudo
é que essa experiência de um século é um índice do possível. Esses lugares não
foram apenas plantas ou utopias no papel – eles aconteceram. Neles as pessoas
viveram e vivem, tiveram suas vidas transformadas. Se adiarmos qualquer pensamento
sobre arquitetura até um vago “depois da revolução”, ignoramos o fato de que
arquitetos socialistas muitas vezes criaram vislumbres de como uma sociedade
diferente poderia ser.
Fonte: Tradução de Everton
Lourenço, em Jacobin Brasil
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