terça-feira, 10 de setembro de 2024

Justiça barra candidatura de integrante do PRTB condenado em ação do Novo Cangaço

O juiz da 74º Zona Eleitoral, Gustavo Alexandre da Câmara Leal Belluzzo, indeferiu o registro de candidatura de Edilson Ricardo da Silva (PRTB) a uma vaga de vereador em Mogi das Cruzes, Grande São Paulo. Como o Estadão mostrou com exclusividade no dia 22 de agosto, Silva foi condenado por fazer parte de uma quadrilha que atacou uma companhia da Polícia Militar para dominar a cidade de Guararema, também região metropolitana, e roubar os caixas eletrônicos de uma agência bancária. Ex-militar, Silva foi condenado a 7 anos de prisão, pela Justiça Militar, e mais 2 anos e 4 meses, pela Justiça Comum. O crime aconteceu em 2009.

Esta é a primeira vez que ele tenta disputar uma eleição. Ele pertence ao mesmo grupo de Tarcísio Escobar de Almeida e de Júlio Cesar Pereira, o Gordão, ambos articuladores informais do PRTB, acusados de trocar carros de luxo por cocaína para o PCC, como revelou o Estadão no dia 21 de agosto. Escobar nega as acusações e Gordão não se manifestou. Silva é o vice-presidente do PRTB em Mogi. Ele não apresentou contestação e nem cumpriu diligências solicitadas pela Justiça Eleitoral. O Estadão não conseguiu localizá-lo para informar se tentará recorrer da decisão.

O acórdão do Tribunal de Justiça Militar explica a atuação dele nos crimes da ação que ficou conhecida como Novo Cangaço: "A função do Sd PM Edilson era de repassar informações privilegiadas acerca do que ocorria na sede do Batalhão ao Sd PM Miranda."

O policial Miranda era o soldado descrito pela acusação do Ministério Público de São Paulo como "o mentor da ação criminosa". Era madrugada do dia 2 de agosto de 2009 quando os bandidos tomaram de assalto o quartel da 3.ª Companhia do 17.º Batalhão da Polícia Militar, na cidade de Guararema, com a ajuda das informações repassadas por Edilson Ricardo da Silva. Em seguida, invadiram a agência do Bradesco e explodiram os caixas eletrônicos da cidade, levando R$ 39 mil (o equivalente a R$ 110 mil em valores atualizados) do banco e dez armas da unidade da PM.

De acordo com a denúncia da promotoria, o Inquérito Policial-Militar (IPM) do caso constatou que "durante a preparação da empreitada criminosa, o Sd Edilson, por meio de um Nextel cadastrado em seu nome, manteve contato com várias pessoas relacionadas a atividades ilícitas".

Por meio das ligações telefônicas, os investigadores perceberam que o soldado teria conversado com "Joaquim Renato Lobo de Brito, civil envolvido com furtos de veículos, que, por sua vez, também manteve contato com aparelho Nextel apreendido com Anderson Paixão Bertoldo".

Segundo o acórdão do TJM que manteve a condenação dos réus, Beltoldo é integrante do Primeiro Comando da Capital (PCC) e mantinha contato com Alaelson Cruz Brandão, um bandido especialista em furto e roubo a caixas eletrônicos.

<><> Partido tem diversos nomes investigados ou condenados

Nos últimos meses, o Estadão revelou que o PRTB, que tem o ex-coach Pablo Marçal como candidato a prefeito de São Paulo, tem diversos dirigentes investigados ou condenados na Justiça. O vice-presidente nacional da sigla, Antônio Amauri Malaquias de Pinho, foi condenado por exploração de prestígio, por cobrar dinheiro de políticos sob o falso argumento de comprar recursos junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Nenhum integrante da Corte está envolvido, segundo a Justiça. Pinho diz que as provas são frágeis, que não deu atenção ao caso, e, por isso, sofreu a condenação. Agora, busca a prescrição.

Além dele, o tesoureiro do partido, Adevando Furtado da Silva Junior, foi condenado por descaminho em 2017, por entrar no País vindo do Paraguai com cerca de R$ 79 mil produtos sem recolher impostos, em 2008. Na abordagem, tentou fugir dos policiais. Ele não foi encontrado para se manifestar, mas em recursos rejeitados na Justiça alegou atipicidade da conduta, em razão da aplicação do princípio da insignificância.

Os dois casos se somam ao de Tarcísio Escobar de Almeida, indiciado por associação ao tráfico e ao Primeiro Comando da Capital (PCC), que foi colocado como presidente estadual da legenda em SP por três dias e, mesmo depois de deixar o cargo, continuou se apresentando e participando de eventos como comandante da sigla no Estado, como mostrou o Estadão em maio. Todos foram alocados nas funções por Leonardo Alves Araújo, o Leonardo Avalanche, presidente nacional da legenda e fiador da candidatura de Marçal. Tanto Marçal quanto Avalanche negam quaisquer relações com eventuais crimes cometidos pelos envolvidos.

 

•        Marçal azeda relação com Bolsonaro e cutuca: "Só eu fui para os braços do povo"

A participação relâmpago de Pablo Marçal (PRTB) no ato bolsonarista de 7 de Setembro rendeu mais de uma dezena de cortes para as suas redes sociais, principal ativo do ex-coach na campanha eleitoral. Mas nem todo saldo foi positivo: a ida à manifestação azedou a relação do influenciador com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), com quem Marçal estava flertando nas últimas semanas.

Mais cedo, Bolsonaro divulgou uma nota acusando o candidato à Prefeitura de São Paulo de fazer "palanque às custas dos outros". O ex-presidente mencionou que Marçal tentou subir no trio elétrico ao fim do ato, mas foi barrado por "questões óbvias". Segundo Bolsonaro, o episódio foi o "único e lamentável incidente" da manifestação.

Ao Estadão, Marçal negou a acusação de que tenha usado o ato como palanque. "Como fazer palanque se não me deixaram subir no palanque? Eu fui para os braços do povo. Não tive fala nenhuma, só fui o único que foi para os braços do povo", afirmou o candidato do PRTB. Por volta das 15h30, Marçal publicou um vídeo no Instagram reiterando que foi barrado e declarando que está sozinho: "Deus, povo e nada mais".

Bolsonaro não foi o único a se incomodar com a atitude do influenciador. O organizador do ato, pastor Silas Malafaia, acusou Marçal de tentar se passar por "vítima" e de querer "lacrar" a qualquer custo. Malafaia ainda chamou o empresário e ex-coach de "frouxo", afirmando que ele só chegou após o término do evento por medo do ministro Alexandre de Moraes, principal alvo dos ataques bolsonaristas no 7 de Setembro.

No sábado, Marçal desembarcou de helicóptero nas proximidades da Avenida Paulista, caminhou pela multidão, deu autógrafos a apoiadores e, quando o evento já tinha terminado, tentou subir no trio elétrico onde Bolsonaro estava, mas acabou barrado. Marçal estava em viagem a El Salvador e manteve suspense sobre sua participação no ato.

Para pessoas próximas ao ex-presidente, Marçal cometeu dois erros ontem: chegou após os discursos contra Moraes, reforçando a impressão de que evita confronto com o principal algoz de Bolsonaro, e ignorou a orientação do ex-presidente de não politizar o ato. "Ele foi muito mal ontem", disse um aliado próximo do ex-presidente, chamando Marçal de "dissimulado".

Marçal publicou mais de dez vídeos sobre o 7 de Setembro em suas redes sociais. Em um deles, eleitores de Bolsonaro presentes ao ato afirmam que votarão em Marçal para a Prefeitura de São Paulo. Outro vídeo mostra Marçal no meio da multidão, enquanto apoiadores vestem bonés com seu nome.

Em mais um, Marçal provoca o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), mostrando bolsonaristas gritando "faz o M" durante o discurso do governador. O ex-coach escreve: "O governador falando e o povo fazendo o M. Será que agora ele não vota nulo?", disse ele, se referindo à ocasião em que Tarcísio sugeriu que poderia votar nulo num eventual segundo turno entre Marçal e Guilherme Boulos (PSOL).

No início de seu discurso na Paulista, Bolsonaro se irritou com o barulho de outro trio elétrico na avenida, acreditando, segundo aliados, que fosse de Pablo Marçal. Ele disparou: "Se esse picareta quer fazer um evento, anuncie, convoque o povo e faça". Bolsonaro ainda classificou a atitude como coisa de "canalha" e "vagabundo" e pediu que "fizesse política em outro lugar". No entanto, o trio elétrico em questão não pertencia ao candidato do PRTB.

Enquanto o ex-coach teve uma participação tumultuada no 7 de Setembro, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) passou ileso: não enfrentou hostilidade dos bolsonaristas e ainda posou para uma foto ao lado do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente.

Nunes também recebeu um elogio de Bolsonaro, que classificou a presença da candidata do Novo, Marina Helena, como "exemplar e respeitosa", na mesma nota em que criticou Marçal.

 

Fonte: Agencia Estado

 

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