quinta-feira, 5 de setembro de 2024

Moderno é envelhecer, segundo Maely Coelho

O cantor, compositor e poeta Arnaldo Antunes, 63 anos, estava prestes a completar 50 quando transformou em música o sentimento que tinha a respeito do envelhecimento. Na gravação de um disco ao vivo, chegou a brincar, dedicando a canção “Envelhecer” a si mesmo e a todos aqueles que “enfrentam e afrontam” o seu medo de envelhecer. A pauta, proposta pelo artista, segue ainda mais atual, como diz a própria letra, na medida em que experimentamos, como sociedade e como país, o processo de envelhecimento populacional.

Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) mostram que, em 10 anos, o número de pessoas com 60 anos ou mais passou de 11,3% para 14,7% da população. Esse crescimento é impulsionado, em parte, pela redução das taxas de natalidade, resultando em uma transformação significativa na estrutura etária do Brasil. As projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que, até 2060, cerca de 32% da população brasileira terá mais de 60 anos.

Para além do nosso contexto, o aumento da população idosa é um fenômeno global. Entre 2015 e 2050, a proporção da população mundial com mais de 60 anos quase dobrará, passando de 12% para 22%. Em 2019, o número de pessoas com 60 anos ou mais era de 1 bilhão, e esse número está projetado para aumentar para 1,4 bilhão até 2030 e 2,1 bilhões até 2050, segundo dados do relatório da World Health Organization (WHO).

Ainda segundo levantamento da entidade global, a expectativa média de vida no mundo aumentou para 72,6 anos em 2019, com as mulheres vivendo em média 5 anos a mais que os homens. Este aumento reflete melhorias nas condições de vida e avanços na medicina, mas também traz desafios relacionados à qualidade de vida na terceira idade. Manter-se ativo e saudável é essencial para aproveitar esses anos com qualidade.

Vale ressaltar que, até 2050, 80% das pessoas idosas estarão vivendo em países de baixa e média renda, enfrentando desafios específicos relacionados ao acesso a cuidados de saúde e suporte social.

Uma mudança demográfica dessa proporção terá profundas implicações — e já vemos demonstrações disso — em várias áreas, da saúde à economia. É um fórum que exige a construção de uma estratégia nova de cuidado populacional, uma pauta abrangente que precisa mobilizar diversos setores da sociedade com impacto prático para além da saúde, nos campos cultural e social, e engajamento de governos e empresas.

•        Uma nova fase

Se caminhamos rumo ao envelhecimento, tanto como indivíduos quanto como nação, não seria contraditório continuar encarando esse processo com preconceitos e tabus? Se queremos não apenas viver mais, mas também viver melhor, precisamos revisar nossa perspectiva sobre o envelhecimento.

É fundamental entender que envelhecer não precisa ser sinônimo de “aposentar-se” da vida. Pelo contrário, pode ser um período de florescimento, de encontrar novos propósitos, de buscar outros aprendizados e de dedicar tempo ao que se gosta. Para isso, mais do que envelhecer, é preciso “bem envelhecer”. E bem envelhecer é um conceito que vai além da saúde física, apesar de ela ser um ingrediente fundamental. Estudos mostram que a atividade física regular, como caminhadas e exercícios de resistência, pode reduzir o risco de doenças crônicas e melhorar a qualidade de vida dos idosos.

De forma prática, no dia a dia, o hábito de caminhar diariamente pode ser um excelente ponto de partida para melhorar o condicionamento físico na terceira idade. Estudos indicam que idosos que caminham regularmente têm menor probabilidade de desenvolver problemas de saúde relacionados à idade, como hipertensão e diabetes. Além disso, uma alimentação saudável e equilibrada é essencial para manter a saúde e o bem-estar.

Outra evidência no tema está em um estudo realizado pela Harvard T.H. Chan School of Public Health, que descobriu que adultos que se envolvem em pelo menos 150 minutos de atividade física moderada por semana têm uma expectativa de vida significativamente maior em comparação com aqueles que são sedentários. A atividade física regular pode aumentar a longevidade em até 4,5 anos, dependendo da intensidade e frequência do exercício.

Além dos cuidados com a saúde física, as pesquisas têm, cada vez mais, mostrado que é essencial manter uma vida social ativa. O isolamento social é um fator de risco significativo para a saúde mental dos idosos, podendo levar à depressão e outros problemas de saúde. Manter e criar novas conexões sociais, participar de atividades comunitárias e continuar engajado em hobbies e voluntariado são maneiras eficazes de promover um envelhecimento saudável e ativo.

Afinal, como bem disse a música, “a coisa mais moderna que existe nessa vida é envelhecer”. E, da minha parte, sou muito feliz de poder hoje, aos 74 anos, me dedicar a um negócio em prol do bem envelhecer, que iniciei quando tinha 60.

E o que desejo é que, como pessoas e como nação, saibamos reconhecer esse privilégio, seja vivendo o envelhecimento de forma plena, seja respeitando e acolhendo quem já envelheceu, seja, principalmente, construindo uma sociedade mais amigável para o envelhecimento.

 

•        Longevidade: como será a saúde de quem chegar aos 100 anos

Por séculos a busca pela longevidade é tema não só da ciência, mas também sonho dos mortais. Apesar desse desejo parecer muito distante, pesquisas mais recentes apontam para um futuro em que viver mais de 100 anos poderá ser cada vez mais comum. Mas não basta viver mais, é preciso que essa longevidade chegue com qualidade de vida. Este é o tema do mais recente episódio de Futuro Explica.

No início do Século 20, a expectativa de vida média global era de pouco mais de 30 anos – cenário que, hoje, parece até absurdo. Com o progresso da medicina – além de saneamento básico, melhor nutrição e avanço da tecnologia -, a expectativa de vida aumentou significativamente. No Brasil, por exemplo, esse número atingiu a média de 75,5 em 2022 – a média no mundo é de pouco mais de 73 anos atualmente. Algumas projeções indicam que metade das crianças que hoje têm 5 anos conseguirão chegar aos 100 anos.

Se o objetivo é viver esses anos a mais com qualidade, a sociedade deve se preparar para essa nova era da longevidade. Inclusive, o termo lifespan – ou expectativa de vida – tem sido utilizado agora ao lado do termo healthspan – que seria algo como expectativa com qualidade de vida. A ideia é justamente reforçar a necessidade de preservar o tempo de vida com saúde das pessoas.

Isso porque sem qualidade há vários reflexos. Hoje, um dos principais desafios do envelhecimento da população é o aumento na prevalência de doenças crônicas, que requer cuidados médicos contínuos e a demanda de um enfoque mais integrado e coordenado no atendimento aos pacientes. Sem isso, a tendência é que o aumento da população idosa colocará uma pressão significativa no setor de saúde.

O futuro da longevidade está repleto de possibilidades e, à medida que a ciência avança, as políticas de saúde, estilo de vida e abordagem do envelhecimento terão que evoluir também.

 

Fonte: Futuro da Saúde

 

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