'Instrumento de pressão sobre o governo':
por que o Boletim Focus do BC vem errando tanto?
Elaborado a partir de
consultas ao mercado financeiro, o Boletim Focus do Banco Central é um dos
documentos econômicos mais aguardados por analistas do setor. No entanto, em
marcadores essenciais para a direção da política do país, o relatório vem
apresentando expectativas abaixo do que as que se concretizaram. Fica a
questão: por quê?
Produzido semanalmente
pelo Banco Central, o Boletim Focus agrega as perspectivas futuras de mais de
uma centena de instituições do mercado financeiro para métricas fundamentais da
economia brasileira. Entre elas estão a expectativa da inflação e do crescimento
do produto interno bruto (PIB), qual será a taxa Selic e como estará o câmbio
do dólar nos próximos meses e anos.
Contudo, nas edições
dos últimos anos, o documento tem divulgado perspectivas consistentemente mais
negativas do que os resultados econômicos que o governo aponta. Por exemplo,
durante quase todo o ano de 2022, a expectativa de crescimento do PIB para 2023
ficou em 1%, ora um pouco acima, ora um pouco abaixo. Em 2023, o PIB cresceu
3,3%.
O mesmo acontece com
as demais métricas, como a inflação, cuja expectativa em maio de 2023 era de
6,02%, segundo analistas do mercado. Na realidade, o ano fechou com inflação de
4,62%, conforme medido pelo Índice de Preços Amplo ao Consumidor (IPCA) do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A tendência pessimista
do Focus tem motivos que vão além da dificuldade de fazer previsões econômicas,
apontam economistas ouvidos pela Sputnik Brasil. Diogo Santos, economista e
doutorando em economia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), explica
que a teoria econômica liberal é dominante no mercado financeiro.
"O que os leva a
superestimar o efeito da política monetária e subestima o efeito da política
fiscal."
De acordo com Santos,
esse viés teórico faz com que as previsões de crescimento do mercado financeiro
"fiquem muito pessimistas quando a taxa de juros está alta".
"Mas a taxa de
juros não tem tanto poder de reduzir o crescimento, diante de uma política
fiscal que está estimulando o crescimento, mesmo que limitada pelo arcabouço
fiscal", diz Santos, "especialmente porque os empresários e
trabalhadores no Brasil estão acostumados a uma taxa de juros elevada".
Rodrigo Rodriguez,
professor adjunto de economia na Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(UERJ), explica que as previsões do Boletim Focus orientam as decisões tomadas
por quase todos os agentes, como bancos, investidores, empresários e até o
próprio governo, o que traz aos formuladores do relatório certo poder de
influenciar a direção econômica do país.
"Ao formularem
essas expectativas, as instituições financeiras que participam da pesquisa
conseguem influenciar as decisões de forma a lhes favorecer."
Toda política adotada
pelo Banco Central, como a elevação ou a redução da taxa de juros, diz
Rodriguez, tem "impactos distributivos", isto é, é capaz de alterar a
distribuição de renda em favor de alguns e em detrimento de outros.
"Afetam a
sociedade de forma ampla e, portanto, deveriam ser avaliadas por outros
setores, como o produtivo, o varejista e as famílias brasileiras", crava o
economista.
"De fato, a 'mão
invisível' do mercado não é tão invisível assim, pois é possível ver claramente
a influência do setor financeiro nesses movimentos."
Também em entrevista à
Sputnik Brasil, Cláudio Hamilton, pesquisador da Diretoria de Estudos e
Políticas Macroeconômicas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA),
ressalta que nem sempre uma previsão do Focus tem grande impacto na economia do
país.
Por exemplo, uma
previsão baixa do PIB não impacta, necessariamente, o resultado verdadeiro do
PIB. Entretanto, aponta o pesquisador, as expectativas inflacionárias em
particular "tem um componente de autorrealização importante".
"Se o mercado
começa a achar que a inflação vai aumentar muito, em geral ela tende a aumentar
muito."
Outro exemplo dessa
autorrealização foi dado à reportagem por Santos.
Segundo o economista,
o mercado financeiro prevê aumento na inflação do Brasil pelo fato de que a
taxa de investimentos está abaixo do percentual de crescimento da economia, o
que geraria aumento de preços, uma vez que há mais demanda do que oferta por produtos.
Só que, ao pedir pelo
aumento dos juros de modo a combater essa inflação, o mercado financeiro de
fato diminui os investimentos, uma vez que se torna mais atrativo deixar o
dinheiro rendendo no financeiro do que investir em capital produtivo.
"Essas previsões
são uma arma na batalha pelos rumos da política econômica do governo. É mais um
instrumento de pressão sobre o governo para que caminhem na direção dos
interesses de um setor específico, o financeiro, a despeito das grandes
necessidades de desenvolvimento que o país possui."
• Por que continuar a ouvir o mercado
financeiro?
Para Hamilton, o fato
de o Boletim Focus consistentemente subestimar os resultados econômicos do país
demonstra um claro viés do mercado financeiro. A opinião é compartilhada por
outros economistas ouvidos pela reportagem.
Santos, por exemplo,
destaca que a teoria econômica dominante no mercado financeiro é "muito
catastrófica em relação à política fiscal de estímulo ao crescimento, e isso
tem feito errarem bastante as previsões".
Já Rodriguez evidencia
o fato de que a autonomia do Banco Central tem servido para "intensificar
a pressão do setor financeiro em suas decisões em uma postura excessivamente
conservadora, evidenciada nas taxas de juros cronicamente elevadas no Brasil".
Ainda assim, destaca o
pesquisador do IPEA, há vantagens em ouvir o que o mercado financeiro tem a
dizer na hora de elaborar políticas econômicas.
"Suponha que você
entra em uma festa e todo mundo é seu amigo. Você se comporta de uma maneira,
certo? Agora, se você entra em uma festa e todo mundo é seu inimigo, você se
comporta de outra."
"Acaba que a
informação que você obtém é útil para tomar as decisões."
• Indústria brasileira apresenta
crescimento de 6,1% em um ano
Indústria no Brasil
apresentou crescimento de 6,1% em julho, na comparação ao mesmo mês de 2023.
Cenário atual está 1,4% acima do nível pré-pandemia (fevereiro de 2020).
De acordo com o
governo federal, levando em conta dados da Pesquisa Industrial Mensal (PIM
Brasil) divulgada nesta quarta-feira (4) pelo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), a indústria, em julho, teve crescimento de 6,1% na sua
produção se comparada à do mesmo período do ano passado. Em 2024, acumula alta
de 3,2% e, em 12 meses, expansão de 2,2%.
Na comparação
interanual, com o crescimento de 6,1%, a indústria mostrou resultados positivos
em 21 dos 25 ramos, 60 dos 80 grupos e 67,3% dos 789 produtos pesquisados. As
principais influências positivas vieram de veículos automotores, reboques e
carrocerias (26,8%) e de produtos químicos (10,5%).
Já na comparação entre
julho de 2024 e o mês anterior, o principal crescimento entre os 18 setores que
apresentaram melhoras também foi do de veículos automotores, reboques e
carrocerias, que cresceu 12%, aumentando o ritmo de crescimento quando comparado
ao desempenho obtido em junho, de 4,8%.
Avanços expressivos
também foram apontados nos seguintes setores: produtos de metal (8,4%),
produtos diversos (18,8%), produtos químicos (2,7%), artefatos de couro,
artigos para viagem e calçados (12,1%), máquinas e equipamentos (4,2%),
impressão e reprodução de gravações (23,4%), produtos de borracha e de material
plástico (3,5%), outros equipamentos de transporte (9%), máquinas, aparelhos e
materiais elétricos (5,1%) e produtos de confecção de artigos do vestuário e
acessórios (5,5%).
Apesar dos aspectos
positivos, julho foi um mês que apresentou recuo na produção industrial como um
todo, de 1,4%. A desaceleração acontece após o mês anterior registrar um
crescimento de 4,3%.
"O desempenho
negativo da indústria em julho ocorre após intenso crescimento no mês anterior
(4,3%), quando foi influenciado pelo retorno à produção de unidades produtivas
que foram (direta ou indiretamente) afetadas pelas chuvas ocorridas no Rio Grande
do Sul em maio de 2024", explica André Macedo, gerente da PIM Brasil.
Segundo Macedo, grande
parte do recuo registrado no mês de julho está relacionado ao avanço expressivo
visto no mês anterior, "mas também se observa que importantes plantas
industriais realizaram paralisações no seu processo produtivo", acrescenta.
Ainda assim, ele
ressalta que se "comparamos o patamar da indústria em julho deste ano com
dezembro de 2023, o setor industrial está 1,2% acima, mostrando a permanência
de uma trajetória ascendente", explica.
• Comércio eletrônico cresce 4% e
movimenta mais de R$ 196 bilhões no Brasil em 2023
O comércio eletrônico
brasileiro cresceu 4% em relação a 2022 e movimentou ao longo de 2023 o
equivalente a R$ 196,1 bilhões, de acordo com o Observatório do Comércio
Eletrônico Nacional, ligado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria,
Comércio e Serviços (MDIC).
Os dados foram
extraídos de notas fiscais eletrônicas fornecidas pela Receita Federal e
revelam que os smartphones lideraram as vendas do e-commerce brasileiro: em
2023, movimentaram R$ 10,3 bilhões.
Logo depois, as
maiores compras foram de livros, brochuras e impressos (R$ 6,4 bilhões),
seguidos de televisores (R$ 5,3 bilhões), refrigeradores e congeladores (R$ 5
bilhões), tablets (R$ 4,4 bilhões) e complementos alimentares (R$ 3,7 bilhões).
Cerca de 60% dos
negócios ocorreram em São Paulo, Espírito Santo e Minas Gerais, aponta o
observatório. Além disso, a região Sudeste domina o cenário do e-commerce,
concentrando a maior parte das vendas on-line (73,5%), seguida do Sul (15,2%),
Nordeste (7%), Centro-Oeste (3%) e Norte (1,3%). Já na análise da região de
onde foi feita a compra, a Sudeste foi o destino de 55,6% dos negócios
fechados, seguida por Sul (16,8%), Nordeste (15,8%), Centro-oeste (8,3%) e
Norte (3,3%).
Em Minas Gerais, os
produtos mais vendidos são os calçados; no Espírito Santo, aparelhos de
ar-condicionado. Já em Santa Catarina e na Paraíba, os produtos mais vendidos
são refrigeradores e congeladores. Em Goiás, o principal produto foram os
automóveis, enquanto o livro foi o produto mais vendido no Distrito Federal.
Em termos de fluxo de
comércio eletrônico, as transações interestaduais são maiores (62%) do que as
que ocorreram dentro do próprio estado (38%).
De acordo com o
levantamento, os números apontam o desafio do país de promover a inclusão
digital e a distribuição de renda de maneira mais equânime em todas as regiões
da Federação.
Para aumentar a adesão
de pequenos negócios ao comércio on-line, o MDIC e a Agência Brasileira de
Desenvolvimento Industrial (ABDI) anunciaram que vão lançar o projeto
E-commerce.BR até o fim do ano.
<><> Aneel
reduz patamar de bandeira vermelha, e reajuste da tarifa deve diminuir
A Agência Nacional de
Energia Elétrica (Aneel) divulgou nesta quarta-feira (4) que ajustou a bandeira
vermelha, que estava no patamar 2, para o patamar 1, após corrigir dados com
ajustes do Programa Mensal de Operação Energética (PMO), do Operador Nacional
do Sistema Elétrico (ONS).
Ontem a agência
acionou o patamar 2 da bandeira vermelha (a mais alta da escala) para o mês de
setembro, devido à falta de chuvas em várias regiões do país.
Com a mudança, a Aneel
solicitou à Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) uma
reavaliação e o recálculo das cobranças na tarifa de luz.
Nesse patamar serão
cobrados R$ 4,463 para cada 100 quilowatts-hora consumidos, segundo a Aneel,
que informou ainda que serão instaurados processos de fiscalização para auditar
os procedimentos dos agentes envolvidos na definição do PMO e do cálculo das bandeiras.
O ministro de Minas e
Energia, Alexandre Silveira, solicitou que o ONS elabore um plano de
contingência para garantir a segurança energética no Brasil até 2026.
Os meses de junho,
julho e agosto registraram o menor volume de chuvas nas regiões Sudeste e
Centro-Oeste dos últimos 94 anos.
Com os reservatórios
prejudicados devido às secas, o governo espera usar 70% a 80% das
termelétricas, entre outras medidas, para garantir segurança energética ao
país.
Fonte: Sputnik Brasil
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