Caso Avibras: com futuro incerto, empresa
de mísseis pode ser adquirida por outra brasileira
O imbróglio da Avibras
ganhou novos capítulos quando rumores surgiram na mídia de que a companhia de
defesa brasileira pode ser adquirida por outra empresa do Brasil, em vez de ser
vendida para um conglomerado estrangeiro.
Dois anos após ter
problemas financeiros e protocolar sua recuperação judicial, em 2022, em julho
deste ano foi finalmente aprovado o plano de restabelecimento da Avibras e, com
isso, se iniciaram as conversas de venda da companhia de João Brasil.
A princípio,
considerou-se a venda para a australiana DefendTex. A companhia, de menor porte
e que teria muito a ganhar com a compra, estuda comprar mais de 50% das
participações na empresa brasileira.
Outra cotada para
adquirir a Avibras foi a chinesa Norinco, que queria adquirir 49% das ações. A
venda, contudo, encontrou resistência em Brasília e sofreu críticas até mesmo
por parte dos Estados Unidos, que alertaram que poderiam embargar a venda de componentes
caso a Avibras fosse controlada pela estatal chinesa.
Fundada pelo pai de
João Brasil, o engenheiro do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) João
Verdi Carvalho Leite e seus colegas, a Avibras é uma importante companhia de
defesa brasileira. É responsável pela criação do lançador de foguetes Astros, a
joia da coroa da empresa e um dos melhores do mundo, capaz de alcançar alvos
entre 10 km e 300 km com alta precisão e letalidade.
Seu desenvolvimento
soberano é motivo de orgulho para as Forças Armadas, o Ministério da Defesa e
toda a Base Industrial de Defesa (BID). O lançador é, inclusive, protagonista
do Programa Estratégico Astros 2020 do Exército Brasileiro, que visa dotar a força
terrestre de dezenas desses lançadores. Iniciado em 2012, espera-se que o
processo de fabricação e aquisição se encerre em 2031.
<><> Qual
será o futuro da Avibras?
À Sputnik Brasil,
fontes próximas afirmaram que a companhia ainda não tem futuro certo, mas
boatos aventam a possibilidade da venda da empresa à Akaer, companhia de
engenharia aeroespacial brasileira.
Em seu portfólio, a
Akaer ostenta colaborações com grandes empresas, como a Boeing, Airbus, Embraer
e até mesmo com a Saab na produção do Gripen brasileiro.
A venda seria
facilitada por meio de um financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES), um dos maiores credores da companhia. Em falas
passadas, o presidente do banco de desenvolvimento, Aloizio Mercadante, já
destacou a necessidade de recuperar a Avibras mantendo o controle nacional.
"Ela tem que
continuar sob o controle nacional. É nessa direção que nós estamos
trabalhando."
Em entrevista à
reportagem, Ricardo Cabral, professor de história e fundador do canal História
Militar em Debate, lamentou a inação do Ministério da Defesa e das Forças
Armadas nesse caso.
"Eu não vejo
preocupação do governo federal e das Forças Armadas com isso. Não estão vendo a
questão do interesse nacional, da soberania nacional em dominar tecnologias
sensíveis e o verdadeiro compromisso com um programa de aquisição de
equipamentos, materiais e armamentos aqui do Brasil."
Para o especialista, a
solução ideal para os problemas da empresa passa pelo Projeto de Lei nº
2957/2024, de autoria do deputado Guilherme Boulos (Psol-SP), que pede pela
"desapropriação por utilidade pública" da Avibras.
Segundo Cabral, tenha
caráter estatal ou de economia mista, é importante capacitar a Avibras com uma
série de projetos: "uma carteira de pedidos a longo prazo que permita à
empresa se sustentar."
É o caso da Amazul,
companhia pública vinculada à Marinha que foi criada para o Programa de
Desenvolvimento de Submarinos (Prosub), que construirá inclusive o primeiro
submarino nuclear do Brasil.
Guilherme Carvalho,
pesquisador da Escola de Guerra Naval (EGN) e ex-militar da Marinha do Brasil,
acredita que o governo brasileiro deve incentivar uma
"renacionalização" da empresa ou a aquisição por algum grupo privado
nacional com o apoio do BNDES.
"Não seria uma
iniciativa nova. Já existem iniciativas de financiamento de projetos de defesa
no Brasil", diz o pesquisador.
"Portanto, o
suporte do BNDES, enquanto banco de financiamento, se apresenta como uma
solução natural para o imbróglio envolvendo uma das maiores empresas do setor
de defesa brasileiro."
Fonte: Sputnik Brasil
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