quinta-feira, 5 de setembro de 2024

Caça que 'domina' os céus da América do Sul: o que faz o Super Tucano do Brasil ser tão atrativo?

Na última semana, a Embraer anunciou a venda de seis aeronaves A-29 Super Tucano para a Força Aérea do Uruguai, em um acordo que prevê a aquisição posterior de outros cinco aviões. País se junta à lista de outros cinco da América do Sul que usam o equipamento. Em todo o mundo, são 18 forças aéreas que contam com o avião brasileiro.

Da ave que só existe na América Latina e que se destaca pela força com seus bicos multicoloridos, o nome que serviu de inspiração para batizar um dos produtos militares de maior sucesso desenvolvido no Brasil: o caça A-29 Super Tucano. Com o primeiro voo da aeronave, ainda no fim dos anos 1990, o modelo produzido pela Embraer se modernizou ao longo do tempo e também passou a conquistar os ares sul-americanos.

Em mais um acordo fechado na última semana, a companhia brasileira anunciou a venda de seis unidades do caça para a Força Aérea do Uruguai, com entregas previstas para a partir de 2025 e o compromisso de aquisição de outras cinco aeronaves no futuro. Também estão previstas a inclusão de equipamentos de missão, simulador de voo e pacote logístico integrado. Diante da encomenda, o país se junta a outras cinco nações da América do Sul que também utilizam o avião fabricado pela Embraer: Brasil, Chile, Colômbia, Equador e Paraguai. A lista também deveria contemplar a Venezuela, caso não ocorresse a intervenção dos Estados Unidos em 2007 que praticamente obrigou o país a suspender a venda sob pena de sofrer embargos industriais.

Para além dos céus da América do Sul, o caça brasileiro também está presente nos quadros das Forças Armadas de países da Ásia, África, Oriente Médio e América do Norte, como Afeganistão, Angola, Burkina Faso, Angola, República Dominicana, Filipinas, Indonésia, Líbano, Mali, Mauritânia, Nigéria e Estados Unidos. Mas o que faz o Super Tucano ser um sucesso brasileiro mundo afora?

O aviador Fernando De Borthole explica à Sputnik Brasil que a resposta está principalmente na versatilidade da aeronave. Outro fator que deixa o Super Tucano ainda mais competitivo é o custo menor de aquisição.

"Ele é um avião multimissão, e isso acaba chamando a atenção de várias forças armadas. Pode ser usado para treinamento de pilotos, como acontece nos Estados Unidos, e ao mesmo tempo é usado como uma aeronave de ataque, patrulha e interceptação. E também se comparar com outros caças, tem um custo-benefício muito bom", pontua. Isso, segundo o especialista, ocorre por ser um caça turboélice, que conta com custo operacional mais baixo quando comparado a um avião a jato.

"Acaba atraindo a atenção de países onde não tem uma infraestrutura muito grande, porque ele tem bom desempenho em locais mais hostis ou com pistas não preparadas, coisa que os jatos não possuem".

O aviador lembra também que o Super Tucano tem alta confiabilidade e já recebe modernizações para incorporar tecnologias de caças de 5ª geração. A Embraer, inclusive, oferece suporte de treinamento para as forças militares que adquirem o caça, acrescenta Borthole.

"Então, isso faz dele um avião muito requisitado para diversos fins. E tem uma questão interessante na parte de vigilância e interceptação de aeronaves, principalmente em países como o Brasil, que possuem uma fronteira muito grande e precisam lidar com o tráfico de drogas. O Super Tucano tem a versatilidade de voar a uma velocidade baixa, próxima de um avião de pequeno porte, como o monomotor normalmente usado pelos criminosos. Ao mesmo tempo, também consegue se deslocar rapidamente", diz.

Para efeito de comparação, o especialista cita os novos caças Gripen que estão sendo adquiridos pela Força Aérea Brasileira (FAB), que, por serem muito rápidos, não conseguem interceptar um avião comum. "Às vezes as pessoas acabam não identificando o Super Tucano como um caça, por ter essa característica de usar turboélice. Obviamente existem outros aviões desse tipo produzidos no mundo, como o norte-americano AT-6 Wolverine, mas são poucos", resume.

  • Qual o preço de um avião Super Tucano?

No contrato firmado com o Uruguai, as seis unidades serão vendidas por US$ 96 milhões (R$ 541,15 milhões). Conforme a Embraer, o Super Tucano é considerado líder mundial em caças de sua categoria e desde o início da produção brasileira já foram entregues mais de 260 aeronaves, com 570 mil horas de voo e 60 mil horas de combate. Ao todo, está presente em 18 forças aéreas mundo afora.

"Ter esse interesse de outros países é fundamental para que a empresa continue, porque só o comércio local brasileiro não consegue sustentar uma indústria aeronáutica tão forte quanto a Embraer", destaca De Borthole.

Já o professor e pesquisador do Núcleo de Estudos de Defesa, Inovação, Capacitação e Competitividade Industrial da Universidade Federal Fluminense (UFF) Eduardo Brick enfatiza à Sputnik Brasil que por não ser um caça utilizado em conflitos de grande intensidade, a exemplo da guerra promovida por Israel na Faixa de Gaza, o Super Tucano não sofre "tanta oposição dos países que são fornecedores dos componentes" usados na fabricação. Com isso, não sofre retaliações, a exemplo do que ocorre com outras nações.

"Isso é dos Estados Unidos em particular. Quando são usado componentes que eles consideram que afetam a segurança do país, simplesmente não deixam que você compre. Houve o caso da Venezuela que os norte-americanos não aprovaram, por exemplo [...]. Esse mercado de indústrias de defesa depende muito de questões geopolíticas. O fato dele ser um produto testado e já usado pela Força Aérea Brasileira e em vários países certamente é um ponto positivo a favor da Embraer, que é uma empresa bem-sucedida. Isso vale para o Super Tucano e vale para o KC-390 também, que aos poucos vem ganhando mercado", declara.

  • Brasil é 100% dependente de tecnologia militar estrangeira?

O professor da UFF explica que o Brasil ainda não possui capacidade de produzir a maior parte dos componentes utilizados pela Embraer na fabricação do Super Tucano — segundo Brick, a empresa brasileira é uma integradora de sistemas. Porém, isso faz com que a empresa não esteja imune a possível cerceamento tecnológico dos países que desenvolvem e controlam esses produtos.

"Só permitem o uso aos países que estejam dentro da esfera deles, principalmente da OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte] ou dos Estados Unidos. E só deixam vender [o avião final] para um comprador que atende aos interesses deles. Então, tem toda essa questão de relações internacionais", argumenta.

  • Desindustrialização do Brasil e impactos no setor de defesa

Entre a Era Vargas e o início da redemocratização do país, o investimento na indústria fez com que o setor chegasse a responder por 27% do produto interno bruto (PIB) em 1985. Atualmente, não passa de 7%, o que mostra, segundo Brick, um longo processo de desindustrialização no Brasil. Isso também afetou o setor de defesa, que exige recursos estatais e também amplo planejamento.

"O Brasil praticamente abdicou de ter uma política industrial nessas últimas décadas. Não se produz aqui esses componentes. Na parte de tecnologia da informação, qualquer item para se fazer um computador vai ser importado [...]. O Brasil depende quase 100% da importação desses produtos e qualquer empresa que tenta produzir algo precisa entender isso, sobreviver a esse ambiente. E quando é um produto de defesa, é um desafio maior. A Embraer entendeu muito bem isso, e soube jogar a regra do jogo", comenta sobre o sucesso do Super Tucano.

Para o especialista, mudar esse panorama exige muito e "não acontece de uma hora para outra". Como exemplo, Brick cita países do BRICS como Índia, China e Rússia, que há décadas partiram para esse caminho de conquistar a própria autonomia tecnológica.

"São países grandes, e o Brasil é um país grande que age como um país pequeno [...]. Partiu-se para uma visão puramente liberal, de que o Brasil não tem que proteger nada, que é o mercado que vai decidir. Isso é um erro grosseiro quando se trata de questões estratégicas", defende.

E no caso da indústria de defesa, o pesquisador lembra que não há finalidade econômica, mas sim uma importância estratégica para a soberania de um país.

"O país que depende de outros para isso está cometendo um erro grosseiro. Se ele tiver uma base industrial própria, ele pode usar a exportação com dois motivos principais. Primeiro, ajudar a sustentar a sua base industrial própria. Então, se você está importando de alguém, você está destruindo a sua base industrial, você está destruindo a sua defesa, basicamente. Esse é o primeiro motivo. O segundo motivo é de influência internacional. Se você fornece armas para o país, você tem uma influência sobre aquele país, principalmente quando esse país está enfrentando um conflito. Mas essa não é a finalidade".

 

¨      Argentina pode optar por submarinos franceses ou alemães para 'fugir de pressão britânica'

O presidente argentino, Javier Milei, garantiu que comprará novos submarinos para o país. O especialista Juan José Roldán disse à Sputnik que o "posicionamento geopolítico" de Milei certamente o fará optar por submarinos franceses ou alemães.

Buenos Aires procurará recuperar, pelo menos em parte, a sua reduzida capacidade submarina com a compra de novas unidades durante a gestão Milei, conforme confirmado pelo próprio presidente durante uma entrevista.

Na verdade, quando consultado pelo canal La Nación+ Milei incluiu "as compras de submarinos que vamos fazer" na lista de ações promovidas pelo seu governo para melhorar as capacidades das Forças Armadas do país, como a compra de caças F-16, a aquisição de navios, tanques e a base naval que pretende instalar junto aos Estados Unidos em Ushuaia, no extremo sul do país.

O anúncio presidencial voltou a impulso na Força de Submarinos da Marinha Argentina, órgão criado em 1956 e instalado na Base Naval de Mar del Plata e que contava com quatro submarinos operando simultaneamente.

No entanto, a passagem do tempo e a tragédia do submarino ARA San Juan, ocorrida em 2017, minaram gravemente as capacidades argentinas.

"Atualmente a força de submarinos não possui unidades operacionais porque o ARA San Juan se perdeu naquele acidente em que morreram 44 tripulantes, o ARA Santa Cruz mantém um destino incerto enquanto se trabalha nos reparos de sua 'meia-vida' e o ARA Salta já não está em condições de navegar, por isso é utilizado no porto para fins educacionais", explicou Juan José Roldán, especialista de defesa, entrevistado pela Sputnik.

Além disso, o submarino ARA San Luis, famoso por ter participado ativamente da Guerra das Malvinas, foi desativado em 1997.

Neste quadro, Roldán lembrou que a necessidade de recuperação da frota submarina não é recente, e já tinha sido tratada pelas administrações anteriores. Porém, a compra de submarinos é uma questão difícil de enfrentar, uma vez que a mesma está "entre os investimentos que exigem maior quantidade de recursos para um país", o qual passa por uma profunda crise econômica.

Roldán, que é editor-chefe da revista Zona Militar destacou, a título de exemplo, quanto o valor da compra de 24 caças F-16 significou para Buenos Aires, visto que custou mais de US$ 300 milhões (R$ 1,6 bilhão) ao Estado argentino. A aquisição de novos submarinos será uma questão de "bilhões de dólares".

Por outro lado, o especialista destacou que os submarinos devem ser entendidos principalmente como "uma arma de dissuasão" crucial para evitar conflitos ou possíveis ações de agentes externos, ainda mais considerando que a Argentina possui "talvez um dos maiores litorais marítimos do planeta".

"O papel estratégico do submarino reside no fato de ser uma arma muito difícil de detectar, mesmo com os avanços que existem no domínio antissubmarino. É uma arma estratégica e dissuadora porque, para além do combate […] você envia uma mensagem ao adversário de que pode negar-lhe o acesso ao mar", explicou.

Além disso, Roldán também considerou que Buenos Aires deveria "recompor as capacidades militares" olhando para o Atlântico Sul sob a hipótese de que "um eventual conflito entre os EUA e a China fecharia automaticamente o canal do Panamá para navios que não sejam aliados dos norte-americanos".

Em tal cenário, passagens como o estreito de Magalhães ou a passagem de Drake, no extremo sul do continente, poderiam tornar-se de importância capital.

·        Entre submarinos franceses ou alemães

Embora ainda não tenha sido divulgada informação oficial sobre possíveis ofertas, valores ou prazos para a possível nova compra de submarinos, Roldán lembrou que, desde o governo de Alberto Fernández, a Argentina considera a França e a Alemanha os dois possíveis fornecedores mais prováveis.

Com efeito, o ministro da Defesa de Fernández, Jorge Taiana, visitou os estaleiros do Grupo Naval francês e da alemã ThyssenKrupp em julho de 2022 com o intuito de avaliar a possível compra de alguns dos seus modelos.

Enquanto a Naval oferecia seus submarinos Scorpene, a Thyssenkrupp apresentava como possibilidade os submarinos da classe 209, que a Argentina já operava sob os nomes de ARA Salta e ARA San Luis.

Estas duas opções foram ratificadas em um relatório que Nicolás Posse, chefe de gabinete de Milei até finais de maio, apresentou ao Senado em meados do quinto mês de 2024. Um artigo do jornal La Nación indica que há ofertas francesas e alemãs para a construção de três novos submarinos.

Para Roldán, o atual "posicionamento geopolítico" do governo Milei a favor dos EUA, de Israel e do Ocidente em geral parece inclinar definitivamente a balança para as ofertas francesas ou alemãs, deixando outras alternativas possíveis que poderiam vir da China ou da Rússia, por exemplo.

Além disso, o editor-chefe destacou que França e Alemanha têm influência suficiente para fugir de possíveis "pressões" do Reino Unido, que costuma ver com preocupação o rearmamento da Argentina no Atlântico Sul.

"França e Alemanha têm margem de manobra para não perderem um potencial contrato de US$ 2 bilhões [R$ 11 bilhões] a US$ 3 bilhões [R$ 16 bilhões] devido a um conflito que a Argentina já disse que resolverá por via diplomática", afirmou.

O governo Milei admitiu que também está pensando em um "submarino transitório" para ser utilizado enquanto os novos estão sendo construídos, algo que levaria entre dois e três anos, segundo o relatório.

Aparecem como possíveis alternativas a aquisição de submarinos usados ​​da Marinha do Brasil ou da Marinha da Noruega, de quem a Argentina acaba de adquirir aeronaves de vigilância P3 Orion.

Roldán disse que, por conta das exigências do conflito na Ucrânia, é improvável que a Noruega envie submarinos para a Argentina neste momento. O editor-chefe complementou que se o país optar por adquirir submarinos usados, deve também garantir que terá novos a médio prazo.

 

¨      Brasil, China, Índia e Turquia têm interesse em centro de ciências em ilhas árticas

A China, a Índia, a Turquia e o Brasil estão interessados na cooperação no âmbito do centro científico e educacional internacional no arquipélago de Svalbard (Spitsbergen, na denominação russa), disse Mikhail Kuznetsov, diretor da instituição científica da Rússia Vostokgosplan, à Sputnik em uma entrevista durante o Fórum Econômico do Oriente.

Em janeiro, o ministro russo para o Desenvolvimento do Extremo Oriente e do Ártico, Aleksei Chekunkov, disse que o arquipélago de Spitsbergen, o local da Terra permanentemente habitado mais próximo do Polo Norte, dividido entre a Noruega e a Rússia, poderia se tornar um projeto modelo de cooperação científica internacional com os países do BRICS.

Ele também informou sobre o interesse da Índia e da China em estabelecer centros e estações científicas nas ilhas.

Agora, Kuznetsov confirmou o interesse de alguns dos países do BRICS, e nem só em atividades científicas no extremo norte da Terra, especificando que a Índia e China já adotaram suas estratégias nacionais para o Ártico, priorizando a ciência e a pesquisa no monitoramento e na avaliação das mudanças climáticas.

"Hoje, vemos um interesse real de países como China, Índia, Turquia e Brasil na formação de um centro científico e educacional internacional em Spitsbergen. [...] O Brasil está considerando assinar o Tratado de Svalbard e se candidatar ao Conselho do Ártico como país observador. Parece que é um hemisfério completamente diferente, mas, mesmo assim, há interesse", disse.

Segundo ele, graças à presença da Rússia em Spitsbergen, a ilha pode se tornar uma "base de apoio" e um "bom centro" para que os países do BRICS e da Organização para Cooperação de Xangai desenvolvam a cooperação científica internacional.

"Poderão ser pesquisas no campo da climatologia, fauna, biodiversidade, poluição do oceano mundial. [...] Também é a energia verde, porque existe a questão de como garantir energia sustentável sem poluir o Ártico. Trata-se de tecnologias espaciais e da capacidade de prever as mudanças climáticas", destacou.

O Fórum Econômico do Oriente é realizado de 3 a 6 de setembro no campus da Universidade Federal do Extremo Oriente, em Vladivostok.

O tema principal do evento deste ano é "Extremo Oriente 2030. Unindo esforços, criando oportunidades". A Sputnik é o parceiro de informações geral do fórum.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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