Arritmia exige atenção contra morte súbita
Quando acontece uma
fatalidade como a morte do jogador uruguaio Juan Izquierdo, aos 27 anos, uma
pergunta logo se destaca: como pode uma pessoa tão jovem e atleta morrer assim?
É que o atacante do clube Nacional, com uma vida dedicada ao esporte, teve um
mal súbito aos 38 minutos de iniciada a partida contra o São Paulo, no estádio
do Morumbi, no dia 22 passado. Morreu cinco dias depois, segundo boletim médico
do Hospital Albert Einstein, devido a morte encefálica após uma parada
cardiorrespiratória associada à arritmia cardíaca.
Em meio ao luto, a mãe
do jogador se disse surpresa com o fato de ele ter uma arritmia. É que muita
gente tem essa condição, que não necessariamente é uma doença, mas sim um
conjunto de transtornos que podem modificar o ritmo normal do coração. E que
podem não ter nenhuma gravidade ou ser muito grave, como no caso do jogador ou
em outros em que acontece uma morte súbita, como explica o cardiologista baiano
Marcos Barojas. “Arritmia é um conceito muito amplo, algo que altera o fluxo
cardíaco normal, como uma batida acelerada devido a algum esforço ou uma doença
pré-existente, adquirida ao longo da vida, ou ainda um problema congênito,
estrutural do coração”.
As arritmias afetam
mais de 20 milhões de pessoas por ano, com cerca 300 mil mortes súbitas,
segundo dados da Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (Sbac). Podem ser
percebidas, por exemplo, quando a pessoa faz um esforço, como subir uma
ladeira, e sente palpitações, dor no peito ou falta de ar. Ou ainda se tem
desmaios constantes. Mas antes que o esporte seja visto como vilão, o médico
ressalta que a atividade física regular é preventiva para a maioria de nós. E
ajuda na saúde cardiopulmonar. “A atividade física é tratamento, recomendada,
na maioria dos casos, inclusive no pós-infarto” afirma o especialista, que é
membro da Sociedade de Cardiologia da Bahia e atua no Hospital Português.
No caso de atletas
profissionais, alerta o especialista, um protocolo médico rigoroso poderia
minimizar ou evitar mortes como a de Izquierdo. Mas para um adulto comum e
saudável, bastam o eletrocardiograma e exames rotineiros de sangue para o
médico afastar possíveis problemas. “A primeira questão é identificar fatores
de risco para um infarto”, diz o médico, elencando problemas como colesterol
alto, hipertensão, diabetes, o fato da pessoa ser fumante – que podem levar a
obstruções das artérias - ou ter tido um Acidente Vascular Cerebral ou febre
reumática, entre outros. Pessoas com esses quadros requerem mais atenção e
acompanhamento. “Mas o sofá mata mais que a caminhada”, reforça Barojas,
referindo-se aos males do sedentarismo.
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Lesões neurológicas
Assim como o jogador
uruguaio, o comerciante Abenildo Antônio Gonçalves passou mal em uma partida de
futebol, aos 58 anos, na cidade de Irecê. Desmaiou e foi reanimado por 16
minutos por um médico, colega de baba, que estava no local. Depois dos primeiros
socorros, foi levado ao hospital regional da cidade e depois trazido a
Salvador, onde foi atendido, inicialmente na Fundação Bahiana de Cardiologia e
depois no Hospital Santa Izabel. O infarto desencadeou problemas neurológicos e
cognitivos, que impactam a vida de seu Abenildo, atualmente com 69 anos, e da
família. Apesar de ser um homem forte, ele requer acompanhamento 24 horas.
Foi um quadro
totalmente diferente do primeiro infarto, aos 53 anos, também em um baba do fim
de semana, mais do qual ele se recuperou totalmente. Filha de Abenildo, a
jornalista Nilma Gonçalves conta que o pai era um homem muito ativo e sempre
fez atividades físicas, que foram diminuindo com a rotina corrida. Após o
primeiro infarto, ele passou a fazer caminhadas frequentes, mas aos poucos foi
relaxando, ainda que mantivesse os exames de rotina em dia.
“A gente sabe que o
exercício físico constante é muito melhor, mas também acha que algo assim não
vai acontecer conosco”, pontua Nilma, acrescentando que o pai tinha uma rotina
muito estressante. “Os médicos disseram que o estresse foi determinante para o
segundo infarto”, recorda. Também concordam que os primeiros socorros
eficientes foram muito importantes.
O neurologista Ivar
Brandi, que já cuidou de seu Abenildo, explica que o sofrimento cerebral por
falta de oxigenação nos minutos em que ele ficou desacordado levou a uma
isquemia de várias partes do cérebro. E que acabou afetando áreas como a motora
e cognitiva- esta última responsável pelo aprendizado, comportamento e
conhecimento. “Qualquer lesão cardíaca vai levar a um risco de lesão cerebral,
pois é o coração que alimenta o cérebro” , resume o especialista.
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Questão de minutos
Tanto no caso de
Izquiero quanto de seu Abenildo, a rapidez e a precisão do socorro foram
fundamentais. O que nem sempre acontece, como no caso do idoso baiano Jorge
Luiz Moreira, de 70 anos, que morreu no último dia 27, enquanto esperava
atendimento na fila do CadÚnico, no Comércio. Ele teve um mal súbito, foi
socorrido na própria agência, mas quando a equipe do SAMU chegou já estava sem
vida.
A Secretária de
Promoção Social, Combate à Pobreza, Esporte e Lazer (Sempre), responsável pelos
postos do CadÚnico, informou em nota que o senhor chegou para atendimento já
apresentando mal-estar. E que assim que os técnicos verificaram a situação, o
conduziram para um local reservado, “para que fosse atendido de maneira
eficiente e respeitosa”.
O cardiologista Marcos
Barojas afirma que para evitar desfechos trágicos é preciso investir em
prevenção primária (exames, consultas e afins) e prevenção secundária, ou seja,
”todas as interações que podem salvar vidas”. Num primeiro momento, diante de um
quadro de infarto, é preciso fazer a compressão torácica e a massagem cardíaca.
Depois, caso necessário, utilizar o Desfibrilador Externo Automático (DEA),
aparelho que promove uma descarga elétrica no coração do paciente e que,
segundo o médico, é auto explicativo e pode ser usado por pessoas leigas.
“Infelizmente, o
desfibrilador só é encontrado em Salvador em locais como o aeroporto, estações
do metrô e shoppings, mas ele deveria estar em qualquer lugar de grande
circulação de pessoas, como em condomínios, escolas, academias e outros”,
lamenta o médico, comparando o aparelho ao extintor, encontrado facilmente.
“Também é preciso fornecer treinamento às equipes que trabalham nestes locais
para usá-lo de forma mais eficiente”, reforça.
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Metrô tem desfibrilador automático em todas as estações
Desde 2020 Salvador
tem uma lei municipal (9.511) que obriga a presença do Desfibrilador Externo
Automático (DEA) para uso imediato em locais com circulação igual ou superior a
quatro mil pessoas por dia, como estações rodoviárias e ferroviárias, portos,
shoppings centers, aeroportos, estádios, cinemas e outros. O descumprimento é
passível de multa, estabelecida à época em R$ 10 mil.
Nas estações do metrô,
os aparelhos integram as Salas de Segurança há dez anos, quando o meio de
transporte chegou na cidade. Segundo Cleo Garcia, gerente das estações da CCR
Metrô na Bahia, a utilização é feita pelas equipes de seguranças que ficam nas estações
e terminais, que recebem treinamento apropriado. “Eles são de extrema
importância, já salvaram vidas, principalmente na rapidez do atendimento que
faz muita diferença para quem tem um problema cardíaco”, afirma Cleo.
No total, as equipes
já fizeram cerca de mil atendimentos no primeiro semestre deste ano, com
diferentes solicitações. “Depois de estabilizadas, as pessoas conseguem
aguardar uma transferência para um hospital”, completa.
Os aparelhos, que
passam por manutenção periódica, não estão em lugares visíveis nas estações,
mas Cleo lembra que os socorristas são facilmente identificáveis. “Nossos
clientes, que são cerca de 400 mil pessoas por dia, já sabem que podem contar
com esse suporte”, afirma.
Fonte: A Tarde
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