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paradoxos curiosos que mostram engenhosidade dos antigos filósofos gregos
Os
filósofos da Grécia Antiga usavam paradoxos por várias razões — desde aprimorar
suas habilidades dialéticas e mostrar que oponentes estavam falando bobagem,
até investigar questões filosóficas sérias — mas também por diversão.
Alguns
paradoxos eram letais. O epitáfio de Filetas de Cos nos diz que ele morreu
atormentado pelo "paradoxo do mentiroso".
E,
de acordo com um biógrafo, Diodoro Cronos se matou em 284 a.C. após não
conseguir resolver um paradoxo proposto pelo colega, também filósofo, Estilpo
de Megara.
Essas
histórias são fantasiosas, mas indicam algo irritantemente verdadeiro sobre
paradoxos: não pode haver uma solução única e óbvia. Às vezes, não há uma boa
solução. Às vezes, há muitas soluções boas.
Os
paradoxos apontam para falhas ou erros conceituais. Como corrigir esses erros,
ou se eles podem ser corrigidos, raramente é óbvio.
Os
três paradoxos a seguir são alguns dos exemplos mais conhecidos da Grécia
Antiga.
• 1. O
paradoxo do mentiroso
"Esta
frase é falsa."
Os
filósofos chamam isso de "frase mentirosa". Ela é verdadeira? Se você
disser "sim, a frase mentirosa é verdadeira", então as coisas são
como está dito — mas a frase mentirosa diz que é falsa.
Por
outro lado, suponha que você diga "não, a frase mentirosa é falsa".
Isso significa que as coisas não são como a frase mentirosa diz. Mas é
exatamente isso que ela diz, então, nesse sentido, a frase mentirosa é
verdadeira.
Resumindo,
há boas razões para dizer tanto que a frase é verdadeira, quanto que é falsa.
No entanto, nenhuma frase pode ser verdadeira e falsa ao mesmo tempo.
Este
paradoxo foi criado pelo filósofo Eubulides de Mileto, que era famoso por seus
paradoxos, no século 4 a.C. Sua formulação original se perdeu, e o que
apresento aqui é minha reconstrução dela.
O
paradoxo do mentiroso nos aliena de noções cotidianas como verdade, falsidade e
linguagem autorreferencial.
Mas
também nos leva a questionar a ideia, pressuposta pela dialética de perguntas e
respostas (um diálogo entre pessoas que defendem pontos de vista diferentes
sobre um assunto), de que toda pergunta pode ser respondida com "sim"
ou "não".
Parece
que há boas razões para responder tanto "sim", quanto "não"
a algumas perguntas.
Alguns
filósofos concluíram que isso significa que tanto "sim" quanto
"não" são boas respostas para a pergunta: "a frase mentirosa é
verdadeira?".
Eles
chamam isso de "excesso" de boas respostas. Para aplicar o paradoxo
do mentiroso na sua vida, quando você fizer uma pergunta ou te perguntarem
algo, pergunte a si mesmo: há mais de uma resposta certa?
• 2. O
paradoxo dos chifres
Você
perdeu seus chifres? Se você responder "sim", você deve ter tido
chifres que agora perdeu. Se você responder "não", então você tem
chifres que não perdeu. Seja qual for a sua resposta, você sugere que tinha
chifres — mas isso é claramente falso.
As
perguntas são uma parte fundamental da filosofia. Mas elas também são
fundamentais para a forma como obtemos informações de outras pessoas.
O
paradoxo do mentiroso destaca que algumas perguntas têm mais de uma boa
resposta. O paradoxo dos chifres, por sua vez, destaca outro problema — as
perguntas têm pressupostos.
Se
eu perguntar: "você parou de comer carne?", então eu suponho que você
não come mais carne, mas que costumava comer.
Essas
perguntas parecem ter uma resposta do tipo "sim" ou "não" —
mas, na verdade, existe uma lacuna, pois poderíamos negar o pressuposto.
Quando
você fizer perguntas, ou quando te fizerem perguntas, primeiro pergunte a si
mesmo: o que está sendo pressuposto?
• 3. O
paradoxo de 'sorites'
Aqui
estão 10 mil grãos de areia. Eu tenho um monte? Sim, claro. Eu removo um grão,
então agora tenho 9.999 grãos. Tenho um monte? Sim. Eu removo outro grão, então
fico com 9.998. Tenho um monte? Sim.
Perder
um único grão não afeta se eu tenho um monte. Mas se repetir esta ação mais
9.997 vezes, eu tenho um grão. Isso deve ser um monte, mas é claro que não é.
Você
pode argumentar tanto que um grão é um monte, quanto que não é. Mas nada pode
ser um monte, e não ser um monte ao mesmo tempo.
Outro
grande sucesso de Eubulides, o paradoxo de sorites (que deriva da palavra grega
soros, que significa "monte"), usa um monte como exemplo. Mas também
amontoa pergunta após pergunta.
Este
paradoxo nos desafia porque alguns conceitos possuem limites difusos. Quando
introduzimos esses conceitos difusos em uma dialética de perguntas e respostas,
há respostas claras de "sim" ou "não" no início e no fim da
sequência.
Dez
mil grãos são claramente um monte, e um grão claramente não é. Mas não há
respostas claras de "sim" ou "não" para uma região
intermediária.
O
paradoxo do mentiroso sugere que pode haver um excesso de boas respostas para
perguntas de "sim" ou "não"; os chifres mostram que pode
haver lacunas, onde nem "sim" nem "não" é a resposta certa.
Mas
o paradoxo de sorites revela que pode haver lacunas que vêm e vão, com
conceitos cujos limites são difusos. Mas quantos dos nossos conceitos possuem
limites difusos? E será que os conceitos difusos acompanham um mundo difuso?
Os
paradoxos destacam falhas em atividades comuns do dia a dia: afirmar verdades,
fazer perguntas e descrever objetos.
Pensar
cuidadosamente sobre isso é divertido, sem dúvida. Mas os paradoxos também
devem nos conscientizar sobre se toda pergunta aparentemente boa tem exatamente
uma boa resposta: algumas perguntas têm mais, outras não têm nenhuma.
Fonte:
Por Matthew Duncombe, para The Conversation
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