quarta-feira, 26 de abril de 2023

Pesquisa da Fiocruz investiga possibilidade de "reprogramar" células para combater o câncer de mama

Testes realizados em laboratório por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) indicaram a possibilidade de frear o crescimento do câncer de mama alterando o perfil de um tipo de células de defesa. A pesquisa passou por três experimentos em laboratório, mas é apenas o ponto de partida para a avaliação de uma possível terapia com essa abordagem.

As células pesquisadas no estudo foram os macrófagos, que fazem parte das defesas do organismo. Existem dois tipos dessas células, as M1 e as M2, e o primeiro tipo está mais associado à expansão dos tumores, enquanto o segundo tipo, à contenção. Cerca de metade da massa dos tumores malignos na mama é composta por macrófagos, e a pesquisa avaliou o que aconteceria se as do tipo M1 fossem alteradas para M2.

Para que essa alteração acontecesse, foram utilizadas nanopartículas de óxido de ferro, produzidas em laboratório por meio de uma parceria da Fiocruz Minas com o Departamento de Física da Universidade Federal de Pernambuco. A pós-doutoranda do grupo de Imunologia Celular e Molecular da Fiocruz Minas Camila Sales Nascimento esteve à frente do projeto e explica que a proposta é que, em contato com o composto, os macrófagos M1 se transformarão em M2, reforçando o controle da expansão do câncer.

— A ideia foi transformar M2 em M1, por meio de tratamento local, realizado diretamente no tumor, o que permitiu um controle maior em relação a intervenções sistêmicas — explicou ela.

Foram realizados testes in vitro com células humanas em duas e três dimensões, com resultados positivos, e também experimentos em laboratório com camundongos. Nesse caso, foram injetadas células tumorais e nanopartículas em um grupo de animais, deixando-os em observação por 21 dias, para compará-los com outro grupo que não recebeu as nanopartículas. Os camundongos expostos ao óxido de ferro tinham uma massa tumoral 50% menor que o outro grupo ao fim do período.

Os resultados foram publicados na revista científica International Journal of Pharmaceutics. As indicações positivas representam prova de conceito para que a pesquisa possa seguir adiante, mas ainda é preciso avaliar uma série de outras questões, como os efeitos fisiológicos, os mecanismos de ação, os efeitos colaterais, o tempo de absorção do fármaco, a biodistribuição no organismo, entre outros aspectos.

 

Ø  Apesar de raro, câncer de mama também afeta os homens

 

Os casos de câncer de mama em homens representam cerca de 1% do total, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca). A estimativa do órgão é de 66,2 mil novos registros da doença ao ano em pacientes de ambos os sexos. Apesar de ser mais comum em mulheres, o número de homens afetados passaria de 600 a cada ano. A maior preocupação dos especialistas é que, diferentemente do feminino, o câncer de mama masculino costuma ser diagnosticado em estágios mais avançados. 

Os homens não têm as mamas desenvolvidas, mas têm tecido mamário, que é onde o câncer de mama pode se desenvolver. Não se sabe qual a origem da doença no sexo masculino, e a genética pode ser um fator que contribui para o desenvolvimento do tumor.  

— Em até 40% dos casos, o homem com câncer de mama tem os genes BRCA (genes supressores de tumores) mutados. Nas mulheres, o câncer de mama por BRCA mutados é em até 10% dos casos. Ainda, entre 30% e 40% dos casos da doença no sexo masculino, o paciente tem algum parente próximo diagnosticado — acrescenta o diretor da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), José Luiz Pedrini. 

Não existe uma fórmula exata para prevenir o câncer de mama masculino. Pedrini ressalta que é importante os homens manterem uma rotina de exercícios físicos e uma dieta balanceada, sem consumo excessivo de álcool. Segundo ele, a bebida alcoólica pode alterar o sistema hormonal e, por sua vez, ser um fator de risco para o desenvolvimento da doença. 

Para as mulheres, a mamografia é uma forma de prevenção, uma vez que possibilita o diagnóstico precoce da doença. Para os homens, porém, não é uma opção. Tendo em vista que a doença é incomum, não é viável que todos os homens realizem exames de rastreamento anualmente, como fazem as mulheres. O recomendado, portanto, é que a população masculina esteja atenta aos sinais. 

·         Sintomas e diagnóstico 

Um nódulo endurecido na área da mama, principalmente atrás de um dos mamilos, é o principal sinal de alerta do câncer de mama masculino. Secreção pelo mamilo, irritação de pele na área e feridas em torno do mamilo também estão entre a lista de sintomas. O oncologista da Oncoclínicas do Rio Grande do Sul Pedro Liedke explica que o nódulo é indolor, mas que o paciente consegue sentir ao apalpar a área.  

Liedke conta que não é incomum que pacientes cheguem ao consultório com feridas na região, uma vez que o nódulo repuxa a pele. Ao perceber qualquer um dos sintomas, a orientação é buscar um médico para a realização de uma biópsia. Segundo o oncologista, após o paciente realizar uma ecografia para localizar o nódulo, uma agulha especial é utilizada para retirar uma parte do tecido, que, então é levado para a biópsia.  

— Normalmente os homens são diagnosticados no estágio II ou III da doença. O mais avançado é o estágio IV, que é o da metástase. O homem não imagina que possa ter câncer de mama e não tem costume de procurar médicos. Sabemos, também, que o acesso à saúde complementar também é um fator importante — conta. A idade média de diagnóstico dos homens é 65 anos, alguns anos a mais que a idade média das mulheres. 

·         Tratamento e cura

A biópsia vai determinar se o tumor é benigno ou maligno. Se benigno, não há necessidade de tratamento. Se maligno, o médico e o paciente devem, então, planejar uma ação. As opções são as mesmas disponíveis para o tratamento de câncer de mama feminino: cirurgia, e tratamentos complementares, como quimioterapia, imunoterapia e hormonioterapia.  

Segundo Pedrini, em alguns casos, o médico optará por fazer a cirurgia e, depois, complementar com os outros tipos de tratamento. Em outros casos, o contrário. O que define a decisão é o tipo, estágio e tamanho do câncer. 

— O tratamento cirúrgico prevê a retirada da mama para remoção do tumor. Se ficar deformidade, dá para fazer uma injeção de gordura no local. Se tiver que tirar a aureola e o mamilo, o paciente pode fazer uma tatuagem, caso queira. Ele vai poder andar sem camisa normal, sem aparentar diferença — ressalta. 

Através de medicamentos, a quimioterapia danifica células que se multiplicam com rapidez, impedindo que elas se espalhem pelo corpo. Segundo o Ministério da Saúde, a imunoterapia busca combater o avanço da doença pela ativação do sistema imunológico do paciente. Já a hormonioterapia bloqueia os hormônios receptores do câncer, inibindo o crescimento do tumor. 

— A média da sobrevida, ou seja, da cura do câncer de mama masculino é de 51,7%. Enquanto isso, a do câncer de mama feminino é de 66,5%. Os homens escondem, chegam muito tarde no consultório — ressalta. Quando diagnosticado em estágios anteriores, as chances de cura são ainda maiores. 

 

Fonte: Gaucha ZH

 

Nenhum comentário: