terça-feira, 25 de abril de 2023

Militares que aparecem em imagens acompanharam Bolsonaro em compromisso eleitoral e motociatas

Sete dos nove militares que trabalhavam para o GSI (Gabinete de Segurança Institucional) e foram identificados nas imagens gravadas pelas câmeras de segurança do Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro atuaram diretamente na segurança de Jair Bolsonaro em viagens presidenciais.

O capitão José Eduardo Natale, que aparece dando água aos invasores golpistas, acompanhou Bolsonaro na viagem a Juiz de Fora para o lançamento da campanha eleitoral dele, em agosto do ano passado. Ele também viajou à Rússia com o ex-presidente em fevereiro de 2022.

Na ocasião, Bolsonaro disse a Vladimir Putin que o Brasil era solidário à Rússia a poucos dias da invasão na Ucrânia. Responsável pelo "alerta laranja" na véspera da invasão golpista - o que reduziu o efetivo de defesa no Planalto -, o general Carlos Feitosa Rodrigues também estava na comitiva que foi a Moscou.

As informações constam do Portal da Transparência, que registra as viagens a serviço de funcionários públicos. O coronel Wanderli Baptista da Silva Júnior estava entre os seguranças enviados a Nova York para acompanhar Bolsonaro na ONU, em setembro de 2022, quando o ex-presidente fez o discurso na Assembleia Geral mirando a campanha eleitoral brasileira.

No depoimento à PF, o ex-ministro do GSI Gonçalves Dias disse ter dado ao coronel Wanderli a ordem para prender os invasores orientados a deixar o andar presidencial. G Dias foi demitido após as imagens sugerirem que ele não repreendeu os vândalos golpistas como deveria.

Alexandre Santos de Amorim, André Luiz Garcia Furtado, Alex Marcos Barbosa Santos e Laércio da Costa Júnior também serviram como seguranças em viagens de Bolsonaro. O coronel André Furtado acompanhou Bolsonaro em motociata em São José do Rio Preto em 24 de fevereiro do ano passado. O tenente Alex Marcos Barbosa seguiu Bolsonaro na viagem que ele fez a Recife em 6 de agosto de 2022, também com direito a motociata.

 

       Major do GSI interagiu com golpistas por meia hora no 8/1 perto da sala de Lula, conforme imagens

 

O major José Eduardo Natale de Paula Pereira, que estava como coordenador de segurança das instalações no Palácio do Planalto no dia das invasões golpistas de 8 de janeiro, foi visto em um intervalo de meia hora interagindo com manifestantes no andar do gabinete presidencial.

Pereira aparece nas imagens de câmeras do 3º andar do Planalto conversando e dando água para os vândalos. Em outros momentos, circula ao telefone quando eles já haviam invadido salas do andar presidencial e ainda testemunha um golpista furtando um extintor de incêndio.

O militar estava sozinho na maior parte do tempo. O sigilo das imagens foi derrubado na última sexta-feira (21) pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes. O major estava desde 2020 no GSI e foi exonerado em 3 de fevereiro, menos de um mês após os ataques golpistas.

A primeira vez em que ele aparece nas câmeras é quando entra em uma sala, às 15h58, e dá água para os manifestantes, a poucos metros da sala onde despacha o chefe do Executivo.

Pereira passa em frente ao gabinete da primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja, que já havia sido invadido por golpistas. Atrás dele, seguem ao menos sete vândalos para uma área onde há banheiros.

O major também aparece andando pelos corredores do gabinete presidencial, ao telefone. Ele, mais uma vez, passa pelos manifestantes, mas não os retira do local.

Depois, por volta das 16h28, é possível ver o major atravessando os corredores da antessala presidencial com golpistas, sinalizando para que eles saiam pelas escadas.

Um deles tenta passar por ele para acessar outra área daquele andar, que estava fechada por uma porta de vidro. O major chega a trocar empurrões com o golpista, mas não consegue impedir que ele entre no local que é reservado para assessores mais próximos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Pouco depois, o golpista volta para o mesmo lugar e se junta ao grupo que desce as escadas. Pereira, então, fecha a porta de vidro. No mesmo minuto, um outro vândalo pega o segundo extintor de incêndio (o primeiro já havia sido levado) na frente do major, que também não o impede.

Rapidamente, todos deixam o local e aparece o então ministro do GSI, general Gonçalves Dias, mais conhecido como GDias, pela primeira vez no andar do presidente.

Ele usa estrutura de metal e fita para barrar o acesso ao quarto andar pela escada, depois verifica se as portas do gabinete de Lula estão fechadas.

Ao encontrar mais adiante manifestantes no andar presidencial, o general aponta para que deixem o local, o que ocorre. À CNN Brasil, após a emissora divulgar imagens suas dando água para os manifestantes, o major disse que atuou para "conter danos".

"Foi para fazer a contenção de danos, para impedir que as pessoas entrassem no gabinete do presidente, que seria a última linha", disse. De acordo com a reportagem, ele teria dito ainda não ter realizado prisões justamente por estar sozinho diante dos vândalos.

Os manifestantes circulam por pouco mais de uma hora na área mais restrita do andar presidencial, até serem inteiramente retirados do local. Tudo ocorreu entre 15h20 e cerca de 16h31.

Foram usadas bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo contra os vândalos. O major Pereira aparece nas imagens das câmeras do subsolo acompanhado de outro servidor do GSI e guiando a entrada do batalhão de choque da PM-DF, por volta das 17h, no Palácio do Planalto.

Um integrante do GSI que estava com uma arma (não é possível saber se letal ou taser), e dois paramentados com escudo e capacete, aparecem tensos nas imagens descendo as escadas do andar presidencial para o 2º, onde se concentraram a maior parte deles.

Outros integrantes do GSI e da polícia começam a aparecer mais na área restrita do andar presidencial por volta das 16h20.

De acordo com integrantes do governo que acompanharam a operação naquele domingo, havia uma ordem inicial para determinar que os vândalos deixassem o Planalto. Não se sabe dizer, contudo, de onde veio a ordem.

Quando o então ministro do GSI chega, ele dá ordem para o batalhão entrar no local, conduzir todos os golpistas ao 2º andar, de onde sairiam presos.

A análise dos vídeos do circuito interno do Planalto mostra que, além do baixo efetivo de policiais, havia sinais de falta de comando e de desorientação. Eles ficaram por mais de uma hora, ao menos, sem reforço.

Parte das imagens foram divulgadas, inicialmente, pela CNN Brasil na semana passada. Os vídeos levaram à queda de GDias, primeira demissão do governo Lula 3. O general teve de prestar depoimento à PF na última sexta-feira, assim como todos os servidores do GSI que aparecem nas imagens.

À polícia o general disse que houve um "apagão" geral do sistema de inteligência na crise de 8 de janeiro. Ele também disse não saber informar qual era a classificação de risco dada pelas autoridades para o dia dos ataques.

"Indagado se o declarante entende se houve apagão da inteligência, respondeu que acredita que houve um 'apagão' geral do sistema pela falta de informações para tomada de decisões", diz o relato de seu depoimento. A declaração do general foi obtida pela Folha.

Apesar da postura considerada por auxiliares de Lula como leniente de integrantes do GSI que circularam no dia da invasão, o estopim para a queda do general foi o fato de ele não ter mostrado as imagens de câmeras do gabinete presidencial após os ataques, como demandou o mandatário.

Ele teria sido informado, por integrantes do GSI, que não havia imagens do local. Uma das câmeras, em frente ao gabinete de Janja, por exemplo, ficou coberta por horas. Mas é possível ver a chegada de vândalos ao local.

 

       Ex-GSI que ajudou extremistas no 8 de Janeiro viajou com Bolsonaro

 

O capitão do Exército Brasileiro e ex-integrante do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), José Eduardo Natale, atuou diretamente na segurança do presidente Jair Bolsonaro (PL). Dados do Portal da Transparência mostram que o militar viajou com o ex-presidente para Moscou, em fevereiro de 2022; Juiz de Fora, em julho de 2022, no lançamento da campanha do ex-presidente; e fez algumas outras viagens durante o período de campanha eleitoral.

Na comitiva presidencial que viajou à Rússia também estava o general Carlos Feitosa Rodrigues, responsável por emitir o “alerta laranja” na véspera dos atos de 8 de janeiro. Este alerta foi o responsável pela redução do efetivo de segurança disponível no Palácio do Planalto durante a invasão.

Natale é investigado depois que imagens do circuito interno de segurança do Palácio do Planalto mostraram o militar andando pelo prédio e conversando com extremistas. Em outra câmera também é possível ver o ex-GSI dando água a extremistas próximo à entrada do gabinete da Presidência. No dia da invasão, o militar era coordenador de segurança de instalações dos palácios presidenciais.

No domingo (23.abr.2023), a PF ouviu o depoimento de 9 militares integrantes do GSI. Outros militares também foram identificados nas imagens e devem ser ouvidos pela Polícia Federal em breve. As oitivas começaram por determinação do ministro do STF Alexandre de Moraes –divulgada na 6ª feira (21.abr). Além dos depoimentos, Moraes ainda determinou a quebra de sigilo das imagens do circuito interno de segurança dos prédios e envio do material para a Corte. No sábado (22.abr), parte das imagens começaram a circular na mídia.

FALHA NO SISTEMA DO GSI

Apesar de o ministro interino do GSI, Ricardo Cappelli, ter anunciado às 9h38 de domingo (23.abr.2023) que todos teriam acesso às imagens, nem todo o conteúdo está disponível. Os links de acesso informados pelo órgão apresentaram falhas durante o final de semana e o atual link ainda não tinha todas as imagens do 8 de Janeiro até a publicação desta reportagem.

INVASÃO AOS TRÊS PODERES

Por volta das 15h de domingo (8.jan.2023), extremistas de direita invadiram o Congresso Nacional depois de romper barreiras de proteção colocadas pelas forças de segurança do Distrito Federal e da Força Nacional. Lá, invadiram o Salão Verde da Câmara dos Deputados, área que dá acesso ao plenário da Casa. Equipamentos de votação no plenário foram vandalizados. Os extremistas também usaram o tapete do Senado de “escorregador”.

Em seguida, os radicais se dirigiram ao Palácio do Planalto e depredaram diversas salas na sede do Poder Executivo. Por fim, invadiram o STF (Supremo Tribunal Federal). Quebraram vidros da fachada e chegaram até o plenário da Corte, onde arrancaram cadeiras do chão e o Brasão da República –que era fixado à parede do plenário da Corte.

Os radicais também picharam a estátua “A Justiça”, feita por Alfredo Ceschiatti em 1961, e a porta do gabinete do ministro Alexandre de Moraes.

Os atos foram realizados por pessoas em sua maioria vestidas com camisetas da seleção brasileira de futebol, roupas nas cores da bandeira do Brasil e, às vezes, com a própria bandeira nas costas. Diziam-se patriotas e defendiam uma intervenção militar (na prática, um golpe de Estado) para derrubar o governo do presidente Lula.

 

Fonte: Agencia Estado/Poder 360

 

Nenhum comentário: