quarta-feira, 26 de abril de 2023

Gana e Brasil aprovam novas vacinas contra doenças infecciosas

Gana, na África Ocidental, tornou-se o primeiro país a aprovar o uso de uma nova vacina contra a malária. Desenvolvido pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, o imunizante R21 alcançou a eficácia de 75% recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e deverá ser usado em crianças com idade entre 5 e 36 meses, as mais afetadas pela doença na região — ainda não se sabe quando o composto começará a ser aplicado em larga escala.

A aprovação da nova vacina se deu antes da conclusão dos ensaios clínicos de fase 3, feitos com grande número de pessoas para avaliar sua eficácia. A R21 havia sido testada em 450 crianças com idade entre 5 e 17 meses em Burkina Faso, também na África. Resultados preliminares indicaram uma eficácia de até 77%, quando administrada em três doses iniciais e uma de reforço um ano depois.

O composto foi então submetido a um estudo maior, com quase 5 mil crianças. Os resultados finais ainda não foram publicados, mas foram compartilhados com alguns cientistas e órgãos governamentais de outros países na África, entre eles a agência sanitária de Gana, que, com base nessas informações, decidiu aprovar o uso do imunizante.

“É a primeira vez que uma vacina dessa importância é aprovada em um país africano antes dos Estados Unidos ou de nações europeias”, disse Adrian Hill, diretor do Instituto Jenner da Universidade de Oxford, responsável pelo desenvolvimento do novo composto, à agência de notícias Reuters.

Segundo ele, a universidade britânica tem um acordo com o Instituto Serum, na Índia, para produzir até 200 milhões de doses do imunizante anualmente. O Serum também se comprometeu a fazer a transferência de tecnologia da vacina. Esse processo deverá começar com a construção de uma fábrica para sua produção em Acra, capital de Gana. Estima-se que a fabricação de cada dose custe aproximadamente US$ 3.

O imunizante desenvolvido em Oxford é o segundo contra a malária aprovado nos últimos anos. A OMS já havia liberado em outubro de 2021 o uso da vacina mosquirix, da farmacêutica britânica GlaxoSmithKline (GSK), que age contra Plasmodium falciparum, o mais letal dos cinco parasitas que causam a malária.

A mosquirix foi testada em um programa-piloto com mais de 800 mil crianças em Gana, no Quênia e no Malaui desde 2019. A imunização ocorre com a aplicação de quatro doses: a primeira aos 5 meses de vida, a segunda aos 8 meses, a terceira aos 11 meses e a quarta dose, de reforço, aos 18 meses. Os resultados dos testes indicaram uma proteção de 39% contra o aparecimento de novos casos de malária e de 30% contra as ocorrências graves.

Estima-se que 619 mil pessoas tenham morrido de malária em 2021, a maioria das vítimas crianças de até 5 anos na África Subsaariana, segundo a OMS. Em Gana, onde a doença é endêmica, foram registrados 5,3 milhões de casos e 12,5 mil mortes no período.

Os impactos da R21 e da mosquirix nos esforços de combate à malária no Brasil, porém, deverão ser pequenos, uma vez que cerca de 90% dos casos da doença no país são causados por outro parasita: Plasmodium vivax, para o qual essas vacinas têm baixa eficácia.

Impacto maior deverá ter a Qdenga, nova vacina contra o vírus da dengue aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em março.

O imunizante foi desenvolvido pela farmacêutica japonesa Takeda a partir de uma das variedades do vírus, a DENV-2, modificada para apresentar as proteínas de superfície dos quatro sorotipos. Ela reduziu em cerca de 80% o risco de desenvolver dengue na população geral e em 75% nas pessoas nunca expostas ao vírus, de acordo com artigo publicado em novembro de 2019 no New England Journal of Medicine.

Em dezembro de 2022, a Comissão Europeia aprovou a comercialização da vacina, administrada em duas doses, nos países do bloco para ser aplicada em pessoas a partir de 4 anos de idade. No Brasil, o imunizante poderá ser usado em indivíduos entre 4 e 60 anos.

O país bateu o recorde de mortes por dengue em 2022: 1.016, maior número desde 2015, segundo dados divulgados este ano no Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde.

 

Fonte: Ipea.gov

 

Nenhum comentário: