Os
jornais brasileiros – e em breve as revistas, TVs, rádios e blogs “limpos” –
começam a receber a paga pelos serviços prestados. Ajudaram a planejar,
divulgar, instigar e executar o golpe contra a democracia brasileira e, de
quebra, a criar um clima de beligerância que divide a sociedade. Construíram
ainda os alicerces do pensamento único, fecharam a porta para a diversidade e
estabeleceram um padrão de julgamento ancorado em vazamentos seletivos e
moralização judicial. Foi um serviço sujo, duradouro, pertinaz e, ao fim e ao
cabo, bem-sucedido.
Mesmo
com tanta dedicação, os capitães-do-mato não conseguiram ganhar em
credibilidade, audiência ou importância social. A imprensa brasileira está
quebrada no corpo e na alma. Os jornais estão à venda, e não é de hoje, e não
encontram compradores nem aqui nem na China.
Em
matéria de relevância na formação de uma opinião pública democrática, a
condução editorial beligerante firmou entre nós a triste tradição de um
“jornalismo de guerra” ou, o que é ainda pior, de um panfleto partidarizado. Os
jornais hoje têm menos fatos que projetos para economia e a sociedade. O que
define mais uma sigla partidária que um periódico.
Por
isso a campanha que derramou hectolitros de tinta azul nos jornais nos últimos
dias, com o provocativo e irresponsável lema que propõe “tirar o Brasil do
vermelho”, não deve ser considerada pelo seu conteúdo, mas por sua presença
material. Pela grana que pôs no combalido mercado da comunicação. Nenhum dos 14
pontos elencados interessa ao público, já que se trata apenas de traduzir o
repisado chorrilho golpista no tatibitate publicitário. O que a propaganda traz
de mais grave é seu preço na tabela cheia dos veículos e seu reforço ideológico
destinado a confundir o leitor. E, para completar, o estímulo ao ódio e à
divisão entre brasileiros.
Não
é um acaso que a empreitada publicitária surja exatamente neste momento. Por um
lado, marca o ponto mais baixo de aceitação do governo não eleito até agora;
por outro, se antecipa à tática de encaminhamento da PEC 241, que corta
investimentos em saúde e educação em nome do mercado financeiro e do rentismo
internacional. Como uma espécie de discurso preventivo, ela prepara o terreno,
como esterco pútrido, para que medre o caos. No entanto, sua consistência nem é
tão econômica assim, haja vista sua planura. Trata-se de algo mais chinfrim, da
ordem da contabilidade de balcão: quitar as dívidas pelo apoio ao golpe.
No
mundo da imprensa séria há uma lei não escrita que serve como termômetro entre
notícia e publicidade. A informação jornalística é de graça, não admite
controle e vale muito em termos de credibilidade. Já a mensagem publicitária é
cara, permite domínio absoluto do discurso, mas não gera confiança. No Brasil
essa norma foi subvertida pela falta de independência da imprensa. O jornalismo
passou a vender notícias, negociar apoio, oferecer opinião alinhada por meio do
colunismo sabujo e se apresentar como intelectual orgânico dos interesses
neoliberais. A publicidade chega agora para completar o pacote.
A
campanha do governo usurpador, por isso, não vale pelo que diz, mas pela
centimetragem que exibe – que é a régua que remunera os veículos de
comunicação. Mede-se em centímetros a vassalagem. Seu valor não é informativo,
mas monetário. O volume de publicidade do mesmo feitio deve aumentar e se
tornar um método. Para cada projeto que ataque direitos ou que beneficie
interesses privatistas e de desnacionalização da economia, a contrapartida
estará expressa nas páginas dos jornais na forma de publicidade oficial. As
pedaladas publicitárias estão contempladas no orçamento que corta saúde e
educação para adoecer o cidadão com ignorância.
Os
empresários do setor já devem estar programando a festa. Vem aí campanha em
favor do projeto que esfacela o conteúdo crítico da educação; campanha pela
reforma da Previdência; campanha pela entrega da riqueza nacional ao capital
estrangeiro; campanha pelo fim da CLT; campanha pela terceirização de todas as
atividades; campanha pela repressão aos movimentos sociais; campanha por um SUS
pobre para pobre; campanha pela diminuição da maioridade penal. E por aí vai.
Para dar mais uma prova de boa vontade, passaram a intensificar as demissões de
jornalistas críticos em todas as editorias. Na lógica da imprensa de front, até
o futebol precisa ser de direita.
A
pauta conservadora vai custar caro ao governo e à sociedade. E vai encher as
burras das empresas que quase faliram por conta da própria incompetência,
agiram contra a democracia e estimularam o ódio entre os brasileiros. Preço
acertado e primeira fatura paga, o resultado dessa contabilidade sórdida é um
só: o golpe vai tirar a imprensa do vermelho.
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