sábado, 9 de novembro de 2024

Ex-presidente Michel Temer descarta impacto da eleição de Trump na política do Brasil

O ex-presidente Michel Temer (MDB) afirmou nesta sexta-feira (8) que acredita que a recente vitória de Donald Trump nas eleições dos Estados Unidos não impactará o cenário político brasileiro.

Para ele, a vitória do candidato republicano não deve ter influência especialmente em relação às próximas eleições do Brasil, em 2026. Temer enfatizou ainda que o Brasil vive uma realidade distinta dos EUA e que, por isso, cada país tem suas prioridades e dinâmicas. "Essas coisas são definidas muito pelas realidades locais", afirmou.

Segundo o ex-presidente, em coletiva no 1° Congresso Brasileiro de Precatórios, em São Paulo (SP), o rumo das eleições no Brasil será definido pela "realidade da economia" e pela "tranquilidade social".

Temer também afirma que a população brasileira deseja uma política mais moderada e menos radical. "Será a realidade dos candidatos que se apresentarem em 2026, a realidade da economia, a realidade da tranquilidade social que irá definir os rumos e a eleição de 2026."

O ex-presidente também comentou a natureza das relações entre Brasília e Washington, que, segundo ele, devem ser vistas como institucionais, e não pessoais.

Temer criticou a ideia de que essas relações sejam conduzidas por afinidades entre líderes específicos, em vez de serem baseadas no respeito entre as nações. "A relação não é, como equivocadamente se diz, com o presidente Lula e Donald Trump. A relação é isso, República Federativa do Brasil com Estados Unidos da América."

Segundo ele, há "o mal hábito no país de achar que é uma relação pessoal". Temer defendeu ainda a postura do presidente do Brasil em parabenizar o vencedor das eleições americanas.

<><> Temer aliado de Bolsonaro?

Questionado sobre o retorno à vida pública, Temer respondeu que está satisfeito com sua trajetória e que não pretende voltar a ocupar cargos eletivos. "Saí da vida pública. Fiquei 32 anos, já me dou por satisfeito, não voltarei." Recentemente, o ex-presidente teve seu nome associado à vaga de vice em uma eventual candidatura de Jair Bolsonaro (PL), que está inelegível até 2030.

Segundo ele, questionado sobre as eleições municipais da capital paulista, o resultado mostrou que "o povo não quer muito essa radicalização".

Temer argumenta que o caminho ideal para o país é o da "moderação" e "sensatez". "Essa moderação, essa sensatez, é uma determinação da própria Constituição Federal."

 

•        Pânico de liberais e progressistas por vitória de Trump é exagerado. Por Felippe Ramos

O dia seguinte à vitória de Donald Trump foi marcado por uma avalanche de jornalistas e analistas políticos, majoritariamente de inclinação progressista, em pânico pelo suposto risco de morte da democracia americana. Razão e temperança são recomendáveis para uma análise menos apaixonada.

A democracia americana mostrou-se forte e vibrante. O dia da eleição transcorreu sem qualquer evento relevante de violência. Até o momento, Trump conta quase 73 milhões de votos, próximo ao que obteve em 2020.

Naquele ano, no entanto, Joe Biden recebeu mais de 81 milhões de votos. Em 2024, Kamala Harris vai obter menos de 70 milhões.

Não é que Trump cresceu. Manteve seu número absoluto, apesar de ter obtido uma diversificação de apoios com o crescimento entre latinos, homens jovens, negros e mulheres, mas o Partido Democrata é que perdeu pelo menos 11 milhões de eleitores em quatro anos.

O partido no poder foi punido pelos cidadãos. Trump ganhou de maneira inquestionável no voto popular e em 30 de 50 estados.

Espanta que muitos que se dizem preocupados com a democracia estejam em choque pelo fato de que o candidato preferido da maioria tenha vencido as eleições e assumirá o poder.

Harris deu uma aula de civismo democrático a Trump: reconheceu rapidamente o resultado, parabenizou o presidente eleito e confirmou que irá cooperar para uma transição pacífica como deve acontecer em um regime democrático. Foi uma alfinetada à atitude autoritária de Trump ao perder a eleição em 2020.

Afirmou também que seguirá lutando pelo que acredita. O lado minoritário na eleição passa a exercer o fundamental papel de oposição.

Esses analistas assustados têm mencionado que Trump terá um poderoso mandato, com menos restrições à sua conduta. Terá maioria no Congresso. Terá ampla imunidade criminal devido à decisão recente da Suprema Corte na qual também já há maioria conservadora. Nomeará menos representantes do establishment partidário tradicional e menos oficiais independentes das forças armadas. Se cercará de bajuladores que obedecerão a ordens de cometer atos ilegais ou atentados à Constituição. Poderá tentar usar as forças armadas contra cidadãos americanos ou para expulsar milhões de imigrantes.

São riscos. Mas poucos estão ressaltando que há muito espaço para oposição e resistência no país. Republicanos ainda dependerão de acordos bipartidários para aprovar legislações e nomeações importantes no Congresso. Duas senadoras negras estarão juntas pela primeira vez na Casa.

Na Câmara Baixa, haverá a primeira deputada trans na história. Vinte estados do país são contundentemente liberais. A Califórnia não se tornará o Afeganistão da noite para o dia.

O direito ao aborto foi aprovado em 7 dos 10 estados em que houve referendo sobre o tema, incluindo estados de maioria republicana. A Constituição não permite terceiro mandato. Trump estará no poder somente por quatro anos.

A sociedade civil seguirá sendo diversa e poderosa, com imprensa, organizações não governamentais e universidades ricas e poderosas mantendo apoio de parte considerável da elite econômica, cultural e intelectual do país.

Finalmente, parte do que um presidente faz, outro pode desfazer em seguida, como Biden o fez ao chegar ao poder.

Em uma democracia, é preciso saber reconhecer quando se é minoria. Aceitar que haverá uma série de políticas com as quais não se concorda, mas que serão executadas legitimamente.

Fazer a oposição cabível. Negociar suavizações das propostas mais radicais, quando possível. Questionar a legalidade, se apropriado. Protestar, quando preciso. Mas tudo isso é parte da dinâmica democrática, não a sua queda.

A democracia é frequentemente uma luta feroz das maiorias para afirmarem sua predominância e fazerem as elites aceitarem as demandas populares.

Às vezes é a esquerda que consegue mobilizar essa maioria, como Hugo Chávez na Venezuela. Outras vezes, é a direita, como Trump agora.

Em meio à insatisfação das massas com as elites, um líder populista pode surgir e desafiar as instituições e sistemas de autoridade, a adesão voluntária e consensual às normas de civilidade, a moderação política, os acordos de cavalheiros, a linguagem polida e a preferência dos líderes políticos do mainstream por negociações de bastidores ao invés de confrontações públicas.

A vitória de Trump coloca a expressão majoritária da democracia em conflito com essas dimensões do liberalismo que amortecem o conflito político.

Mas isso não significa que a democracia americana esteja morrendo. Significa apenas que aqueles que desejam a tranquilidade da política liberal precisam ser convincentes ao defender que esse projeto moderado é bom para a maioria.

Por enquanto, os pensadores da minoria perdedora parecem preferir apostar no desprezo pela maioria que não se curva às suas ideias.

 

•        A vitória de Trump e alguns possíveis desdobramentos para o Brasil. Por Rodrigo Augusto Prando

A robusta vitória de Donald Trump (Partido Republicado) em relação à Kamala Harris (Partido Democrata) repercutiu, como não poderia deixar de ser, em todo o mundo e, no Brasil, não seria diferente.

Pululam análises sobre o impacto da vitória do republicano no que tange à guerra entre Ucrânia e Rússia, dos conflitos no Oriente Médio (Israel, grupos terroristas e outros países árabes), das relações comerciais com a China e os demais países, já que Trump sempre asseverou ter uma visão protecionista e, com isso, aumentou os impostos para a entrada de mercadorias nos EUA, impactando negativamente a economia de outros países. Destarte essas questões, muitos questionam o impacto do novo mandato de Trump para a democracia estadunidense e, não menos importante, para o cenário global.

Os norte-americanos assistirão, em breve, à posse do primeiro presidente eleito com uma condenação criminal (e que ainda responde por outros três processos). As ações políticas de Trump levaram-no ao encontro da Justiça nos seguintes casos: 1) apropriar-se de documentos sigilosos da Casa Branca; 2) tentar interferir no resultado das eleições em 2020 (quando foi derrotado por Joe Biden); e 3) das relações e incentivo à invasão do Congresso americano em janeiro de 2021.

Nos três casos, são acusações graves e que demonstram o desrespeito de Trump em relação às regras, às instituições e à democracia. Rememore-se, também, que, durante a pandemia, na condição de presidente, Trump alinhou-se ao negacionismo tão comum a outros líderes mundiais e, na ocasião, declarou até que desinfetante injetado nos doentes poderia trazer a cura, eliminando o coronavírus. Ocioso trazer à tona que muitos aplicaram desinfetante em seus corpos seguindo a peculiar e equivocada lógica do presidente.

No Brasil, quais seriam os desdobramentos da volta de Trump? Obviamente, é cedo para projetar os impactos econômicos ou mesmo na agenda ambiental e da sustentabilidade; todavia, já se pode vislumbrar elementos presentes no discurso político interno. Há muito se diz que, nas relações internacionais, presidentes não devem ter amizade com outros presidentes, mas defender os interesses de seus países e, mais ainda, evitar declarações públicas de apoio a algum candidato durante as contendas eleitorais. Bolsonaro, quando presidente, apoiou efusivamente Trump e, quando este foi derrotado, foi um dos últimos chefes de Estado a cumprimentar Biden pela vitória. Nos dias que correm, Lula também escolheu o lado e externou sua simpatia por Kamala Harris. Independentemente de questões mais pessoais dos líderes políticos e suas preferências ideológicas, o fato é que o retorno de Trump – tido como triunfal por muitos – é um reforço ao discurso e condutas de políticos localizados no campo do populismo da extrema-direita, mormente, no campo digital. Não à toa, figura ímpar nesse processo é Elon Musk que, além do apoio a Trump, é cotado para assumir alguma posição na arquitetura do novo governo.

Bolsonaristas, por aqui, já comemoram e aumentam a pressão para que a inelegibilidade imposta ao ex-presidente seja derrubada por um ato do Poder Legislativo, na mesma linha de um projeto de anistia aos presos pelos ataques às sedes dos Três Poderes no dia 8 de janeiro, em Brasília. Ademais, o retorno de Trump reforça, lá e aqui, o discurso messiânico e salvacionista, tão caro aos populistas e, não raro, conjugado à retórica de que são – Trump e Bolsonaro – perseguidos politicamente pelo “sistema”.

Há quem diga que, mal tenha acabado a eleição municipal, o primeiro turno de 2026 já começou

 

Fonte: Sputnik Brasil/CNN Brasil/Ass. De Imprensa da Mackenzie

 

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