Ex-presidente Michel Temer descarta impacto
da eleição de Trump na política do Brasil
O ex-presidente Michel
Temer (MDB) afirmou nesta sexta-feira (8) que acredita que a recente vitória de
Donald Trump nas eleições dos Estados Unidos não impactará o cenário político
brasileiro.
Para ele, a vitória do
candidato republicano não deve ter influência especialmente em relação às
próximas eleições do Brasil, em 2026. Temer enfatizou ainda que o Brasil vive
uma realidade distinta dos EUA e que, por isso, cada país tem suas prioridades e
dinâmicas. "Essas coisas são definidas muito pelas realidades
locais", afirmou.
Segundo o
ex-presidente, em coletiva no 1° Congresso Brasileiro de Precatórios, em São
Paulo (SP), o rumo das eleições no Brasil será definido pela "realidade da
economia" e pela "tranquilidade social".
Temer também afirma
que a população brasileira deseja uma política mais moderada e menos radical.
"Será a realidade dos candidatos que se apresentarem em 2026, a realidade
da economia, a realidade da tranquilidade social que irá definir os rumos e a
eleição de 2026."
O ex-presidente também
comentou a natureza das relações entre Brasília e Washington, que, segundo ele,
devem ser vistas como institucionais, e não pessoais.
Temer criticou a ideia
de que essas relações sejam conduzidas por afinidades entre líderes
específicos, em vez de serem baseadas no respeito entre as nações. "A
relação não é, como equivocadamente se diz, com o presidente Lula e Donald
Trump. A relação é isso, República Federativa do Brasil com Estados Unidos da
América."
Segundo ele, há
"o mal hábito no país de achar que é uma relação pessoal". Temer
defendeu ainda a postura do presidente do Brasil em parabenizar o vencedor das
eleições americanas.
<><> Temer
aliado de Bolsonaro?
Questionado sobre o
retorno à vida pública, Temer respondeu que está satisfeito com sua trajetória
e que não pretende voltar a ocupar cargos eletivos. "Saí da vida pública.
Fiquei 32 anos, já me dou por satisfeito, não voltarei." Recentemente, o
ex-presidente teve seu nome associado à vaga de vice em uma eventual
candidatura de Jair Bolsonaro (PL), que está inelegível até 2030.
Segundo ele,
questionado sobre as eleições municipais da capital paulista, o resultado
mostrou que "o povo não quer muito essa radicalização".
Temer argumenta que o
caminho ideal para o país é o da "moderação" e "sensatez".
"Essa moderação, essa sensatez, é uma determinação da própria Constituição
Federal."
• Pânico de liberais e progressistas por
vitória de Trump é exagerado. Por Felippe Ramos
O dia seguinte à
vitória de Donald Trump foi marcado por uma avalanche de jornalistas e
analistas políticos, majoritariamente de inclinação progressista, em pânico
pelo suposto risco de morte da democracia americana. Razão e temperança são
recomendáveis para uma análise menos apaixonada.
A democracia americana
mostrou-se forte e vibrante. O dia da eleição transcorreu sem qualquer evento
relevante de violência. Até o momento, Trump conta quase 73 milhões de votos,
próximo ao que obteve em 2020.
Naquele ano, no
entanto, Joe Biden recebeu mais de 81 milhões de votos. Em 2024, Kamala Harris
vai obter menos de 70 milhões.
Não é que Trump
cresceu. Manteve seu número absoluto, apesar de ter obtido uma diversificação
de apoios com o crescimento entre latinos, homens jovens, negros e mulheres,
mas o Partido Democrata é que perdeu pelo menos 11 milhões de eleitores em
quatro anos.
O partido no poder foi
punido pelos cidadãos. Trump ganhou de maneira inquestionável no voto popular e
em 30 de 50 estados.
Espanta que muitos que
se dizem preocupados com a democracia estejam em choque pelo fato de que o
candidato preferido da maioria tenha vencido as eleições e assumirá o poder.
Harris deu uma aula de
civismo democrático a Trump: reconheceu rapidamente o resultado, parabenizou o
presidente eleito e confirmou que irá cooperar para uma transição pacífica como
deve acontecer em um regime democrático. Foi uma alfinetada à atitude autoritária
de Trump ao perder a eleição em 2020.
Afirmou também que
seguirá lutando pelo que acredita. O lado minoritário na eleição passa a
exercer o fundamental papel de oposição.
Esses analistas
assustados têm mencionado que Trump terá um poderoso mandato, com menos
restrições à sua conduta. Terá maioria no Congresso. Terá ampla imunidade
criminal devido à decisão recente da Suprema Corte na qual também já há maioria
conservadora. Nomeará menos representantes do establishment partidário
tradicional e menos oficiais independentes das forças armadas. Se cercará de
bajuladores que obedecerão a ordens de cometer atos ilegais ou atentados à
Constituição. Poderá tentar usar as forças armadas contra cidadãos americanos
ou para expulsar milhões de imigrantes.
São riscos. Mas poucos
estão ressaltando que há muito espaço para oposição e resistência no país.
Republicanos ainda dependerão de acordos bipartidários para aprovar legislações
e nomeações importantes no Congresso. Duas senadoras negras estarão juntas pela
primeira vez na Casa.
Na Câmara Baixa,
haverá a primeira deputada trans na história. Vinte estados do país são
contundentemente liberais. A Califórnia não se tornará o Afeganistão da noite
para o dia.
O direito ao aborto
foi aprovado em 7 dos 10 estados em que houve referendo sobre o tema, incluindo
estados de maioria republicana. A Constituição não permite terceiro mandato.
Trump estará no poder somente por quatro anos.
A sociedade civil
seguirá sendo diversa e poderosa, com imprensa, organizações não governamentais
e universidades ricas e poderosas mantendo apoio de parte considerável da elite
econômica, cultural e intelectual do país.
Finalmente, parte do
que um presidente faz, outro pode desfazer em seguida, como Biden o fez ao
chegar ao poder.
Em uma democracia, é
preciso saber reconhecer quando se é minoria. Aceitar que haverá uma série de
políticas com as quais não se concorda, mas que serão executadas legitimamente.
Fazer a oposição
cabível. Negociar suavizações das propostas mais radicais, quando possível.
Questionar a legalidade, se apropriado. Protestar, quando preciso. Mas tudo
isso é parte da dinâmica democrática, não a sua queda.
A democracia é
frequentemente uma luta feroz das maiorias para afirmarem sua predominância e
fazerem as elites aceitarem as demandas populares.
Às vezes é a esquerda
que consegue mobilizar essa maioria, como Hugo Chávez na Venezuela. Outras
vezes, é a direita, como Trump agora.
Em meio à insatisfação
das massas com as elites, um líder populista pode surgir e desafiar as
instituições e sistemas de autoridade, a adesão voluntária e consensual às
normas de civilidade, a moderação política, os acordos de cavalheiros, a
linguagem polida e a preferência dos líderes políticos do mainstream por
negociações de bastidores ao invés de confrontações públicas.
A vitória de Trump
coloca a expressão majoritária da democracia em conflito com essas dimensões do
liberalismo que amortecem o conflito político.
Mas isso não significa
que a democracia americana esteja morrendo. Significa apenas que aqueles que
desejam a tranquilidade da política liberal precisam ser convincentes ao
defender que esse projeto moderado é bom para a maioria.
Por enquanto, os
pensadores da minoria perdedora parecem preferir apostar no desprezo pela
maioria que não se curva às suas ideias.
• A vitória de Trump e alguns possíveis
desdobramentos para o Brasil. Por Rodrigo Augusto Prando
A robusta vitória de
Donald Trump (Partido Republicado) em relação à Kamala Harris (Partido
Democrata) repercutiu, como não poderia deixar de ser, em todo o mundo e, no
Brasil, não seria diferente.
Pululam análises sobre
o impacto da vitória do republicano no que tange à guerra entre Ucrânia e
Rússia, dos conflitos no Oriente Médio (Israel, grupos terroristas e outros
países árabes), das relações comerciais com a China e os demais países, já que
Trump sempre asseverou ter uma visão protecionista e, com isso, aumentou os
impostos para a entrada de mercadorias nos EUA, impactando negativamente a
economia de outros países. Destarte essas questões, muitos questionam o impacto
do novo mandato de Trump para a democracia estadunidense e, não menos
importante, para o cenário global.
Os norte-americanos
assistirão, em breve, à posse do primeiro presidente eleito com uma condenação
criminal (e que ainda responde por outros três processos). As ações políticas
de Trump levaram-no ao encontro da Justiça nos seguintes casos: 1) apropriar-se
de documentos sigilosos da Casa Branca; 2) tentar interferir no resultado das
eleições em 2020 (quando foi derrotado por Joe Biden); e 3) das relações e
incentivo à invasão do Congresso americano em janeiro de 2021.
Nos três casos, são
acusações graves e que demonstram o desrespeito de Trump em relação às regras,
às instituições e à democracia. Rememore-se, também, que, durante a pandemia,
na condição de presidente, Trump alinhou-se ao negacionismo tão comum a outros
líderes mundiais e, na ocasião, declarou até que desinfetante injetado nos
doentes poderia trazer a cura, eliminando o coronavírus. Ocioso trazer à tona
que muitos aplicaram desinfetante em seus corpos seguindo a peculiar e
equivocada lógica do presidente.
No Brasil, quais
seriam os desdobramentos da volta de Trump? Obviamente, é cedo para projetar os
impactos econômicos ou mesmo na agenda ambiental e da sustentabilidade;
todavia, já se pode vislumbrar elementos presentes no discurso político
interno. Há muito se diz que, nas relações internacionais, presidentes não
devem ter amizade com outros presidentes, mas defender os interesses de seus
países e, mais ainda, evitar declarações públicas de apoio a algum candidato
durante as contendas eleitorais. Bolsonaro, quando presidente, apoiou
efusivamente Trump e, quando este foi derrotado, foi um dos últimos chefes de
Estado a cumprimentar Biden pela vitória. Nos dias que correm, Lula também
escolheu o lado e externou sua simpatia por Kamala Harris. Independentemente de
questões mais pessoais dos líderes políticos e suas preferências ideológicas, o
fato é que o retorno de Trump – tido como triunfal por muitos – é um reforço ao
discurso e condutas de políticos localizados no campo do populismo da
extrema-direita, mormente, no campo digital. Não à toa, figura ímpar nesse
processo é Elon Musk que, além do apoio a Trump, é cotado para assumir alguma
posição na arquitetura do novo governo.
Bolsonaristas, por
aqui, já comemoram e aumentam a pressão para que a inelegibilidade imposta ao
ex-presidente seja derrubada por um ato do Poder Legislativo, na mesma linha de
um projeto de anistia aos presos pelos ataques às sedes dos Três Poderes no dia
8 de janeiro, em Brasília. Ademais, o retorno de Trump reforça, lá e aqui, o
discurso messiânico e salvacionista, tão caro aos populistas e, não raro,
conjugado à retórica de que são – Trump e Bolsonaro – perseguidos politicamente
pelo “sistema”.
Há quem diga que, mal
tenha acabado a eleição municipal, o primeiro turno de 2026 já começou
Fonte: Sputnik
Brasil/CNN Brasil/Ass. De Imprensa da Mackenzie
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