sexta-feira, 6 de setembro de 2024

Setembro Amarelo: quais são os sinais de alerta da depressão?

O Brasil é o país com maior prevalência de depressão, segundo o Ministério da Saúde. A doença é a mais associada ao suicídio, de acordo com a pasta. No país, são registrados 14 mil casos por ano, o que equivale, em média, a 38 mortes por dia. Diante disso, a campanha Setembro Amarelo busca conscientizar acerca da depressão e prevenir o suicídio.

De acordo com o Ministério da Saúde, a prevalência da depressão ao longo da vida no Brasil é de 15,5%. Entre os fatores de risco estão histórico familiar, transtornos psiquiátricos correlatados, estresse crônico, ansiedade crônica, disfunções hormonais, traumas psicológicos, conflitos conjugais, mudança brusca de condições financeiras e desemprego. Além disso, existem evidências que indicam que a doença pode ter causas genéticas.

“A depressão pode se manifestar de maneiras sutis e variar de pessoa para pessoa, mas, de modo geral, os primeiros sinais envolvem uma mudança persistente no humor”, afirma Jacqueline Mazzoni, coordenadora adjunta do curso de psicologia e coordenadora da Clínica-Escola de Psicologia da Universidade Cidade de S. Paulo (Unicid), à CNN. “As pessoas podem começar a se sentir tristes ou vazias, com perda de interesse ou prazer em atividades que antes eram prazerosas”, completa.

De forma geral, os primeiros sinais de depressão podem incluir sintomas como:

•        Desânimo e sentimento de tristeza, na maior parte dos dias;

•        Sentimento de culpa ou inutilidade;

•        Falta ou diminuição de interessantes ou prazer por assuntos ou atividades que, antes, eram prazerosas;

•        Dificuldade de socialização;

•        Alterações no sono (insônia ou sono excessivo);

•        Mudanças de apetite (podendo levar à perda ou ganho de peso);

•        Fadiga;

•        Dificuldade de concentração.

Em alguns casos, podem surgir sintomas físicos relacionados à depressão. É o caso de dor de cabeça frequente, dor muscular e articular, problemas digestivos (dor de estômago ou constipação) e fadiga extrema. “Esses sintomas, muitas vezes, são difíceis de associar à depressão e, por isso, podem passar despercebidos ou serem tratados de forma isolada. Por isso, a terapia também desempenha um papel importante, ajudando a pessoa a entender a relação entre seus sintomas físicos e emocionais e a desenvolver formas de lidar com eles”, afirma Mazzoni.

“A depressão é um transtorno multifacetado. Apesar de ter um critério de diagnóstico bem definido, as pessoas podem manifestar formas diferentes da depressão em relação aos sintomas e a intensidade deles”, reforça Elton Kanomata, psiquiatra do Hospital Israelita Albert Einstein, à CNN.

<><> Sinais de alerta mais graves da depressão

Segundo Kanomata, qualquer sintoma da depressão que seja manifestado de forma mais intensa passa a ser um sinal de alerta da maior gravidade da doença. “Um apetite muito grande, ao ponto da pessoa ter um ganho significativo de peso, levando a patologias como diabetes, colesterol alto e gordura no fígado, é um deles. O oposto também, quando a pessoa perde apetite, pula várias refeições e começa a ter um emagrecimento consequente, podendo evoluir, até mesmo, para desnutrição e deficiência vitamínica”, exemplifica o especialista.

De forma geral, de acordo com as fontes consultadas, os principais sinais de alerta graves para a depressão incluem:

•        Desesperança profunda;

•        Isolamento social;

•        Incapacidade de realizar tarefas cotidianas;

•        Queda acentuada no desempenho em atividades que antes eram executadas com facilidade.

“A questão da falta de autocuidado também é um sinal de alerta grave e pode ficar bastante comprometido, como deixar de fazer compras para a casa, deixando de realizar a limpeza da casa, além da falta de higiene pessoal, como tomar banho, escovar dente e pentear o cabelo”, lista Kanomata. “Eventualmente, pessoas que possuem doenças como hipertensão arterial, entre outras, podem deixar de tomar medicações ou de marcar consultas médicas. Em resumo, a pessoa deixa toda sua vida parada”, exemplifica.

Nos quadros graves de depressão, pode acontecer, também, de a pessoa passar a ter ideação suicida, ou seja, pensamentos recorrentes relacionados à própria morte como uma solução para a angústia e a tristeza sentida.

“Os sinais de ideação suicida incluem o aumento do isolamento social, falar sobre morte ou suicídio, procurar meios para se machucar, como armas ou medicamentos, e mudanças drásticas no comportamento, como, repentinamente, se despedir de amigos ou familiares”, elenca Mazzoni.

“Outras pistas incluem a falta de esperança em relação ao futuro, falar sobre ser um “fardo” para os outros ou mostrar uma calmaria repentina após um período de depressão, o que pode indicar que a pessoa tomou uma decisão de terminar a vida”, completa a coordenadora.

<><> Como procurar e oferecer ajuda

Identificar os sinais de alerta da depressão é o primeiro passo para buscar ajuda, seja para um parente ou amigo que esteja passando pela situação, ou para si próprio. Para quem deseja oferecer apoio, o importante é demonstrar empatia e ter escuta ativa às angústias da pessoa, sem julgamentos. Também é fundamental buscar o atendimento psiquiátrica e psicológico — mesmo quando há recusa em buscar ajuda por parte da pessoa depressiva.

“Lidar com um ente querido que se recusa a buscar ajuda pode ser desafiador, mas é importante abordar a situação com empatia e paciência. Ouvir sem julgar e oferecer apoio emocional contínuo, demonstrando que você está ali para ajudar quando a pessoa estiver pronta, pode fazer a diferença”, orienta Mazzoni.

“No entanto, é essencial também respeitar os limites dela. Incentivar a busca por um terapeuta pode ser um passo importante, oferecendo alternativas, como consultas iniciais ou até mesmo opções de terapia online, que muitas vezes são mais confortáveis para algumas pessoas”, completa.

No caso de pessoas que possuem ideação suicida, é possível buscar centros de referência que possam oferecer acolhimento e apoio emocional à pessoa. O Centro de Valorização da Vida (CVV), por exemplo, oferece, gratuitamente, apoio emocional e serviço de prevenção do suicídio para pessoas que querem e precisam conversar, sob sigilo e anonimato.

O atendimento pode ser feito através do telefone 188, disponível 24 horas e sem custo de ligação, pelo chat, e-mail ou pessoalmente, direto nos postos do CVV (consulte o site para mais informações).

Além disso, familiares e amigos devem formar uma rede de apoio para a pessoa com depressão e ideação suicida, conforme orienta Kanomata. “A rede de apoio pode ajudar a garantir que a pessoa seja ajudada, pode acompanhar a pessoa em consultas psiquiátricas e médicas, auxiliá-la nos cuidados da casa e nas práticas de autocuidado. Então, é importante que tenham pessoas nesse momento grave para garantir que o tratamento seja feito de forma regular”, afirma.

<><> Sinais de melhora do quadro

Os sinais de que o tratamento contra depressão está surtindo efeito incluem, segundo os especialistas consultados, fatores como:

•        Retomada de atividades que a pessoa gosta;

•        Maior envolvimento social;

•        Melhora do humor;

•        Redução dos sintomas físicos;

•        Aumento da disposição e energia;

•        Melhor capacidade para planejar o futuro;

•        Reconquista da autonomia para atividades do dia a dia.

“A continuidade da psicoterapia é crucial para sustentar essas melhorias, ajudando a pessoa a manter as conquistas e lidar com possíveis recaídas de forma mais saudável”, reitera Mazzoni.

 

•        Quase metade dos casos de demência poderiam ser prevenidos, diz estudo

Quase metade dos casos de demência no mundo poderiam ser prevenidos ou retardados ao evitar fatores de risco desde a infância até o fim da vida, conforme mostra um novo estudo apresentado pela The Lancet nesta quarta-feira (31) na Conferência Internacional da Associação de Alzheimer (AAIC 2024).

Segundo a pesquisa, abordar 14 fatores de risco modificáveis — ou seja, que poderiam ser evitados com mudanças no estilo de vida ou tratamentos específicos — na infância e ao longo da vida poderia reduzir os casos de demência no mundo, contrariando as tendências de aumento da condição globalmente.

Com base nas últimas evidências disponíveis, o relatório mostra que 7% dos casos de demência estão associados ao colesterol ruim na meia-idade (40 anos), enquanto 2% dos casos estão relacionados à perda de visão não tratada na vida adulta.

Esses dois fatores foram somados aos outros 12 já identificados pela Comissão Lancet em 2020: níveis mais baixos de educação, deficiência auditiva, pressão alta, tabagismo, obesidade, depressão, sedentarismo, diabetes, consumo excessivo de álcool, lesão cerebral traumática, poluição do ar e isolamento social. Esses fatores foram associados a 40% de todos os casos de demência.

Segundo o novo estudo, a deficiência auditiva e o colesterol alto são os fatores de risco associados à maior proporção de pessoas que desenvolvem demência no mundo, juntamente com o menor nível educacional no início da vida e o isolamento social na vida adulta.

O relatório foi desenvolvido por 27 especialistas mundiais em demência e pede aos governos planos para lidar com os riscos ao longo da vida para a demência, argumentando que quanto mais cedo abordar e reduzir os fatores de risco, melhores serão os resultados no futuro.

Para isso, o documento descreve um conjunto de mudanças de políticas e estilo de vida para prevenir e gerenciar a demência.

“Nosso novo relatório revela que há muito mais que pode e deve ser feito para reduzir o risco de demência. Nunca é muito cedo ou muito tarde para agir, com oportunidades de causar impacto em qualquer fase da vida”, diz a autora principal do estudo, Gill Livingston, professora da University College London, no Reino Unido, em comunicado à imprensa.

“Agora temos evidências mais fortes de que uma exposição mais longa ao risco tem um efeito maior e que os riscos agem mais fortemente em pessoas vulneráveis. É por isso que é vital que redobremos os esforços preventivos em relação àqueles que mais precisam deles, incluindo aqueles em países de baixa e média renda e grupos socioeconômicos desfavorecidos. Os governos devem reduzir as desigualdades de risco tornando estilos de vida saudáveis o mais alcançáveis possível para todos”, completa.

<><> Ações para reduzir os riscos de demência em todo o mundo

Para reduzir o risco de demência ao longo da vida, o relatório descreve 13 recomendações a serem adotadas por governos e indivíduos. São elas:

•        Fornecer a todas as crianças educação de boa qualidade e ser cognitivamente ativo na meia-idade;

•        Disponibilizar aparelhos auditivos para todos aqueles com perda auditiva e reduzir a exposição a ruídos nocivos;

•        Detectar e tratar o colesterol LDL (considerado ruim) alto na meia-idade, por volta dos 40 anos;

•        Tornar a triagem e o tratamento para deficiência visual acessíveis a todos;

•        Tratar a depressão de forma eficaz;

•        Usar capacetes e proteção para a cabeça em esportes de contato e em bicicletas;

•        Priorizar ambientes comunitários de apoio e moradias para aumentar o contato social;

•        Reduzir a exposição à poluição do ar por meio de políticas rigorosas de ar limpo;

•        Ampliar medidas para reduzir o tabagismo, como controle de preços, aumento da idade mínima de compra e proibições de fumar;

•        Reduzir o teor de açúcar e sal em alimentos vendidos em lojas e restaurantes.

“Estilos de vida saudáveis que envolvem exercícios regulares, não fumar, atividade cognitiva na meia-idade (incluindo educação formal externa) e evitar o excesso de álcool podem não apenas reduzir o risco de demência, mas também retardar o início da demência”, afirma Livingston.

“Portanto, se as pessoas desenvolverem demência, provavelmente viverão menos anos com ela. Isso tem enormes implicações na qualidade de vida dos indivíduos, bem como benefícios de economia de custos para as sociedades”, completa.

<><> Avanços em pesquisa e necessidade de mais suporte

O relatório também discute os avanços em relação ao diagnóstico preciso, como os exames de sangue que usam biomarcadores sanguíneos, e ao tratamento, como os anticorpos anti-amiloides β.

Outro ponto discutido pelo documento é a necessidade de mais suporte para pessoas que vivem com demência e para suas famílias. Os autores enfatizam que, em muitos países, intervenções eficazes conhecidas por beneficiar pessoas com demência ainda não estão disponíveis ou são uma prioridade, incluindo intervenções de atividade que proporcionam prazer e reduzem os sintomas neuropsiquiátricos.

Os autores observam que, embora quase todas as evidências para demência ainda venham de países de alta renda, agora há mais evidências e intervenções de países de baixa e média renda, mas as intervenções geralmente precisam ser modificadas para melhor apoiar diferentes culturas, crenças e ambientes.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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