Quem está vencendo a guerra dos chips?
segundo Chris Miller
A luta pelo domínio da
tecnologia de chips entre EUA e China está remodelando a geopolítica global.
Chris Miller analisa os desafios e os impactos dessa corrida.
A crescente tensão
entre Estados Unidos e China pela supremacia tecnológica tem colocado a
indústria de chips no centro de uma guerra estratégica. Chips não apenas
impulsionam dispositivos como smartphones e carros, mas também controlam
tecnologias essenciais, de brinquedos infantis a reatores nucleares. Em
entrevista ao podcast “The Economics Show” com Soumaya Keynes, para o site do
Financial Times, o especialista Chris Miller, autor do livro Chip War:
The Fight for the World’s Most Critical Technology, oferece uma visão
detalhada sobre essa disputa e seus impactos globais.
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A posição dos EUA na
guerra dos chips
Miller explica que, há
cinco anos, os EUA estavam em uma posição relativamente confortável na guerra
dos chips, com uma nota de 8 em uma escala de 1 a 10. Atualmente, essa posição
caiu para 6, devido à ascensão competitiva da China. Ele ressalta que essa
guerra não se resume apenas a EUA e China; envolve uma cadeia de suprimentos
global que inclui países como Taiwan, Japão e Holanda. Taiwan, em particular, é
um ator central, produzindo 90% dos chips de última geração do mundo.
Segundo Miller, a
queda de posição dos EUA se deve principalmente às políticas do governo chinês.
Nos últimos 10 anos, a China fez grandes esforços para se tornar
autossuficiente na produção de chips, um movimento que envolveu maciços
investimentos e planos industriais.
·
A ameaça à cadeia de
suprimentos
Miller destaca dois
grandes riscos para os EUA. O primeiro é a dependência dos chips fabricados em
Taiwan, que, em caso de conflito na região, deixaria os EUA sem acesso a
componentes críticos. O segundo é a ligação direta entre a qualidade dos chips
e a capacidade de treinar sistemas avançados de inteligência artificial (IA). A
perda de acesso a chips de última geração, portanto, impactaria tanto a
economia quanto as aplicações militares e de inteligência.
Se os EUA perdessem
acesso à produção de chips em Taiwan, Miller prevê uma ruptura imediata na
produção de smartphones, computadores e infraestrutura de telecomunicações. Ele
destaca que, além dos chips de alta tecnologia, a escassez de chips de baixa tecnologia,
usados em itens cotidianos como escovas de dentes e carros, causaria a maior
disrupção no PIB global.
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O papel dos chips no
domínio militar e econômico
Os chips são
essenciais para o desenvolvimento de sistemas autônomos e para o treinamento de
IA, o que dá às potências que dominam essa tecnologia uma vantagem estratégica
significativa. Tanto os EUA quanto a China reconhecem a importância dos chips
na guerra tecnológica, e a corrida para desenvolver IA de ponta está
diretamente ligada à capacidade de produção de chips avançados.
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As políticas da China
e os objetivos dos EUA
A China é hoje o maior
importador de chips do mundo, gastando tanto em chips quanto em petróleo. A
dependência chinesa de importações de chips provenientes de países como Taiwan,
Coreia do Sul, Japão e EUA torna o país vulnerável. Isso motivou a China a buscar
autossuficiência na produção de chips.
Miller descreve três
objetivos principais para os EUA nesta corrida:
- Manter a liderança tecnológica com aliados como Taiwan,
Japão e Holanda.
- Diversificar a base de manufatura para reduzir a
dependência de Taiwan.
- Evitar que a China se torne dominante na produção de chips
de baixa tecnologia.
Esses objetivos exigem
diferentes ferramentas políticas, como o Chips Act, que tem como foco
incentivar a produção doméstica de chips nos EUA.
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O avanço da China e
seus desafios
Miller reconhece que a
China tem sido bem-sucedida em aumentar a produção de chips, mas destaca que o
avanço na produção de chips de alta tecnologia continua sendo um desafio. Ele
compara essa corrida com uma “corrida sem fim”, em que a inovação constante é
essencial para manter a liderança.
O sucesso da China em
alcançar uma autossuficiência parcial depende de sua capacidade de produzir
chips de baixa tecnologia, algo mais fácil de alcançar do que o desenvolvimento
de chips de ponta, que estão em constante evolução tecnológica. A China está
investindo pesadamente em fundos nacionais e regionais para impulsionar sua
indústria de semicondutores.
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Controles de
exportação e o papel dos EUA
Os EUA têm imposto
controles de exportação para impedir que a China obtenha ferramentas avançadas
de fabricação de chips. Miller observa que esses controles tiveram algum
sucesso, especialmente no caso de ferramentas de litografia de ponta, que são
cruciais para a produção de chips avançados. Contudo, a China tem explorado
formas de contornar essas restrições, utilizando ferramentas de menor
tecnologia para produzir chips de maior capacidade, embora de forma menos
eficiente.
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A coordenação
internacional
A cadeia de
suprimentos global para a fabricação de chips é altamente interligada, com
países como os EUA, Japão e Holanda desempenhando papéis-chave na produção de
equipamentos de fabricação. Embora existam rivalidades comerciais, há uma ampla
coordenação internacional que dificulta o avanço da China na cadeia de valor
dos semicondutores. Isso é exemplificado pelo alinhamento de vários países
contra a China, um fenômeno que, segundo Miller, não era esperado há 10 anos.
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O futuro da guerra dos
chips
Miller conclui que a
corrida por chips de alta tecnologia está longe de acabar. Ele vê os
investimentos ocidentais em tecnologia de chips como uma espécie de “seguro”
contra uma potencial crise no Estreito de Taiwan, que poderia causar trilhões
de dólares em perdas econômicas globais. Esse tipo de investimento, mesmo que
caro, é visto como necessário para evitar disrupções massivas na cadeia de
suprimentos.
Ele também acredita
que a política dos EUA em relação aos chips continuará a ser bipartidária,
independentemente do resultado das eleições presidenciais, uma vez que há um
consenso geral sobre a importância da liderança tecnológica e da diversificação
da cadeia de suprimentos.
A entrevista termina
com Miller afirmando que, embora a China tenha feito grandes avanços, os EUA e
seus aliados ainda mantêm uma vantagem significativa na guerra dos chips, mas
que essa vantagem só poderá ser mantida por meio de constante inovação e coordenação
internacional.
¨ China ameaça retaliação na guerra dos chips contra holandeses e
japoneses
Mídia estatal chinesa
e autoridades ameaçaram retaliar contra os Países Baixos e o Japão, pedindo que
esses países não aceitem os pedidos de Washington para intensificar os
controles de exportação de chips para a China. O Global Times,
porta-voz do Partido Comunista Chinês, afirmou que, se o governo holandês
seguir as ordens dos EUA para interromper serviços de manutenção de máquinas de
litografia de ultravioleta profundo (DUV) de última geração, Pequim tomará
medidas correspondentes, como “impor restrições comerciais ou buscar
fornecedores alternativos, além de reavaliar sua cooperação com os Países
Baixos em áreas globais”.
Esses comentários
surgem após o Bloomberg relatar, em 29 de agosto, que o
primeiro-ministro holandês Dick Schoof provavelmente não renovará certas
licenças da ASML para manutenção e fornecimento de peças na China quando
expirarem no final deste ano, sob pressão dos Estados Unidos.
O governo Biden tem
considerado a aplicação da Regra de Produto Direto Estrangeiro (FDPR), que
impede outros países de exportar produtos com tecnologia originária dos EUA
para a China. Schoof declarou que as conversas com os EUA estão em andamento,
mas enfatizou a importância dos interesses econômicos da ASML.
A Holanda não é o
único país a sentir a pressão. Autoridades chinesas teriam avisado empresas
japonesas de que Pequim retaliaria se o Japão reforçar os controles de
exportação de chips. Executivos da Toyota Motor manifestaram preocupação de que
a China poderia restringir o acesso do Japão a minerais essenciais para a
produção automotiva.
Desde janeiro deste
ano, o governo holandês parou de emitir licenças para a venda dos sistemas de
litografia DUV mais avançados da ASML para a China. No entanto, as fabricantes
de chips chinesas ainda podem adquirir essas máquinas de terceiros, enquanto a
ASML deve continuar fornecendo serviços de manutenção e peças.
A mídia chinesa
afirmou que as restrições terão um impacto significativo no setor de chips da
China, pois as máquinas afetadas são cruciais para a fabricação de chips de 7
nanômetros. Especialistas alertam que, sem os serviços da ASML, algumas dessas
máquinas poderão parar de funcionar já no próximo ano, o que resultaria em
prejuízos tanto para a indústria chinesa quanto para a ASML.
O Global Times também
comentou que essa medida de Washington intensificará a instabilidade
geopolítica, aprofundando o atrito nas relações China-EUA e China-Holanda.
Fonte: O Cafezinho
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