terça-feira, 3 de setembro de 2024

Por que alergias alimentares estão cada vez mais comuns

Leite, ovos, amendoim, trigo: muita gente entra em pânico só de olhar para esses alimentos, já que, para essas pessoas, o consumo deles pode até ser fatal. Muitos também são alérgicos a avelãs, soja e crustáceos, entre outros. E esse número está crescendo.

De acordo com um estudo recente do Imperial College de Londres, o número estimado de novos casos de alergias alimentares no Reino Unido dobrou em dez anos: de 76 casos por 100 mil pessoas em 2008 para 160 casos por 100 mil  pessoas em 2018, o que significa que cerca de 1,1% da população do Reino Unido é alérgica a algum alimento.

Entretanto, esse não é um problema exclusivamente britânico. De acordo com uma análise publicada em 2023, 8% das crianças e 10% da população adulta em todo o mundo sofrem de alergias alimentares. A maioria das pessoas afetadas vive em países e cidades industrializadas.

<><> O que é uma alergia?

No caso de uma alergia, o sistema imunológico reage de forma inadequada a uma substância que normalmente é inofensiva. Essa reação imunológica pode se manifestar na forma de erupções cutâneas, inchaço, náusea, febre ou asma.

Às vezes, a reação imunológica desencadeada é tão forte que pode levar a um choque anafilático e, portanto, a um colapso circulatório com risco de vida. De acordo com uma análise publicada em 2021 no Journal of Allergy and Clinical Immunology, nozes, leite de vaca e crustáceos são os desencadeadores mais comuns de anafilaxia em todo o mundo.

Em vista do perigo potencial à vida representado pelas alergias alimentares, os pesquisadores consideram os números crescentes alarmantes. Um agravante, segundo o estudo britânico, é que pessoas em áreas mais pobres têm potencialmente menos acesso a medicamentos de emergência que salvam vidas.

<><> Como se desenvolve uma alergia alimentar?

A predisposição genética desempenha um papel importante no desenvolvimento de alergias alimentares. Filhos de pais com alergias têm um risco maior de se tornarem alérgicos. No entanto, os pesquisadores acreditam que a genética não é a resposta para tudo.

O número de alergias em ambientes urbanos e industrializados é maior do que em ambientes rurais e mais naturais. Por essa razão, uma das causas das alergias alimentares pode ser encontrada em nosso estilo de vida, diz Margitta Worm, professora de imunomodulação em doenças alérgicas do hospital Charité, em Berlim. "Vivemos em um ambiente com baixa contaminação microbiana", explica.

O que inicialmente parece ser uma boa notícia é, na verdade, um problema. Isso porque os micróbios influenciam as chamadas células T, que possuem muitos subgrupos diferentes.

"As chamadas células T auxiliares desempenham um papel decisivo nas alergias", explica Worm. São elas que desencadeiam a resposta imunológica excessiva no caso de uma alergia.

"Os micróbios promovem a formação de células T em uma direção que neutraliza a alergia." E eles não são apenas mais comuns em fazendas do que na cidade, como também são mais encontrados em alimentos frescos do que em ultraprocessados.

Portanto, os pesquisadores acreditam firmemente que o microbioma intestinal desempenha um papel decisivo no desenvolvimento de alergias alimentares. Em outras palavras: uma dieta pobre não é apenas a causa de muitas doenças, mas também uma possível porta de entrada para as alergias.

•                                         Como podemos evitar alergias alimentares?

"A maneira mais segura é evitar o alimento em questão", diz Worm. "Mas há pessoas que são alérgicas a um farelo de amendoim, por exemplo". Nesses casos, elas devem ter sempre um kit de emergência com adrenalina, que desobstrui as vias aéreas no caso de uma reação alérgica e estabiliza a circulação, combatendo assim o choque anafilático.

Durante muito tempo, os médicos aconselhavam as mulheres grávidas a evitar alérgenos, como o amendoim, e também a mantê-los longe de crianças pequenas. "Mas estudos mostraram que evitar aumenta o risco de alergias." As mulheres grávidas podem reduzir o risco de alergias dos filhos os amamentando e comendo o máximo possível de alimentos frescos e menos processados.

Uma dieta saudável desde cedo também pode reduzir o risco de alergias.

Se, apesar de todos os esforços, surgir uma alergia alimentar, as opções de tratamento ainda são limitadas.

<><> As alergias alimentares podem ser tratadas?

Durante muito tempo, houve pouco progresso no desenvolvimento de medicamentos eficazes para alergias alimentares, diz Worm. Entre outras coisas, os fabricantes têm se esquivado dos riscos associados aos testes clínicos em pacientes para verificar a eficácia de um medicamento.

A imunoterapia, como a usada para a febre do feno(também conhecida como rinite alérgica sazonal), só está disponível para alergias a amendoim, informa Worm. Isso envolve a exposição gradual das pessoas afetadas a doses cada vez mais altas do alérgeno para aumentar a tolerância do sistema imunológico. De acordo com Worm, a terapia só é aprovada para jovens entre quatro e 18 anos de idade.

Nos EUA, o medicamento de anticorpos Xolair também foi aprovado para o tratamento de todos os tipos de alergias alimentares desde o início de 2024. Esse medicamento se liga ao anticorpo do tipo imunoglobina E (IgE), que desencadeia a reação alérgica, e o enfraquece. O risco de reações alérgicas graves é reduzido. Entretanto, esse medicamento também não cura em definitivo a alergia alimentar.

 

•                                         Jejum intermitente: novo estudo mostra que estratégia pode aumentar risco de morte

O jejum intermitente se tornou uma estratégia alimentar popular para reduzir peso. Os praticantes do jejum ficam algumas horas sem comer ao longo do dia, alternando entre períodos de alimentação e de abstinência alimentar.

O método ganhou uma popularidade significativa por seus possíveis benefícios à saúde, incluindo perda de peso e melhora da saúde metabólica.

que o jejum seja considerado somente uma estratégia para reduzir a quantidade de calorias consumidas -, um estudo apresentado na conferência de 2024 da American Heart Association descobriu uma associação impressionante entre a restrição alimentar no tempo (uma forma de jejum intermitente) e um aumento do risco de morte relacionada a doenças cardiovasculares.

A pesquisa analisou dados de mais de 20.000 adultos participantes dos Inquéritos Nacionais de Saúde e Nutrição (NHANES) de 2003 a 2018.

O foco principal eram indivíduos que praticavam um esquema de restrição alimentar de 8 horas, que envolve consumir todas as refeições em uma janela de 8 horas e jejuar pelas 16 horas restantes.

Indivíduos que aderiam a essa janela alimentar de 8 horas exibiram um risco 91% maior de morrer por doença cardiovascular em comparação com aqueles que distribuíam suas refeições por um período de 12-16 horas.

Entre os participantes com doença cardiovascular ou câncer existentes, aqueles que restringiram sua alimentação a menos de 10 horas por dia também enfrentaram riscos aumentados de mortalidade, com um risco 66% maior de morrer por doença cardíaca ou derrame observado para aqueles que comiam dentro de uma janela de 8-10 horas.

O estudo destacou que a duração mais curta da refeição não se correlacionou com um risco reduzido de morte por outras causas, indicando uma ligação específica com a saúde cardiovascular.

"Ficamos surpresos ao descobrir que, em comparação com pessoas cuja duração da alimentação era de 12 a 16 horas... aquelas que restringiam seu tempo de alimentação em 8 horas por dia tinham maior risco de morte cardiovascular e não viviam mais", disse o autor principal do estudo, Victor Wenze Zhong, professor de epidemiologia e bioestatística na Faculdade de Medicina da Universidade Jiao Tong de Xangai, ao site estadunidense LiveScience.

Ele contemporiza: "é muito cedo para dar uma recomendação específica sobre [alimentação com restrição de tempo] com base em nosso estudo também", afirma

Essas descobertas são particularmente significativas dada a crescente popularidade da restrição alimentar no tempo como um meio de melhorar os resultados de saúde.

Embora estudos anteriores tenham sugerido que o jejum intermitente pode melhorar os marcadores de saúde cardiometabólica, como pressão arterial e níveis de colesterol, essa nova evidência sugere que os efeitos a longo prazo podem ser prejudiciais, especialmente para indivíduos com condições de saúde preexistentes.

Especialistas alertam que estudos observacionais como este não podem estabelecer definitivamente a causalidade. O risco aumentado associado a uma janela alimentar de 8 horas pode surgir de vários fatores de confusão, como qualidade geral da dieta, níveis de atividade física e outras escolhas de estilo de vida.

Além disso, os participantes podem ter limitado sua janela alimentar devido a problemas de saúde, em vez de seguir intencionalmente um regime de jejum.

 

Fonte: Deutsche Welle/Fórum

 

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