terça-feira, 10 de setembro de 2024


 

Os detalhes da operação que prendeu Deolane Bezerra em esquema de lavagem de dinheiro

O Fantástico respondeu à pergunta que muita gente fez essa semana: por que a influenciadora e advogada Deolane Bezerra foi presa numa operação da polícia em cinco estados brasileiros contra a lavagem de dinheiro? Qual o envolvimento dela nesse suposto esquema?

A justiça bloqueou, ao todo, 2 bilhões de reais de mais de 50 pessoas e empresas. Os detalhes inéditos dessa investigação estão na reportagem de Maurício Ferraz e Bruno Fontes.

Na última quarta-feira (4), Deolane e a mãe dela - Solange Bezerra - foram presas em um hotel no Recife. No dia anterior ela havia postado vídeos visitando os parentes em Vitória de Santo Antão, a 46 quilômetros dali.

Depois da prisão, Daniele Bezerra foi às redes sociais falar sobre a inocência da irmã Deolane e da mãe dela. “O que nós sabemos sobre isso, e os advogados, é que é um processo relacionado à empresa Esportes da Sorte. Ainda não sabemos o real motivo disso. Mais uma vez minha família está sendo perseguida. Vamos provar a nossa inocência. Custe o que custar”, afirmou.

        O início da investigação

Para a polícia, a história começa com a apreensão de um saco de dinheiro de jogo do bicho em 2022. Os 180 mil reais - e um caderno com anotações - estavam em uma banca de jogos no Recife que pertence a Darwin Henrique da Silva, segundo a polícia, um bicheiro conhecido na cidade.

No mesmo esquema apareceu Darwin Henrique da Silva Filho, que é filho do bicheiro e dono da plataforma de apostas Esportes da Sorte, que é legalizada e tem sua sede em Curaçao, uma ilha do Caribe.

Quem aposta na plataforma, faz depósitos via pix para uma outra empresa, a Pay Brokers – Facilitadora de Pagamentos, com sede em Curitiba.

        Apreensão de bens

A Justiça determinou o sequestro de imóveis e o bloqueio de 2 milhões de reais de Darwin pai e de 40 milhões de reais de Darwin Filho.

Ao todo, 53 pessoas físicas e jurídicas (empresas) são investigadas, nesse esquema de lavagem de dinheiro, pela Polícia Civil de Pernambuco.

Para evitar que os valores fossem rastreados, o dinheiro ilegal era repassado de conta em conta várias vezes, até voltar ao mercado como se não fosse de origem criminosa. Outra forma de lavar essa fortuna era com a compra de imóveis, carros importados e aviões.

        Avião

Um avião, da empresa Balada Eventos e Produções LTDA, faz parte do esquema de lavagem de dinheiro, segunda a investigação. A empresa pertence ao cantor Gusttavo Lima.

A ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil), afirma que há um processo de transferência de propriedade da aeronave em curso.

De acordo com as investigações, a Balada também está envolvida no esquema de lavagem de dinheiro de apostas ilegais com as empresas de José André da Rocha Neto, da Paraíba. Foi uma das empresas de Rocha Neto - a JMJ - que comprou o avião de Gusttavo Lima. A prisão do empresário Rocha Neto foi decretada na mesma operação, mas ele é considerado foragido porque estava fora do Brasil – com Gusttavo Lima, na Grécia.

        Defesa dos acusados

A defesa de José André da Rocha Neto diz que não há qualquer indício de sua participação em atos ilícitos e que seu patrimônio é declarado e regular.

O advogado do cantor Gusttavo Lima disse em nota que a Balada Eventos apenas vendeu um avião para uma das empresas investigadas. A operação de compra e venda seguiu todas as normas legais e isso está sendo devidamente provado para a autoridade policial e poder judiciário.

Destaca também que Gusttavo Lima apenas mantém contrato de uso de imagem em prol da marca VAIDEBET (uma das empresas de Rocha Neto) e que a Balada Eventos e Gusttavo Lima não fazem parte de nenhum esquema de organização criminosa de exploração de jogos ilegais e lavagem de dinheiro.

        Deolane

Somando o dinheiro bloqueado de toda a operação - os valores passam de 2 bilhões de reais. Nesse montante está o patrimônio de Deolane Bezerra, que foi presa esta semana.

Deolane Bezerra foi presa junto da mãe em Recife — Foto: Reprodução

Em vídeos na internet, Deolane faz propaganda para a Esporte da Sorte, plataforma de Darwin Filho.

“Você tem influencers, aquelas pessoas com milhões de seguidores. Se aquela pessoa vai na sua rede social e diz que aquilo é bom, que ela ganhou muito dinheiro jogando, quando não é verdade. O dinheiro que ela ganha não é jogando, é pago pela bet pra ela passar uma mensagem”, afirma Alessandro Carvalho Liberato de Matos, Secretário de Defesa Social de Pernambuco.

A justiça determinou o bloqueio de R$ 20 milhões de Deolane e de R$ 14 milhões da empresa dela por lavagem de dinheiro. Na delegacia, a influenciadora afirmou que a renda mensal dela é de R$ 1,5 milhão.

Em julho deste ano, Deolane abriu uma empresa de apostas, ZEROUMBET, com capital de R$ 30 milhões. Segundo a polícia, a empresa foi aberta para lavar dinheiro de jogos ilegais. E a suspeita é de que a mãe de Deolane, Solange Bezerra, também teria sido usada no esquema. A justiça determinou o bloqueio de R$ 3 milhões das contas dela.

O Fantástico esteve nos três endereços informados pela Pay Brokers, empresa que intermedia a movimentação financeira do grupo investigado, em Curitiba e não encontrou nenhum responsável.

        O que dizem os acusados

Darwin pai está foragido. A defesa dele disse que no dia da operação ele não estava em casa porque cumpria agenda profissional. Agora, aguarda o julgamento do pedido de habeas corpus até tomar a decisão de se apresentar espontaneamente ou não.

Darwin filho se apresentou à polícia. Em nota, ele disse que todos os seus rendimentos foram declarados e nega que a empresa dele - a Esportes da Sorte - tenha ligação com jogo do bicho.

A defesa de Deolane Bezerra mantém plena confiança na justiça e segue trabalhando incansavelmente pelo restabelecimento de sua liberdade, convicta de que sua inocência será plenamente comprovada.

        Como funcionava, segundo a polícia, o esquema que prendeu Deolane?

Para a polícia, a história começa com a apreensão de um saco de dinheiro de jogo do bicho em 2022. Os R$ 180 mil - e um caderno com anotações - estavam em uma banca de jogos no Recife que pertence a Darwin Henrique da Silva, segundo a polícia, um bicheiro conhecido na cidade.

No mesmo esquema apareceu Darwin Filho, que é filho do bicheiro e dono da plataforma de apostas Esportes da Sorte, que é legalizada e tem sua sede em Curaçao, uma ilha do Caribe.

Quem aposta na plataforma, faz depósitos via pix para uma outra empresa, a Pay Brokers – Facilitadora de Pagamentos, com sede em Curitiba.

“É uma estrutura ilegal de jogos que estava se beneficiando da estrutura legal para o branqueamento de capitais. A origem dos principais sócios dessa organização foi o jogo do bicho. Quando surgiu a bet e a bet foi legalizada, nós vimos a migração de pessoas que tinham sua atividade no jogo do bicho, que é ilegal, migrando para a bet”, conta Alessandro Carvalho Liberato de Mattos, secretário de Defesa Social de Pernambuco.

Em vídeos na internet, Deolane faz propaganda para a Esporte da Sorte, plataforma de Darwin Filho.

“Você tem influencers, aquelas pessoas com milhões de seguidores. Se aquela pessoa vai na sua rede social e diz que aquilo é bom, que ela ganhou muito dinheiro jogando, quando não é verdade. O dinheiro que ela ganha não é jogando, é pago pela bet pra ela passar uma mensagem”, afirma Matos.

A Justiça determinou o bloqueio de R$ 20 milhões de Deolane e de R$ 14 milhões da empresa dela por suspeita de lavagem de dinheiro. Na delegacia, a influenciadora afirmou que a renda mensal dela é de R$ 1,5 milhão.

Em julho deste ano, Deolane abriu uma empresa de apostas com capital de R$ 30 milhões. Segundo a polícia, a empresa foi aberta para lavar dinheiro de jogos ilegais. E a suspeita é de que a mãe de Deolane, Solange Bezerra, também teria sido usada no esquema. A Justiça determinou o bloqueio de R$ 3 milhões das contas de Solange.

Em 2022, Deolane foi alvo de busca e apreensão pela Polícia Civil de São Paulo por suspeita de ter relação com a Betzord, outra empresa de apostas esportivas na internet. Na época, a Betzord era investigada por "crime contra a economia popular e associação criminosa".

“É uma rede que se espalha de uma maneira muito rápida, e o dinheiro flui para dentro dessas organizações de uma forma muito rápida. Então, foi visto de uma forma clara que esse grupo criminoso explorava também jogos que não são legais, como o jogo do Tigrinho, e isso era canalizado para dentro da estrutura para legalizar”, afirma Matos.

Para evitar que os valores fossem rastreados, o dinheiro ilegal era repassado de conta em conta várias vezes, até voltar ao mercado como se não fosse de origem criminosa. Outra forma de lavar essa fortuna era com a compra de imóveis, carros importados e aviões. Segundo a polícia, o patrimônio de alguns dos investigados era incompatível com as rendas declaradas.

<><> Mudança nas bets

Desde 2018, as apostas de quotas fixas - as bets - são autorizadas no Brasil. Mas a maioria desses sites de apostas hoje está hospedada em outros países e oferece seus serviços aos brasileiros pela internet. A partir de janeiro de 2025, haverá mudanças.

“Nós vamos ter total controle de quem são os apostadores, quais são os meios de pagamento que esses apostadores estão se utilizando. Nós vamos ter regras muito claras de combate à lavagem de dinheiro. Nós temos regras também de proteção do apostador. Sabemos qual é o volume financeiro que esses apostadores estão gastando nas casas de apostas. Elas vão ser monitoradas e elas vão ser fiscalizadas pelo Ministério da Fazenda”, afirma Régis Dudena, secretário de prêmios e apostas do Ministério da Fazenda.

        Deolane Bezerra escreve nova carta e afirma que 'não há uma prova sequer' contra ela

A empresária Deolane Bezerra, presa em operação contra lavagem de dinheiro e jogos ilegais, escreveu uma carta, publicada no Instagram na noite deste domingo (9), em que afirma não haver prova contra ela. No mesmo dia em que foi presa, ela divulgou a primeira carta.

"Agradeço imensamente o carinho e o apoio de todos, tenham certeza que não irão se arrepender, afirmo com todo o respeito que tenho por vocês, sou inocente e não há uma prova sequer", diz no trecho final da carta escrita à mão.

Segundo o Ministério da Justiça e Segurança Pública, cerca de R$ 3 bilhões foram movimentados por uma quadrilha que usava empresas de eventos e casas de câmbio para lavar dinheiro de jogos ilegais, e Deolane participava desse esquema. O grupo foi alvo da terceira fase da operação "Integration", deflagrada na quarta-feira (4).

Foram expedidos 19 mandados de prisão e 24 mandados de busca e apreensão para cumprimento em seis estados: Pernambuco, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Paraíba e São Paulo. A mãe de Deolane, Solange Bezerra, também está presa. As duas aguardam que o Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) defina quem deve julgar o pedido de liberdade feito pela defesa delas.

Justiça determinou o bloqueio de R$ 20 milhões de Deolane e de R$ 14 milhões da empresa dela por suspeita de lavagem de dinheiro. Na delegacia, a influenciadora afirmou que a renda mensal dela é de R$ 1,5 milhão.

Em julho deste ano, Deolane abriu uma empresa de apostas com capital de R$ 30 milhões. Segundo a polícia, a empresa foi aberta para lavar dinheiro de jogos ilegais. E a suspeita é de que a mãe de Deolane, Solange Bezerra, também teria sido usada no esquema. A Justiça determinou o bloqueio de R$ 3 milhões das contas de Solange.

Em 2022, Deolane foi alvo de busca e apreensão pela Polícia Civil de São Paulo por suspeita de ter relação com a Betzord, outra empresa de apostas esportivas na internet. Na época, a Betzord era investigada por "crime contra a economia popular e associação criminosa".

<><> Origem da investigação

Um relatório da Polícia Civil aponta que as investigações da Operação "Integration", que prendeu a influenciadora Deolane Bezerra e a mãe dela, começaram em abril de 2023 após a apreensão de R$ 180.176,45 na banca de jogo do bicho Caminho da Sorte, localizada no Recife e que pertence a Darwin Henrique da Silva, pai do dono da bet Esportes da Sorte, que foi preso na quinta-feira (5) após se apresentar à polícia.

Em vídeos na internet, Deolane faz propaganda para a Esporte da Sorte.

O documento, de 7 de junho do ano passado, descreve a apreensão do dinheiro em espécie realizada em 1º de dezembro de 2022, no bairro de Afogados, na Zona Oeste do Recife. No local, foi encontrado um caderno com anotações diárias das apostas e dos prêmios pagos do jogo do bicho e de futebol. No relatório, ao qual o g1 teve acesso, os policiais relatam que a banca também oferecia a opção de apostas em jogos esportivos.

O documento também aponta que, no site da Esportes da Sorte, havia a informação de que a página é operada pelo HSF GAMING N.V, registrada em Curaçao. Quem aposta na plataforma, faz depósitos via pix para uma outra empresa, a Pay Brokers – Facilitadora de Pagamentos, com sede em Curitiba.

“Tal situação é uma burla contra a legislação brasileira, pois o site de apostas afirma que é hospedado em Curaçao, ilha caribenha próxima à Venezuela, pertencente à Holanda, um paraíso fiscal, mas que, na verdade, a Esportes da Sorte é do Recife, os clientes podem apostar em toda loja física da banca de bicho Caminho da Sorte e o CTO [diretor de tecnologia] e criador da HSF GAMING N.V, nasceu na capital pernambucana e aqui reside”, acrescentou o relatório.

Darwin Henrique da Silva Filho e a esposa, Maria Eduarda Filizola, se entregaram à polícia na quinta-feira (5). Antes de se apresentar em uma delegacia e ser preso, o dono da Esportes da Sorte divulgou uma carta aberta. No texto, ele disse que foi surpreendido com o mandado de prisão preventiva e está com a consciência tranquila.

A defesa do casal pediu habeas corpus para os dois, que segue sob análise do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE).

De acordo com o inquérito, a organização criminosa usava várias empresas de eventos, publicidades, casas de câmbio e seguros para lavagem de dinheiro realizada por meio de depósitos e transações bancárias.

Os recursos foram movimentados por meio de aplicações financeiras e dinheiro em espécie, provenientes de jogos ilegais. Segundo o secretário de Defesa Social de Pernambuco, Alessandro Carvalho, as casas de apostas investigadas na operação contratavam influenciadores digitais para promover jogos de azar, que são proibidos por lei.

O dinheiro, conforme apontou a apuração, era lavado por meio de depósitos fracionados em espécie, transações bancárias entre os investigados com saque imediato do montante, compra de veículos de luxo, aeronaves, embarcações, joias, relógio de luxo, além da compra de centenas de imóveis.

Foram identificadas transações atípicas de pessoas físicas e jurídicas, que caracterizam indícios de crimes financeiros, sem suporte para as transações comerciais e financeiras feitas pelo grupo. Isso porque, para os investigadores, a maioria dos integrantes tem padrão de vida incompatível com a renda e bens declarados.

<><> Prisão de Deolane

        Deolane Bezerra mora em São Paulo, mas nasceu em Vitória de Santo Antão, na Zona da Mata de Pernambuco. Ela estava no estado em viagem com a família quando foi presa;

        Após a prisão, mãe e filha foram levadas para o Departamento de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Depatri), em Afogados, na Zona Oeste na cidade. A mãe de Deolane chegou a passar mal e precisou ser levada para um hospital particular da cidade para ser atendida;

        Em depoimento à polícia após a prisão, Deolane confirmou que recebia dinheiro da casa de apostas Esportes da Sorte por meio de contratos de publicidade;

        Disse também que comprou um carro de luxo do CEO da empresa, Darwin Henrique da Silva Filho;

        Deolane e a mãe estão presas na Colônia Penal Feminina do Recife, no bairro da Iputinga, na Zona Oeste.

<><> O que dizem as defesas de Deolane e Esportes da Sorte

O escritório da advogada Adélia Soares, que defende Deolane e Solange, publicou uma nota nas redes sociais em que diz que a investigação é sigilosa e que a empresária está à disposição das autoridades. Já em carta publicada no Instagram, a influenciadora afirmou que está sofrendo "uma grande injustiça" e que ela e a família são vítimas de preconceito.

Também procurada, a Esportes da Sorte disse, por meio de nota, que:

        Ratifica o compromisso com a verdade, "com o jogo responsável e, principalmente, com o cumprimento de todos os seus deveres legais";

        A casa de apostas está "de portas abertas" para apresentar documentos, esclarecer dúvidas e prestar "apoio irrestrito" a qualquer ação investigatória;

        Atua sempre com transparência e está sem acesso aos autos do inquérito e às razões da ação policial.

 

Fonte: g1

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