Os detalhes da operação que prendeu Deolane
Bezerra em esquema de lavagem de dinheiro
O Fantástico respondeu
à pergunta que muita gente fez essa semana: por que a influenciadora e advogada
Deolane Bezerra foi presa numa operação da polícia em cinco estados brasileiros
contra a lavagem de dinheiro? Qual o envolvimento dela nesse suposto esquema?
A justiça bloqueou, ao
todo, 2 bilhões de reais de mais de 50 pessoas e empresas. Os detalhes inéditos
dessa investigação estão na reportagem de Maurício Ferraz e Bruno Fontes.
Na última quarta-feira
(4), Deolane e a mãe dela - Solange Bezerra - foram presas em um hotel no
Recife. No dia anterior ela havia postado vídeos visitando os parentes em
Vitória de Santo Antão, a 46 quilômetros dali.
Depois da prisão,
Daniele Bezerra foi às redes sociais falar sobre a inocência da irmã Deolane e
da mãe dela. “O que nós sabemos sobre isso, e os advogados, é que é um processo
relacionado à empresa Esportes da Sorte. Ainda não sabemos o real motivo disso.
Mais uma vez minha família está sendo perseguida. Vamos provar a nossa
inocência. Custe o que custar”, afirmou.
• O início da investigação
Para a polícia, a
história começa com a apreensão de um saco de dinheiro de jogo do bicho em
2022. Os 180 mil reais - e um caderno com anotações - estavam em uma banca de
jogos no Recife que pertence a Darwin Henrique da Silva, segundo a polícia, um
bicheiro conhecido na cidade.
No mesmo esquema
apareceu Darwin Henrique da Silva Filho, que é filho do bicheiro e dono da
plataforma de apostas Esportes da Sorte, que é legalizada e tem sua sede em
Curaçao, uma ilha do Caribe.
Quem aposta na
plataforma, faz depósitos via pix para uma outra empresa, a Pay Brokers –
Facilitadora de Pagamentos, com sede em Curitiba.
• Apreensão de bens
A Justiça determinou o
sequestro de imóveis e o bloqueio de 2 milhões de reais de Darwin pai e de 40
milhões de reais de Darwin Filho.
Ao todo, 53 pessoas
físicas e jurídicas (empresas) são investigadas, nesse esquema de lavagem de
dinheiro, pela Polícia Civil de Pernambuco.
Para evitar que os
valores fossem rastreados, o dinheiro ilegal era repassado de conta em conta
várias vezes, até voltar ao mercado como se não fosse de origem criminosa.
Outra forma de lavar essa fortuna era com a compra de imóveis, carros
importados e aviões.
• Avião
Um avião, da empresa
Balada Eventos e Produções LTDA, faz parte do esquema de lavagem de dinheiro,
segunda a investigação. A empresa pertence ao cantor Gusttavo Lima.
A ANAC (Agência
Nacional de Aviação Civil), afirma que há um processo de transferência de
propriedade da aeronave em curso.
De acordo com as
investigações, a Balada também está envolvida no esquema de lavagem de dinheiro
de apostas ilegais com as empresas de José André da Rocha Neto, da Paraíba. Foi
uma das empresas de Rocha Neto - a JMJ - que comprou o avião de Gusttavo Lima.
A prisão do empresário Rocha Neto foi decretada na mesma operação, mas ele é
considerado foragido porque estava fora do Brasil – com Gusttavo Lima, na
Grécia.
• Defesa dos acusados
A defesa de José André
da Rocha Neto diz que não há qualquer indício de sua participação em atos ilícitos
e que seu patrimônio é declarado e regular.
O advogado do cantor
Gusttavo Lima disse em nota que a Balada Eventos apenas vendeu um avião para
uma das empresas investigadas. A operação de compra e venda seguiu todas as
normas legais e isso está sendo devidamente provado para a autoridade policial
e poder judiciário.
Destaca também que
Gusttavo Lima apenas mantém contrato de uso de imagem em prol da marca VAIDEBET
(uma das empresas de Rocha Neto) e que a Balada Eventos e Gusttavo Lima não
fazem parte de nenhum esquema de organização criminosa de exploração de jogos ilegais
e lavagem de dinheiro.
• Deolane
Somando o dinheiro
bloqueado de toda a operação - os valores passam de 2 bilhões de reais. Nesse
montante está o patrimônio de Deolane Bezerra, que foi presa esta semana.
Deolane Bezerra foi
presa junto da mãe em Recife — Foto: Reprodução
Em vídeos na internet,
Deolane faz propaganda para a Esporte da Sorte, plataforma de Darwin Filho.
“Você tem influencers,
aquelas pessoas com milhões de seguidores. Se aquela pessoa vai na sua rede
social e diz que aquilo é bom, que ela ganhou muito dinheiro jogando, quando
não é verdade. O dinheiro que ela ganha não é jogando, é pago pela bet pra ela
passar uma mensagem”, afirma Alessandro Carvalho Liberato de Matos, Secretário
de Defesa Social de Pernambuco.
A justiça determinou o
bloqueio de R$ 20 milhões de Deolane e de R$ 14 milhões da empresa dela por
lavagem de dinheiro. Na delegacia, a influenciadora afirmou que a renda mensal
dela é de R$ 1,5 milhão.
Em julho deste ano,
Deolane abriu uma empresa de apostas, ZEROUMBET, com capital de R$ 30 milhões.
Segundo a polícia, a empresa foi aberta para lavar dinheiro de jogos ilegais. E
a suspeita é de que a mãe de Deolane, Solange Bezerra, também teria sido usada
no esquema. A justiça determinou o bloqueio de R$ 3 milhões das contas dela.
O Fantástico esteve
nos três endereços informados pela Pay Brokers, empresa que intermedia a
movimentação financeira do grupo investigado, em Curitiba e não encontrou
nenhum responsável.
• O que dizem os acusados
Darwin pai está
foragido. A defesa dele disse que no dia da operação ele não estava em casa
porque cumpria agenda profissional. Agora, aguarda o julgamento do pedido de
habeas corpus até tomar a decisão de se apresentar espontaneamente ou não.
Darwin filho se
apresentou à polícia. Em nota, ele disse que todos os seus rendimentos foram
declarados e nega que a empresa dele - a Esportes da Sorte - tenha ligação com
jogo do bicho.
A defesa de Deolane
Bezerra mantém plena confiança na justiça e segue trabalhando incansavelmente
pelo restabelecimento de sua liberdade, convicta de que sua inocência será
plenamente comprovada.
• Como funcionava, segundo a polícia, o
esquema que prendeu Deolane?
Para a polícia, a
história começa com a apreensão de um saco de dinheiro de jogo do bicho em
2022. Os R$ 180 mil - e um caderno com anotações - estavam em uma banca de
jogos no Recife que pertence a Darwin Henrique da Silva, segundo a polícia, um
bicheiro conhecido na cidade.
No mesmo esquema
apareceu Darwin Filho, que é filho do bicheiro e dono da plataforma de apostas
Esportes da Sorte, que é legalizada e tem sua sede em Curaçao, uma ilha do
Caribe.
Quem aposta na
plataforma, faz depósitos via pix para uma outra empresa, a Pay Brokers –
Facilitadora de Pagamentos, com sede em Curitiba.
“É uma estrutura
ilegal de jogos que estava se beneficiando da estrutura legal para o
branqueamento de capitais. A origem dos principais sócios dessa organização foi
o jogo do bicho. Quando surgiu a bet e a bet foi legalizada, nós vimos a
migração de pessoas que tinham sua atividade no jogo do bicho, que é ilegal,
migrando para a bet”, conta Alessandro Carvalho Liberato de Mattos, secretário
de Defesa Social de Pernambuco.
Em vídeos na internet,
Deolane faz propaganda para a Esporte da Sorte, plataforma de Darwin Filho.
“Você tem influencers,
aquelas pessoas com milhões de seguidores. Se aquela pessoa vai na sua rede
social e diz que aquilo é bom, que ela ganhou muito dinheiro jogando, quando
não é verdade. O dinheiro que ela ganha não é jogando, é pago pela bet pra ela
passar uma mensagem”, afirma Matos.
A Justiça determinou o
bloqueio de R$ 20 milhões de Deolane e de R$ 14 milhões da empresa dela por
suspeita de lavagem de dinheiro. Na delegacia, a influenciadora afirmou que a
renda mensal dela é de R$ 1,5 milhão.
Em julho deste ano,
Deolane abriu uma empresa de apostas com capital de R$ 30 milhões. Segundo a
polícia, a empresa foi aberta para lavar dinheiro de jogos ilegais. E a
suspeita é de que a mãe de Deolane, Solange Bezerra, também teria sido usada no
esquema. A Justiça determinou o bloqueio de R$ 3 milhões das contas de Solange.
Em 2022, Deolane foi
alvo de busca e apreensão pela Polícia Civil de São Paulo por suspeita de ter
relação com a Betzord, outra empresa de apostas esportivas na internet. Na
época, a Betzord era investigada por "crime contra a economia popular e
associação criminosa".
“É uma rede que se
espalha de uma maneira muito rápida, e o dinheiro flui para dentro dessas
organizações de uma forma muito rápida. Então, foi visto de uma forma clara que
esse grupo criminoso explorava também jogos que não são legais, como o jogo do
Tigrinho, e isso era canalizado para dentro da estrutura para legalizar”,
afirma Matos.
Para evitar que os
valores fossem rastreados, o dinheiro ilegal era repassado de conta em conta
várias vezes, até voltar ao mercado como se não fosse de origem criminosa.
Outra forma de lavar essa fortuna era com a compra de imóveis, carros
importados e aviões. Segundo a polícia, o patrimônio de alguns dos investigados
era incompatível com as rendas declaradas.
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Mudança nas bets
Desde 2018, as apostas
de quotas fixas - as bets - são autorizadas no Brasil. Mas a maioria desses
sites de apostas hoje está hospedada em outros países e oferece seus serviços
aos brasileiros pela internet. A partir de janeiro de 2025, haverá mudanças.
“Nós vamos ter total
controle de quem são os apostadores, quais são os meios de pagamento que esses
apostadores estão se utilizando. Nós vamos ter regras muito claras de combate à
lavagem de dinheiro. Nós temos regras também de proteção do apostador. Sabemos
qual é o volume financeiro que esses apostadores estão gastando nas casas de
apostas. Elas vão ser monitoradas e elas vão ser fiscalizadas pelo Ministério
da Fazenda”, afirma Régis Dudena, secretário de prêmios e apostas do Ministério
da Fazenda.
• Deolane Bezerra escreve nova carta e
afirma que 'não há uma prova sequer' contra ela
A empresária Deolane
Bezerra, presa em operação contra lavagem de dinheiro e jogos ilegais, escreveu
uma carta, publicada no Instagram na noite deste domingo (9), em que afirma não
haver prova contra ela. No mesmo dia em que foi presa, ela divulgou a primeira
carta.
"Agradeço
imensamente o carinho e o apoio de todos, tenham certeza que não irão se
arrepender, afirmo com todo o respeito que tenho por vocês, sou inocente e não
há uma prova sequer", diz no trecho final da carta escrita à mão.
Segundo o Ministério
da Justiça e Segurança Pública, cerca de R$ 3 bilhões foram movimentados por
uma quadrilha que usava empresas de eventos e casas de câmbio para lavar
dinheiro de jogos ilegais, e Deolane participava desse esquema. O grupo foi
alvo da terceira fase da operação "Integration", deflagrada na
quarta-feira (4).
Foram expedidos 19
mandados de prisão e 24 mandados de busca e apreensão para cumprimento em seis
estados: Pernambuco, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Paraíba e São Paulo. A mãe de
Deolane, Solange Bezerra, também está presa. As duas aguardam que o Tribunal de
Justiça de Pernambuco (TJPE) defina quem deve julgar o pedido de liberdade
feito pela defesa delas.
Justiça determinou o
bloqueio de R$ 20 milhões de Deolane e de R$ 14 milhões da empresa dela por
suspeita de lavagem de dinheiro. Na delegacia, a influenciadora afirmou que a
renda mensal dela é de R$ 1,5 milhão.
Em julho deste ano,
Deolane abriu uma empresa de apostas com capital de R$ 30 milhões. Segundo a
polícia, a empresa foi aberta para lavar dinheiro de jogos ilegais. E a
suspeita é de que a mãe de Deolane, Solange Bezerra, também teria sido usada no
esquema. A Justiça determinou o bloqueio de R$ 3 milhões das contas de Solange.
Em 2022, Deolane foi
alvo de busca e apreensão pela Polícia Civil de São Paulo por suspeita de ter
relação com a Betzord, outra empresa de apostas esportivas na internet. Na
época, a Betzord era investigada por "crime contra a economia popular e
associação criminosa".
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Origem da investigação
Um relatório da
Polícia Civil aponta que as investigações da Operação "Integration",
que prendeu a influenciadora Deolane Bezerra e a mãe dela, começaram em abril
de 2023 após a apreensão de R$ 180.176,45 na banca de jogo do bicho Caminho da
Sorte, localizada no Recife e que pertence a Darwin Henrique da Silva, pai do
dono da bet Esportes da Sorte, que foi preso na quinta-feira (5) após se
apresentar à polícia.
Em vídeos na internet,
Deolane faz propaganda para a Esporte da Sorte.
O documento, de 7 de
junho do ano passado, descreve a apreensão do dinheiro em espécie realizada em
1º de dezembro de 2022, no bairro de Afogados, na Zona Oeste do Recife. No
local, foi encontrado um caderno com anotações diárias das apostas e dos prêmios
pagos do jogo do bicho e de futebol. No relatório, ao qual o g1 teve acesso, os
policiais relatam que a banca também oferecia a opção de apostas em jogos
esportivos.
O documento também
aponta que, no site da Esportes da Sorte, havia a informação de que a página é
operada pelo HSF GAMING N.V, registrada em Curaçao. Quem aposta na plataforma,
faz depósitos via pix para uma outra empresa, a Pay Brokers – Facilitadora de
Pagamentos, com sede em Curitiba.
“Tal situação é uma
burla contra a legislação brasileira, pois o site de apostas afirma que é
hospedado em Curaçao, ilha caribenha próxima à Venezuela, pertencente à
Holanda, um paraíso fiscal, mas que, na verdade, a Esportes da Sorte é do
Recife, os clientes podem apostar em toda loja física da banca de bicho Caminho
da Sorte e o CTO [diretor de tecnologia] e criador da HSF GAMING N.V, nasceu na
capital pernambucana e aqui reside”, acrescentou o relatório.
Darwin Henrique da
Silva Filho e a esposa, Maria Eduarda Filizola, se entregaram à polícia na
quinta-feira (5). Antes de se apresentar em uma delegacia e ser preso, o dono
da Esportes da Sorte divulgou uma carta aberta. No texto, ele disse que foi
surpreendido com o mandado de prisão preventiva e está com a consciência
tranquila.
A defesa do casal
pediu habeas corpus para os dois, que segue sob análise do Tribunal de Justiça
de Pernambuco (TJPE).
De acordo com o
inquérito, a organização criminosa usava várias empresas de eventos,
publicidades, casas de câmbio e seguros para lavagem de dinheiro realizada por
meio de depósitos e transações bancárias.
Os recursos foram
movimentados por meio de aplicações financeiras e dinheiro em espécie,
provenientes de jogos ilegais. Segundo o secretário de Defesa Social de
Pernambuco, Alessandro Carvalho, as casas de apostas investigadas na operação
contratavam influenciadores digitais para promover jogos de azar, que são
proibidos por lei.
O dinheiro, conforme
apontou a apuração, era lavado por meio de depósitos fracionados em espécie,
transações bancárias entre os investigados com saque imediato do montante,
compra de veículos de luxo, aeronaves, embarcações, joias, relógio de luxo,
além da compra de centenas de imóveis.
Foram identificadas
transações atípicas de pessoas físicas e jurídicas, que caracterizam indícios
de crimes financeiros, sem suporte para as transações comerciais e financeiras
feitas pelo grupo. Isso porque, para os investigadores, a maioria dos integrantes
tem padrão de vida incompatível com a renda e bens declarados.
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Prisão de Deolane
• Deolane Bezerra mora em São Paulo, mas
nasceu em Vitória de Santo Antão, na Zona da Mata de Pernambuco. Ela estava no
estado em viagem com a família quando foi presa;
• Após a prisão, mãe e filha foram levadas
para o Departamento de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Depatri), em
Afogados, na Zona Oeste na cidade. A mãe de Deolane chegou a passar mal e
precisou ser levada para um hospital particular da cidade para ser atendida;
• Em depoimento à polícia após a prisão,
Deolane confirmou que recebia dinheiro da casa de apostas Esportes da Sorte por
meio de contratos de publicidade;
• Disse também que comprou um carro de
luxo do CEO da empresa, Darwin Henrique da Silva Filho;
• Deolane e a mãe estão presas na Colônia
Penal Feminina do Recife, no bairro da Iputinga, na Zona Oeste.
<><> O que
dizem as defesas de Deolane e Esportes da Sorte
O escritório da
advogada Adélia Soares, que defende Deolane e Solange, publicou uma nota nas
redes sociais em que diz que a investigação é sigilosa e que a empresária está
à disposição das autoridades. Já em carta publicada no Instagram, a
influenciadora afirmou que está sofrendo "uma grande injustiça" e que
ela e a família são vítimas de preconceito.
Também procurada, a
Esportes da Sorte disse, por meio de nota, que:
• Ratifica o compromisso com a verdade,
"com o jogo responsável e, principalmente, com o cumprimento de todos os
seus deveres legais";
• A casa de apostas está "de portas
abertas" para apresentar documentos, esclarecer dúvidas e prestar
"apoio irrestrito" a qualquer ação investigatória;
• Atua sempre com transparência e está sem
acesso aos autos do inquérito e às razões da ação policial.
Fonte: g1
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