quarta-feira, 11 de setembro de 2024

O combate a incêndios florestais frente à mudança climática

As chamas devastam as florestas há milhões de anos, mas os incêndios florestais que assolam o Brasil e vários outros países do mundo são sem precedentes, queimando por mais tempo e a temperaturas mais altas, em parte devido às mudanças climáticas.

A menor incidência de chuvas e as secas mais prolongadas deixam as florestas tão ressecadas que a simples queda de um raio pode gerar um pequeno foco, que rapidamente se transforma em um inferno antes que equipes de combate ao fogo consigam conter os danos.

O Brasil enfrenta atualmente a maior seca da história, segundo o Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden) divulgou no final de agosto. O número recorde de focos de incêndio fez também com que a fumaça, oriunda principalmente do fogo na Amazônia, encobrisse o céu em todo o país. Metereologistas acreditam que ela possa chegar à Argentina e ao Uruguai. E o Brasil concentra atualmente 76% dos incêndios em toda a América do Sul, com mais de 5 mil focos em todo o país.

<><> Incêndios no mundo

No início de agosto, grandes incêndios consumiram florestas no oeste do Canadá e dos Estados Unidos, forçando a retirada de dezenas de milhares de habitantes. Alimentado pelo vento e o calor, o foco da Califórnia já é maior do que Los Angeles medindo mais de 1.200 quilômetros quadrados.

No Canadá, um incêndio que se deslocou rapidamente devastou Jasper e o parque nacional circundante, na província de Alberta, destruindo pelo menos um terço dos edifícios da cidade. O parque é parte de uma área declarada Patrimônio Mundial pela Unesco, e conhecido por suas Rocky Mountains.

"Qualquer bombeiro vai lhe dizer que há pouco ou nada a fazer quando uma parede fogo como essa está vindo na sua direção", afirma Mike Ellis, secretário de Segurança Pública de Alberta. "Ninguém antecipou que o incêndio viria tão rápido, tão grande assim."

Fogo alimentado pela mudança climática já devastou o Canadá em 2023, consumindo cerca de 18,4 milhões de hectares de vegetação e lançando gigantescas nuvens de fumaça sobre partes dos EUA. Em meados do mesmo ano, grandes incêndios irromperam igualmente na Itália, Grécia e Espanha.

Do outro lado do mundo, os megaincêndios na Austrália em 2019 e 2020 devastaram quase 24 milhões de hectares, queimando também florestas que anteriormente eram capazes de resistir ao fogo.

Enquanto continuarmos a aquecer o planeta com a queima de combustíveis fósseis, a tendência é que a ocorrência desses incêndios se agrave, colocando em risco vidas humanas e de animais selvagens.

"Não estamos no caminho certo para a redução de riscos", afirmava, em agosto de 2022, Hamish Clarke, pesquisador da escola de ecossistemas e ciências florestais da Universidade de Melbourne, na Austrália. "Precisamos urgentemente mudar de rumo e reduzir de maneira séria as emissões de gases causadores do efeito estufa."

Clarke é coautor de um artigo sobre o risco de queimadas na Austrália, segundo o qual "as mudanças climáticas excedem a capacidade de adaptação de nossos sistemas ecológico e social". No texto, os autores afirmam que o gerenciamento de incêndios florestais chegou a uma "encruzilhada".

Relacionamos abaixo três áreas fundamentais nas quais o gerenciamento de incêndios tenta se adaptar à nova realidade climática.

<><> Combater fogo com fogo

A queima controlada ou "prescrita" da vegetação de florestas, realizada com maior frequência nos meses mais frios do ano, ajuda a diminuir os danos dos incêndios florestais no verão ao reduzir a quantidade disponível de lenha e gravetos capazes de dar impulso ao fogo.

Em nações propensas a incêndios como Estados Unidos, Canadá, Austrália, França, Portugal, Espanha e África do Sul, essa estratégia de gerenciamento do fogo vem sendo testada e utilizada há décadas.

Também chamada de redução de danos, a técnica é "bastante eficiente em diminuir a intensidade e a gravidade dos incêndios", afirma Víctor Resco de Dios, professor de engenharia florestal da Universidade de Lleida, na Espanha.

Mas, para que possa ser um antídoto eficaz, a queima controlada sob temperaturas amenas deve ser feita em uma "escala espacial bastante grande", afirma o engenheiro florestal.

Na Europa, onde especialmente os países da região do Mar Mediterrâneo, como a Grécia, sofrem incêndios florestais bastante graves durante o verão na região, Resco de Dios sugere que uma redução substancial dos riscos exigiria uma queima controlada em uma área de 1,5 milhão de hectares.

Contudo, um problema atual da queima controlada é o aumento dos riscos em razão dos efeitos gerados pelas mudanças climáticas.

Após uma operação de queima controlada do Novo México, em maio de 2022, ter se transformado num dos piores incêndios florestais da história do estado americano, o Serviço Florestal dos EUA anunciou a suspensão dessas operações nas florestas nacionais em todo o país, mesmo que aquele tenha sido um caso raro.

<><> Queima de baixa intensidade pelos povos originários

Durante milhares de anos, antes das invasões europeias, os povos originários dos EUA e da Austrália utilizavam uma forma de queimada controlada para reduzir a vegetação inflamável.

Eles praticavam uma "queima de baixa intensidade" nos meses mais frios para reduzir a ameaça de incêndios que criava um terreno com um tipo de cobertura de grama amadeirada, semelhante a um parque, que também preservava a biodiversidade.

Isso foi descrito pelos autores de um artigo de 2022, que também destacaram o "risco catastrófico gerado pelo gerenciamento não indígena de controle de queimadas", no qual o fogo é suprimido em vez de ser gerenciado.

A negação das técnicas indígenas significa que "as florestas australianas possuem mais material inflamável do que antes da invasão britânica", disseram os pesquisadores.

Desde que retomaram a posse de suas terras nativas nos anos 1990, os povos aborígenes vem praticando com sucesso o gerenciamento de incêndios na região de Kimberly, no norte da Austrália, durante a estação de tempo frio e seco.

<><> Vigilância com satélites e drones

Ainda que o melhor seja a prevenção, a tecnologia se torna cada vez mais importante no combate aos megaincêndios.

Satélites administrados por agências como a Nasa ajudam as equipes de bombeiros a se manterem atualizadas em relação à movimentação das chamas ao redor do planeta. Mais recentemente, os drones se tornaram uma importante ferramenta de combate ao fogo.

Um projeto em andamento na Finlândia, onde 75% da superfície é coberta por florestas, vem tornando mais fácil rastrear os incêndios em fase inicial.

"Desenvolvemos uma tecnologia de drones através da inteligência artificial para detectar com rapidez os incêndios florestais e possibilitar o conhecimento da situação no combate às chamas", explica a professora do Instituto de Pesquisa Geoespacial (NLS) da Finlândia, Eija Honkavaara, que integra o grupo de pesquisa do projeto chamado de Consórcio FireMan.

Após a queima de 400 mil hectares de floresta na Europa em 2019, foi registrado um aumento de 25% no ano seguinte. Víctor Resco de Dios calcula que a região da Europa Central, mais quente e seca, "começará a vivenciar megaincêndios nas próximas décadas".

"Os drones podem nos ajudar a fornecer informações em tempo real sobre como a linha de fogo progride e o quão altas são as chamas", afirma Honkavaara.

Ao mesmo tempo em que os drones fornecer informações em tempo real, também são equipados com sensores que podem enxergar através da fumaça para detectar a dimensão exata de um incêndio. O único obstáculo é a necessidade de uma conexão sólida de internet móvel em áreas remotas.

<><> Proteger as florestas dos efeitos do clima

"Incêndios florestais ocorrem na Terra há 420 milhões de anos, a vegetação está adaptada a eles", sublinha Victor Resco de Dios. Mesmo assim, as propriedades regenerativas das florestas podem não ser mais suficientes.

Especialistas avaliam que os ecossistemas de florestas recém-vulneráveis precisam ser adaptados aos incêndios frequentes através do plantio de espécies mais resistentes ao clima e à seca.

"Devemos levar em conta o clima no futuro e plantar espécies de locais mais secos", aponta Resco de Dios. "Isso quer dizer que não devemos plantar espécies nativas, mas aquelas que crescem em regiões mais quentes, que conseguirão se adaptar ao clima das próximas décadas."

Após um inquérito sobre os incêndios no verão de 2019-2020 na Austrália, pesquisadores concluíram que a "regeneração efetiva" de mais de 250 espécies de plantas se tornou menos provável devido à maior frequência de incêndios florestais em seus habitats.

"Devemos considerar que, até a virada do século, o clima se tornará inadequado para muitas espécies que crescem atualmente, e temos que começar a nos planejar para isso", destaca Resco de Dios.

Isso deve exigir um monitoramento da regeneração das florestas décadas após elas queimarem. "Se apenas plantarmos árvores e nos esquecermos delas, estaremos plantando futuros incêndios florestais", alerta.

 

¨      Seca e ribeirinhos revelam fósseis de gigantes na Amazônia

Debaixo de um limoeiro, uma peça rara aguarda seu destino. É um pedaço das vértebras de um Purussaurus, o maior jacaré que pisou no planeta e viveu na Amazônia há mais de 10 milhões de anos. Gerimar do Nascimento guardou a relíquia a poucos metros de sua casa, às margens do rio Purus, no sul do Amazonas. Ela estava à mostra num barranco quando foi avistada pelo ribeirinho do seu barco durante um trajeto corriqueiro que percorre sempre quando vai para Boca do Acre, cidade mais próxima.

"Eu vi aquela parte de osso e sabia que não era do nosso tempo", conta Geri, como é conhecido na região.

No quintal de sua casa, ele acompanha atentamente a explicação de tudo o que a ciência feita na Amazônia já registrou sobre aquela espécie. Quem relata as descobertas científicas é Carlos D'Apólito, professor do Centro de Ciências Biológicas e da Natureza da Universidade Federal do Acre (Ufac), que fez questão de ir até a comunidade resgatar o fóssil e compartilhar o conhecimento.

"São três vértebras articuladas. Não é comum achá-las assim, uma do lado da outra", diz D'Apólito sob o pé carregado de limão. "Isso pode ajudar a ciência a entender melhor a anatomia da espécie, entender em que parte da coluna vertebral ela estaria", continua.

Dali, a peça será transportada até o Laboratório de Pesquisas Paleontológicas da Ufac, em Rio Branco, será estudada minuciosamente e pode ajudar no avanço do conhecimento. O nome de Geri agora vai aparecer junto com aquela parte do Purussaurus. Esse é um dos raros casos em que a identidade de quem localizou um fóssil é conhecida e documentada, diz o pesquisador.

"Existe uma parcela do trabalho de campo que acaba sendo feito por pessoas que não são formalmente paleontólogos, que ficam como invisíveis, e que, às vezes, não aparecem nem nos agradecimentos", afirma D'Apólito.

Feliz com o reconhecimento e especialista na navegação daquele trecho do Purus, Geri diz ter certeza de que há mais para ser revelado de onde ele retirou aquelas vértebras.

<><> Fósseis nas barrancas

Perto do local, um grupo de sete pesquisadores concentra as buscas por vestígios de vidas passadas. Eles fazem parte da expedição liderada por D'Apólito e se surpreendem a cada remexida na terra.

A temporada seca na Amazônia é a época em que os paleontólogos deixam os laboratórios e saem para a coleta com boas chances de localizarem fósseis nas margens expostas. O nível do Purus nesta temporada está bem abaixo da média, dizem os barqueiros que transportavam a equipe durante os três dias de campo. O Brasil enfrenta atualmente a maior seca da história, segundo o Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden).

Outras partes do jacaré gigante estão por ali: vértebras isoladas, crânio, dentes. A espécie, chamada de Purussaurus brasiliensis, o "réptil brasileiro do rio Purus", foi batizada pelo botânico João Barbosa Rodrigues, em 1892. Ele fez a descrição a partir de um pedaço de mandíbula encontrado nas barrancas, mas, até hoje, não se sabe bem em que circunstâncias o fóssil foi encontrado e sua localidade exata.

Os pesquisadores desta expedição sabem bem onde estão. As buscas acontecem perto de uma faixa de terra reivindicada pelo povo Apurinã. Acostumados a ver fósseis ali quando o rio baixa, os indígenas acreditam que são ossadas antigas despejadas por uma cobra gigante que devora animais e que se esconde no Purus.

Sentado no barranco, Edson Guilherme, professor da Ufac, se espanta com o que acaba de desenterrar. É o crânio de uma tartaruga com duas órbitas oculares, narina e mandíbula associada – uma espécie ainda desconhecida da ciência. "Somos os primeiros seres humanos a ver o crânio desta espécie no mundo. Isso é emocionante", diz Guilherme, embalando o fóssil com cuidado para que resista ao transporte.

Camila Inara Silva, aluna de mestrado da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), é a estreante da turma. As aulas em campo com os mais experientes fazem ela ter certeza de que a paleontologia é o caminho que quer seguir.

<>< Portal para o tempo

O veterano Alceu Ranzi também se impressiona com o crânio inédito encontrado. Aposentado depois de atuar mais de trinta anos na UFAC, ele acompanha o grupo que reúne várias gerações de paleontólogos dedicados a decifrar as espécies extintas e soterradas debaixo da Floresta Amazônica.

O local onde Ranzi caminha é um afloramento de uma deposição do Mioceno, período geológico que a Terra viveu entre 23 milhões e 5 milhões de anos atrás. O planeta estava mais quente e esta região amazônica era um grande pantanal, com lagos imensos que abrigavam Purussaurus e outros gigantes. Com fragmentos fósseis na mão, Ranzi imagina o cenário em que esses animais conviviam – ou competiam. "Estamos caminhando no fundo de um grande lago. Aqui tinha uma fauna riquíssima: jacarés, tartarugas, preguiças, roedores, todos gigantes", diz Ranzi.

No Mioceno, os dinossauros tinham sido extintos há cerca de 40 milhões de anos. Os seres humanos ainda não existiam. Os crocodilos, que dividiram o terreno com os dinossauros e são parentes do Purussaurus, se adaptaram e sobreviveram, assim como os grandes mamíferos. A Floresta Amazônica exuberante, possivelmente, ainda não existia.

"Quando esta água dos grandes lagos drenou e os rios se formaram, se encaminharam descendo dos Andes até o Atlântico, esta área perdeu a umidade e a floresta cobriu tudo. Só ficou o caminho dos rios atuais", explica Ranzi.

Ele segura agora parte do fêmur de uma preguiça gigante. Ela pesava várias toneladas, caminhava pelo chão e era herbívora. Diversas espécies desses animais terrícolas gigantes existiram por milhões de anos, inclusive na época do Purussaurus.

"Ela possivelmente veio tomar água neste lago e um Purussaurus estava à espreita e a devorou. É por isso que aparecem fossilizadas dentro de um lago – porque esse não é o ambiente delas. Elas foram trazidas ou predadas aqui", imagina Ranzi.

<><> "Uau"

De todas as preguiças conhecidas, a Eremotherium laurillardi foi a maior. Ela pesava cerca de cinco toneladas e media aproximadamente seis metros de comprimento. Em pé, alcançava quase cinco metros de altura. Essa espécie viveu num período mais "recente" da história da Terra, entre 2,6 milhões e 10 mil anos atrás.

São partes desse animal que D'Apólito recebe em caixas de papelão em Boca do Acre durante a expedição. Elas foram localizadas por um casal de idosos na comunidade de Maracaju 2, a cinco horas de barco da cidade na época seca. Eles encaminharam os fósseis para o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio), que guardou as peças até a chegada dos pesquisadores.

A tíbia bem conservada da Eremotherium laurillardi impressiona e intriga os moradores da cidade que assistem à cena da entrega às margens do Purus. D'Apólito explica à plateia curiosa que aquela preguiça gigante andou por ali e chegou a conviver com seres humanos. A reação em coro é: "Uau".

Desta vez, o pesquisador não consegue visitar os coletores desses fragmentos devido à distância, mas responde à curiosidade dos ribeirinhos. "É uma preguiça que estava aqui por volta de 20, 15, 10 mil anos atrás. E eles eram grandes, muito grandes. Muito obrigado pelos fósseis, pela coleta, nós recebemos o material", diz a mensagem de voz enviada ao casal ribeirinho.

<><> Passado esclarecido para entender o futuro

Foram doações como essa que iniciaram a coleção que o laboratório da Ufac mantém desde meados dos anos de 1970. Muitas das atuais 10 mil peças foram recebidas por Jonas Pereira de Souza Filho, paleontólogo aposentado e ex-reitor da universidade.

Aluno de Ranzi, Souza Filho fez seu primeiro trabalho de campo em 1986 na fronteira com o Peru e teve uma grande estreia: encontrou o crânio de Purussaurus mais completo que se conhecia. O fóssil, hoje exposto no museu da universidade, foi retirado com ajuda das marteladas de Marinho, como o grupo chamava o barqueiro local que guiava a expedição.

"Até então, os fósseis na Amazônia eram explorados apenas por pessoas que vinham de fora, levavam as peças e não deixavam registros no local. Nós começamos a colocar a paleontologia da Amazônia no mapa do Brasil e do mundo", avalia o acreano Souza Filho, lembrando o trabalho pioneiro do professor Ranzi.

Na ânsia de decifrar a história da vida na Amazônia, os pesquisadores também conseguem compreender melhor o presente e até projetar o futuro. A ciência mostra, por exemplo, que mudanças climáticas ocorreram antes da presença do homem no planeta, mas nada se compara ao que tem acontecido na Terra desde a era industrial. A temperatura média global subiu 1,4 °C nos últimos 200 anos e o clima está se alterando rápido demais.

"Não dá tempo de a natureza acompanhar a evolução e ir se adaptando. Aconteceu algo no tempo dos dinossauros tão grave que eles não conseguiram se adaptar. A mudança hoje é tão grande que tudo está sucumbindo. O perigo é de levar à extinção, e não à adaptação. E o que foi extinto não retorna mais", pontua Ranzi.

Em sua comunidade às margens do Purus, Geri se preocupa ao ver o rio tão seco, o calor excessivo e a fumaça constante das queimadas. Ele diz que a descoberta do fóssil do Purussaurus reacendeu nele o antigo desejo de estudar para entender como este passado se relaciona com o momento atual.

"É um sonho. Preciso fazer uma faculdade para me especializar na área. Terminei o ensino médio com mais de 30 anos e me sentia velho para fazer uma faculdade. Mas esse encontro fez eu voltar a ter esperanças", diz à DW.

 

Fonte: Deutsche Welle

 

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