quinta-feira, 5 de setembro de 2024

Luís Nassif: ‘Musk e a conspiração da ultradireita’

O alerta foi dado por Pedro Costa Jr na TV GGN 20 horas. Há um conjunto preocupante de indícios de uma armação geral para o 7 de setembro e nas vésperas das eleições municipais.

Primeiro, foi a ofensiva da Folha de S. Paulo contra o Ministro Alexandre Moraes, em cima de arquivos de celular levantados no ano passado. O material foi enviado a Glenn Greenwald. Desde que foi censurado no The Intercept, em denúncia que escrevera sobre as ligações do filho de Joe Biden na Ucrânia, Glenn aproximou-se da ultradireita norte-americana e tornou-se habitual do programa de Tucker Carlson, o principal comentarista de ultradireita do país.

Em seguida, ampliam-se as provocações de Elon Musk contra Alexandre Moraes, até chegar ao enfrentamento final, que levou à retirada do X. Agora, está aproveitando o episódio para potencializar ao máximo os ataques a Moraes e estimular as manifestações de 7 de Setembro.

Não apenas isso. Parlamentares da ultradireita da Califórnia tentam emplacar uma legislação de represália ao Brasil. Musk acenou com a possibilidade de “apreensão recíproca” de ativos do estado brasileiro. Simultaneamente, os Estados Unidos apreenderam o avião de Nicolás Maduro.

Nesse mesmo curto período, militares brasileiros mostraram insatisfação com a interrupção dos serviços da Starlink – a empresa de satélites de Musk -, e com a interrupção de negociações com Israel, para adquirir tanques de guerra, em um momento de orçamento apertado.

Musk é essencialmente um empresário que depende dos estados nacionais. A Starlink é bancada pelo Departamento de Estado. O apoio de Musk a Milei tem como meta o controle das minas de lítio na Argentina.

Finalmente, Eduardo Bolsonaro, que atua como representante da ultradireita de Steve Bannon na América Latina, revogou a proibição de se atacar o Supremo nas manifestações do dia 7 de Setembro.

Matéria do The New York Times relata:

“Musk, 52, usou repetidamente uma parte de seu império empresarial — X, anteriormente conhecido como Twitter — para apoiar vocalmente políticos como Milei, Jair Bolsonaro do Brasil e Narendra Modi da Índia. Na plataforma, Musk apoiou suas visões sobre gênero, festejou sua oposição ao socialismo e confrontou agressivamente seus inimigos. Musk até interveio pessoalmente nas políticas de conteúdo do X de maneiras que pareciam ajudar Bolsonaro, disseram dois ex-funcionários do X”.

Ao mesmo tempo, Mark Zuckerberg, CEO da Meta, deu declarações reforçando as narrativas da ultradireita, sendo censurada. Na segunda-feira da semana passada, enviou carta ao Comitê Judiciário da Câmara, denunciando supostas “pressões” para censurar conteúdos durante a pandemia.

Há uma lógica nessa articulação e explica parte da sensação de poder de Musk:.

•        as grandes corporações sempre foram extensão do poder americano;

•        Hoje em dia, o único setor com predomínio norte-americano, além da defesa, são as grandes redes sociais.

•        Há uma relação umbilical das Forças Armadas brasileiras, tão umbilical e humilhante a ponto das comunicações serem transmitidas pelo sistema Starlink, que é bancado pelo Pentágono;

•        Há também uma ofensiva de estados nacionais – incluindo a União Europeia – para enquadrar as redes sociais. E a aliança natural será com o tal libertarismo da ultradireita nesses países.

<><> Como calar a Starlilnk

Agora, Musk amplia o confronto fazendo com que a Starlink transmita o conteúdo do X, contrariando as recomendações de Moraes.

Há condições concretas de impedir o sinal de Starlink, segundo Luis Antonio Bambace.

Segundo Bambace,

“O presidente da Anatel deu entrevista no Globonews e cometeu uma falha. Não dá para impedir a antena do usuário de mandar algo para o Starlink, mas dá para impedir um satélite do Starlink de receber dados do solo, o famoso jamming dos militares, ilumina na frequência das antenas do usuário um satélite com sinal muito forte, saturando a recepção. Aí nenhum usuário do satélite manda nada a ele, esteja ele no Brasil ou não. Como as antenas de matriz faseada dos usuários só olham para o satélite, jogar sinal forte na banda de recepção delas paralelo ao solo pode ser difícil. Mas dá para fazer jamming nos terminais com balões, dirigíveis e drones. Este segundo jamming é mais caro, mas só afeta os usuários de zonas restritas.

“As do solo sim, as de satélite são alvo fácil para antenas de Jamming de 6 metros, similares às parabólicas antigas, mas móveis. Jammeando metade dos satélites alguns minutos e trocando para outros, torna-se o uso inviável. O sistema não suporta intermitência. Mas por exemplo se ninguém mais usar a frequência do satélite no solo, faz-se uma transmissão abrangendo uma grande área, como fazem os sistemas de rádio e TV, um balão a 30 km de altura, onde ele pode ficar quase parado face a inversão de direção de ventos estratosféricas, com um sobe e desce pequeno para manter latitude e longitude, e ilumina todas as antenas no solo num raio de 600 km do ponto abaixo dele”.

E uma recomendação: “As forças armadas deveriam ter um sistema assim para impedir o uso destas redes em caso de ataque externo. Elas podem guiar drones como ocorre na guerra da Ucrânia”.

•        Musk e a ignorância ciclópica do Brasil

Seja digital ou em papel, sem ou com rede social, o país padece de uma ignorância endêmica, profunda. E, mais uma vez, demonstrou essa ignorância na repercussão inicial em relação à decisão do Ministro Alexandre Moraes, de intimar e, depois, suspender os serviços do X no Brasil.

Porque se exige de empresas estrangeiras uma sede local? São inúmeros fatores a que se chega com um mínimo de bom senso, sem precisar consultar códigos legais:

1.       Obrigações fiscais.

Se a empresa tem lucros no país, eles têm que ser tributados. E, para tributar, há a necessidade de um CNPJ nacional.

2.       Proteção ao consumidor.

A empresa tem clientes pessoas físicas e jurídicas. Logo, tem que se submeter ao código de defesa do consumidor. Se desobedecer a algum direito, o cliente tem a prerrogativa de processá-la. Se não tiver sede local, vai processar onde? Na corte de Nova York?

3.       Responsabilidade civil.

Da mesma maneira, a empresa precisa responder por danos causados ao meio ambiente, à paz social e a outros temas regulados. Para tanto, há a necessidade de uma sede local responder pelas ocorrências.

O que se lê, hoje, no primeiro time da imprensa mundial, é a defesa da posição de Alexandre Moraes, e uma crítica contra os desafios de Musk aos estados nacionais.

Mais que isso, nenhuma empresa pode atuar livremente para criar clima propício ao tumulto, sem responder perante a justiça do país.

<><> Vamos a um apanhado da imprensa tupiniquim sobre o tema:

# Estadão, de 09.04.2024

“O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes determinou que o empresário Elon Musk, dono da rede social X (antigo Twitter), fosse incluído no rol de investigados no longevo e vasto inquérito das “milícias digitais”. O crime que Musk teria cometido virou pecado capital por estas bandas: ele criticou as ordens de Moraes para suspender contas de bolsonaristas no X e afirmou que reativaria essas contas – o que ainda não fez. Só isso, basicamente. Mas foi o que bastou para irritar o mercurial ministro Moraes – cada vez mais parecido com a Rainha de Copas, a célebre tirana do País das Maravilhas que mandava cortar a cabeça de todo mundo que a contrariava”.

É inacreditável como a parcialidade política mergulha editorialistas no mais profundo pântano da ignorância. Foi só depois de verem a repercussão na imprensa estrangeira é que acendeu um mínimo de luz em cérebros carcomidos pelo terraplanismo de papel.

# A onda contra Musk se ergueu na imprensa de vários países. Como o francês Le Monde:

“Há poucas dúvidas sobre a responsabilidade parcial de X e do próprio Elon Musk na eclosão da violência em todo o Canal da Mancha, afirmam especialistas na luta contra o ódio online e a imprensa britânica . Ao reativar no final de 2023 os relatos de figuras da extrema direita mais dura, como o influente fundador da Liga de Defesa Inglesa, Tommy Robinson, “Elon Musk abriu as portas do Asilo Arkham [onde estão trancafiados criminosos perigosos no Batman universo] e libertou terroristas, pedófilos e extremistas de direita, estima Imran Ahmed, diretor da ONG Centro de Combate ao Ódio Digital (CCDH). Desde então, ele também se revelou o Coringa Chefe, o grande disseminador da desinformação”.

# O mesmo alerta foi feito pelo britânico The Guardian:

““Você vê essa reação em cadeia nesses canais de notícias alternativos, onde a desinformação pode se espalhar tão rapidamente e pode mobilizar as pessoas a tomarem as ruas – que então são propensas a usar a violência porque há essa raiva e essas emoções realmente profundas que estão, é claro, sendo amplificadas. E então, desses canais alternativos, é levado para X ou para as principais plataformas de mídia social.”

Este “ecossistema de informação alternativa” – que inclui Telegram, Bitchute, Parler e Gab – flui frequentemente de forma invisível sob a mídia convencional ou mesmo o cenário da mídia social. Ele provou ser um terreno fértil para ideologias de extrema direita, conspiração e extremistas que esta semana colidiram e mobilizaram pessoas para as ruas.

“Os políticos precisam parar de dizer ‘o mundo real’ em oposição ao ‘mundo online’”, disse Ressa. “Quantas vezes precisamos dizer isso? É a mesma coisa.”

Musk tem investido contra todos seus críticos. Quando não têm o amparo de estados nacionais, os críticos são esmagados por saraivadas de processos judiciais. Como as ações que abriu contra o Centro de Combate do Ódio Digital

<><> Lute contra Elon Musk

“O CCDH teve o processo infundado e intimidatório de Elon Musk contra nós rejeitado no tribunal! Esta é uma grande vitória para todos que trabalham para responsabilizar os gigantes da mídia social. Lutar contra o processo de Elon Musk nos custou milhares de dólares e atrasou nosso trabalho para responsabilizar os gigantes da mídia social. Ajude-nos a voltar aos trilhos. Apoie-nos hoje”.

A posição mais contundente foi de Robert Reich, ex-secretário do Trabalho dos Estados Unidos, em artigo para o The Guardian: “Ellon Musk está fora de controle”.

“Musk repostou uma versão falsa do primeiro vídeo de campanha de Kamala Harris com uma faixa de voz alterada soando como Harris e dizendo que ela não “sabe nada sobre como administrar o país” e é a “contratação de diversidade definitiva”. Musk marcou o vídeo como “incrível”. Ele tem centenas de milhões de visualizações até agora.

O secretário de estado de Michigan acusou o America Pac apoiado por Musk de enganar as pessoas para que compartilhem dados pessoais. Embora o site do Pac prometa ajudar os usuários a se registrarem para votar, ele supostamente pede aos usuários em estados de campo de batalha que deem seus nomes e números de telefone sem direcioná-los a um site de registro de eleitores – e então usa essas informações para enviar a eles anúncios anti-Harris e pró-Trump.

De acordo com um novo relatório do Center for Countering Digital Hate, o próprio Musk postou 50 falsas alegações eleitorais no X até agora neste ano. Elas tiveram um total de 1,2 bilhão de visualizações. Nenhuma delas tinha uma “nota da comunidade” do suposto sistema de verificação de fatos do X”.

Este é o personagem enaltecido pelos editoriais de jornais.

 

•        Gleisi: 'o STF deu uma resposta soberana para a rede social de Elon Musk'

A presidente nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), destacou nesta terça-feira (3) a importância de o Supremo Tribunal Federal determinar o bloqueio das contas bancárias e dos ativos financeiros da Starlink, empresa de banda larga via satélite do bilionário de extrema-direita Elon Musk.

"Unanimidade na Turma do STF reforçou a resposta soberana do Brasil às molecagens de Elon Musk. Ele e suas empresas que aprendam a respeitar as leis e a Justiça em nosso país. E se a Starlink persistir na ilegalidade, que se vá também. Ninguém é insubstituível", escreveu a parlamentar.

O ministro do STF, Alexandre de Moraes, havia dado um prazo para que o empresário indicasse um representante legal da rede social X no Brasil, para facilitar negociações entre a Justiça e a plataforma, com o objetivo de implementar medidas de combate a fake news e discursos de ódio. Musk deveria ter feito a nomeação até a última quinta-feira (29).

O bilionário tem atacado verbalmente o ministro do STF, uma estratégia usada por políticos da extrema-direita no Brasil e nos Estados Unidos. Críticas ao Judiciário são uma das táticas do norte-americano Steve Bannon, 69 anos, que tentou, na última década, fazer partidos de direita chegarem ao poder nos EUA e em outros países. Em janeiro de 2021, quando o então presidente Donald Trump (Partido Republicano) perdeu a eleição, vários apoiadores invadiram o Legislativo e acusaram o sistema eleitoral de ser fraudulento.

No Brasil, Jair Bolsonaro (PL) e seus apoiadores fizeram vários ataques verbais ao Judiciário, para tentar passar à população a mensagem de que o Supremo dificultava a governabilidade. O político de extrema-direita defendeu a participação das Forças Armadas na apuração do resultado da eleição presidencial de 2022.

Atualmente, Bolsonaro está inelegível por fake news, após decisão do Tribunal Superior Eleitoral em 2023. No ano anterior, o então mandatário fez uma acusação sem provas e afirmou a embaixadores, em Brasília (DF), que o sistema eleitoral brasileiro não tem segurança contra fraudes.

Unanimidade na Turma do STF reforçou a resposta soberana do Brasil às molecagens de Elon Musk. Ele e suas empresas que aprendam a respeitar as leis e a Justiça em nosso país. E se a Starlink persistir na ilegalidade, que se vá também. Ninguém é insubstituível. — Gleisi Hoffmann (@gleisi.bsky.social) Sep 3, 2024 at 13:47

•        Elon Musk usa o X como instrumento político contra o STF para se fazer de vítima no Brasil, dizem ministros do STF

Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) ouvidos por Andréia Sadi, do g1, afirmam que Elon Musk tem usado a plataforma X (antigo Twitter) como ferramenta política para confrontar a Justiça brasileira. Para os magistrados, o bilionário estaria intencionalmente buscando conflitos com o STF para alimentar uma narrativa de perseguição política no Brasil.

Um dos exemplos citados pelos ministros é a recente tentativa da Starlink, outra empresa de Musk, de reverter o bloqueio de bens por descumprimento de ordens judiciais do X. O recurso foi apresentado na forma de um mandado de segurança, estratégia considerada inadequada para o caso, que deveria ter sido conduzido por meio de um agravo de instrumento. O pedido foi negado pelo ministro Cristiano Zanin, que ressaltou a impropriedade do recurso escolhido.

Um dos ministros comentou que a Starlink não buscava reverter a decisão judicial, mas sim colecionar derrotas no STF: "não querem reverter a suspensão da Starlink. Queriam colecionar a recusa do STF em mais uma decisão para reforçar a narrativa”.

O bloqueio do X, decidido por Alexandre de Moraes, foi apontado como uma medida inevitável diante da desobediência judicial por parte de Musk.

•        Financial Times dá razão a Alexandre de Moraes e vê Musk como "míssil geopolítico desgovernado"

Em um artigo publicado nesta segunda-feira (2), o editor de Assuntos Internacionais do Financial Times, Gideon Rachman, descreveu o bilionário Elon Musk como um "míssil geopolítico desgovernado", cujas intervenções imprevisíveis e imensas capacidades tecnológicas e financeiras podem alterar os rumos dos assuntos mundiais.

Recentemente, Musk se envolveu em uma disputa pública com o Supremo Tribunal Federal (STF) do Brasil, que suspendeu as operações da X no país. Segundo o Financial Times, esta medida marca um ponto de virada importante, indicando que "o tempo de impunidade das redes sociais no mundo democrático está chegando ao fim".

O editor do jornal britânico observa que a suspensão da X no Brasil e outras ações recentes mostram que as redes sociais "poderão ser reguladas de maneira mais rigorosa, semelhante aos meios de comunicação tradicionais".

A decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF, de suspender as operações da X no Brasil, representa uma declaração de que a soberania e a justiça do Brasil não podem ser facilmente subjugadas por interesses estrangeiros ou pela riqueza.

 

 

Fonte: Jornal GGN/Brasil 247

 

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