quinta-feira, 5 de setembro de 2024

'Lá o mato era muito mais alto': especialistas explicam 'boom' de fintechs no México e na Colômbia

Um levantamento da FinTech Global aponta que, no primeiro semestre de 2024, as startups colombianas ficaram com quatro — Simetrik, Boldi, Addi e Yuno — das dez maiores rodadas de aporte na região.

Com isso, elas igualam o Brasil em número (Celcoin, Akad, Kanastra e NG.Cash), mas perdem em volume: US$ 166 milhões (R$ 936,8 milhões) contra US$ 182 milhões (R$ 1 bilhão) das fintechs brasileiras.

Ao analisar esses dados, a dúvida que fica é: estaria o setor de fintechs — startups que têm como objetivo principal tornar as transações financeiras mais acessíveis, rápidas e econômicas — em queda no Brasil frente ao avanço no México e na Colômbia?

<><> Fintechs, investimentos e oportunidades

Para entender melhor os desdobramentos dessa corrida de startups de finanças latino-americanas, a Sputnik Brasil conversou com especialistas no assunto. Conforme reforçado por um deles, "não é bem por aí". O que ajuda nessa diferença? O Brasil já possui um sistema financeiro muito eficaz e prático de transição financeira — conhecido como Pix.

À reportagem, Marcos Mueller, CEO da Darwin Startups — empresa especialista em desenvolver relacionamentos estratégicos entre corporações, investidores e startups —, sinaliza que a justificativa para um crescimento exponencial nos mercados acima citados é dado pelo fato de que "lá o mato era muito mais alto", referindo-se às ausências de tecnologias.

"É muito mais fácil surgirem iniciativas que resolvam problemas pontuais lá, já que o mercado [da Colômbia e do México] é muito mais carente do que o daqui [do Brasil]. O Brasil é um mercado muito bem desenvolvido, do ponto de vista do segmento financeiro. Muita tecnologia, automação. […] O próprio Pix já é um case global em meios de pagamento", explicou Mueller.

Segundo ele, quando o "mato é mais alto" — quando há menos tecnologia pública, compartilhada e avanços tecnológicos no local —, a probabilidade de novas "solucionadoras financeiras" surgirem é maior, mas isso não significa que o setor esteja em decadência no Brasil, reforçou.

A esta agência, Samuel Barros, doutor em administração pela Universidade de Bordeaux, na França, com foco em gestão de projetos e finanças comportamentais, discordou do pensamento de Mueller. Nas palavras dele, as legislações dos países citados anteriormente facilitam o crescimento.

"Os principais fatores do crescimento de fintechs no México e na Colômbia são basicamente um ambiente regulatório mais favorável para a criação desse perfil de empresas, muito em virtude de legislações específicas que visam incentivar o setor. Agrega-se a capacidade desses países em criar um ecossistema em parceria entre bancos tradicionais e as fintechs, o que apoia muito a expansão do setor", arguiu Barros, que também é reitor do Ibmec Rio.

De acordo com Barros, os fatores demográficos também apoiam esse crescimento como uma população mais jovem e "um volume significativo de 'desbancarizados' nos países".

"No México, ainda existe um percentual relativamente grande em dinheiro físico. [...] Isso mostra o tamanho da oportunidade que ainda tem lá pra se criar soluções. O Brasil já é muito mais tecnológico, o que torna mais difícil subir essa barra", complementou o CEO da Darwin Startups.

<><> Brasil não perde espaço para outros países

Questionado sobre o país perder ou não espaço para México e Colômbia, Marcos Mueller diz que a resposta é não.

"Quando observamos os dados de fintechs, de maneira geral, os maiores índices da área são os que envolvem o Brasil... Tendo como destaque o case do Nubank — que hoje é o maior banco em número de usuários do país. […] A instituição, inclusive, vem fazendo aquisições de M&A [sigla em inglês para o processo de fusões e aquisições entre empresas]", embasou.

Para o presidente da Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs), Diego Perez, embora o investimento tenha sido relativamente expressivo na Colômbia durante o primeiro semestre deste ano, "o Brasil está muito à frente".

"O mercado brasileiro é muito maior. O país representa aproximadamente mais de 50% [do mercado] da América Latina. [...] O que pode justificar os investimentos é porque esses países estão em ascensão e ainda não passaram pelo movimento de transformação e digitalização das finanças como o Brasil passou nos últimos cinco ou dez anos", explicou Perez à Sputnik.

"Discordo que o Brasil esteja perdendo esse espaço no setor de fintechs para a Colômbia e México! São momentos diferentes — estando o Brasil mais avançado que os dois países — é natural que os investimentos se concentrem neles. O Brasil vem se consolidando no mercado. Não dá pra afirmar que o Brasil está perdendo espaço em fintechs", complementou.

Barros finalizou que "o setor é muito importante para o Brasil. Não perdeu relevância, está crescendo menos que outros países, apenas isso. Devemos levar em consideração que a concentração bancária no Brasil acaba influenciando neste comportamento. Mas observo que as empresas financeiras tecnológicas brasileiras são excelente qualidade e agregam muito valor ao nosso mercado".

 

¨      Cientistas chineses desenvolvem microdrone movido a energia solar e mais leve que papel

Pesquisadores da Universidade Beihang, em Pequim, na China, desenvolveram um microdrone que pesa apenas 4,2 gramas movido a energia solar, alcançando voos contínuos e alimentado por pura luz natural.

O drone tem uma envergadura de cerca de 20 centímetros e está equipado com duas células solares comuns com menos da metade do tamanho de um palmo. O microaparelho foi chamado de CoulombFly.

A equipe propôs de forma inovadora um novo sistema de acionamento eletrostático e desenvolveu um micromotor com baixa velocidade de rotação, baixa geração de calor e alta eficiência, permitindo que a micro aeronave decole e continue voando sob pura luz natural.

A primeira consideração no design deste dispositivo foi a redução da perda de calor no sistema de energia, de modo a que a energia elétrica gerada pelas células solares possa ser eficientemente convertida em energia cinética.

"A chave é o sistema de energia", afirmou Qi Mingjing, professor da Faculdade de Energia e Engenharia de Energia da Universidade Beihang.

Qi afirma que a equipe desenvolveu especialmente um conversor de energia ultra leve de alta tensão, pesando apenas 1,13 gramas, o qual aumentou a tensão gerada pelas células solares de cerca de 4,5 volts para 9.000 volts, criando um sistema eletrostático.

"Os microdrones movidos a energia solar podem realizar voos de longa duração e, após maior desenvolvimento no futuro, espera-se que sejam usados em operações de resgate, inspeção em espaços estreitos, entre outros cenários", disse Yan Xiaojun, professor da Universidade Beihang.

<><> Importante fornecedor da indústria de chips pode perder o mercado da China por culpa dos EUA

A empresa ASML poderia perder definitivamente o mercado chinês devido a restrições que seriam aprovadas pelas autoridades dos Países Baixos relacionadas ao mercado de semicondutores, caso siga políticas que os EUA procuram impor aos seus aliados para restringir a China comercialmente.

ASML, uma empresa holandesa que é considerada um dos produtores de equipamentos de fabricação de chips mais importantes do mundo, poderia entrar em uma encruzilhada, já que as autoridades de seu país cogitam impor restrições ao mercado de semicondutores, que poderiam afetar seus negócios na China.

De acordo com o jornal estatal chinês Global Times, o governo holandês planeja limitar ainda mais as exportações de ASML para a China não renovando as licenças de exportação existentes.

As restrições afetam principalmente a manutenção e a entrega de peças para a segunda geração mais moderna de máquinas de chips.

"Os EUA estão pressionando seus aliados para que eles cortem fortemente os laços com as cadeias industriais e de fornecimento da China, o que coloca novamente em um dilema o governo holandês e a ASML, um dos maiores fabricantes de equipamentos para fabricação de chips do mundo. Amsterdã ainda não tomou uma decisão final, mas indicou que terá em conta os interesses econômicos da ASML", publica a mídia.

"Se ASML perder o mercado chinês, sofrerá perdas econômicas significativas. Esta perda poderia potencialmente levar a uma diminuição da cota de mercado mundial de ASML e uma mudança no equilíbrio de poder na indústria de semicondutores", acrescenta o artigo.

Além disso, o Global Times acrescenta que se Amsterdã seguir a ordem dos EUA, afetará gravemente as relações entre a China e os Países Baixos em vários campos, porque, acrescenta, é improvável que Pequim fique de braços cruzados, por isso poderia tomar as contramedidas correspondentes, como impor restrições comerciais ou procurar fornecedores alternativos.

A mídia considera que, se as restrições forem aprovadas, os Países Baixos podem até mesmo ver sua liderança mundial em campos de alta tecnologia afetada.

 

¨      VPNs protegem a sua privacidade e podem ser indispensáveis para muita gente – inclusive ministros do STF

Na última sexta-feira, 30 de agosto, o ministro do Supremo Tribunal Federal, o STF, Alexandre de Moraes determinou o bloqueio do funcionamento do X em todo o Brasil. Essa decisão é acertada.

Elon Musk, sócio-majoritário do X, vem desrespeitando  as decisões judiciais brasileiras. Além de não cooperar com a justiça, ele agiu proativamente para dificultar a execução das decisões do poder judiciário brasileiro ao extinguir a subsidiária do X no Brasil.

Marco Civil da internet obriga entidades estrangeiras a terem representantes no Brasil exatamente para que elas não fiquem fora do alcance da fiscalização e do controle do poder público. E deixa bem claro que “a sociedade estrangeira autorizada a funcionar ficará sujeita às leis e aos tribunais brasileiros, quanto aos atos ou operações praticadas no Brasil”.

O Twitter não está acima da lei no Brasil. Enquanto possuía uma representação no país, a empresa recebeu ordens do STF para bloquear contas que cometeram crimes de acordo com a lei brasileira.

Outras empresas, como o Youtube, Meta e Google, receberam ordens parecidas e cumpriram essas ordens dentro dos prazos estabelecidos, enquanto Elon Musk se negou a cumprir a ordem emitida pelo STF.

No momento em que o STF começou a aplicar uma multa diária pelo descumprimento da ordem, Musk explicitamente disse que fecharia a filial no Brasil para continuar a descumprir a lei.

O STF então deu o prazo de 24 horas para o Twitter indicar uma nova representação no país. Quando o prazo acabou, o STF tomou a decisão de bloquear o funcionamento da plataforma, até que a lei seja cumprida e as multas pagas.

Essa atitude do STF está corretíssima: o Twitter e o Elon Musk, não estão acima da lei e devem ser punidos.

<><> O que são VPNs e porque Moraes errou ao proibí-los

Acontece que na mesma ordem o STF incluiu o uso das VPNs (virtual private networks, ou seja, “redes virtuais privadas”). Esta não foi uma decisão feliz, porque quem está sendo punido é o usuário e não o Elon Musk ou a empresa Twitter, que são os que não estão cumprindo a lei.

Apesar disso, o uso de VPNs explodiu. Um site especializado identificou uma alta de 1.600% na procura por VPNs no Brasil.

A princípio o STF chegou a exigir que a Apple e o Google bloqueassem os seus usuários brasileiros de baixarem VPN das suas lojas de aplicativos. Mas depois reverteu essa decisão.

As VPNs, tal como o Tor, são aplicativos que permitem ao usuário acessar um site ou serviço com um IP (internet protocol, ou “protocolo de internet”, uma espécie de endereço do seu computador) de fora do país. Ou seja, o bloqueio do Twitter no Brasil é feito para pessoas que estão acessando o serviço desde um IP brasileiro.

Quando alguém acessa o Twitter com um IP dos EUA ou da França, ele não está bloqueado. Até mesmo porque a justiça brasileira não tem jurisdição nesses países e não pode controlar o que as pessoas de lá fazem na internet.

Mas uma VPN pode ser usada para diversas finalidades além de tentar acessar o Twitter. Seria um abuso o STF pedir para a Apple e o Google impedirem que usuários brasileiros possam simplesmente baixar esse tipo de aplicativo.

O STF parte da premissa de que todo mundo que baixar uma VPN está cogitando acessar o Twitter. Além de falsa essa premissa, é completamente ilegal esse tipo de ação no Brasil. E deve ter sido por isso que no mesmo dia o STF recuou com esse pedido.

Mas ele manteve uma outra parte da sua decisão que pune o usuário. A aplicação de uma multa diária de R$50 mill às pessoas que utilizarem qualquer tecnologia, Tor ou VPN por exemplo, para acessar o Twitter.

<><> VPN, uma ferramenta indispensável para proteger seus dados

Acontece que existe uma lista enorme de razões que levam as pessoas a usarem uma VPN ou o Tor. Existem muitos casos onde as pessoas estão simplesmente tentando proteger a sua privacidade na internet.

Uma VPN permite que você utilize a internet sem que sites e empresas tenham acesso a como você as usa. Assim, ele impede que uma empresa mande anúncios indesejados ou, pior, que alguém tenha acesso a dados pessoais sigilosos e/ou sensíveis.

No Projeto Tor, nós coletamos algumas histórias de usuários que demonstram isso. Um pai de dois adolescentes usa o Tor para fazer buscas sobre problemas que os seus filhos e amigos estão se deparando (como sexo, drogas, bullying) para poder conversar abertamente com os seus filhos.

Ele usa o Tor para evitar que sites como o Google (e outros) saibam dos problemas que os seus filhos estão enfrentando, para que eles não sejam expostos. Ele também incentiva os filhos a usarem o Tor para pesquisas pelos mesmos motivos.

Outra pessoa comentou que usa o Tor para pesquisar sobre doenças mentais, como, por exemplo, depressão, que ocorrem na família dela. Ela não quer que ninguém saiba sobre essas doenças e por isso utiliza a nossa ferramenta para garantir a proteção da sua privacidade.

Uma pessoa que é profissional da medicina atende em uma cidade muito politizada, onde muitos de seus pacientes atuam em áreas de legislação que podem influenciar grandes empresas. Ela utiliza o Tor para fazer pesquisas sobre doenças e tratamentos, bem como para analisar detalhes dos históricos de saúde de seus pacientes.

Ela está ciente de que seu histórico de buscas pode ser correlacionado com as visitas dos pacientes, e informações sensíveis sobre a saúde deles podem ser expostas. Por esse motivo, ela usa o Tor para proteger a privacidade dos seus pacientes.

<><> Uma decisão inexequível

E como o STF pretende aplicar essa punição? Não cabe ao STF monitorar todas as contas brasileiras no Twitter. O STF vai pedir para o Twitter enviar a informação das contas brasileiras que estão ativas durante esse período de suspensão? Ora, se o Twitter não vem cumprindo nenhuma ordem do STF (por isso mesmo que ele foi suspenso), é pouco provável que responda a tal pedido.

Mas digamos que o STF consiga saber que uma conta brasileira publicou um tweet durante esse período de suspensão. E que este tweet veio de um IP do exterior. Como que o STF vai saber se a pessoa não estava no exterior quando tweetou? Mesmo se ele conseguir identificar que esse IP pertence a um serviço de VPN ou à rede Tor, como que ele vai saber se a pessoa não estava no exterior ao fazer isso?

O STF vai pedir para as empresas de VPNs monitorarem os seus usuários brasileiros e entregar a informação daqueles que utilizaram o seu aplicativo para acessar o Twitter? Mesmo que as empresas de VPN colaborem com o STF, no caso do Tor é diferente: ele não possui informação de usuário, ou seja, não tem como entregar esses dados para o STF.

E o custo relacionado ao trabalho que o estado brasileiro terá para fazer esse controle e punir os usuários? Não me parece justo gastar milhares de reais dos cofres públicos para punir o usuário enquanto quem realmente cometeu o crime e desobedeceu o judiciário foi Elon Musk.

Digamos que uma conta de perfil conhecido, como a do vice-governador de Minas Gerais, Mateus Simões, que tweetou uma mensagem que fala de forma explícita que está usando VPN para furar o bloqueio seja do conhecimento do Tribunal.

O STF precisa ter acesso ao Twitter para poder comprovar isso. Como que ele vai fazer? Vai usar o Tor ou uma VPN? Ou vai basear a multa integralmente em matérias dos jornais, sem nenhuma outra comprovação? Não me parece cabível o STF punir os jornais que publicaram um print do tweet do vice-governador. Afinal, eles provavelmente utilizaram VPN para ver esse tweet.

Convenhamos que faltou orientação técnica para ajudar o ministro Alexandre de Moraes a entender que não faz sentido essa multa, principalmente, a parte prática de efetivar essa decisão.

Esse é um ótimo exemplo da importância de uma assessoria de pessoas com o conhecimento técnico tanto no judiciário quanto no legislativo. E infelizmente esse é um problema antigo.

Juízes e parlamentares não são obrigados a ter esse tipo de conhecimento, mas precisam de assessoria para tomar decisões sobre a internet e outras tecnologias. Idealmente, eles deveriam usar VPNs e/ou o Tor ao trabalharem em temas sensíveis!

 

Fonte: Sputnik Brasil/The Intercept

 

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