terça-feira, 10 de setembro de 2024

Eduardo Guimarães: "Minifestação" arrebenta Bolsonaro e Marçal

Na sexta-feira, em Juiz de Fora, Bolsonaro discursou para um público numericamente modesto em apoio a seu candidato à prefeitura de Juiz de Fora, o ex-deputado federal Charlles Evangelista (PL) -- atualmente, a cidade é comandada por Margarida Salomão (PT).

Detalhe: o comício foi em frente a um circo.

A fala do ex-presidente deve lhe render consequências funestas cedo ou tarde, porque foi muito pior do que a que fez na avenida Paulista no domingo (7/9). Reprisou o discurso negacionista da pandemia, atacou as urnas eletrônicas e o sistema eleitoral, acusou o STF de ter um plano para matá-lo, ameaçou Alexandre de Moraes e flertou com o crime de traição ao dizer que Donald Trump vencerá a eleição nos EUA e impedirá a Justiça brasileira de colocá-lo para ver o sol nascer quadrado.

São várias as violações que fez das medidas cautelares que lhe foram impostas no dia 8 de fevereiro último, no âmbito da Operação Tempus Veritatis. A consequência natural deveria ser a da decretação de sua prisão preventiva, pois sua fala é do mesmo jeito das que insuflaram milhares de cabeças do seu gado a quebrarem Brasília com vistas a um golpe de Estado. Mas PF, STF e PGR acham que qualquer medida contra Bolsonaro agora pode lhe dar meios de se vitimizar e obter uma forte vitória eleitoral até outubro.

No sábado, cheguei à avenida Paulista pouco antes das 14 horas (horário em que Bolsonaro prometeu iniciar seu discurso) e deixei o local por volta das 17 horas. Como estivera na manifestação de 25 de fevereiro, já de início tive a impressão de que havia pouca gente se dirigindo ao local.

A avenida Paulista tem uma extremidade ao Sul e outra ao Norte da cidade. Quem percorre a via do Sul para o Norte tem o Centro velho e a Marginal do Tietê à sua direita e o bairro dos Jardins e a Marginal do Pinheiros à sua esquerda.

A grande maioria do público se origina dos Jardins, região bastante verticalizada, que comporta em torno de umas 200 mil pessoas. Foi esse o público que lá estava, composto, majoritariamente, por idosos de classe média alta e pessoas de meia idade do mesmo tipo -- em enorme quantidade, brancas e do mesmo estrato social.

Quase não havia jovens; o que havia, em pequeno número, eram crianças e pré-adolescentes levados por pais e avós.

Tratei de colocar meu disfarce para ir a esse tipo de lugar. Calça e camiseta cáquis, boné preto e óculos escuros que fizeram o público na internet rir da inutilidade daquela tentativa de esconder minha identidade. Mas quem obviamente me reconheceu ficou apenas olhando -- creio que ninguém estava querendo confusão ali, por razões óbvias.

Mas fui abordado por um casal de moças de no máximo uns 25 anos e por um senhor com aparência de roqueiro com o neto adolescente. Todos se disseram progressistas e afirmaram que lá estavam para se divertir com as figuras bizarras que abundam nas manifestações de extrema-direita.

Após live de 60 minutos que fiz no local, percebi que de fato havia muita diferença. Era por volta das 15:30 e gravei um vídeo curto dizendo que claramente havia muito menos gente na avenida Paulista do que havia em 25 de fevereiro. Não era possível, então, caminhar facilmente pela avenida tal a quantidade de gente. Agora, havia "clareiras" enormes na multidão, se é que vale o termo...

Enquanto isso, os chefes dos Três Poderes da República se somavam ao ministro Alexandre de Moraes em claro apoio a ele em um momento em que dezenas de milhares de bolsonaristas-raiz acorriam à mais paulista das avenidas para insultá-lo e ameaçá-lo.

Foi uma jogada de risco de Bolsonaro, insuflado por Silas Malafaia a cometer a burrada que dera certo em fevereiro porque, à época, alugaram centenas e centenas de ônibus para trazer gente de todas as partes do país à manifestação. Os ônibus, em 25/2, ficaram todos estacionados pela região; desta vez, não vi quase nenhum.

Sem artificialismo, segundo estimativas do Monitor do Debate Político no Meio Digital, da Universidade de São Paulo (USP), no 7 de setembro havia apenas 45 mil pessoas na avenida Paulista, contra 185 mil apuradas pelo mesmo pesquisador em fevereiro, o que confirmou minha percepção.

O resultado disso foi que Bolsonaro e seu pastor-estrategista viram o tiro sair pela culatra. Enfraqueceram não só a si mesmos, mas a Folha de São Paulo e Elon Musk, que exaltaram em seus discursos furibundos -- e, no caso de Bolsonaro, criminosos, pois violador de medidas cautelares do Supremo.

Ficou claro que a sociedade começa a abrir os olhos sobre Bolsonaro conforme vê não só a sua culpa contida nos indiciamentos da Polícia Federal, mas, também, que o país está melhorando rapidamente no terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

•        Bolsonaro volta a criticar Marçal: 'quer fazer palanque às custas do trabalho e risco dos outros'

Jair Bolsonaro (PL) voltou a criticar o ex-coach Pablo Marçal (PRTB), candidato à Prefeitura de São Paulo, após o ato de 7 de setembro na Avenida Paulista. Bolsonaro acusou Marçal de tentar “fazer palanque às custas do trabalho e risco dos outros” ao tentar se aproximar do público durante o evento, do qual não participou desde o início.

Bolsonaro, em mensagens enviadas a aliados por WhatsApp e obtidas por Igor Gadelha, do Metrópoles, ressaltou o comportamento de outros candidatos presentes, como o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) e Maria Helena (Novo). Segundo Bolsonaro, ambos demonstraram “conduta exemplar e respeitosa” durante o ato, em contraste com Marçal.

“Os candidatos a prefeito por São Paulo foram convidados. O atual prefeito Ricardo Nunes e Maria Helena compareceram desde o início e tiveram uma conduta exemplar e respeitosa, à altura das pautas defendidas: ‘liberdade, anistia e equilíbrio entre os três Poderes’. O único e lamentável incidente ocorreu após o término do meu discurso (com o evento já encerrado) quando então surgiu o candidato Pablo Marçal que queria subir no carro de som e acenar para o público (fazer palanque às custas do trabalho e risco dos outros), e não foi permitido por questões óbvias”, escreveu Bolsonaro.

Chegando já no fim da manifestação, após uma viagem internacional, Marçal foi impedido de subir no trio elétrico onde Bolsonaro estava, o que gerou insatisfação. Em resposta, Marçal divulgou uma nota à imprensa na qual lamentou a situação, afirmando que seu impedimento foi uma tentativa de silenciá-lo. “Voltei para o Brasil e fui direto para o ato patriótico na Avenida Paulista, para o qual fui convidado pelo próprio presidente Bolsonaro. Fui surpreendido com o impedimento do acesso ao caminhão. Essa foi só mais uma manobra frustrada dos desesperados que tentaram me silenciar, mas foram calados pelo apoio maciço e caloroso do povo”, declarou Marçal.

O episódio marca uma nova tensão entre Bolsonaro e Marçal, interrompendo um breve período de trégua nas críticas.

•        Marçal responde às críticas de Bolsonaro após ato da extrema-direita na Paulista e amplia racha

O coach de extrema-direita Pablo Marçal respondeu às críticas de Jair Bolsonaro após ter participado do ato bolsonarista na Avenida Paulista, no último sábado (7), afirmando ter o "povo" ao seu lado. A troca de farpas ocorre em meio a uma divisão política, com Bolsonaro e o governador Tarcísio de Freitas apoiando o atual prefeito, Ricardo Nunes, enquanto Marçal busca atrair o apoio de outras lideranças bolsonaristas.

"Como fazer palanque se não me deixaram subir no palanque? Eu fui para os braços do povo. Não tive fala nenhuma, só fui o único que foi para os braços do povo", afirmou Marçal ao jornal O Estado de São Paulo.

Após o ato de 7 de setembro na Avenida Paulista, Bolsonaro acusou Marçal de tentar “fazer palanque às custas do trabalho e risco dos outros” ao tentar se aproximar do público durante o evento, do qual não participou desde o início.

Bolsonaro, em mensagens enviadas a aliados por WhatsApp e obtidas por Igor Gadelha, do Metrópoles, ressaltou o comportamento de outros candidatos presentes, como o atual prefeito Nunes  e Maria Helena. Segundo Bolsonaro, ambos demonstraram “conduta exemplar e respeitosa” durante o ato, em contraste com Marçal.

•        "De vagabundagem e ditadura o Bolsonaro conhece bem", diz Florestan Fernandes Jr.

O jornalista Florestan Fernandes Júnior, em participação no Bom Dia 247, da TV 247, neste domingo (8), reagiu aos xingamentos proferidos por Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes em ato na Avenida Paulista no sábado (7).

Para Florestan, os bolsonaristas acusaram Moraes de praticar tudo aquilo que eles mesmos fazem ou defendem. “O Bolsonaro e alguns dos seus falaram que o Alexandre [de Moraes] é vagabundo. De vagabundagem o Bolsonaro é campeão. Não tem ninguém mais vagabundo do que ele. Passou quatro anos andando de jet ski e fazendo motociata, fazendo algazarra, inclusive em viagem internacional, comendo pizza em Nova York em um encontro importante na ONU. Enfim, não precisamos nem lembrar de tudo que ele fez na questão vagabundagem. Não trabalhava, não tinha equipe. O governo dele foi um desastre”.

“Ele também fala que o Alexandre é um ‘ditador’. De ditadura ele [Bolsonaro] conhece bem, porque ele era do grupo dos porões da ditadura. Ele andava com aqueles que torturavam e perseguiam. Ele é aquele que falava antes da eleição, inclusive através da voz do filho, que para fechar o Supremo era [preciso] só um soldado e um cabo. Ele fez de tudo para impedir a eleição do Lula, inclusive armando um golpe de Estado, terminando com aquela cena do 8 de janeiro. Tentou dar um golpe e não conseguiu e fala que o outro é ditador? O outro, ao contrário, conseguiu, de certa maneira, preservar o Estado Democrático de Direito junto com o presidente Lula e junto com o Pacheco, porque foram eles que no dia 8 de janeiro estavam lá vendo a destruição que o grupo dele [Bolsonaro] fez na Praça dos Três Poderes”, lembrou.

Sobre o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) ter chamado Moraes de “psicopata”, Florestan destacou: “olha, nessa família Bolsonaro o que tem de psicopata é brincadeira”. “Psicopata e genocida, porque ele [Jair Bolsonaro] é genocida. Mais de 700 mil mortes pela Covid e ele falando aquilo tudo era um ‘mimimi’, ficava imitando a pessoa sem ar, foi contra a vacina, não levou oxigênio para os hospitais, aumentou o número de mortes falando que não era para usar máscara, botando criancinha brincando de dar tido. Então o psicopata é o Alexandre?”, questionou.

Sobre a falsa defesa da liberdade, o jornalista pontuou a aliança internacional do bolsonarismo contra o Brasil e sua soberania. “Falam que é uma defesa da liberdade e da democracia mas eles nunca defenderam a liberdade. Ao contrário. Tanto que se aliam a pessoas de fora do Brasil para manter um esquema de submissão do Brasil ao Elon Musk e aos Estados Unidos”.

Para Florestan Fernandes Júnior, o ato de sábado serviu para provar que Bolsonaro “está murchando”. A manifestação reuniu cerca de 45,4 mil pessoas, de acordo com o Monitor do Debate Político no Meio Digital da Universidade de São Paulo (USP). Em comparação, protestos semelhantes chegaram a atrair mais de 180 mil pessoas. “Está claro que o Bolsonaro não está tendo mais aquele apelo junto às massas. Esse vazio na Avenida Paulista mostra que ele é descartável. Ao invés de mostrar força para o STF, mostrou fragilidade, mostrou que ele não tem mais condições de grandes mobilizações. Essa manifestação foi péssima para a extrema direita, porque eles foram lá, atacaram o Supremo e fecharam portas para qualquer negociação com grupos políticos. Ficou mais fácil para o ‘Xandão’ e para o [Paulo] Gonet [procurador-geral da República] começarem a fazer o que tem que ser feito”.

•        Pablo Marçal adota tom messiânico e invoca "guerra espiritual pelo país"

Pablo Marçal, candidato do PRTB à Prefeitura de São Paulo, voltou a adotar um tom profético e polêmico em suas falas. Ao participar do evento comemorativo de 25 anos da Igreja Videira, em Goiânia, Marçal destacou a necessidade de uma "guerra espiritual" pelo Brasil, segundo a Folha de S. Paulo, apontando que a influência religiosa deve se estender a todas as esferas da sociedade, como política, educação, Justiça e negócios.

"Até 2025 nós seremos a nação mais próspera da Terra. E esse movimento da graça e do reino vai expandir, vai entrar na política, que vai entrar na educação, que vai entrar na Justiça, que vai entrar na empresarização e vai contaminar a sociedade inteira do Brasil", declarou. A fala ecoou um chamado à militância religiosa, pedindo que os fiéis se engajem em uma "guerra espiritual pelo país".

"Eleição não é um negócio que o cristão tem que sair", disse o candidato, reforçando sua visão de que política e religião devem se misturar.

A relação de Marçal com a igreja tem nuances. Apesar de rejeitar o rótulo de evangélico, o candidato destaca que vê o cristianismo como um estilo de vida. Ele se mantém próximo de líderes religiosos, como o pastor Aluízio Silva, da Igreja Videira, a quem chama de mentor. No evento, Aluízio relatou o impacto das declarações de Marçal: "agora tem jornalista do Brasil inteiro na minha cola". Em resposta, Marçal sugeriu que a mídia também deveria se converter: "jornalistas do Brasil, ao invés de perguntar o que o Aluízio acha de mim, vocês precisam converter seus corações à palavra do reino e da graça que o Senhor me prega".

•        Nunes chama Marçal de "lunático" e "marginal" em evento de campanha

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), criticou neste domingo (8) Pablo Marçal (PRTB), candidato à prefeitura da capital paulista nas eleições municipais deste ano. Embora não tenha mencionado o influenciador diretamente, Nunes referiu-se ao adversário como "lunático" e "marginal".

“Isso não é um jogo de videogame, isso não é para esses malucos que ficam falando besteira sem conhecer a nossa realidade", disse. "[Não é pra gente] que vem com proposta de fazer prédio de um quilômetro de altura, esse lunático desse marginal, isso não muda nada para vida de ninguém, mas são coisas que na internet chamam a atenção dos jovens".

O discurso ocorreu durante o lançamento da campanha de Silvinho (União Brasil), candidato a vereador em São Paulo.

Segundo o último levantamento geral realizado pelo Datafolha, Marçal, Guilherme Boulos (Psol) e Nunes estão tecnicamente empatados na disputa pela prefeitura. Conforme a pesquisa, o deputado federal possui 23% das intenções de voto, seguido pelo influenciador, com 22%, e o atual prefeito, também com 22%.

 

Fonte: Brasil 247

 

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