Como Sérgio Mendes, que morreu aos 83 anos,
ajudou a popularizar a Bossa Nova no mundo
Sérgio Mendes, músico
e compositor que ajudou a popularizar a bossa nova e o samba fora do Brasil,
morreu aos 83 anos na quinta-feira (5/6) em Los Angeles, nos Estados Unidos,
onde morava.
A morte foi confirmada
por sua família, que informou que ele "faleceu em paz", cercado por
sua esposa e filhos.
Sérgio Mendes é
conhecido por regravações de sucessos como Mas Que Nada, de Jorge Ben Jor, e
The Fool On The Hill, dos Beatles.
Ele gravou mais de 35
álbuns, muitos dos quais ganharam disco de ouro ou platina nos EUA; e recebeu
uma indicação ao Oscar em 2012 por coescrever a música Real in Rio do desenho
animado Rio.
A família não informou
a causa oficial da morte, mas disse que Mendes estava sofrendo com um caso de
covid de longa duração. Era público também que o músico sofria de problemas
respiratórios desde o final de 2023.
A declaração da
família disse que Mendes levou "os sons alegres do Brasil para o
mundo".
"Mendes se
apresentou pela última vez em novembro de 2023 em casas de show lotadas e
extremamente entusiasmadas em Paris, Londres e Barcelona", disse a nota da
família.
"Nos últimos
meses, sua saúde foi desafiada pelos efeitos da covid de longa duração."
A declaração concluiu
dizendo que Mendes "nos deixa um legado musical incrível e único de mais
de seis décadas".
• Algo mágico
Filho de um médico,
Mendes nasceu em Niterói, no Rio de Janeiro, e inicialmente estudou piano
clássico com a intenção de se tornar um pianista de música erudita.
Mas sua vida mudou em
1956, quando ouviu seu primeiro disco de jazz, Take Five, do músico americano
Dave Brubeck, e abandonou os estudos.
"Para mim, foi
como, eu diria, um dos momentos incríveis da minha vida", ele disse à
estação de rádio americana NPR em 2014.
"Porque quando
ouvi aquilo, eu não fazia ideia do que era o jazz".
Ele começou a tocar em
casas noturnas no Rio de Janeiro assim que a febre da Bossa Nossa começou e
mergulhou nesse universo, ao lado de outras lendas, como Antonio Carlos Jobim e
João Gilberto.
Sua primeira gravação,
Dance Moderno, foi lançada em 1961 pela gravadora Philips Records.
Três anos depois,
Mendes deixou o Brasil e se exilou nos EUA por causa da ditadura militar – mas
não foi uma transição fácil.
Seus companheiros de
banda brasileiros voltaram pouco tempo depois para o Brasil, forçando Mendes a
formar um novo grupo. Chamado Brasil '66, o grupo tinha duas cantoras
americanas, Lani Hall e Karen Philip.
Contratados pela
A&M Records, eles encontraram uma fórmula de sucesso: interpretações
jazzísticas de canções populares brasileiras ao lado de versões enriquecidas
com samba dos sucessos da época.
Eles marcaram seu
primeiro grande sucesso com Mas Que Nada, um cover do original de Jorge Ben,
cheio de estalos de dedos, chocalhos cintilantes e um refrão efervescente sobre
a vontade de dançar.
Há "algo muito
mágico naquela música", Mendes lembrou mais tarde. "As pessoas amam
essa música em todo o mundo."
Foi a primeira música
em português a se tornar um sucesso global; e impulsionou o álbum de estreia do
Brasil '66 para o top 10 das paradas dos EUA.
Mendes então passou a
aperfeiçoar sua mistura de melodias em inglês e ritmos brasileiros, fazendo
covers de Scarborough Fair, de Simon & Garfunkel, e (Sittin' On) The Dock
Of The Bay, de Otis Redding.
Quando ele fez um
cover de The Fool On The Hill, dos Beatles, no álbum Look Around, de 1967, Paul
McCartney escreveu uma carta a Mendes, dizendo que era sua versão favorita da
música.
Embora sua música
tenha sido classificada como "easy listening" (estilo musical
instrumental popular nos anos 1950 considerado "inofensivo") por
críticos à época, Mendes era extremamente popular, tocando em turnês em
estádios e se apresentando na Casa Branca para os presidentes Lyndon B. Johnson
e Richard Nixon.
Ele era convidado de
praxe em programas de TV ao lado de artistas como Perry Como, Jerry Lewis, Fred
Astaire e Frank Sinatra, com quem ele fez amizade.
Na década de 1970, ele
relançou sua banda como Brasil '77, mas sua sorte comercial diminuiu até que o
álbum de retorno de 1983, Sergio Mendes, lhe deu o maior sucesso nas paradas de
sua carreira – um cover do clássico Never Gonna Let You Go de Dionne Warwick.
O sucesso veio quase
por acidente, já que Mendes só adicionou a música ao seu repertório no último
minuto.
"Todas as outras
músicas do álbum eram animadas e festivas. Eu precisava de uma balada de amor
no álbum, só para mudar um pouco o ritmo", disse ele em uma entrevista
para o The Billboard Book of No. 1 Adult Contemporary Hits.
Em 1992, ele ganhou um
Grammy por seu álbum Brasileiro, que continha várias faixas com Carlinhos
Brown.
Entre suas
colaborações estava Magalenha – uma música alegre alimentada pelos sons
energéticos de percussionistas baianos – que rapidamente se tornou um sucesso.
Duas décadas depois,
em 2012, a dupla recebeu uma indicação ao Oscar por seu trabalho na trilha
sonora do filme Rio.
A inclusão de Mas Que
Nada na trilha sonora do filme Austin Powers de Mike Myers apresentou Mendes a
um público totalmente novo em 1997 e, no início do século 21, a maior parte de
seu catálogo anterior havia sido relançada para novos fãs.
Na mesma época, Mendes
começou a incorporar elementos do hip-hop em seu som, colaborando com o Black
Eyed Peas em uma nova versão de Mas Que Nada e gravando músicas com rappers,
incluindo Common e Q-Tip.
Mendes também fez uma
participação especial no vídeo de 24 horas de duração de Happy, de Pharrell
Williams; e ganhou um prêmio pelo conjunto da obra no Grammy Latino de 2005.
Um filme de sua vida,
Sergio Mendes In The Key Of Joy (Sérgio Mendes e a Chave da Alegria, em
tradução livre) foi lançado em conjunto com um novo álbum em 2020.
E ele continuou
tocando ao vivo até muito recentemente, incluindo uma aparição no London Jazz
Festival em outubro de 2023, aos 82 anos.
Certa vez Mendes
resumiu sua filosofia musical dizendo que, quando pensava em música brasileira,
"as primeiras palavras que me vêm à mente são alegria, celebração,
festa... Acho que está no espírito do povo em geral."
O músico deixa sua
esposa, Gracinha Leporace, que cantou em muitos de seus discos, e cinco filhos.
Fonte: BBC News
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