segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Alex Solnik: Você contrataria um ex-ladrão para cuidar da sua casa?

Diálogos obtidos pela polícia paulista em 2005, com ordem judicial, revelam a face sombria e até agora oculta de Pablo Marçal. 

Em conversas com o pastor Daniel Oliveira, com uma namorada e com o pai, não ficam em pé suas versões de que consertava computadores e aparecem marcas de seu perfil pouco condizente com um jovem em idade escolar.

<><> 16 de agosto de 2005

Danilo: Alô?

Marçal: Fala, pastor!

Danilo: E aí, garoto?

Marçal: Bom? Tá longe?

Danilo: Não, tô chegando em casa pra almoçar.

Marçal: Posso passar aí?

Danilo: Tô até meio sem dinheiro, do que você precisa?

Marçal: Ah, de uns 40 conto tá bom.

Danilo: Oi?

Marçal: Uns 40 conto tá bom.

Danilo: Só uns 40? 40 é muito… Tem que ser só uns 20…

Marçal: Então só arruma 30 e aí nós fica feliz.

Danilo: Chega aí pra nós ver o que que faz.

Marçal: Falou, então.

<><> 19 de agosto de 2005

Danilo: Garoto, preciso de você urgente.

Marçal: Pó falar.

Danilo: Não, trabalhar, ué. Cê tá onde?

Marçal: Tô em casa.

Danilo: Então desce aqui para minha casa urgente.

Marçal: Então falou.

Danilo: Para nós organizar uns trem ali. Porque eu vou viajar domingo e preciso organizar uns trem e conversar com você.

<><> 20 de agosto de 2005

Marçal: Eu estava brincando agorinha de atirar com revólver.

Namorada: Ah, é? Que brincadeira sem graça.

Marçal: Ele colocou o revólver em mim, e eu com colete. Aí ele tava fingindo um assalto. E eu fui tirar minha carteira, e ele pensou que eu estava dando uma de bobo. E eu arrumei a mão no revólver. Ele meteu bala. Ele pegou lá dentro da igreja. Aí eu fui atirar nele. Ele pensou que era esperto demais, né? Na hora que ele deu qualquer movimento, eu meti um tiro na barriga dele. Aí ele caiu para trás, porque é pesado levar um tiro no colete. Foi massa. Os meninos ficou doidinho.

<><> 21 de agosto de 2005

Marçal: Tô capturando aqui, chefe. Negócio tá bom. Negócio aqui em casa tá bom. Capturei hoje o dia inteiro.

Danilo: Mas tem que prestar atenção nas listas. Você vê, aquela lista que você fez, com o JC (software) aqui em casa, muito ruim. A minha que eu fiz, muito boa, tudo bom, quase tudo bom, entendeu? Tem que prestar atenção nisso aí, ver como que tá fazendo. O que é e tal. O segredo é olhar os webmail direitinho.

<><> 24 de agosto de 2005

Marçal: Faz o seguinte, eu coloco os que eu for enviar pra depois você entrar e enviar depois… Você fez dois emails, não fez? Eu entro no seu email, com a senha daquele ‘primocorreria’, mando dele pro meu, só que fica salvo dentro do seu. Aí esse ‘primocorreria’ é o que eu vou mandar. Agora os que eu for mandar pro ‘primocorreria2’ é pra você enviar. Entendeu?

Danilo: Beleza. Então se for mandar hoje já manda pro ‘primocorreria2’.

Marçal: Eu vou mandar agora pro ‘primocorreria2’.

<><> 24 de agosto de 2005

Marçal: Tô mandando seu trem aqui agora. Zipado, aqui. (…) Os capturados. (…)

Danilo: Tira essa porra de ‘Delegado Federal’ aí, pô.

Marçal: Ué, por causa de quê?

Danilo: Cê é doido.

Marçal: Vou tirar aqui, só por sua causa, então.

Danilo: Eu chego aqui e vejo essa porra de ‘Delegado Federal’ no meu MSN, rapaz.

<><> 26 de agosto de 2005

Marçal: Já saí daquilo.

Pai de Marçal: Já saiu?

Marçal: Já

Pai de Marçal: Graças a Deus. Eu não quero nunca que você mexe com aquele troço. Mesmo que você trabalhe de servente, honra teu pai e tua mãe. O nome vale mais que ouro fino, prata fina, liga a televisão pra você ver.

(Seis dias depois ele foi preso, dedurou a quadrilha, chefiada pelo “pastor” Daniel Oliveira e condenado a 4 anos e 5 meses de prisão por furto qualificado; não cumpriu pena por decurso de prazo).

Essas conversas, que foram publicadas pelo UOL, suscitam uma questão perturbadora: os eleitores estão apostando num condenado por furto qualificado que se tornou milionário vinte anos depois, sabe-se lá como, ao mesmo tempo em que a principal dor de cabeça na cidade é com bandidos!

Pode uma pessoa com esses antecedentes criminais ser a responsável pela segurança da mais importante cidade do país? Jamais, em tempo algum, um ex-ladrão foi prefeito de São Paulo! Seria a raposa cuidando do galinheiro!

Não sabemos de que forma ele virou milionário, mas virou candidato de um partido com dirigentes investigados por ligações com o PCC, os quais defende, é acusado de fraudes diversas na campanha e suas mentiras estão sendo desmascaradas. 

O repórter Paulo Motoryn revelou, no The Intercept Brasil, que as 300 casas que ele alega ter construído em Angola são 30, num terreno de terra batida, sem nenhuma infraestrutura e com dinheiro dos outros, que foi parar numa ONG ligada a igrejas evangélicas.

Um comercial da campanha de Kamala Harris, nos Estados Unidos, mostra mãe e filha esperando o ônibus escolar. Quando o ônibus abre a porta, o motorista é o Donald Trump, que passa a vomitar seu discurso racista, misógino e xenófobo. Assustada, a mãe não deixa a filha embarcar. Enquanto o ônibus se afasta, uma voz feminina questiona, em off:

“Se você não confia nele para levar sua filha à escola, vai confiar para dirigir o seu país?”

E eu questiono o eleitor de São Paulo: se você não contrata um ex-ladrão para cuidar da sua casa, vai contratar para cuidar da sua cidade?

 

¨      A projeção do coach é triunfo da indigência e sintoma de um Brasil em agonia. Por Tiago Barbosa

A projeção de um coach condenado nas pesquisas eleitorais reflete o adoecimento de um país envenenado pelo pacto do fascismo com a mídia e as big techs. De um Brasil molestado pelo mercado a idolatrar algozes e repelir a própria sobrevivência. Essa aliança retroalimenta a alienação perversa de falsa despolitização com culto ideológico do ódio à esquerda e do (pseudo) enriquecimento fácil. Cada vértice opera para criar uma ilusão social de solução através do individualismo messiânico - o núcleo da armação desse coachismo forjado no vazio. É a supremacia da tolice embutida no “só depende de você” para mascarar problemas sistêmicos, impedir a consciência crítica e culpar o cidadão por males impostos à coletividade. A mídia massifica como populistas e criminaliza políticas benéficas ao todo enquanto normaliza a violência extremista. As big techs priorizam narrativas destrutivas para robotizar mentes em favor da monetização alienante. E o neofascismo alicia fanáticos com charlatanismo para fazer da farsa do êxito o sonho possível - mas sempre intocável. O chorume desse ecossistema é a manutenção de privilégios de um clube seleto sob a anuência cega da legião de excluídos e enganados. Essa pregação contra a inteligência e a coletividade atirou o país na vala da brutalidade voluntária ocupada por zumbis de uma esperteza irreal. Não importam a prática de crimes, atos imorais, antiéticos, mentiras, violência, promessas delirantes - o sopro da selvageria aniquilou o bom senso no aliciamento da idiotice. Veneram o "sucesso" de um sujeito considerado criminoso ao custo da própria vida, da rede de amparo pública cuja destruição é inerente à ação do ídolo. A ascensão do coach é sinal de triunfo da indigência - o suicídio de um Brasil em agonia.

 

Fonte: Brasil 247

 

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