Alex Solnik: Você contrataria um ex-ladrão
para cuidar da sua casa?
Diálogos obtidos pela
polícia paulista em 2005, com ordem judicial, revelam a face sombria e até
agora oculta de Pablo Marçal.
Em conversas com o
pastor Daniel Oliveira, com uma namorada e com o pai, não ficam em pé suas
versões de que consertava computadores e aparecem marcas de seu perfil pouco
condizente com um jovem em idade escolar.
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16 de agosto de 2005
Danilo: Alô?
Marçal: Fala, pastor!
Danilo: E aí, garoto?
Marçal: Bom? Tá longe?
Danilo: Não, tô
chegando em casa pra almoçar.
Marçal: Posso passar
aí?
Danilo: Tô até meio
sem dinheiro, do que você precisa?
Marçal: Ah, de uns 40
conto tá bom.
Danilo: Oi?
Marçal: Uns 40 conto
tá bom.
Danilo: Só uns 40? 40
é muito… Tem que ser só uns 20…
Marçal: Então só
arruma 30 e aí nós fica feliz.
Danilo: Chega aí pra
nós ver o que que faz.
Marçal: Falou, então.
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19 de agosto de 2005
Danilo: Garoto,
preciso de você urgente.
Marçal: Pó falar.
Danilo: Não,
trabalhar, ué. Cê tá onde?
Marçal: Tô em casa.
Danilo: Então desce
aqui para minha casa urgente.
Marçal: Então falou.
Danilo: Para nós
organizar uns trem ali. Porque eu vou viajar domingo e preciso organizar uns
trem e conversar com você.
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20 de agosto de 2005
Marçal: Eu estava
brincando agorinha de atirar com revólver.
Namorada: Ah, é? Que
brincadeira sem graça.
Marçal: Ele colocou o
revólver em mim, e eu com colete. Aí ele tava fingindo um assalto. E eu fui
tirar minha carteira, e ele pensou que eu estava dando uma de bobo. E eu
arrumei a mão no revólver. Ele meteu bala. Ele pegou lá dentro da igreja. Aí eu
fui atirar nele. Ele pensou que era esperto demais, né? Na hora que ele deu
qualquer movimento, eu meti um tiro na barriga dele. Aí ele caiu para trás,
porque é pesado levar um tiro no colete. Foi massa. Os meninos ficou doidinho.
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21 de agosto de 2005
Marçal: Tô capturando
aqui, chefe. Negócio tá bom. Negócio aqui em casa tá bom. Capturei hoje o dia
inteiro.
Danilo: Mas tem que
prestar atenção nas listas. Você vê, aquela lista que você fez, com o JC
(software) aqui em casa, muito ruim. A minha que eu fiz, muito boa, tudo bom,
quase tudo bom, entendeu? Tem que prestar atenção nisso aí, ver como que tá
fazendo. O que é e tal. O segredo é olhar os webmail direitinho.
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24 de agosto de 2005
Marçal: Faz o
seguinte, eu coloco os que eu for enviar pra depois você entrar e enviar
depois… Você fez dois emails, não fez? Eu entro no seu email, com a senha
daquele ‘primocorreria’, mando dele pro meu, só que fica salvo dentro do seu.
Aí esse ‘primocorreria’ é o que eu vou mandar. Agora os que eu for mandar pro
‘primocorreria2’ é pra você enviar. Entendeu?
Danilo: Beleza. Então
se for mandar hoje já manda pro ‘primocorreria2’.
Marçal: Eu vou mandar
agora pro ‘primocorreria2’.
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24 de agosto de 2005
Marçal: Tô mandando
seu trem aqui agora. Zipado, aqui. (…) Os capturados. (…)
Danilo: Tira essa
porra de ‘Delegado Federal’ aí, pô.
Marçal: Ué, por causa
de quê?
Danilo: Cê é doido.
Marçal: Vou tirar
aqui, só por sua causa, então.
Danilo: Eu chego aqui
e vejo essa porra de ‘Delegado Federal’ no meu MSN, rapaz.
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26 de agosto de 2005
Marçal: Já saí
daquilo.
Pai de Marçal: Já
saiu?
Marçal: Já
Pai de Marçal: Graças
a Deus. Eu não quero nunca que você mexe com aquele troço. Mesmo que você
trabalhe de servente, honra teu pai e tua mãe. O nome vale mais que ouro fino,
prata fina, liga a televisão pra você ver.
(Seis dias depois ele
foi preso, dedurou a quadrilha, chefiada pelo “pastor” Daniel Oliveira e
condenado a 4 anos e 5 meses de prisão por furto qualificado; não cumpriu pena
por decurso de prazo).
Essas conversas, que
foram publicadas pelo UOL, suscitam uma questão perturbadora: os eleitores
estão apostando num condenado por furto qualificado que se tornou milionário
vinte anos depois, sabe-se lá como, ao mesmo tempo em que a principal dor de
cabeça na cidade é com bandidos!
Pode uma pessoa com
esses antecedentes criminais ser a responsável pela segurança da mais
importante cidade do país? Jamais, em tempo algum, um ex-ladrão foi prefeito de
São Paulo! Seria a raposa cuidando do galinheiro!
Não sabemos de que
forma ele virou milionário, mas virou candidato de um partido com dirigentes
investigados por ligações com o PCC, os quais defende, é acusado de fraudes
diversas na campanha e suas mentiras estão sendo desmascaradas.
O repórter Paulo
Motoryn revelou, no The Intercept Brasil, que as 300 casas que ele alega ter
construído em Angola são 30, num terreno de terra batida, sem nenhuma
infraestrutura e com dinheiro dos outros, que foi parar numa ONG ligada a
igrejas evangélicas.
Um comercial da
campanha de Kamala Harris, nos Estados Unidos, mostra mãe e filha esperando o
ônibus escolar. Quando o ônibus abre a porta, o motorista é o Donald Trump, que
passa a vomitar seu discurso racista, misógino e xenófobo. Assustada, a mãe não
deixa a filha embarcar. Enquanto o ônibus se afasta, uma voz feminina
questiona, em off:
“Se você não confia
nele para levar sua filha à escola, vai confiar para dirigir o seu país?”
E eu questiono o
eleitor de São Paulo: se você não contrata um ex-ladrão para cuidar da sua
casa, vai contratar para cuidar da sua cidade?
¨ A projeção do coach é triunfo da indigência e sintoma de um
Brasil em agonia. Por Tiago Barbosa
A projeção de um coach
condenado nas pesquisas eleitorais reflete o adoecimento de um país envenenado
pelo pacto do fascismo com a mídia e as big techs. De um Brasil molestado pelo
mercado a idolatrar algozes e repelir a própria sobrevivência. Essa aliança
retroalimenta a alienação perversa de falsa despolitização com culto ideológico
do ódio à esquerda e do (pseudo) enriquecimento fácil. Cada vértice opera para
criar uma ilusão social de solução através do individualismo messiânico - o
núcleo da armação desse coachismo forjado no vazio. É a supremacia da tolice
embutida no “só depende de você” para mascarar problemas sistêmicos, impedir a
consciência crítica e culpar o cidadão por males impostos à coletividade. A
mídia massifica como populistas e criminaliza políticas benéficas ao todo
enquanto normaliza a violência extremista. As big techs priorizam narrativas
destrutivas para robotizar mentes em favor da monetização alienante. E o
neofascismo alicia fanáticos com charlatanismo para fazer da farsa do êxito o
sonho possível - mas sempre intocável. O chorume desse ecossistema é a
manutenção de privilégios de um clube seleto sob a anuência cega da legião de
excluídos e enganados. Essa pregação contra a inteligência e a coletividade
atirou o país na vala da brutalidade voluntária ocupada por zumbis de uma
esperteza irreal. Não importam a prática de crimes, atos imorais, antiéticos,
mentiras, violência, promessas delirantes - o sopro da selvageria aniquilou o
bom senso no aliciamento da idiotice. Veneram o "sucesso" de um
sujeito considerado criminoso ao custo da própria vida, da rede de amparo
pública cuja destruição é inerente à ação do ídolo. A ascensão do coach é sinal
de triunfo da indigência - o suicídio de um Brasil em agonia.
Fonte: Brasil 247
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