segunda-feira, 9 de setembro de 2024

BRICS é importante para conter ataque de Estados industriais ricos, diz premiê da Malásia no EFF

O BRICS é importante para fortalecer a cooperação entre os países do Sul Global e conter o ataque de Estados industriais ricos, disse o primeiro-ministro da Malásia, Anwar Ibrahim, em uma entrevista à Sputnik.

Ibrahim também afirmou que o grupo é uma ferramenta importante para reduzir a dependência dos países em relação ao dólar.

"Bem, estamos muito gratos pelo fato de que o presidente [Vladimir] Putin nos convidou oficialmente para participar da reunião do BRICS em Kazan no mês que vem. Nossa política é, claro, fortalecer o Sul Global. O BRICS é um veículo muito importante para fortalecer esse tipo de colaboração entre os países do Sul Global. Não necessariamente em antagonismo, mas pelo menos para conter o ataque de outros países industrializados mais ricos e ser capaz de suportar a pressão e juntos construir a força", disse Anwar Ibrahim à margem do Fórum Econômico do Oriente (EFF, na sigla em inglês).

O Sul Global deve se organizar e se tornar mais forte para resistir à pressão, acrescentou o primeiro-ministro malásio.

"A questão de usar moedas locais, o que fizemos no passado com a China, com a Indonésia, até certo ponto com a Tailândia, estamos falando com a Índia. Ainda somos bastante dependentes do dólar, mas pelo menos para reduzir o impacto, precisamos fazer isso. E o BRICS é, claro, outro veículo para fazer isso", disse Anwar Ibrahim.

Ao mesmo tempo, o premiê afirmou que "nós também temos que nos organizar para sermos mais fortes, para sermos capazes de conter as pressões que não estão sob nosso controle. Então, para mim, essa é a sabedoria".

A autoridade também disse que a Rússia está lidando com as sanções melhor do que muitos observadores ocidentais pensavam.

"A experiência russa é um pouco diferente, porque vocês são mais fortes, maiores, e tem essa forte determinação e uma ótima história. De uma forma ou de outra, eles estão administrando as coisas melhor do que muitos observadores ocidentais pensavam. Isso é verdade. Nós olhamos para os números econômicos, olhamos para a produção agrícola, a nova tecnologia, olhamos para o sistema bancário", disse Anwar Ibrahim.

A Rússia atrai a atenção da Malásia a partir de seu crescimento do investimento e o desenvolvimento tecnológico, crescimento no comércio, na expansão da cooperação no setor de energia, na indústria, bem como em tecnologias digitais, disse Ibrahim.

"A Malásia está pronta para oferecer relações especiais à Rússia", disse o primeiro-ministro.

O primeiro-ministro ainda lembrou que Kuala Lumpur não aderiu às sanções contra Moscou e não está entrando em confronto com nenhuma potência econômica.

"Nós nos concentramos nas zonas econômicas do país, e empresas russas são bem-vindas para cooperar", complementou Ibrahim.

¨      BRICS está se fortalecendo porque seus membros respeitam os 'interesses soberanos', diz analista

Depois que o presidente russo Vladimir Putin destacou o comércio da Rússia com os países do BRICS no 9º Fórum Econômico do Oriente, especialistas consultados pela Sputnik consideraram que o bloco conseguiu se fortalecer politicamente graças ao respeito que existe pela soberania de cada um de seus membros.

Mauricio Alonso Estevez, mestre em relações internacionais da Universidade Autônoma Metropolitana do México, acredita que o BRICS, originalmente formado pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, tem sucesso porque está "respondendo às novas realidades econômicas e políticas internacionais" e por causa dos projetos de infraestrutura que está promovendo por meio de seu Novo Banco de Desenvolvimento.

"[No BRICS], os laços têm se fortalecido cada vez mais a nível político, mas com respeito aos interesses soberanos dos diferentes países, ou seja, são respeitadas as condições de seus sistemas políticos, de suas dinâmicas internas e se fomenta a cooperação internacional", afirmou o pesquisador.

Estevez enfatizou que o bloco BRICS está promovendo um processo de aproximação econômica e política "extrarregional", o que o torna atraente diante de um "Ocidente cada vez mais intrusivo nos assuntos internos e mais agressivo", com o uso de sanções econômicas ou a imposição do dólar, para garantir a hegemonia dos Estados Unidos.

Ele também apreciou a organização do Fórum Econômico do Oriente em Vladivostok apontando que formar um mundo multipolar é "um dos principais eixos da política externa russa".

Enquanto isso, Imelda Ibáñez Guzmán, especialista em história diplomática da Rússia e sua política externa na Universidade Estatal de São Petersburgo, destacou que o BRICS busca equilibrar os processos de política internacional e atualmente é um dos "fatores-chave" nessa área.

Ele também destacou a relevância das exportações russas de hidrocarbonetos como parte essencial de sua cooperação comercial internacional.

"O objetivo do grupo BRICS é levar o esquema político internacional à multipolaridade, ou seja, que não haja apenas uma potência hegemônica que detém todo o poder e impõe suas posições em termos políticos e econômicos", disse ele.

A Rússia assumiu a presidência do BRICS em 1º de janeiro deste ano. Nessa data, além da Rússia, Brasil, Índia, China e África do Sul, entraram no bloco os novos países-membros: o Egito, a Etiópia, o Irã, os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita. No dia 20 de agosto, o Azerbaijão solicitou oficialmente sua adesão ao BRICS.

Recentemente, o assessor presidencial russo Yuri Ushakov confirmou que a Turquia havia se candidatado a membro pleno do BRICS e que o pedido está sendo analisado.

¨      Moeda do BRICS pode ajudar Brasil a evitar política monetária desfavorável dos EUA, diz analista

O papel do dólar dos EUA no sistema econômico global está em declínio desde o início do século e a nova moeda do BRICS pode se tornar uma alternativa, disse Albert Bakhtizin, diretor do Instituto Central de Economia e Matemática da Academia Russa de Ciências, à Sputnik.

Segundo o especialista, com a fragmentação contínua da economia global, existe uma forte necessidade de abandonar câmbios mútuos em dólar.

"A participação dessa moeda na estrutura das reservas cambiais mundiais diminuiu visivelmente de 71,1% em 2000 para 58,4% até agora", disse ele à margem do Fórum Econômico do Oriente.

Segundo Bakhtizin, os maiores participantes do BRICS podem estar na vanguarda da despolarização, já que todos precisam limitar a dependência de fatores externos.

"O Brasil e a Índia, em particular, estão interessados em limitar a política monetária desfavorável dos EUA, reduzir a volatilidade de suas moedas e reduzir os custos de transação, enquanto a China pretende reduzir a influência do dólar e mover a economia mundial para um sistema monetário multipolar", observou.

Quando perguntado sobre o que está substituindo o dólar, Bakhtizin observou que ainda é difícil responder, mas a nova moeda dos países do BRICS, que pretende ser criada, pode contribuir para fortalecer a integração econômica dos países dessa organização, reduzindo a influência dos EUA na arena global e enfraquecendo a posição do dólar como moeda de reserva mundial.

Ele destacou também a necessidade de ter um sistema de pagamento próprio do BRICS, que seria uma alternativa do SWIFT, sistema internacional que permite que bancos de diferentes países façam pagamentos entre si de forma rápida e segura.

A porcentagem do PIB do BRICS em paridade do poder de compra (PPC) na economia global é de 36%, enquanto a do Grupo dos Sete (G7) é apenas 29%. Já o comércio entre os Estados do BRICS corresponde a 20% do comércio global, aponta Bakhtizin.

De acordo com ele, o próprio sistema de pagamento do bloco deverá aumentar esses números.

O Fórum Econômico do Oriente está decorrendo de 3 a 6 de setembro no campus da Universidade Federal do Extremo Oriente, em Vladivostok.

O tema principal do evento deste ano é "Extremo Oriente 2030. Unindo esforços, criando oportunidades". A Sputnik é o principal parceiro noticioso do fórum.

¨      'Avanço do BRICS é notável': presidente da Bolívia destaca importância do bloco em fórum econômico

O presidente da Bolívia, Luis Arce, destacou o crescimento do bloco BRICS, que representa mais de 20% do Produto Interno Bruto (PIB) global e que usa moedas nacionais no comércio internacional, como alternativa ao dólar dos EUA.

"O progresso do BRICS é notável, sua economia cresce cada vez mais, as próprias estatísticas do Fundo Monetário Internacional [FMI] indicam que representa 32% da produção mundial, superior aos 30% do G7 [Grupo dos Sete], o que ilustra a importância que o grupo está mostrando", disse Arce em seu discurso no XVII Encontro de Economistas da Bolívia.

Arce vê um "ambiente global cada vez mais complexo", caracterizado pela "desaceleração econômica e tensões geopolíticas". Além disso, as economias avançadas enfrentam um ambiente adverso devido às altas taxas de inflação, mantendo desta forma altas taxas de juros, o que retarda a atividade econômica e o comércio internacional, disse o governante.

Diante desse panorama, o presidente vê uma alternativa real no BRICS, que, por exemplo, promove o comércio internacional em suas próprias moedas nacionais.

"Além disso, o grupo busca promover suas próprias moedas no comércio internacional sem que isso seja intermediado por moedas de terceiros como o dólar americano, que não tem participação efetiva nas relações comerciais do BRICS", destaca Arce.

A Rússia assumiu a presidência do BRICS em 1º de janeiro deste ano. Nessa data, além da Rússia, Brasil, Índia, China e África do Sul, entraram no bloco os novos países-membros: o Egito, a Etiópia, o Irã, os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita.

¨      Lavrov: regras não obrigam Turquia a abandonar OTAN para aderir ao BRICS

O BRICS não tem regras que proíbam os membros de determinadas organizações de manter relações com o grupo, disse o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov.

O comentário foi feito em uma entrevista à mídia russa RBC quando perguntado sobre as perspectivas de aproximação da Turquia ao BRICS, embora Ancara integre a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e candidata à União Europeia (UE).

"Em relação à participação da OTAN e ao status de candidato à UE, que a Turquia tem há quase 70 anos, como disse recentemente uma autoridade turca, não há regras no BRICS que digam que os membros de determinadas organizações não podem ter relações com esta associação", disse o ministro nas margens do Fórum Econômico do Oriente.

A OTAN não se manifestou sobre as aspirações da Turquia de se tornar membro do BRICS, ressaltou o chanceler, ao contrário da União Europeia, que afirmou que a entrada na UE é incompatível com a adesão ao BRICS.

"No que diz respeito à Turquia, os países da OTAN mantêm o silêncio. Os norte-americanos disseram, me parece, que isso é incompatível com a participação da OTAN. Um representante da Comissão Europeia foi muito mais franco. Ele disse que a Turquia deveria entender que a adesão à UE é incompatível com a adesão ao BRICS, e vice-versa. Os candidatos à UE devem aderir a uma política externa e de segurança comum", apontou.

Lavrov avaliou que essa reação negativa da UE prova claramente que a Turquia deverá se juntar às sanções contra a Rússia se quiser virar membro da UE.

No entanto, o ministro acredita que as intenções da liderança da Turquia de ingressar no BRICS são sérias, uma vez que as autoridades do país fizeram declarações oficiais.

Ele acrescentou que o mais importante para os membros do BRICS e para os países que desenvolvem a cooperação com o bloco é compartilhar os valores da Carta da ONU.

Esses valores são a igualdade soberana dos Estados, a não interferência em seus assuntos internos, a solução pacífica de conflitos, o respeito à soberania e à integridade territorial de todos os Estados, enfatizou o ministro das Relações Exteriores da Rússia.

"Não precisamos dos valores do nazismo, das teorias e práticas do nazismo, da proibição da liberdade de expressão, dos idiomas, culturas e tradições nacionalistas, do fechamento de igrejas canônicas e outros", disse também o ministro.

Anteriormente, o assessor presidencial russo Yuri Ushakov confirmou que a Turquia havia se candidatado a membro pleno do BRICS e que o pedido está sendo analisado.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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