A
decadência do Império e a segurança internacional
À
medida que assistimos ao agravamento das tensões geopolíticas, em especial, nos
locais mais ricos em recursos naturais, resultando na ruptura dos canais
diplomáticos e na crescente radicalização — pelo menos discursiva — dos
oponentes, assistimos, por sua vez, a uma clarificação das posições
estratégicas respectivas e da sua direção. Todos os mecanismos que antes
pensávamos garantirem a segurança internacional, estão historicamente
expirados. A profunda crise da hegemonia anglo-americana decretou a sua
obsolescência. Nenhuma paz sobrevive a uma crise profunda de um qualquer
sistema, muito menos de um que vive da exclusividade e da prioridade na
pilhagem e exploração dos recursos.
Por
muito que se produzam relatórios fantásticos sobre o quão competitiva é a
economia norte americana, o quão estável e consistente é o dólar e o quão
resiliente é a economia sedeada em Wall Street, o facto é que esse relato está
longe de encontrar correspondência, onde mais importa: na vida das pessoas, dos
trabalhadores, das suas famílias, ou seja, da imensa maioria que tarda em
beneficiar de tão monstruosas injeções de democracia. O processo iniciado com a
Guerra ao Terror de Bush, continuado por Obama, encontrou epílogo na situação
atual. O termo genérico “terrorismo”, cujo combate visava já a contenção de uns
e apropriação de outros, evoluiu novamente para um “eixo do mal” concreto. O
tempo acabou por nos contar sobre quem os EUA escondiam atrás de tanto
“terrorismo”.
A
cortina terrorista, ao cair, desvendou os reais objetivos do seu levantamento e
a sua ampla e multifacetada natureza instrumental. Hoje, sabemos bem como o
termo terrorista condena, sobretudo, os inimigos dos EUA e da sua deriva
hegemónica. Os EUA perdem influência económica (e produtiva) de forma
continuada, e com ela, esvai-se também o poder político, ainda imenso e
alicerçado num exército formal e informal de agentes — cobertos e descobertos —
e “influencers” que movem a sua imensa máquina de formatação.
À maior máquina organizacional da história começa a faltar a que é a base de
sustentação de qualquer existência política: a base económica produtiva real.
No
fundo, a base económica sob domínio norte americano já não corresponde ao poder
político inversamente desproporcionado que nela se sustenta. A pirâmide está
invertida e nem todo o endividamento do mundo a sustentará. A incapacidade
crescente, por parte do aparato político, em impedir a corrosão da sua posição
relativa, obriga os EUA a um sobrevivente esforço de mitigação, contenção e
reversão do seu perecimento e, por último, da falência de toda uma base
económica amplamente deficitária, à qual se seguirá, necessariamente, a
falência política. E aqui radica a razão fundamental do agravamento das tensões
a nível mundial. Em crise profunda, natural e paulatinamente, a base
exploradora vai afastando os obstáculos civilizacionais que separam a ganância
do seu objeto.
Uma
forma de afastar esses obstáculos radica na sua capacidade subversiva.
Nomeadamente em derrubar governos legítimos e neles instalar clientes e outros
“entreguistas” que asseguram a traição dos seus povos em favor do benefício do
império com sede em Wall-Street. O Bangladesh, Indonésia, Geórgia, Sérvia e
Venezuela são apenas alguns dos locais, nos quais, não agradando os governantes
às grandes corporações que financiam o poder político em Washington, estes se
veem acossados pelos exércitos de ONG, Think Thank, média mainstream e redes
sociais da Califórnia. Pavel Durov, co-líder do Telegram, havia abandonado a
Rússia por considerar que as exigências de controlo de Vladimir Putin eram uma
violação da liberdade de expressão. Agora, aprendeu à sua custa que, na França
Macronista liberalfascista, não fornecer tais garantias dá prisão! Os direitos
que se prendem para se libertar a expressão! E tudo em nome da “independência”
da justiça.
Os
indicadores da decadência são tão evidentes e profusos que mereceriam, por si
só, uma reflexão aprofundada e até crítica. Mas digamos assim: mesmo nos seus
próprios termos, segundo os seus conceitos e tendo em conta os seus dados, a
realidade narrada não sorri aos EUA e à sua “liderança”. Nem nos seus próprios
termos é possível aos EUA esconderem a sua falência progressiva. Os BRICS
ultrapassaram o G7 em PIB e o volume de transações económicas que escapam ao
controlo de Washington cresce todos os dias, mesmo quando essas transações são
realizadas na sua própria moeda. Um exemplo bem evidente da contradição
insanável que assola o sistema monetário e financeiro controlado pelos EUA,
reside na utilização do dólar pelos próprios “inimigos” de Washington, para
estabilizar as suas economias e garantirem a estabilidade das transações e dos
respectivos mecanismos.
A
Venezuela de Maduro, outra vez a braços com mais um episódio do filme
shakespeariano “Ganhar ou não ganhar eleições, eis a questão?”, dolarizou a
economia, usando as reservas chinesas em dólares e o petróleo que tem em
quantidade como nenhum outro país. A China, estando a fazer de Hong Kong um Hub
de transações em cripto moeda, usa o Tether — moeda virtual
indexada ao valor do dólar — como mecanismo estabilizador do mercado cripto,
garantindo a conversão de dinheiro fiduciário e sem flutuações constantes da
Bitcoin, Ethereum ou Solana. O seu valor de capitalização já passou o da
Bitcoin, por exemplo. A tão propalada “desdolarização”, afinal até poderá não
passar, em parte, pelo menos, de uma “desocidentalização” do dólar e a
consequente retirada dos dólares dos bancos controlados por Washington.
É
com este pano de fundo que devemos observar a realidade e não no pano cor de
rosa, que canta falências inimigas, desafios inultrapassáveis e obstáculos
intransponíveis, com o que nos pintam, unanime e disciplinadamente, todos os
dias, todos os órgãos “mainstream”. Só assim se percebem as manobras
“desesperadas” e aparentemente suicidas que observamos um pouco por todo o
lado. De contrário, tendo em conta o pano cor de rosa, acabamos a dizer que
Netanyahu é louco, mas democrata, Zelensky é corrupto, mas corajoso, e que
todos os outros são bandidos, apesar de muitos não serem corruptos, e ainda
menos serem loucos.
Uma
vez mais, a solução para a crise das crises, e o consequente extremar das
posições, reside na ressuscitação do monstro nazifascista, mas, desta feita,
dando-lhe uma roupagem mais abrangente e diversa. Trata-se, contudo, do mesmo
monstro que, a cada crise do sistema capitalista, tal como nos anos 20 e 30, na
Europa e EUA, após a primeira guerra mundial, surge para resolver à força o que
os outros lhe negavam pacificamente: o acesso aos recursos naturais, leia-se,
energia barata, matérias primas, alimento e mão de obra. A solução para todas
as crises repete-se, uma vez mais. Uns usavam a salvação das almas, outros a
salvação das pessoas.
Logo
após a revolução russa de 1917, o bloco imperialista ocidental, em peso, tinha
intenção de jogar a mão àquela reserva extraordinária de todas estas coisas.
Perante a resistência encontrada, uma invasão organizada por 14 potências
imperiais e uma guerra civil, cuja força contrarrevolucionária era apoiada pelo
ocidente imperial, não foram suficientes para fazer colapsar tal “diabólico”
regime. Os povos Russos e Soviéticos não deixaram. Talvez uma espécie de
síndroma de Estocolmo, que se viria, curiosamente, a verificar uma e outra vez,
até aos nossos dias. Apesar de ainda hoje, segundo acusações dos mesmos, esse
povo viver “acossado” por uma “sanguinária ditadura”.
Foi
preciso preparar uma guerra e tal fez-se através da diabolização,
estigmatização, fratura das relações e semeando o medo e o ódio entre as
populações europeias mais incautas. Nada de novo, portanto. A desumanização,
fermentada na crise económica, na concentração de riqueza e na
indisponibilidade das elites em repartir, com o trabalho, o que antes a partir
dele haviam acumulado, deu a Hitler (e todos os “Hitlers” escondidos) a
justificação, de que necessitava, quando olhava para a URSS como a cura para os
males que assolavam a Alemanha: petróleo e minério em abundância, terras
férteis e mão de obra barata.
Não
fosse, uma vez mais, a insistente capacidade de combate daquele povo e os EUA,
a Inglaterra e o Japão tinham esfregado as mãos de contentes com os negócios
vindouros. Uma vez mais, enganaram-se. Uma vez mais goraram-se as suas
possibilidades. E, uma vez mais, lá teve a Federação Russa de passar por
agressora. Vítima de uma invasão ocidental a cada 70 anos, a Rússia passa de
invadida em invasora. Um acordo como Molotov-Ribbentrop, sendo tão só o último
de todos os que foram celebrados entre a Alemanha nazi e um país europeu,
transformaram a maior vítima da segunda guerra em sua coautora. Uma vitória
arrasadora e inesperada — pelo ocidente — sobre o seu recém-criado filho, o
nazifascismo, transformaram a URSS numa espécie de 3.º Reich vermelho.
De
qualquer forma e como programado pelas elites reacionárias que dominam — e
sempre dominaram — os EUA, devido ao jogo nos dois tabuleiros, mesmo que em
momentos diferentes, a segunda guerra mundial deixou este país colossal numa
posição extremamente invejável, tal como a primeira já havia deixado,
resolvendo os danos provocados pelo crash de 1929 e transformando-o numa
superpotência, a única. Só por isso, e apenas por isso mesmo, foi possível não
assistirmos a uma guerra em larga escala, até hoje, na Europa. Até que essa
posição invejável tivesse sido destroçada ou ameaçada e até que se gorassem,
definitivamente, as esperanças de domínio político da Rússia, China e Eurásia.
Esgotado o triunfo obtido com a queda da URSS e vendo a União Europeia
beneficiar da cooperação continental daí resultante, voltamos ao reinício de
todo o processo desumanizador, uma vez mais da Rússia, mas, desta feita, também
Irã e China são premiados. Afinal, até há bem pouco tempo prevalecia a
esperança de domínio político da China e do Irã, que a cada nova estação conta
com uma nova tentativa de “revolução colorida”, normalmente a partir dos
curdos, que contam com o apoio de… Israel.
A
perda da esperança no funcionamento do “soft power” e a urgência da situação,
agravada pela recuperação económica russa, da centralidade chinesa e da
regionalidade iraniana, fez expirar o “seguro de vida” planetário, que muitos
acreditavam estar doutrina do “mutual assured destruction” (destruição
mutuamente garantida), herdada da guerra fria. A doutrina do “mutual assured
destruction” só funcionou porque os EUA cedo constataram que conseguiriam
suplantar a URSS e que ainda não seria dessa que o seu domínio hegemónico seria
colocado em xeque. A adesão da URSS a tratados de não proliferação armamentista
e à instituição de uma arquitetura de poder internacional que beneficiou
Washington, deu esperança e consolidou certezas de vitória. O vencedor poderia
dar-se ao luxo de ser magnânimo.
Os
EUA apenas temiam a URSS do ponto de vista militar, mas sabiam que o militar
não subsiste sem o poder político, que este depende da economia e que, essa
capacidade económica relativa, era insuficiente para garantir uma vitória da
URSS. Por outro lado, mesmo que tal não faltasse, as economias estavam
separadas de facto, segregadas e o pano de fundo em que os EUA atuavam não era
um pano negro de crise, mas um pano arco-íris de expansão. Foi esse pano de
fundo, esse pano arco-íris, abrangente, abraçado pelo “uniparty” (partido
único) que reúne democratas e republicanos, que conteve os mais ferozes
falcões. O seu domínio económico, a sua estratégia de acumulação, não estavam
ameaçadas de morte. O “soft power” foi, então, suficiente. Enquanto a URSS
manteve pujança, o mundo assistiu a grandes crises como a dos mísseis de Cuba.
Já no final, os EUA deram-se ao luxo de estabelecer o consenso de Washington e
iniciar a era neoliberal.
Hoje
a realidade é bem diferente. Sabendo que a China não é ainda o adversário
militar que a URSS foi, os EUA sabem, contudo, que esta tem a economia de que
necessita para o ser. E sabem que, apesar de toda a propaganda catastrofista,
esta é sustentável, estável e duradoura. A ameaça ao seu domínio é simplesmente
formidável. Acresce que, para o ser, a China conta com os 75 milhões de milhões
de dólares de reservas naturais classificadas da Rússia. As maiores do mundo, e
por muito. China, Rússia, Irã e Venezuela têm mais, muito mais, do que EUA,
Canadá e Austrália. A UE não conta para esta estatística. Por outro lado, não
tendo o potencial económico da China, a Rússia é um adversário militar
formidável, com um capital político crescente, passível de ser alimentado —
como se vê no caso dos milhares de sanções contra Moscovo — pela economia
Chinesa. A economia Chinesa, está para a Rússia, como os seus recursos naturais
e capacidade militar estão para a China. Complementam-se mutuamente, até ao
ponto da simbiose, se necessário for.
Dominar
o mundo, o sistema produtivo e respectivas cadeias de abastecimento, uma vez
mais, exige energia barata; o fim do fóssil que fez parte de uma estratégia de
contenção da China não funcionou, pois esta não mordeu a isca e nunca deixou de
garantir o domínio de recursos dentro e fora de portas. A hegemonia requer mão
de obra barata, que a China também tem em quantidade. E requer alimento, muito
alimento. Que a Rússia também tem e muito. Para reconquistar a sua hegemonia,
os EUA necessitam da Rússia e do Irã, pelo menos. Mais do que nunca. A qualquer
custo. Sob pena de derrota! A pressão a que assistimos hoje exercer-se sobre
Lula da Silva, nomeadamente na sua traição a Nicolas Maduro, que esteve sempre
com ele, mesmo quando as hordas da extrema direita colocaram em causa a sua
vitória eleitoral, demonstra a importância que o Brasil tem para os EUA. O
Brasil pode muito bem ser para o Washington o que o Egipto era para Roma, uma
fonte interminável de alimento, a qual, associada ao circo — e nos EUA o circo dura
365 dias por ano —, garante o apaziguamento das massas.
Mas
é por isto tudo estar em causa, que a doutrina do “mutual assured destruction”
deixou de nos parecer tão segura. O medo, o pânico, o simples vislumbre da
possibilidade de derrota e perda do que designam de “liderança” mundial,
equivalente a “domínio político abrangente”, torna ferozes, obstinados e
obsessivos os falcões do capitalismo globalista, hegemónico, super federativo.
Habituados a mandar, ameaçar, dissuadir, punir, subverter, invadir e aniquilar
nações inteiras, baseados em mentiras, e a perpetrá-lo de forma impune, não
será a possibilidade da morte em massa que os detém. O que os detém é a
garantia de vitória, uma vitória total, inquestionável, eterna e esclarecedora,
como a que procuraram e conseguiram com o genocídio de Hiroshima e Nagasaki.
Perante a possibilidade da derrota, nada os irá deter. Os EUA, tal como o
Império Britânico, não sabem conviver com meios termos, com impasses e lógicas
apaziguadoras. A guerra, para eles, é o meio para a paz. O único meio capaz de
garantir a vitória esclarecedora que procuram. Nada de meios termos, apenas a
vitória certa.
E é
por isto que vemos Zelensky mandar bombardear a central nuclear Energodar NPP
de Zaporozhye e ameaçar a central de Kursk, pois a sua saúde — literal —
depende de arrastar a Rússia para um conflito duradouro e em larga escala. O
objetivo, na minha opinião, consiste em levar a Rússia a uma ação desesperada,
por exemplo, uma que consista na utilização de uma arma nuclear — táctica ou
estratégica — e que, em decorrência, das duas uma: ou os EUA usam o facto para
isolar factual e internacionalmente a Rússia e diabolizá-la a um ponto em que o
próprio povo russo se vire contra o presidente Putin, ou, em última análise, se
tal for necessário, arrastar mesmo a Rússia para um conflito em larga escala,
no qual os EUA julgarão, ainda, ter vantagem. Se não julgassem tê-la, não
jogariam este perigosíssimo jogo. Podem estar enganados, mas as suas ações são
tomadas com as suas próprias convicções.
Outra
hipótese consiste na criação de uma provocação, por via dos bombardeamentos de
Kiev, originando uma fuga radioativa que afete outros países e, dessa forma, os
EUA tenham justificações “plausíveis” para acusarem a Rússia de a ter provocado
de propósito, seja porque dizem que foi a própria Rússia a fazê-lo, seja porque
dizem que a fuga não é de uma central nuclear, mas de uma bomba suja usada por
Moscovo. Dir-me-ão: mas os parceiros da Rússia não cairiam numa coisa destas.
Pois, mas o objetivo dos EUA é jogado, também, nos tabuleiros nacionais desses
países e com os seus povos, nomeadamente, levando esses mesmos povos a rejeitar
governos que não respeitam as regras antinucleares, direitos humanos,
convenções anti-genocídio e proliferação nuclear e por aí fora.
As
possibilidades são muitas e os EUA já demonstraram jogar com elas todas. Não
sejamos ingénuos sobre o porquê de, nos anos 80, existir tão grande consenso
“antinuclear”. Nem os EUA estavam desesperados, deixando o campo informativo
mais livre, nem tinham paridade nuclear real. Necessitavam de parar a
proliferação e desenvolvimento nuclear do lado soviético. O que também dava
jeito à URSS, pois resultaria num aliviar dos cofres. Os EUA jogavam, portanto,
nos dois tabuleiros: tentavam arrastar a URSS para uma corrida armamentista
dispendiosa, mas de uma forma que não constituísse uma ameaça estratégica.
Existem registos, do tempo do “democrata Iéltsin” que demonstram a intenção,
por parte dos EUA, em fazer a Rússia prescindir das forças navais nucleares estratégicas,
mantendo-se apenas a aviação e as forças terrestres. Daí a lógica do “escudo
antimíssil” que assentava que nem uma luva. Afinal, o que os EUA consideravam
como tremendamente ameaçador eram os submarinos nucleares. E Iéltsin foi-lhes
fazendo a vontade.
No
caso do Irã, o jogo é parecido. Temos um Netanyahu, gêmeo político de Zelensky,
um sionista, outro sionista e nazifascista, ambos patriotas anglo-americanos no
seu âmago, cuja saúde política — literal — depende de um conflito duradouro e
em larga escala. Também, neste caso, é jogada a cartada nuclear. Bastou Blinken
dizer que o Irã está “a uma ou duas semanas” da arma nuclear, e tal tornou-se
uma verdade indiscutível gravada na pedra. Referem-se “relatórios
confidenciais” da AIEA, que nunca ninguém viu e cujos links conduzem a uma
descrição dos acordos nucleares com o próprio Irã, chegando a dizer-se que foi
este quem incumpriu os termos do JCPOA.
Num
e noutro casos, assume-se que, se os EUA dizem, é porque é verdade. Os EUA
dizem que o Irã já quase tem armas nucleares — apesar da Fatwa de Al-Khomeini
proibindo o desenvolvimento nuclear militar -, e ninguém duvida; os EUA falam
de um acordo confidencial da AIEA, ninguém o conhece, é confidencial, mas de
uma agência pública “transparente” e “independente”, e ninguém duvida; os EUA
dizem que a Rússia bombardeia a sua própria central nuclear ninguém duvida.
Aliás, Grossi, presidente da AIEA faz mais: diz que “está para além da ciência”
provar a origem dos ataques à central de Zaporozhye. Chamem já a equipa do CSI,
e Putin levará mais um processo do TPI.
Com
a China, o jogo também se joga. As notícias que dão como certa a modernização
das forças nucleares chinesas, a “duplicação” das ogivas, constituem objetivos
a que os EUA “não podem virar a cara”, como disseram na Casa Branca. Mesmo que
os EUA tenham 10 vezes mais ogivas do que o número que a China terá, quando
duplicar — se duplicar — as que já tem.
Para
já, Zelesnky garantiu a impossibilidade de quaisquer negociações de paz nos
próximos tempos e nem a visita — qual pagador de promessas — de Modi muda o
cenário. Como gémeos siameses, Zelensky e Netanyahu demonstram que a cooperação
entre nazis e sionistas não apenas é possível como desejável e que o
antissemitismo, que caracterizava os anos 30, se tratou de uma contingência
casuística e nunca de uma realidade profundamente contraditória em si. Zelensky
prova que o interesse hegemónico dos EUA fecha o acordo entre Sionistas e
Nazi-fascistas. À data, os falcões imperiais viam nos bens de judeus uma
riqueza a haver; hoje veem nos judeus uma riqueza em si e que já é sua e a
dominam como instrumento de ocupação territorial, estabilização monetária e
controlo de fontes energéticas e outros recursos naturais.
Um
e outro jogam um perigoso jogo, do qual são peças estratégicas. Cabe-lhes criar
uma realidade que torne impossível a convivência, ao ponto de o “mutual assured
destruction” deixar de ser uma limitação. O vislumbre de um Irã nuclear é um
desses casos e tudo justificará. Lembram-se das “armas de destruição em massa”?
“Terroristas, loucos” e muçulmanos com acesso a armas nucleares? Assim, depois
de toda a islamofobia em preparação no ocidente e capitalizada pelas correntes
neofascistas, que declaram os muçulmanos e asiáticos — pobres, apenas os pobres
— uma espécie sub-humana, uma praga invasora? Será apenas um pormenor. O
terreno está lavrado e bem-preparado.
Alguém
acredita ainda em linhas vermelhas?
Fonte:
Por Hugo Dionísio, em A Terra é Redonda
Nenhum comentário:
Postar um comentário